23 - Busque a Deus, e a Ele entregue a sua causa.
Pedro acordou muito cedo, orou, leu a bíblia, mandou uma mensagem para o filho, pedindo que ligasse para ele assim que fosse possível; e foi para a cozinha.
Estava coando o café quando a mãe entrou.
- Bom dia! Que bom que veio para casa filho. - Cumprimentou abraçando-o.
- Bom dia, mãe! Meus irmãos me convenceram. - Disse sorrindo.
- Você percebeu que temos cafeteira? E espero que você tenha escaldado esse coador.
- Sim, percebi a cafeteira, mas gosto de café coado assim. E sim, eu escaldei o coador.
- Eu e seu pai estamos indo para igreja. Meu filho tenha paciência com o seu pai, por favor! - Pediu a mãe.
- Eu vou ter mãe. Fique tranquila.
A mãe saiu e ele preparou o café da manhã, foi fácil se virar na cozinha da mãe, ela era a pessoa mais organizada, que Pedro já conhecera.
- Bom dia. - Cumprimentou um rapaz pálido de olhos assustados.
Pedro levantou e o abraçou.
- Bom dia, Ben! Como você está? - Perguntou Pedro.
- Vivo. - Disse amargurado, sentou e se serviu de café puro.
- Isso é motivo para agradecer. Você não acha? - Perguntou Pedro.
- Sinceramente? Eu não sei. A única coisa que sei nesse momento, é que estou feliz por você ter vindo pra cá; é bom ter outra pessoa para meu tio pegar no pé. - Disse o garoto sério.
Pedro gargalhou.
- Acho que ele ainda pega mais no meu pé que no seu! - O garoto deu um sorriso triste.
- Eu duvido muito, mas do jeito que ele chegou aqui ontem a noite, eu tenho quase certeza de que estamos quites.
- Ele estava tão chateado assim?
- Chateado? Ele estava louco da vida. Ele tinha certeza de que você iria para um hotel, porque você é um filho muito do desnaturado, e minha tia tinha certeza de que você viria para casa, afinal aqui é a sua casa.
'Eu fiquei esperando para ver qual dos dois estaria certo, mas a Renata chegou com as crianças, e disse que vocês queriam um momento só de irmãos. Então desisti, mas que bom que a tia Ana estava certa.
- Bom dia, rapazes. - Cumprimentou Renata, sentando. - E você Ben, ainda se comportando?
- Estou tentando fazer as coisas direito. - Sussurrou.
- Muito bem, é assim mesmo que começa, com a gente tentando. - Disse solidária.
- E a clínica? - Perguntou ele mudando de assunto.
- Só muito trabalho. Ah, e recebi a proposta para me tornar sócia. Estou avaliando os prós e contras.
- Mas é maravilhoso! Já imaginou você patroa. - Deu um meio sorriso a ela.
- Pois é, a verdade é que me assusta um pouco esse negócio de patroa. - Disse sorrindo também.
- Eu tenho certeza que você vai tirar de letra. - Disse sério novamente. - Com licença, eu vou estar no meu quarto, se precisarem de alguma coisa é só me chamar. - Disse já levantando.
Pedro ficou olhando o primo com o coração dilacerado.
Ele não parecia melhor, que a última vez em que o vira.
- Pensei que ele estivesse melhorando? - Falou entristecido.
- Mas ele está melhorando, só que é devagar. Ele está consultando com um novo psicólogo e com ele as coisas tem melhorado. Pelo menos agora ele está falando, e dá um ou outro sorriso, triste ainda é verdade, mas já é alguma coisa.
- Esse psicólogo, é uma pessoa decente? Alguém pesquisou as contudas dele? - Perguntou desconfiado.
- Eu e a Jemima, fizemos todas as pesquisas possíveis sobre ele, e Jemima então? Você sabe como ela é, ela fez as que não eram 'possíveis', não se preocupe estamos sempre atentas. - Disse tranquilizadora.
- Entendo! - Disse distraido. - E já sabem como o pai os encontrou?
- A polícia encontrou uma carta, aonde ele dizia que tinha homens, vigiando toda a família e os amigos mais próximos dos filhos. E foi assim que ele os encontrou.
'O Ben fugiu da casa aonde estavam e foi para uma festa na casa de um amigo, ele não fala como soube da festa; a questão é que o capanga do pai que estava na festa avisou a ele aonde o filho estava, e ele deixou claro na carta que iria segui-lo, e todos eles iriam ficar juntos para sempre.
- Deve ser terrível ser o único sobrevivente, se ver sozinho, sem a família.
- A síndrome do sobrevivente, junto com o fato de que foi a desobediência dele, que levou o pai até a família, é difícil para ele.
- Nossa! Coitado! Ninguém deveria passar por uma coisa dessas. O que ele faz o dia todo?
- Fica trancado no quarto, Felipe deu um violão para ele, para ver se ele voltava a tocar ou a cantar, mas acho que ele nunca nem dedilhou aquele instrumento. E como você percebeu, ele não se mistura! - Concluiu triste.
Ouviram André se aproximando com os filhos.
- Como ele consegui, manter as crianças tão quietas? - Pedro sussurrou, para a cunhada.
- Não faço ideia! Eu já tentei de tudo para elas se comportarem assim comigo, quando ele está trabalhando e nada, quase enlouqueço.
O olhar dela se iluminou, quando o marido e os filhos apareceram em seu campo de visão.
- Eu sou muito abençoada. - Disse com um sorriso de orelha a orelha.
Pedro apenas sorriu, os irmãos também eram abençoados, Deus colocara boas esposas em seus caminhos.
- Bom dia! - Cumprimentou beijando a esposa. - E aí Pedro conseguiu dormir bem?
- Graças a Deus! - Respondeu sorrindo.
- Será que o Ben está no quarto? - Perguntou Mateus.
- Sim. Mas você não vai ficar no pé dele, dê um tempo filho. - Pediu Renata.
- Eu sei mãe, só quero entregar algumas HQ's que eu trouxe para ele. - Os pais concordaram. Ele saiu correndo.
- Eu também vou. - Disse Raquel correndo atrás.
- O que vamos fazer hoje? - Perguntou André.
- Eu estou pensando em almoçar com o Paulo. - Respondeu Pedro pensativo.
- Chama ele pra cá. - Sugeriu André.
- Nem pensar! Não vou trazê-lo aqui, não sem o dono da casa convidar. Deus me livre do meu pai maltratar o meu filho!
- Não acho que o pai o maltrataria, ele não é nenhum monstro. - Constatou André rígido.
- Se eu posso dar a minha opinião! - Disse Renata olhando para os dois, que a encaravam.
- Bem, eu acho que os dois tem razão. Você tem razão amor, seu pai não é um monstro, mas é um homem, e tem demonstrado em inúmeras situações que quando o assunto é vocês ele é bem passional.
'E antes de convidar o Paulo para vir aqui, eu acho que o Pedro tem que ter uma conversa franca com o pai, e logo. Porque ele vai se sentir jogado de lado, se todo mundo conhecer o neto antes dele.
- Isso se ele voltar da igreja sem saber dessa novidade. - Sussurrou André.
- Será? - Duvidou Pedro. - Eles foram orar, não é possível que... - André começou a rir sem parar.
- Amor para com isso. Você está constrangendo seu irmão. - Pediu Renata, também rindo.
- Meu querido! Você está esquecendo de três fatores importantíssimos. - Começou André a enumerar nos dedos, ainda sorrindo.
- Primeiro, as duas famílias moram no mesmo bairro, frequentam os mesmos lugares, têm amigos em comum e etc e tal.
'Segundo, infelizmente, mas é a mais pura realidade, igreja só perde para salão de beleza e barbearia no quesito fofoca.
'Terceiro e eu diria que o mais importante, você e Ariane protagonizaram o maior escândalo já visto neste bairro. - Concluiu André sorrindo.
Pedro encostou a cabeça na mesa.
- Não fique assim meu querido, você só precisa falar logo com o seu pai. - Acalmou-o Renata.
- Renata você não o viu ontem, ele nem me abraçou, nem perguntou como eu estava! - Disse com a voz rouca. - Nada do que eu sinto ou quero importa; só importa a vergonha que eu fiz ele passar.
O casal se olhou, tristes.
Estavam tão distraídos que não ouviram o pastor e a esposa chegarem.
- Quando vocês iriam me dizer que aquelazinha já estava aqui? Eu te proibo de chegar perto dela entendeu! - Gritou apontando o dedo na cara do filho.
- O senhor não me proibi nada! - Disse tentando manter a calma. - Não sou mais um garoto que o senhor manda para onde quer, sou um homem e vou fazer o que eu quiser.
O pai acertou-lhe um tapa na cara.
A mãe gritou e ficou entre os dois.
André puxou o irmão pondo-o atrás de si e Renata foi atrás dos filhos e Pedro apenas suspirou e fechou os olhos.
- Se você vai ficar na minha casa, vai ser segundo as minhas regras. - Continuou gritando.
- Meu Deus! O que está acontecendo aqui? - Perguntou Felipe. - Lá de fora eu ouvi seus gritos pai.
Então ele observou e quadro e arregalou os olhos. Virou o pai na direção dele.
- Pai, olha o que o senhor está fazendo, já pensou no que seus netos, sua nora e até o Ben estão sentindo agora? - Perguntou Felipe aflito.
- Nenhum de nós, nunca viu o senhor assim pai. - Disse André triste.
Olhou a marca no rosto do irmão, e seus olhos também encheram d'agua ao ver as lágrimas do outro.
- Cadê meus netos e o Ben? - Perguntou olhando ao redor.
- Estão com a Renata. - Disse André, e ouviu o bebê chorar. - Eu vou ver meu filho. Virou para o irmão olhando-o nos olhos.
- Você é um homem de Deus, comporte-se como tal, por favor! Não faça nenhuma bobagem. Eu volto logo. - E saiu com o celular na mão.
Pedro ainda ouviu, quando o irmão disse 'Jemima'.
Acontecera exatamente o que ele mais temia, seus irmãos discutindo com pai por causa dele. Ele foi tolo em pensar que tudo aquilo poderia ser diferente, o pai sempre deixou bem claro que não concordava com suas escolhas, e parece que para o pai ele continuava escolhendo errado.
Ele sentou.
O que iria fazer agora?
Tinha tanta esperança de fazer as pazes com o pai, mas parece que isso não seria possível. Com a visão embaçada pelas lágrimas, ele viu a mãe e Felipe, ao redor do pai, mas não os ouviu, só conseguia ouvir o tapa que o pai havia lhe dado.
💔💔💔
Saiu sem que ninguém percebesse.
E ficou andando pelas ruas, sem prestar atenção para aonde ia.
- "Meu Deus, eu não quero envergonhar meu pai, mais do que eu já fiz. Não quero brigar com ele. Eu só quero que ele me perdoe, e que tenhamos uma boa relação de pai e filho. Senhor o que eu vou fazer, para que ele me compreenda? Me perdoe se não estou fazendo as coisas direito e me ajude a acertar tudo!" - Pensava enquanto andava sem rumo.
Seu celular vibrou, atendeu sem ver quem era.
- Alô? - Atendeu no automático.
- Pai? O senhor está bem?
- Oi meu filho! - Disse sorrindo. - Me desculpa, foi um início de manhã difícil.
- Se foi no estilo daqui, eu imagino! Como o senhor está?
- Sinceramente meu filho? Não sei. E você e sua mãe? Pelo que você disse, as coisas por aí também foram tensas.
- Eu estou bem. Agora a minha mãe? Eu acho que ela está igual ao senhor.
- Você acha que ela falaria comigo? - "De onde veio isso?" - Pensou Pedro confuso.
- Eu vou falar com ela. - Disse o filho vibrante. - E te passo o número dela.
- Obrigado filho! - Agradeceu sentido um frio no estômago.
- O senhor pediu para eu ligar, queria algo em especial?
- Não! Queria mesmo só saber de você. Quer almoçar comigo? Só nós dois?
- Claro! - Respondeu eufórico.
E os dois continuaram a conversar, a animação do filho, o empolgou e logo ele estava rindo também.
Não sabia ainda o que iria fazer, mas de uma coisa ele sabia, assim como iria conquistar o filho, iria recuperar a relação dele com o próprio pai.
Queria que o pai voltasse a sentir por ele, a mesma emoção que o Paulo fazia ele sentir.
- E que Deus me ajude. - Disse em voz alta voltando para casa.
Continua...
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