- "Oh! Deus, a minha vida pertence a Ti, que seja feita a sua Vontade." - Pensou Pedro.

Suspirou, e bateu na porta do quarto dos pais.

- Entre. - Respondeu a mãe.

Pedro entrou no quarto tímido.
O pai estava deitado, e a mãe sentada na cabeceira, fazendo cafuné na cabeça dele.

Quando era criança, ficava horas olhando para os pais, e pensando que um dia encontraria alguém para amar e que o amaria, e seria tão feliz quanto seus pais eram.

- "Nada é como gostaríamos que fosse, quando não temos sabedoria para usar o livre arbítrio, e estragamos tudo na maioria das vezes." - Pensou melancólico.

- Bom dia! - Cumprimentou beijando a testa de ambos. - Pai, o senhor acha que está em condições de falar um pouco comigo?

- Se for sobre a mãe do meu neto, nós já conversamos. E eu vou fazer o que eu te falei, vou respeitar a sua decisão, só não quero ela aqui na minha casa. - Disse com a voz fraca.

Apesar da tristeza pelo que o pai acabara de falar, ele não pôde deixar de perceber a fraqueza, e o cansaço na voz dele.

Será que o pai estava mais doente do que os irmãos achavam? Sentiu um aperto no coração, talvez não fosse hora para essa conversa.

- Não se engane, com a minha voz. Não estou tão mal, o remédio que sua irmã me deu é que me deixa sonolento, mas pode falar, ainda estou bem acordado.

Pedro sorriu, havia esquecido o quanto o pai era bem perspicaz.

A mãe levantou para sair.

- Por favor mãe, fique! Eu quero falar com os dois. - Ela sentou.

Pedro respirou fundo.

- Não é sobre Ariane que eu quero falar. Pelo menos não diretamente. - Começou receoso.

O pai revirou os olhos, e a mãe sorriu.
Pedro abaixou a cabeça nervoso.

- Antes de qualquer coisa eu quero pedir perdão, sei que já pedi perdão aos dois individualmente; mas quero pedir perdão a vocês como líderes dessa família, pelo mal que eu fiz a todos vocês, por ter me afastado da nossa família depois da faculdade, por ter agido como um idiota sem noção. Isso nunca mais vai acontecer.

- Você não pode nos garantir isso filho! Você não sabe o que o futuro te reserva. - Lamentou a mãe.

- Eu sei mãe, não faço ideia do que o futuro me reserva, mas EU estou falando que dessa vez eu vou permitir que Deus cuida de mim. - Disse entusiasmado.

'A grande questão aqui pai, não foi o fim do meu romance com a Ariane, foi o fim do meu relacionamento com Deus. Eu me afastei dEle e me afastei de tudo que era importante para mim.

'Eu quero que todos vocês vejam o lugar aonde eu moro; eu até limpei o quarto de hóspede! Quer dizer eu e meus amigos, eu tenho bons amigos, e quero que vocês conheçam. - Disse emocionado.

'Eu disse a vocês dois que quero muito que Deus me dê uma outra chance com a Ariane, e quero mesmo isso; mas se Deus não nos dê uma nova chance, eu estarei pronto para isso. Eu não vou fazer nada, sem antes colocar na presença do Senhor.

- Mas e ela? Está firme em Deus, como você? Você pode nos dizer, que se vocês não ficarem juntos, ela não vai sumir com o meu neto de novo? - Perguntou o pai.

- Pai eu não posso responder por ela. Mas eu creio que ela também só quer o melhor para todos. Apesar do que todos parecem pensar, ela não está aqui porque eu estou, antes dela saber que eu vinha para cá, ela já havia decidido fazer essa viagem, ela já havia decidido, trazer o garoto para conhecer a família dele.

'Paulo entrou em contato comigo, dizendo que queria me conhecer. Eu só falei com ela aqui, nem no avião nós nos falamos. Eu creio que a prioridade dela nessa situação é o filho, e quanto a Deus, ao contrário de mim, ela nunca ficou afastada dEle, ela criou o nosso filho dentro dos princípios de Deus. Vocês mesmos viram o garoto.

- E você sabe como o Paulo conseguiu o seu contato? - Perguntou a mãe desconfiada.

- Eu não perguntei a ele mãe. Mas Jemima, mas eu teria que perguntar a ele, para ter certeza.

- Ele não é igual a sua irmã metida com essas coisas de computadores? É? - Perguntou o pai alterado.

- Não pai. Não é nada disso. Há algumas semanas, o Marcelo esteve aqui, e pediu à Jemima o número do meu celular, só que ele não me ligou. Então ela acredita, que ele tenha pedido o número, para um dos irmãos de Ariane.

'E também pai, isso não me importa, estou muito feliz porque ele me ligou, porque finalmente estou com ele. O que eu quero que vocês compreendam é que eu não vou desaparecer da vida de vocês! E aí vocês vão me perdoar e vamos continuar com a vida?

Os pais se olharam sorrindo.

- Se Deus está no controle da sua vida, só podemos nos alegrar. E eu não tive sabedoria para lidar com vocês a quinze anos e parece que ainda não tenho. Lamento por isso. - Disse o pai sorrindo.

- Mãe?

- O que eu posso falar, só não quero ficar sem o meu filho. - Disse com os olhos marejados pelas lágrimas.

- E eu não quero ficar sem a minha família. - Disse também emocionado.

O pai abriu os braços, e como quando era criança ele pulou nos braços do pai; claro que com cuidado, ele já não era tão pequeno e o pai já não tão forte.

Abraçado aos pais, ele percebeu o quanto sentira falta disso, e sentiu uma tristeza enorme por ter sido tão egoísta com eles por todos esses anos.

- Obrigado, papai! Obrigado mamãe! - Disse com a cara no peito do pai, molhando-o com suas lágrimas

- "Nada como deixar o Senhor cuidar de tudo. Obrigado, meu Deus, meu Pai." - Pensou, sentindo seu coração tranquilizar.

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Ariane e Alex estavam fazendo o almoço, quando finalmente os pais chegaram.

- Ah, como é bom chegar em casa e não precisar fazer almoço! - Suspirou a mãe, entrando na cozinha.

- O que vocês tanto faziam na igreja? Vocês demoraram! - Perguntou Laila, que cortava tomate.

- Essa menina não está muito nova para mexer com faca? - Perguntou o avô, beijando a testa da neta.

- Estou nada vô, o ano que vem eu vou fazer dez anos, já sou quase uma mocinha.

Alex e Ariane se olharam, naquela manhã ele confessara à irmã o quanto se preocupava com o fato das filhas estarem crescendo, e ele não saber lidar com as coisas de meninas.

Naquele momento ela decidiu, que seria o mais presente possível na vida das sobrinhas, e começaria a orar para Deus pôr uma boa mulher na vida dele, Adriana tinha razão, estava na hora dele pensar nisso.

Ela sorriu para o irmão, observou que o pai, explicava para a neta que eles passaram a manhã limpando e organizando a igreja pois essa era a semana deles.

E como todos iriam almoçar no dia seguinte na casa da tia Drica e ela deixara bem claro que era para ir logo cedo, eles resolveram limpar a igreja naquela manhã.

- Eu vou tomar um banho e relaxar, já que hoje eu estou de folga da cozinha, aliás vocês dois vão me deixar muito mal acostumada. - Disse dona Andreia saindo, sendo seguida pelo marido.

- Pai, mãe! Será que eu posso falar com vocês dois por um instante? - Pediu Ariane nervosa.

- Se for para falar sobre o seu encontro de ontem a noite, obrigado não estou interessado. - Esbrevejou o pai.

Doeu fundo em Ariane, mas ela respirou profundamente.

- Não pai, não é sobre isso que eu quero falar. - Respondeu magoada.

Os pais se olharam por alguns instantes, Ariane sempre admirou, a capacidade deles de se comunicarem sem pronunciar uma única palavra.

- Vamos acabar logo com isso. - Disse o pai. - Vem com a gente.

Ariane olhou para o irmão. Que balançou a cabeça assentindo.

- Eu e a Laila, terminamos aqui. - E piscou para a irmã.

Seguiram para o escritório do pai.
Desde que chegara, não havia entrado naquele cômodo, era o lugar favorito do pai em sua memória infantil, Adriana também passou por aqui, os diplomas de advogado do pai, que antes eram empilhados pela mesa, estavam todos emoldurados e exposto nas paredes, graduação, pôs, mestrado, doutorado, certificado da OAB...

- Ariane! - A mãe a tirou de seus devaneios.

- Desculpa! - Disse sentando. - Porque vocês odeiam tanto o Pedro?

- Sério! Que você está nos perguntando isso? - Esbravejou o pai furioso.

Ela fechou os olhos fortemente.

- "Aí, Senhor me ajuda! Eu já comecei mau. Por favor Senhor, é a família que o Senhor me deu, e não é da Sua vontade, que façamos uns aos outros sofrer." - Pensou quase às lagrimas.

- Foi mal. Vou começar de novo, eu sei que vocês acreditam que tudo o que aconteceu de errado na minha vida, foi culpa dele, e eu também pensei assim durante muito tempo, mas ele não me obrigou a nada que eu não quisesse.

'A pior decisão que eu já tomei na minha vida, foi a de desaparecer com o Paulo. E vocês dois discordaram disso; lembram que vocês me disseram que não era correto o que eu estava fazendo? - Perguntou aliviada.

Os pais concordaram.

- Então porque vocês estam tão ariscos com a aproximação de Paulo com a família paterna? - Perguntou intrigada.

Os pais se olharam.

- Não temos nenhum problema, quanto o Paulo se relacionar com a família dele, muito pelo contrário, é visível a felicidade dele, você precisava ver a alegria dele quando o pai foi busca-lo na igreja, a alegria de mostrar ao pai tudo o que ele havia feito, e é isso minha filha que me preocupa. - Argumentou o pai.

Ariane mordeu o lábio, e esperou que o pai continuasse. Mas ele não continuou, só olhou para esposa.

- Filha a nossa preocupação, é o seu relacionamento com o pai dele. Compreenda minha filha, não estamos torcendo contra, você disse que iria esperar no Senhor e estamos contando com isso, e se o Pedro for o melhor para você ótimo! Mas e se não for? O que você vai fazer? - Perguntou a mãe.

Ela sabia que fez por merecer aquelas palavras, mas ouvi-las machucava.
E tinha tanta esperança do irmão está equivocado!

- E o Pedro? O que ele vai fazer? Porque ele também não é um exemplo de equilíbrio. - Recriminou o pai.

- Não posso falar por ele pai. Mas eu creio que o mais importante para ele neste momento é o filho. Antes de saber que viríamos para cá, ele já estava se preparando para vir procurar pelo filho.

'Eu não vou sumir novamente. Não precisam confiar em mim, mas confiam no futuro que Deus tem para mim. Eu não vou me revoltar e agir como uma tola que acha que sabe tudo. Eu vim para consertar as coisas e é isso que eu pretendo fazer.

- E quanto a você e o Pedro? - Perguntou a mãe.

- Eu não sei mãe! Ainda tem muita coisa para conversarmos, mas qualquer coisa que formos decidir será colocado na presença do Senhor. Não somos mais crianças; e acredito que assim como eu, ele só quer ficar em paz com a família, e consigo mesmo. E precisamos das nossas famílias, do nosso lado.

- Se é assim minha filha, estamos aqui para o que você precisar. Só não queremos perder você de novo. - Disse o pai.

A mãe sorriu, e Ariane a abraçou, e o pai abraçou as duas.

- Obrigada aos dois. Eu amo tanto vocês!

Continua...