35 - Os que confiam no Senhor, não se abalam.
Naquela noite, Ariane só mexeu em sua comida no prato; todos entenderam que não era fácil para ela, ficar longe do filho.
Mas não era só a distância do filho, que a estava esmagando; era também o abismo que ela havia aberto entre ela e o Pedro.
No dia seguinte, o próprio pai sugeriu que ela só fosse à igreja a noite, ela aproveitaria muito mais, se lesse sua bíblia, e fizesse suas orações sozinha, para se entender com Deus.
E assim ela fez. Tentou se entender com Deus, o que Ele queria dela em meio a tudo aquilo?
Orou e decidiu em seu coração que iria esperar no Senhor.
O que aconteceria daquele momento em diante, seria para honra e glória de Deus.
Todos almoçariam em casa, então ela resolveu fazer uma surpresa para a família.
💮💮💮
A casa dos pais de Pedro, parecia um albergue, a família crescera demais, e nem estavam todos ainda.
A cozinha estava um tumulto.
- "Porque será que não falam um de cada vez?" - Pensou Pedro sentando ao lado do filho.
- Você deve está achando que essa família tem algum distúrbio. - Comentou Pedro.
Paulo olhou para pai sorrindo.
- Que nada! Estou amando! - Respondeu Paulo animado.
Os dois sorriram.
Eles não iriam à igreja, iriam passear por aí só os dois.
- Pai, o senhor conhece bem a cidade?
- Tem grandes chances de vocês se perderem! - Disseram João e André, batendo na mão um do outro.
Pedro apenas sorriu.
- Vocês estão é por fora comigo. Só tem quinze anos! Foi praticamente ontem que eu andava só de cuecas por essas ruas.
- Aí, agora eu estou com essa imagem na minha cabeça, passei anos tentando esquecer cenas desse tipo. - Disse João se acabando de rir.
E todos recomeçaram a falar de uma vez, e ninguém se entendia mais.
Renata entregou o pequeno Gabriel para André.
- Desse jeito vai chegar todo mundo atrasado na igreja. Isso sim. - Retrucou Renata.
- Realmente, crianças aqui ó, quem já tomou café, escovando os dentes, e quem ainda não terminou acelerem! - Disse Geovana. - E os adultos deem o exemplo.
E assim todos dispersaram; nada como ter uma mulher para pôr ordem nas coisas.
- E logo só estavam Pedro e Paulo.
- Pai, o senhor se importaria se ficássemos aqui até o pessoal chegar da igreja? - Perguntou cauteloso.
- Está com medo de se perder com o seu pai? - Perguntou sorrindo.
- Que nada! Acabei de tirar meu celular do carregador, cem por cento de carga. Tenho o número de todo mundo agendado! - Respondeu também sorrindo.
- Aonde foi parar a confiança que se depositavam nos pais? - Jogou uma migalha de pão no filho.
- Ah, então foi com o senhor que a minha mãe aprendeu essa mania feia de jogar coisas nos outros? Quando vocês se casarem eu vou precisar me preocupar, com coisas voando pela casa? - Perguntou sorrindo.
Pedro olhou para o filho de boca aberta.
- O que foi? Tem margarina no meu nariz? - Perguntou passando a mão no nariz.
- Não! Não tem nada no seu nariz. Você disse quando 'nós casarmos'. - Disse eufórico.
- E não é isso que vocês querem? Casar, e mimar bastante o filho de vocês, talvez até liberar a viagem para Fortaleza em julho? - Perguntou erguendo uma sombrancelha.
- Viagem? E o que a sua mãe acha disso? - Perguntou cético.
- Pai, eu já vou fazer quinze anos, já posso viajar sozinho. Quer dizer ainda preciso da autorização dos pais, mas isso é só um detalhe.
Pedro riu.
- Traduzindo, sua mãe não concordou.
- Ainda não! Mas estou na fé. E vamos deixar esse assunto, para outra ocasião. A questão aqui é, coisas voando pela casa!
- Para começar, fui eu quem aprendeu com ela essa mania feia. E não se preocupe, não tenho o hábito de jogar nada perigoso nos outros.
- Menos mal! Ela também não; para nossa sorte, porque nunca vi pontaria igual! - Brincou Paulo.
- Nem eu! Mas porque você quer ficar em casa?
- O Ben, o senhor percebeu o quanto ele estava triste ontem? E até agora ele não levantou.
- Nos ver todos reunidos, ele deve ter sentido saudades da própria família. E meu pai disse, que ele tem estado tão melhor esses dias, tem saído mais do quarto, ele passava dias sem falar com ninguém, e nos primeiros dias só saia do quarto quando meus pais não estavam em casa.
- Eu posso chama-lo para ficar com a gente? - Perguntou solicito.
- Vai lá chama-lo. - Paulo saiu quase correndo.
Já que iriam ficar em casa, iria fazer o almoço, livrar as cunhadas da tarefa.
Estava mexendo na geladeira, quando os garotos voltaram.
- Bom dia! - Cumprimentou Ben.
Paulo tinha razão, ele parecia pior que os outros dias.
Olhou orgulhoso para o filho que sorria, por ser atento ao sofrimento do próximo.
- O Paulo disse que vocês não vão mais sair, isso não seria porque vocês não querem me deixar sozinho, seria?
Pai e filho se olharam.
Pedro abriu a boca, para dizer que não tinha nada haver, quando o filho falou.
- A não ser que você esteja naquele quarto rasgando a sua alma para Deus, você não vai voltar para lá está manhã.
Ben olhou-o assustado, e olhou para Pedro pedindo socorro, este apenas sorriu e voltou sua atenção para a geladeira.
- Você sabe que eu não entendi patavina do que você disse, não sabe? - Disse Ben confuso e Paulo puxou a cadeira, para o outro sentar.
- Tome o seu café, que eu vou te contar uma história.
Pedro sentou, afastado observando-os.
- Há muitos e muitos anos, antes de Cristo, antes mesmo das conquistas e queda da Babilônia, houve um rei; esse rei era o homem segundo o coração de Deus.
'É, eu sei, tudo indicava que o cara era o grande bambambam do pedaço, e era mesmo, ele era rei, poderoso, temido, galã (não tão galã), mas o queridinho de Deus; poxa o cara era perfeito!
'Só que não! Davi o rei em questão tinha as mãos sujas de sangue, sangue de guerra e sangue inocente. Ele fez algo terrível! Que toda a sua casa sofreu as consequências.
'Ele desejou a mulher do seu soldado, e a pegou para si, e a engravidou, e ele chamou Urias para visitar sua esposa; mas Urias era um servo leal, ele não iria deixar seu rei desamparado, em tempos de guerra, para aproveitar com sua esposa, e ele dormiu na entrada do palácio.
'E no dia seguinte Davi mandou pelo próprio Urias uma carta à Joabe o manda chuva do exército, que o colocasse na linha de frente, e o deixassa sozinho para morrer.
Ben arregalou ainda mais os olhos.
Paulo continuou.
- Durante algum tempo, ele escondeu esse pecado, até que um dia Natã o profeta, foi procura-lo; foi uma conversa difícil para Davi, porém necessária.
'Ele sentiu o peso do arrependimento, ao perceber que Natã falava dele e seu coração se condoeu, por pecar contra aquelas pessoas, mas principalmente contra Deus. Ele sabia de todas as coisas que Deus havia feito por ele, todas as vitórias que Deus havia colocado em suas mãos.
'Ele foi para o seu quarto, se trancou lá, rasgou suas vestes reais e se prostrou na presença de Deus, ele sentiu o peso do que havia feito, e sofreu pela vida inocente que foi ceifada por ele, e pelo vida do filho, que morreria também por causa dele.
'Ele não rasgou apenas suas vestes, ele rasgou sua alma. Todos os salmos de Davi são um bálsamo para a alma, mas o cinquenta e um, é um alerta para que você tenha humildade para perceber que pecou, que o pecado tem consequência, e que Deus está disposto a te ouvir e te perdoar. Davi escreveu.
' "Pequei contra Ti, somente contra Ti; fiz o que é mau aos Seus olhos. Por isso, tem razão no que diz e é justo teu julgamento contra mim."
'Ele assumiu seu pecado, ele aceitou, que Deus é justo, ele poderia sim, dizer: eu sou o fulano de tal, e posso fazer o que quiser; mas não, ele se voltou para o Senhor.
'Ele reconheceu que não era ninguém sem Deus, e aceitava com sabedoria as decisões de Deus, ele pediu a Deus. "Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova dentro de mim um espírito firme."
'Claro que ele sofreu as consequências terríveis do seu pecado, mas ele foi firme, em honrar a Deus, reconhecendo sua condição de pecador, compreendendo que Deus sempre vai ouvir nosso clamor, se nos dirigirmos a Ele.
'Em outro salmo ele escreveu, "livra-me da minha angústia; tem compaixão de mim e ouve a minha oração." E foi essas atitudes de humildade diante de Deus, que fez de Davi o homem segundo o coração de Deus.
Ben continuava a olha-lo assustado.
- Não te contei essa história, para te assustar, mas para você saber que não importa a culpa, o remorso, Deus quer cuidar de você, mas você precisa querer isso. Só você pode decidir o que fazer com essa tristeza que está te destruindo. Você pode fazer como Davi e se voltar para Deus, ou fazer como Saul que se destruiu.
- Você não faz ideia, do que é ver seu pai metralhando, você e sua família, e não compreender porque você não morreu com os outros, a morte seria melhor que os pesadelos. - Disse Ben destroçado.
- Você tem razão, eu não sei. Mas você também não sabe se a morte seria melhor que os pesadelos. Você lembra da oração da sua mãe, e do que ela lhe falou antes de morrer?
- Lembro. Ela orou que nenhum de nós morressem, sem estar prontos para está na presença de Deus; e ela me disse que Deus me amava mais que ela. - Ele refletiu no que falava e abaixou a cabeça.
- Você compreende essas palavras, não compreende? - Perguntou Paulo atencioso.
- Eu era o único que não estava pronto para está na presença de Deus, e por ela Ele me deu uma outra chance? - Perguntou tímido.
- Eu não sei quais os planos de Deus para você, mas eu arriscaria que seu raciocínio faz muito sentido.
- Eu sinto tanta saudades deles, principalmente da pequena Maria, ela era tão linda. Ela só tinha quatro anos, como ele pôde fazer isso, nós éramos seus filhos, ele dizia que amava a minha mãe e a nós mais que tudo...
Ele soluçava. Pedro engoliu seco.
- Só Deus para saber de uma coisa dessas, mas não cabe a nós os porquês, nos cabe buscar o seu refrigério. Você precisa ir devagar, uma coisa de cada vez, primeiro você precisa se entender com Deus, entender que Ele permite que as coisas aconteçam, mas que cada pessoa é responsável pelo que lhe acontece.
- Acha que minha mãe buscou por isso? - Perguntou horrorizado. - Ela buscava a Deus, ela nos levava para a igreja...
- Eu não acho nada! Mas eu sei que tudo que fazemos tem consequências, não conheço a história de seus pais. Mas lembra de Davi? Deus o perdoou, mas as consequências vieram mesmo assim; o que nos fortalece nessas circunstâncias é a certeza de que Deus está cuidando de nós.
- Eu compreendo quando você fala comigo, mas quando eu vou para a igreja, eu me sinto ainda mais culpado por eles estarem mortos, se eu tivesse ficado quieto, porque eu não obedeci? - Perguntou desesperado.
- Ben, posso orar por você? - Perguntou Paulo, triste pela dor do outro.
- Sim, por favor.
- "Senhor, Pai de infinita misericórdia e amor. O Senhor que conhece cada um dos nossos pensamentos, antes mesmo que eles se formem em nós, então só o Senhor pode acalmar os nossos corações. Nesta manhã eu venho lhe pedir Senhor por sua ovelha que está perdida, o bom pastor está a buscar por ela, mas ela se encontra tão perdida Senhor, que se acostumou à dor e ao desespero; não é da Sua vontade que ninguém se perca, cura Senhor a sua alma ferida, dê a ele um coração quebrantado e amoroso, prepare-o Senhor para os momentos de tribulação que ele terá, cura-o Senhor para que ele possa perdoar a si mesmo e aos outros. Eu te agradeço Senhor, por ter poupado a vida do Ben, e ter me dado o privilégio de conhecê-lo. Que o Senhor o guarde e o proteja, como tem feito sempre. Em nome de Jesus Seu filho amado, amém." - Orou.
Pedro abraçou os dois emocionado.
- "Obrigado Senhor pela vida do meu filho!" - Pensou Pedro fechando os olhos.
Continua...
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