09 - Não temas, Eu te ajudo.
Paulo ajudava a mãe a lavar a louça.
Desde que chegara da escola que ele estava estranho, e ela aguardou pacientemente que ele falasse alguma coisa.
Agora ela já estava agoniada com aquele silêncio.
- Mãe que dia a senhora entra de férias? - Perguntou distraído.
- No dia primeiro. Porque? - Perguntou no mesmo tom.
- Então podemos viajar na primeira semana de dezembro?
- Ainda não pensei nisso, mas podemos ver como ficam as coisas.
Foi até a mochila e pegou uma declaração e entregou para a mãe.
- Não quero participar esse ano.
A mãe ficou olhando para a declaração do recital da escola, ele sempre participou, o filho amava cantar.
- E porquê? - Perguntou preocupada.
- O Davi ficou me falando umas coisas hoje, não quero ficar chateado com ele o tempo todo, e correr o risco de quebrar a cara dele.
- Rapazinho! Olha o controle sobre a ira. - Alertou a mãe.
- A senhora me ensinou que eu teria problemas com o "mundo", mas às vezes as pessoas da igreja me provocam mais, que as pessoas que não frequentam uma igreja.
Ariane entristeceu, não era a primeira vez que o filho, lamentava sofrer mais com os irmãos em Cristo.
- Talvez esteja aí o problema meu filho, não basta "frequentar" uma igreja, precisa "ser" a igreja.
- É verdade. - Disse o filho pensativo.
Sacudiu a cabeça e virou para a mãe.
- E aí, tudo bem pra senhora, se eu não participar do coral?
- Tudo bem, e também se viajarmos a semana que vem, ia ficar complicado os ensaios. - A mãe assinou a declaração e entregou para o filho.
- Obrigado, mamãe! - Agradeceu abraçando-a.
- Paulo, o que o Davi fez que te deixou tão chateado, dessa vez? - Perguntou preocupada.
- O de sempre, a senhora sabe como ele; ele sente um prazer mórbido em me humilhar, mas não se preocupe, eu não vou responder à altura dessa vez, por mais tentado que eu fique.
Sorriu para mãe e pegou o celular, e ficou olhando para o aparelho, com a testa franzida.
- Algum problema? - Perguntou a mãe.
- Não sei. Estou tentando ligar no número que o tio Adriano me passou, mas só está dando caixa.
- Ora, talvez o trabalho dele, não permita o usa do celular na hora do expediente. - Opinou a mãe.
- Talvez, mas eu tentei agora no horário do almoço, e nada também. - Respondeu desolado.
- Tenta a noite. Se não der em nada, pedimos o número dos seus avós paternos.
- A senhora não acha que todos deveriam saber que nós estamos indo pra lá? Afinal de contas, é fim de ano, e é a época preferida das pessoas para viajarem.
- Verdade. Não tinha pensado nisso. Bem a viagem é sua, me diz o que você quer fazer e faremos. - Disse sentando e olhando para o filho.
Ele sentou de frente para ela.
- Para começar vamos ligar a noite para o meu pai, e veremos o que acontece. Então ligaremos para meus avós maternos e diremos que estamos indo pra lá.
- Precisamos ver passagens. - Lembrou a mãe.
- E ligar para o tio Alex, quero que ele também vá, então temos que falar logo com ele. - Lembrou Paulo.
O celular do filho tocou. Ele atendeu batendo a mão na cabeça.
- Oi, Ricardo.
......
- Cara me desculpa, esqueci completamente. Mas pergunto agora. - Olhou para a mãe. - A banda pode ensaiar aqui?
- Deixando a minha casa de pé, pode. - Ela concordou.
- Liberado, podem vir.
Ariane saiu, lembrando a barulheira que aqueles adolescentes fazem.
💮💮💮
Naquela noite Pedro chegou em casa com a cabeça estourando, dormira mal.
Logo, não descansara, e não comera nada o dia inteiro, pois não teve tempo pra nada.
Estava ligando o celular, quando Tina rompeu na sala, com toda a extensão da sua ira.
- Porque diabos o seu celular estava desligado? - Gritou com todo o poder do seu soprano.
- "Se minha cabeça não explodir agora, eu realmente tenho a cabeça muito dura." - Pensou com ambas as mãos na cabeça.
- Pelo amor de Deus, eu não sou surdo. - Disse baixinho.
- Você desligou o celular, não me atendeu na empresa, e os seguranças não me deixaram entrar! - Disse furiosa.
- Eu não queria falar com você. Além disso hoje foi muito corrido, tive problemas com duas obras, e... E deixa pra lá, eu vou tomar um banho, e então conversaremos.
Ela aproximou dele, abrindo os botões de sua camisa com um meio sorriso, toda a fúria desaparecendo.
- Eu posso te dar banho... - Disse beijando seu pescoço.
Ele a afastou.
- Hoje não. Obrigado. - E foi na direção do quarto.
- Mais qual é o seu problema? - Tornou a gritar indo atrás dele.
Ele simplesmente entrou no quarto e fechou a porta à chave.
Quando saiu do quarto, estava mais tranquilo e sua cabeça já não doia tanto.
Estava arrependido do modo como tratara Tina, ela não tinha culpa de todas as besteiras que ele já fizera na vida, incluindo a de se envolver com ela.
Ela andava de um lado para o outro, parecia um bicho enjaulado, ela abriu a boca, e ele ergueu as mãos.
- Por favor! Não comece a gritar. - Pediu indo para a cozinha. - Você comeu o que sobrou da janta?
- Claro que não! Eu pensei que você havia jogado fora aquela gororoba. - Ele começou a mexer na geladeira.
- Se Sandro ouve você falar isso da comida dele, ele vai ficar muito chateado com você. Até porque você tirou ele da folga dele, só pra ele preparar esse jantar pra você, e você nem aproveitou.
Ela sentou na bancada enquanto ele mexia com a comida.
- Você está muito chateado comigo?
- Isso não importa Tina. Até porque quando eu contar pra você umas coisinhas que preciso te contar, você vai ficar muito mais chateada.
Ele olhou sério para ela.
- Pensando bem você não tem assim, nenhum remedinho para os nervos? - Perguntou cauteloso.
- Por um acaso você está insunuando, que eu preciso de remédio?
- Não. Estou dizendo que talvez, depois da nossa conversa, você precise se acalmar um pouco.
Ela ficou um tempo olhando pra ele.
- E se eu não quiser ter essa conversa com você? - Disse abaixando a cabeça.
- Sinto muito, mas você não tem essa alternativa.
Ela levantou e saiu.
Depois que jantou e arrumou a cozinha foi procura-la.
-Vamos conversar! - Chamou ele.
Ela estava na janela, observando o movimento.
Se virou pra ele, estava chorando.
- Oh! Tina não chore, por favor! - Pediu a abraçando.
- Eu posso pedir desculpas para a Lucia. Eu sinto muito por ontem a noite. - Disse ainda chorando, ele afagava seus cabelos.
- Talvez você deva mesmo ter uma conversa franca e sincera com a Lucia, ela é uma boa amiga, e você precisa de bons amigos. E quanto a pedir desculpas, você só deve fazer isso se for verdadeiro, caso contrário de nada adianta.
Ele a levou até o sofá, e sentou ao lado dela.
Ela era uma loura linda, grandes olhos verdes, só um pouco mais baixa que ele, de salto ela ficava da mesma altura, dona de um corpo maravilhoso, resultado de balé e samba segundo ela.
E era uma boa pessoa, ela foi a única a conquista-lo depois de Ariane, e isso dizia muito sobre ela.
E ela merecia alguém que a ajudasse a enfrentar os seus traumas do passado, ele sabia que quando ela falou dos possíveis traumas da Isa, na noite anterior, ela estava pensando nos traumas dela própria, que a amasse como ela merecia.
Mas ele também sabia que só Deus, cura uma alma ferida.
- Me perdoe minha querida, mas eu não sou quem você pensa que eu sou.
Ela o olhou confusa.
- Eu sou pai. - Ela pulou do sofá.
- O quê? Você está me testando, pelo que eu falei ontem? - Perguntou em pânico.
Andando pra lá e pra cá.
- Claro que não! Eu jamais faria uma coisa dessas com você, que ideia!
Ele também levantou.
- Me perdoa, eu deveria ter te contado, quando nos conhecemos. Eu sinto de verdade. - Ele se aproximou.
- Não me toque! - Gritou chorando. - Ninguém decente, esconde um filho. Você é igualzinho, à mulher que me pariu.
E correu para o quarto trancando a porta.
E ele ficou arrasado, pois ele sabia o quanto o abandono da mãe a fazia sofrer.
Só agora se deu conta de que Deus pôs em sua vida uma pessoa destroçada por causa do abandono parental.
Exatamente o que ele havia feito com o filho, ela tinha razão ele era igual a mãe dela, aquela mulher que no íntimo ele recrimara inúmeras vezes.
- "Meu Deus o que foi que eu fiz?" - Falou sozinho desesperado.
Mil uma coisa lhe passou pela cabeça.
Como seria seu filho?
Será que ele o odiava tanto quanto Tina odiava a própria mãe?
Será que assim como ele, Ariane havia se afastado de Deus e o filho foi criado longe dos caminhos do Senhor?
Ajoelhou chorando.
Porque não deu ouvido a Deus, porque não ajudou Tina a encontrar Deus?
Porque não insistiu em encontrar o filho?
- "Porque eu, era o mais perdido de todos. Me perdoe Senhor e me ajude, o Senhor pode me ajudar, e por favor, Senhor não permita que Tina faça nenhuma bobagem, e ajude-me a encontrar meu filho e me dê a Sua sabedoria para que eu faça as coisas direito dessa vez. Me perdoa."
Ficou um tempo pensando, refletindo sobre todas as escolhas que fez, escolhas que o levaram pra longe de Deus.
Para longe do filho, e longe de Ariane.
Seu celular tocou, pensou em não atender, mas verificou quem estava ligando.
Era um número de São Paulo, deduziu que poderia ser alguém oferecendo cartão de crédito, mas a uma hora daquelas?
Resolveu atender.
- Alô?
- Boa noite. Eu falo com o Pedro? - Perguntou uma voz jovem.
- Sim?
A pessoa não respondeu de imediato.
E Pedro pensou que era trote, e estava quase desligando quando a pessoa respondeu.
- Eu sou o Paulo, o seu filho.....
Continua....
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro