44 - Não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.
- Parece que está havendo uma festa no seu apartamento. - Disse Zeca sorrindo.
Pedro ergueu uma sobrancelha, abrindo a porta.
Paulo tocava violão e cantava, só então se deu conta que apesar do filho ter dito que tocava em uma banda, ainda não havia visto o filho tocando ou cantando.
E caramba! O filho tocava e cantava muito!
- Oi Pedro! Zeca! - Disse Sandro, abraçando os amigos.
Regina abraçou-os também, e Isa pulou para os braços do tio.
- Tio Zeca!
Zeca abraçou a sobrinha.
- Então meu amigo tem um filho artista? - Disse Zeca, olhando Paulo. - É um prazer te conhecer garoto. Seu pai é muito querido. E você é bem vindo aqui, estávamos ansiosos para conhece-lo.
- Obrigado! Eu estou muito feliz em conhecer vocês também. É muito bom saber que meu pai é querido por aqueles que o cercam.
Pedro e Paulo se olharam, orgulhosos um do outro.
- Vamos jantar, antes que o Zeca desmaia. - Sugeriu Regina
- Não estou com fome. Fiz um lanche, o que eu queria mesmo era dormir. - Disse Zeca.
- Nós sabemos, por isso trouxemos o jantar até você. - Disse Regina.
Ela pegou Isa e seguiu para a cozinha.
Enquanto todos se preparavam para jantar. Pedro passou uma mensagem para Ariane.
"Boa noite, minha amada. Estou em casa com o nosso filho, e alguns amigos. Vamos jantar agora. Depois eu vou conversar um pouco com o Paulo. Ele deve está um pouquinho confuso. Te amo. Saudades." - Enviou.
💮💮💮
O jantar estava ótimo como tudo o que a família Jade fazia.
- Seus pais estão sozinhos hoje? - Perguntou Pedro.
- Que nada! A Raissa e o Marcelo estão lá. Nós estamos de folga hoje. - Disse Sandro.
- Saudades dos dois. - Comentou Pedro.
- Ah, e minha mãe disse que você, o Zeca e o Paulo estão convidados para tomar o café da manhã com a gente, e aí você mata a saudade dos dois, eles também estão com saudades de você. E a Isa Zeca, ela vai dormir lá em casa hoje. - Disse Regina.
Paulo e Zeca abriram a boca para responder.
- E ela disse que não aceita não como resposta. Então, o que era mesmo que vocês estavam querendo me dizer? - Perguntou inocentemente.
Pedro e Zeca se encararam sorrindo.
- Nada! - Disseram juntos.
Depois do jantar, apenas Zeca foi liberado da arrumação da cozinha, e quando todos foram embora, Pedro estava esgotado. Ele e o filho se jogaram no sofá.
- O senhor está cansado. - Observou o filho.
- Um pouco. Mas posso esclarecer algumas das suas dúvidas, pois imagino que você tenha várias.
- Ainda bem, pai. - O filho se animou. - Eu pesquei algumas informações, mas as pessoas aqui são mais complicadas, que as do condomínio aonde moramos, e olha que lá tem muito mais pessoas!
Pedro sorriu.
- A Tina é sua ex-namorada, e o Zeca está apaixonado por ela. Confere?
- Confere.
- E como o senhor está lidando com isso? - Perguntou cauteloso.
- Estou lidando muito bem com isso.
- A Tina sofreu uma overdose, ela era viciada quando namorava o senhor?
- Quando começamos a namorar ela estava começando o tratamento, e sim ela estava limpa. Mas quando a conheci, sim, ela era viciada.
- Então vocês eram amigos! - Disse o filho confuso.
- Sim. Eu gostei dela de cara. E quando vi os problemas que ela tinha, eu quis ajuda-la, protege-la. E ficamos amigos.
- Mas o senhor não tinha nada haver com ela, ou tinha? Quero dizer ela não... Desculpa, não sei como perguntar isso sem parecer preconceituoso.
- Eu acho que eu entendi. Você quer saber se eu frequentava, os mesmos ambientes que ela? - Perguntou sorrindo.
O filho assentiu, constrangido.
- Não, eu não tinha nada haver com ela, ou com o meio em que ela frequentava, apesar de afastado da igreja, eu meio que continuei com os mesmos hábitos. Então, realmente não tínhamos nada haver. Quando nos conhecemos, foi uma surpresa para os dois, nos tornarmos tão bons amigos.
- Ela já teve outras overdoses?
- sim. Ela teve uma aos dezesseis anos, que segundo ela foi proposital, ela queria morrer, e usando as palavras dela, ela era covarde demais para cortar os pulsos, ou se jogar na frente de um carro, ou seja lá qualquer outra maneira de suicídio. Então ela se entupiu de porcarias.
- E dessa vez não foi propositalmente?
- Não. Foi só uma tolice mesmo. E algumas das drogas que chegam nas mãos do consumidor é veneno puro.
- O senhor esteve com ela drogada, quando eram só amigos?
- inúmeras vezes. A última vez eu precisei leva-la para o hospital, pensei que ela fosse morrer.
- Outra overdose?
- Não. Ela teve uma reação elérgica.
- Sério! Ela teve uma reação alérgica à droga? - Perguntou surpreso.
- Não. Ela teve reação a um outro componente que misturaram à droga.
- Mas pelo que eu entendi, me parece que ninguém sabia do histórico dela com as drogas. Eu entendi mal?
- Não. Até nós terminarmos ninguém aqui no prédio sabia, nem mesmo a Lucia e o Zeca.
- Mais eles são seus melhores amigos, porque o senhor esconderia uma coisa assim deles?
- Na época em que eu conheci a Tina, eles estavam passando por um problema, semelhante com a família deles. Eu não quis preocupa-los.
- O senhor pode falar sobre esses problemas semelhantes?
- Eles eram três irmãos. Os pais compraram esse prédio para eles virem para a cidade estudar. Eles moram em uma fazenda, no interior de Goiás.
'O lugar é lindo! Vou te levar lá um dia. Enfim, os pais deram a eles a escolha, aqui ou Goiânia. Foi a Leandra quem escolheu Brasília. Ela era a mais nova.
'Na faculdade, ela conheceu o Fabrício. Era complicado, os irmãos chamaram os pais e foi um Deus nos acuda, eu não morava aqui na época, mas soube que foi bem sério.
'Então ela fugiu com ele, e por anos ela não apareceu mais. Até que um dia apareceu grávida. Ela ficou com os irmãos até a Isa nascer, mas houve um problema.
Pedro olhou para o filho, emocionado, jamais se cansaria de agradecer a Deus pelo filho, que Ele lhe deu.
- A Isa nasceu com problemas. Fisicamente estava tudo bem. Mas ela chorava o tempo todo, tinha convulsões, era um bebê muito agitado.
'E os médicos não descobriam o que ela tinha, até que um médico perguntou se a mãe era usuária de algum tipo de droga. Quando Lucia disse que os pais eram usuários, eles enfim compreenderam o que estava acontecendo com a doce Isa.
'Foi uma época difícil para os irmãos, mas eles achavam que haviam superado. Leandra se tratou, voltou a estudar, cuidava da filha. E aí o Fabrício voltou.
'Os irmãos não o aceitaram, mas ela acreditava que assim como ela havia mudado pela filha ele também poderia mudar. Os pais dele alugaram um apartamento para eles.
'Lucia e Zeca fizeram o que foi possível, para traze-la de volta para casa. Mas de nada adiantou, nos primeiros meses ela trazia Isa toda semana para gente ve-la. Você percebeu, ela é a queridinha de todos, e sempre foi assim desde que nasceu.
Pedro sorriu triste.
- Mas as visitas ficaram escassas, quando íamos lá as coisas estavam desorganizadas, e Isa largada...
'Até que a oito meses atrás, a polícia ligou para o Zeca. Os vizinhos haviam chamado a polícia, porque a criança não parava de chorar, e ninguém atendia à porta; eles acreditavam que os pais haviam saído e deixado a criança sozinha, mas não, infelizmente eles estavam mortos, no meio da sala...
Os lábios de Pedro tremiam, controlando as lágrimas, não ousou olhar para o filho, porque se olhasse naqueles olhos tão amados, romperia em lágrimas.
Ele vira o amor que Leandra tinha pela filha, mas esse amor não foi capaz de salva-la; e ele, 'Pedro' sabia de qual amor ela precisava para se salvar, e ele nem tentou apresenta-la a Este amor.
Paulo abraçou o pai.
- Eu sinto muito pai. O senhor poderia me contar essa história outro dia. Me desculpa.
Pedro chorou nos braços do filho como uma criança, ele sabia que aquele sangue inocente seria cobrado dele, Deus estava gritando com ele, "acorda homem que dorme", e ele tolo continuou a dormir.
- "Me perdoe Senhor por não ter te ouvido, me perdoe por não ter levado o Seu amor àquela que tanto precisava. Estou te ouvindo agora Senhor, o que o Senhor quer que eu faça? Perdoa este seu servo impuro, em nome Jesus, tenha misericórdia de mim." - Pediu fervorosamente.
- Deus colocou pessoas bem interessantes na sua vida! - Refletiu Paulo.
Pedro olhou para o filho, e viu seus olhos vermelhos.
- Eu sinto muito filho, eu estava cego de uma tal maneira que eu não via nada disso.
O filho sorriu.
- O senhor está vendo agora. Eu não sei qual o propósito de Deus em tudo isso; mas eu creio que mesmo a gente fazendo todas as bobagens que nos cabe fazer, o tempo certo sempre será o de Deus.
- Eu te amo meu filho! - Disse emocionado.
- Eu também te amo pai. - Disse abraçando ainda mais o pai.
- Pai, eu tenho só mais uma perguntinha. - Disse se afastando do abraço.
O pai o fitou curioso.
- Qual a causa morte, dos pais da Isa?
- Overdose.
- Existe alguma possiblidade dela ter visto o sofrimento dos pais? - Perguntou Paulo desolado.
- Sim. Segundo a autópsia, quando a polícia arrombou a porta eles estavam mortos a menos de vinte minutos. E quando os vizinhos chamaram a polícia já tinha aproximadamente uns quarenta minutos que ela chorava.
- Mais o tempo que a polícia levou para chegar... - Refletiu Paulo. - Temos muito que orar por ela.
- Sim, temos. Ela é tão carinhosa! - Disse Pedro carinhoso.
- E a família paterna?
- Eles têm direito a visitação, mas como a avó tentou sequestra-la uma vez, tem uma assistente social, e uma psicóloga que acompanham as visitas. Lucia ganhou a guarda mas a avó está recorrendo. Fabrício era filho único.
- Nossa que triste! - Paulo ficou com o olhar distante.
- Paulo! - Chamou Pedro preocupado.
Ele assustou, com a voz do pai.
- Está tudo bem? - Perguntou Pedro.
- Sim. Está, eu só estava pensando. Há algumas semanas eu estava insuportável, estava furioso com Deus e com o mundo.
Ele abaixou a cabeça envergonhado.
- E eu decidi que eu poderia ir de moto para a escola e para a igreja, em ambos os lugares tem adolescentes da minha idade que tem sua própria moto. Não precisam passar pelo constrangimento de ter a mamãe, ou pior a mamãe dos outros te levando e buscando, dos lugares. E sabe o que a minha mãe me disse?
Pedro sorriu, não sabia o que ela havia dito, mas aquela semana com ela, já lhe dava uma boa base, de qual foi a resposta.
- Não sei, qual foi? - Perguntou ainda sorrindo.
- Ela me olhou muito séria, e triste claro! E disse:
"Você acha mesmo? Que, para você não passar pelo constrangimento dos seus amiguinhos, me ver indo buscar você nos lugares; eu, euzinha aqui, vou passar pelo constrangimento de ir buscar você em uma delegacia? Por ter feito qualquer besteira, incluindo provocar a morte de um inocente? Mas não existe a menor possibilidade de uma coisa dessas acontecer."
Paulo imitou a voz da mãe. E Pedro gargalhava.
- Claro que tentei convence-la, que acidentes acontecem em qualquer idade, mas ela foi categórica, que eu me virasse com meus acidentes quando eu tivesse idade para isso. Enquanto ela respondesse por mim, nem nos sonhos dela.
Os dois riam sem parar.
- Deve ser muito difícil ser mãe de filho único. - Refletiu Paulo.
- E não estraga-lo fazendo tudo o que ele quer. - Concluiu Pedro.
Os dois assentiram. Levantando.
- Vamos dormir. - Disse Pedro. - Tudo bem com seu quarto?
- Tudo bem. Boa noite pai.
- Boa noite filho.
Pegou o celular e foi para o seu quarto.
Mensagem de Ariane.
"Boa noite, meu amor. Espero que você tenha paciência para perguntas. Nosso filho é muito perspicaz nas perguntas. Se tem um assunto que você não quer conversar com ele ainda, te aconselho a não começar. Ele é um ótimo ouvinte. Ah, e fique atento, para quando ele disser 'tenho só mais uma perguntinha', porque nunca é só mais uma. Amo vocês. Fiquem com Deus."
Ele sorriu, e cantarolando foi dormir.
Continua...
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