05 - Ele não nos trata segundo os nossos pecados.
Ariane terminou seu trabalho e foi ajudar o filho na cozinha.
- E então? Quer ajuda?
- Não. Hoje a senhora é minha convidada. A propósito o que dizia a carta do meu pai?
- "Não esqueceu isso ainda menino? É bem filho da sua mãe mesmo." - Pensou.
- Certo! Já que sou sua convidada, vou tomar um banho e depois do almoço falamos sobre a carta do seu pai. Tudo bem?
- Tudo. - Ela beijou a testa do filho e foi para o quarto.
Chegando lá ela pegou uma caixa que ela fizera na escola a muito tempo, e de lá tirou uma carta e um envelope que não havia sido aberto. Ficou olhando e pela segunda vez naquele dia chorou.
E pela primeira vez, pensou em como poderia ter teria sido sua vida, se ela não tivesse simplesmente fugido grávida e tão ressentida.
💞💞💞
Paraiso, 20 de agosto de 1995
Minha doce Ariane,
Por favor me perdoe, eu não soube o que fazer, e antes que eu pudesse me dar conta tudo estava perdido, meu pai tem razão, como eu vou cuidar de você e do bebê? se não sei cuidar nem de mim! Estou morrendo de saudades de você, eu não deveria jamais ter feito o que eu fiz com você, mas eu sei também que nem que eu viva cem anos, eu jamais vou esquecer o que aconteceu; mais que meu primeiro amor, você é aquela que eu vou amar para sempre. Estou indo morar com a tia Alda, não sei o que vai acontecer com a gente, mas eu te garanto que na primeira oportunidade que eu tiver volto correndo para você. Por favor, não esqueça que eu te amo, que estou apavorado e que eu não sei o que fazer. Queria tanto conversar com você, te abraçar, te falar que tudo vai dar certo, agora eu sei o quanto eu fui idiota me escondendo de você. Espero sinceramente que um dia você me perdoa.
Seu eterno namorado
Pedro
EU TE AMO. EU TE AMO. EU TE AMO.
💞💞
As lágrimas desciam silenciosamente, por seu rosto exatamente como acontecera a quinze longos anos.
Abriu o envelope que estava lacrado, e pegou a segunda carta.
Inúmeras vezes desde que Adriana havia lhe entregue aquele envelope ela o pegou, mas nunca conseguira abrir.
Era hora de enfrentar o passado de uma vez por todas, se iria voltar à Paraiso precisava ser pra valer.
💞💞💞
Paraiso, 03 de dezembro de 1998
Ariane...
Eu sei que mais de três anos é muito tempo para esperar, e eu não sei se fico triste ou feliz por você não ter esperado.
Tudo que eu queria era ter você de volta mas já é tarde demais, e você não faz ideia do quanto eu lamento.
Gostaria de pelo menos conhecer meu filho ou minha filha, você acredita que sua família não me disse nem isso?
Pôxa Ariane eu sou pai por mais que eu tenha sido tudo o que você quiser de ruim, eu ainda sou o pai dessa criança.
Eu realmente pensei que se eles me vissem e percebessem que eu só queria participar da vida dele(a) eles mudariam de ideia, mas não deu certo.
Eu sinto muito, por toda a dor que eu lhe causei; você nem sonha, com o quanto eu sinto saudades de você!
Por favor, espero que um dia você diga a ele(a) que em nenhum momento eu deixei de pensar nele(a).
Que mesmo, não vendo seu rostinho eu posso imaginar, e em minha imaginação, ele(a) é uma criança perfeita, e eu tenho certeza que a amaria profundamente.
Desculpa por estar te incomodado, não vou mais fazer isso, e a minha família também vai deixar a sua familia em paz.
P.S.: Não sei se você vai ler essa carta, espero sinceramente que sim, não sei também como está sua vida, mas espero que você esteja bem.
Beijos com o mais sincero amor.
Pedro.
💞💞
Chorou ainda mais ao teminar de ler a carta.
Passara os últimos anos achando que estava fazendo o certo.
Havia se convertido verdadeiramente, e no entanto; tia Lena ficaria decepcionada.
Compreendia agora que não buscou a orientação de Deus para se entender com Pedro, tomou uma decisão baseada na sua mágoa, dor e ressentimento.
E todo mundo sofreu por causa disso principalmente seu filho.
Era imatura e estava assustada quando chegou em São Paulo, e havia decidido que nunca mais iria há uma igreja.
Quando tia Lena veio passar as férias com os pais e lhe mostrou todo o amor de Deus.
Ariane acreditava que Deus jamais iria perdoa-la ou ama-la, mas a tia lhe mostrou na bíblia o quanto ela estava errada e que Deus a amava, ela só precisava se arrepender verdadeiramente e abrir o seu coração para a transformação que só Deus faz.
O primeiro livro que leu foi Isaías a tia que indicou, compreendeu que não importava o quanto se afastava dEle o dia que quiser voltar Ele estava de braços abertos para receber-la.
Envergonhada Ariane percebeu que buscou o perdão de Deus mas foi júri e carrasco do Pedro.
E mais envergonhada ainda, percebeu que fez a família dela, e a família dele, sofrerem por decisões que tomou, jamais Pedro a obrigou a fazer qualquer coisa que não quisesse.
- "Senhor meu Deus, o Senhor que me conhece desde antes mesmo de eu nascer, o Senhor que sabe de todos os meus pensamentos e sentimentos, mesmo aqueles que eu tenho vergonha de admitir, me perdoe Senhor e me ajude a fazer o que é certo para Ti. Me mostre o caminho, em nome de Jesus mostre-me o caminho. Amém."
Foi ao banheiro e lavou o rosto, Paulo provavelmente já havia terminado o almoço.
Pegou as cartas e foi para a cozinha. Ninguém; mas estava tudo pronto. Sentou e ficou esperando.
- A senhora está bem? Pensei que ia tomar banho! - Disse ele, aparecendo ao lado dela.
- Estou bem, só estou um pouco emocionada, não sei ao certo. - Entregou as cartas a ele. - Mas leia depois no seu quarto por favor.
- Claro! Uau! A senhora guardou - Disse emocionado. - Mas são duas cartas?
- Sim. Ele me mandou uma outra, anos depois pela Drica, quando ele foi pessoalmente te procurar.
- Como assim?
- Digamos que nos primeiros anos, a sua família paterna atormentou um bocado a materna pra saber de você.
Ela se mexeu inquieta, mostrar ao seu filho seus defeitos, não era uma tarefa fácil.
- E como eu disse que se alguém desse com a língua nos dentes eu sumiria e nunca mais saberiam de mim, ou de você.
Ela levantou e tomou um pouco d'água.
- Minha família jamais disse uma palavra sobre você, e ficaram as duas famílias se atormentando; então ele foi uma vez pessoalmente, ele explica na carta.
- A senhora não acha que foi cruel? - Perguntou desapontado.
Ariane, sentiu o coração gelar diante do desapontamento do filho, mas tinha que ser sincera.
- "Oh, meu Deus! Não permita que meu filho me odeia." - Pensou triste.
- Eu sei que fui, mas na época eu não pensava assim. E lamento por ter sido cruel com todos vocês, vou orar para que um dia vocês todos me perdoem.
Paulo sentiu a dor na voz da mãe.
- Eu não tenho do que perdoar a senhora. E me desculpa se às vezes eu tenho, uma ou outra reação, ao que a senhora me fala.
'Eu acho que se a senhora estivesse pronta pra falar comigo sobre tudo isso, antes já teríamos tido essa conversa a mais tempo.
'Deus é quem sabe o momento certo para as coisas se encaixarem, quando tentamos resolver no nosso tempo, só complicamos tudo. - Beijou o rosto da mãe.
- Vamos almoçar, está tarde. - Disse Paulo sorrindo.
Os dois colocaram a mesa rápido enquanto conversavam e sentaram à mesa.
- Eu fiz o almoço, agora a senhora agradece.
- Ok! "Senhor muito obrigada pelo nosso almoço, obrigada pela vida do meu filho e por favor Senhor não deixe que o alimento físico e espiritual falte na casa daqueles que te servem. Em nome de Jesus, amém."
- O arroz começou a queimar, sinto muito. - Desculpou-se Paulo.
A mãe sacudiu a cabeça sorrindo.
Ele fez seus pratos de sempre: arroz branco, feijão, bife acebolado e salada.
Serviram-se, e Ariane olhou para o filho curiosa.
- "Porque será que ele ainda não me disse do número do telefone do pai?" - Pensou aflita.
- Alguma novidade de Paraíso? - Perguntou inocente.
- Ainda não sei. Esqueci meu celular com a Bia, ela vai trazer depois do almoço. - Ela ficou parada olhando-o. - O que foi? - Ele perguntou erguendo a sobrancelha.
- Nada! Porque a Bia está com o seu celular? - Perguntou indiferente.
- Ela precisava fazer uma pesquisa e o dela descarregou. - Respondeu no mesmo tom.
- E o que aconteceu com a biblioteca?
- Ora mamãe, nem todo adolescente quer ficar enfurnado em uma biblioteca, isso sem falar que o google é bem mais rápido. - Respondeu rindo, a mãe também riu.
- Mas você sabe que a biblioteca é importante. - Lembrou-o.
- Eu sei mamãe, por isso eu sou um dos pouquíssimos alunos que ainda visita a pobre obsoleta. - Disse se acabando de rir.
E a mãe olhou-o de cara feia, ele ergueu as mãos
- Brincadeirinha, ela não é obsoleta, só fora de moda. - Disse ainda rindo.
- Engraçadinho, só por isso não iremos mais passar uns dias em Paraíso!
Ele parou de boca aberta, olhos arregalados.
- Sério? Ir pra Paraíso? Meu sonho! Retiro tudo o que disse sobre a senhora "digo" a senhorita biblioteca, ela é moderníssima e atualizadíssima!
'Se bem que a biblioteca da escola é mesmo atualizada. - Refletiu.
- E então nós vamos quando? - Perguntou animado.
- Acalme-se, vamos com calma. Ainda dependo de umas coisinhas.
- Já fiz a minha retaliação, com a senhorita biblioteca. - Brincou e a mãe sorriu.
- Ok. Muito bem. Mas filho você sabe que talvez, as coisas meio que não saia como você está pensando. Seu pai provavelmente já tem outra família e não quero que você sofra.
- Mas é claro mamãe, que eu já pensei nisso tudo a Bia também acha que "talvez" ele não queira mais me conhecer, principalmente se ele já tiver outros filhos.
'Mas mãe, se ele quiser fazer parte da minha vida, com ou sem outra família será uma honra pra mim, mas se não quiser eu tenho a senhora.
'E creio mamãe que Deus tem uma surpresa maravilhosa para todos nós, não se preocupe. Eu estou bem! Confie em seus ensinamentos.
"Bendito o homem que confia em Deus" eu confio. - Concluiu Paulo feliz.
E ela olhou para o filho muito orgulhosa. Pegou na mão dele sobre a mesa e sorriu Deus sempre cuidou deles e continuaria a cuidar.
- "Obrigada meu Deus pelo Seu Amor, Cuidado e Proteção. Meu filho irá conhecer o pai e Seja o Senhor com os dois, que o Senhor me dê sabedoria, e ponha no coração do Pedro o amor e o perdão e que ele possa ser um bom exemplo para o meu filho, desde quando ele estava no meu ventre o Senhor o Senhor tem cuidado dele; e eu sei que assim será obrigada oh, Senhor pelo amor que o Senhor tem tido para com a minha família". - Pensou, e voltou para sua refeição que como imaginara estava uma delícia.
Continua...
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