20 - Muitas são suas aflições, mas Senhor o livra.
Paulo empolgado falava sem parar no banco da frente com o tio.
Ariane encostou a cabeça no vidro e ficou observando a paisagem, sem no entanto ve-la.
Seus pensamentos estavam em um certo rapaz que ficara para trás.
Fechou os olhos, recordando da emoção de André ao abraçar o sobrinho pela primeira vez, a culpa a consumira naquele momento, e se perguntara até quando iria se sentir um fariseu.
- "Me ajuda a passar por tudo o que vem por aí, Senhor. Sim, eu escolhi todos os caminhos que me trouxeram até aqui, e Te agradeço pelo Senhor não ter me abandonado, e não quero mais escolher sozinha, estou aqui Lhe pedindo ajude-me a escolher o caminho da Tua vontade, cure o meu coração para que o perdão que eu venha a dar, e o perdão que eu venha receber, seja provindo do Senhor. Obrigada, pelo amor que o Pedro tem pelo nosso filho; obrigada, por tudo ter ficado bem nessa viagem e que cheguemos ao nosso destino em paz; obrigada, pelo carinho da comissária de bordo e que Senhor cuide dela com Sua imensurável misericórdia; e em especial Senhor, muito obrigada por ter colocado a Katherine ao meu lado. Eu te amo e Te louvo, porque nunca me abandonou. Em nome de Jesus, amém." - Orou.
Ariane continuou com os olhos fechados. As lembranças voltando para o estacionamento do aeroporto.
O sorriso de Pedro ao se despedir do filho, e o olhar intenso que dirigiu a ela quando se afastavam, que fez com que ela ficasse toda arrepiada.
Naquele momento, ela desejara profundamente que Deus lhes dessem uma nova chance.
Mexeu inquieta no banco traseiro, os olhos ardendo com vontade de chorar, apertou com mais força os olhos, para conter as lágrimas. Quais as chances de um homem como o Pedro ainda ser solteiro aos trinta anos? Nenhuma.
Outras lembranças atormentavam a sua cabeça. Os dois correndo e se beijando na chuva, tão jovens e inconsequentes. Ele na porta da casa dela, segurando seu rosto com ambas as mãos e dizendo, que para sempre iria ama-la.
Ele! Ele! E as lágrimas começaram a descer pelo canto do seu olho. Encolheu-se no banco. E as lembranças que por tanto tempo ela reprimiu, surgiram como uma avalanche.
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Pedro olhava as ruas, a última vez em que estivera em Palmas foi a cinco anos, quando seu amigo Eduardo pediu para ele verificar a estrutura de um terreno que ele pretendia comprar, o que foi bem válido pois o terreno não era propício para o que ele pretendia construir.
- Tem visto aquele meu amigo o Eduardo? - Perguntou ao irmão.
- Às vezes, nossos filhos estudam na mesma escola. - O irmão respondeu, olhando fixamente para a frente.
- Você sabe que se fosse o Felipe aqui ele já teria me bombardeado, de perguntas não sabe? - Disse Pedro sorrindo.
- Eu sei, e também estou cheio de curiosidades. - Respondeu também sorrindo. - Mas eu vou esperar chegar em casa, e aí você me aguarde! - Disse erguendo uma sombrancelha.
- Será que eles já atravessaram a ponte? Talvez eu deva ligar para o meu filho, e dizer que quero ir com eles. Porque meu irmão está me dando medo.
André gargalhou.
- Querendo uma desculpa para ficar pertinho de Ariane, né!! - Disse ainda rindo. - E olha quem está todo bobo! 'Meu filho' - Imitou o irmão.
Sorrindo, Pedro deu um soco de leve no ombro do irmão,ainda sorrindo voltou a olhar a paisagem.
- Mas você tem razão, eu estou mesmo bobo, e feliz. Deus está me dando uma segunda chance meu irmão. - André freou, jogando Pedro para a frente. - O que foi? - Perguntou assustado.
- O que você disse? - Perguntou com os olhos brilhando.
- Ah! Que eu sou bobo? - Perguntou intrigado.
- Não! Sobre Deus... - O irmão não conseguiu concluir, encarou-o emocionado.
- Verdade irmão, eu fiz as pazes com Deus. - O irmão piscou evitando as lágrimas, mas não adiantou.
- Saia, desse carro agora! - Disse saindo também. - Porque eu quero, dar um abraço no meu irmão, pois ele tinha se perdido e foi achado. - Disse às lágrimas, abrindo os braços.
Pedro se jogou nos braços do irmão, exatamente como o filho fizera nos seus braços naquela manhã e desejou, que ele tivesse transmitido ao filho o mesmo amor que seu irmão estava lhe transmitindo naquele momento.
Ficaram alguns minutos, ali abraçados, cada um pensando no quanto Deus é bom.
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Ao chegar na casa do irmão, Pedro se viu transportado para um outro mundo.
Um bebê chorava, um garoto assistia a uma televisão no último volume, e uma garotinha dançava Justin Bieber.
- Tem certeza que entramos na casa certa? - Perguntou Pedro preocupado, André apenas sorriu.
- Mateus, Raquel. - Disse André apenas um pouco mais alto do que acabara de falar com o irmão.
Pedro ficou chocado, por eles terem ouvido André chamar.
Mateus abaixou o volume da televisão, e Raquel fez o mesmo com o som. E os dois correram para o pai.
André fez as devidas apresentações, Pedro conhecera os dois quando esteve em Palmas a última vez, e claro que as crianças não se lembravam dele, a pequena Raquel, era da idade do bebê que chorava nesse momento; mas eles começaram a enche-lo de perguntas.
- Façam companhia para o tio de vocês, que eu vou ver o bebê.
Minutos depois, a paz reinava na casa.
Meio dia, quando Renata chegou do trabalho, o almoço estava pronto, e as crianças tinham ajudado a prepara-lo, e tinham ido tomar banho para almoçar e até o bebê dormia.
- Que bom te ver Pedro! - A cunhada o abraçou. - Você está diferente! - Disse ela sorrindo.
- Depois do almoço, esse rapazinho tem muito o que nos explicar. - Disse André, abraçando a esposa. - Eu vou chamar as crianças.
- Tudo bem, fazer o que? Esperar! - Disse colocando à mesa. - Desculpa por fazer você esperar, você deve está ansioso para chegar em casa.
- Tudo bem! André me explicou. E eu até achei bom, eu vi uma moto na garagem, e ele disse que eu posso ir nela. - Disse ele sorrindo
- Só espero que sua mãe, não enfarte ao ver o caçula dela chegar de moto, não sei se você sabe, mas a ideia dela sobre moto não é das melhores. - Disse a cunhada sorrindo.
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- Mamãe! - Chamou Paulo, sacudindo levemente seus ombros. - Chegamos!
Ela abriu os olhos assustada, encarando o filho. Mas como foi mesmo que ela dormiu?
- "Será que tudo foi só um sonho?" - Pensou olhando para o filho.
- Desça desse carro, bela adormecida. - Gritou Adriano de trás do carro.
Ela saiu do carro meio grogue, sua cabeça doia, não se recordava em que momento dormira.
Paulo foi ajudar o tio a tirar as coisas do porta-malas, só então percebeu que estavam na garagem da casa dos pais.
Ficou observando, nada mais era como ela se lembrava.
A casa era grande, como se lembrava mas estava estranhamente silenciosa, quando eram crianças o único momento de silêncio naquela casa, era quando estavam dormindo.
Sorriu com a lembrança.
O único carro era o de Adriano então os pais não estavam em casa, ou será que não tinham mais carro?
Que absurdo, os pais não eram tão velhos que não pudessem dirigir. Sorriu diante desse disparate.
Entrou na casa, e sentiu um soco no estômago, não conhecia aquele lugar. Certo que quinze anos, não são quinze dias, mas parecia que outra família morava naquela casa.
Os pais eram pessoas simples, a casa da qual ela se lembrava era simples e calorosa, aquela casa em que ela entrara era tudo menos simples.
A sala era mais espaçosa com quadros caros nas paredes, os móveis eram novos e modernos.
- "Aonde foi parar os móveis antigos da minha mãe, aqueles passados de geração em geração?" - Pensou confusa.
- Vamos. - Disse Adriano, ao seu lado.
- O que aconteceu com está casa? Está parecendo a casa da tia Lena 'chique'.
- Aconteceu a sua irmã, esqueceu? - Disse rindo.
- Claro! Decoração de interiores. Pensei que isso fosse só uma fase, ninguém me disse mais nada. - Disse olhando o ambiente. - E aonde está todo mundo?
- Hoje vamos almoçar fora. E vamos logo que estamos atrasados. - Pegou-a pela mão.
- O que ela fez com os móveis? Ainda não acredito que a mamãe deixou ela se desfazer deles! - Disse pesarosa.
- E quem disse que a mamãe deixou? Os móveis em questão, estão nos fundos, ficou bacana o que ela fez, você vai ver, a garota é boa no que faz.
- "ADRIANA's DECORAÇÕES" - Leu Ariane em voz alta rindo. - E eu pensando que era só fogo de palha.
- Ariane!!! - Gritou Adriana, vindo ao encontro da irmã, abraçando-a. - Paulo meu querido, que saudades. - Abraçou o sobrinho e entrou abraçada a ele.
Ariane e Adriano seguiram os dois.
- Sinto muito, que seu almoço de boas vindas não seja lá em casa, mas eu precisei reformar a área do churrasco e terminei de pintar ontem, me desculpa.
- Desculpou Adriana
- Eu pensei que fôssemos almoçar na casa dos nossos pais. - Cochichou Ariane no ouvido do irmão.
- E quando ela diz 'lá em casa', ela quer dizer a casa dos nossos pais mesmo. - Cochichou ele no ouvido dela, sorrindo.
- Ah!
E Ariane parou estática, tentada a dar meia volta e correr para a casa dos pais.
Tinha aproximadamente umas cem pessoas ali dentro daquele salão, e todas olhavam para ela.
Ela apertou a mão do irmão.
- Quem são essas pessoas? - Perguntou ela, cochichando novamente no ouvido do irmão, em pânico.
- Seja bem-vinda de volta, minha maninha! - Disse Adriano sorrindo.
Continua...
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