02 - Não provoqueis à ira a vossos filhos.
Os dois mantiveram silêncio até em casa, mal Ariane parou o carro Paulo pulou, correndo na direção da casa.
- Paulo! - Chamou calmamente.
Ele virou pra ela erguendo a sobrancelha, mesma mania dela pensou sorrindo, saindo do carro.
- Precisamos conversar.
- Sobre o que mãe?
- Sobre o que está te afligindo. - Passou o braço no pescoço dele e entraram.
- Tem certeza? - Perguntou mal-humorado.
Ariene olhou para o filho surpresa, ele jamais havia falado com ela naquele tom. Respirou fundo.
- "Tudo posso naquele que me fortalece, que é o Senhor, dê me sabedoria, estou aqui apenas pra cuidar dele para o Senhor." - Pensou entrando em casa.
Respirou fundo novamente e virou para o filho, e olhou-o nos olhos.
Olhos iguais aos do pai que às vezes fazia ela sentir um aperto no coração, exatamente como aconteceu naquele momento.
Ela fechou os próprios olhos e suspirou.
- É claro que eu tenho certeza. - Disse abrindo os olhos.
Nunca tinha visto tanta tristeza no olhar do filho, pegou-o pela mão e levou-o até o sofá.
- Qualquer que seja o problema, você sabe que pode ter certeza que eu quero saber, eu sempre vou querer saber. Você pode falar comigo sobre qualquer coisa, sabe disso, não sabe? - Ele sorriu triste.
- Não exatamente mãe. - Começou ele, com lágrimas nos olhos. - Não posso falar sobre qualquer aasunto com a senhora.
A mãe aguardou com o coração disparado.
E ele, permaneceu em silêncio.
- Por favor continue. - Sussurrou.
- Desculpe, não quero te magoar, e deixa isso pra lá, vai passar e eu vou ficar bem. Tenho sido insuportável não é? foi mal, me desculpe pela dor que eu te causei.
- Você não me causou nenhuma dor, quer dizer, não saber o que te aflige com certeza me deixa arrasada, mas sempre resolvemos tudo juntos e conversando e será desse jeito agora também. Quer resolver isso agora ou depois do almoço?
- Mamãe - Ela sorriu, era mamãe de novo - a senhora não vai gostar do que eu quero.
- Bem meu filho, só tem um assunto sobre o qual não conversamos, ou eu estou errada? - Perguntou erguendo a sobrancelha.
- Não, a senhora não está errada. E eu não estou com fome... - Sussurrou Paulo de cabeça baixa. - Então... - começou, mas parou.
Ariane gostaria muito de continuar fugindo desse assunto mas parece que não tinha mais como fugir.
- Então tá! Pode começar, o que você quer saber. - Insistiu inquieta.
- Quero conhecer o meu pai. - Disse sem rodeio.
Uau! Por essa ela não esperava.
Estava pensando em inúmeras perguntas, mas conhecer o pai?
UAU! Ela ficou lá olhando para o filho sem saber o que falar.
- A senhora nunca quis falar dele. - Continuou pegando a mão da mãe. - Eu te amo muito mamãe, mas eu gostaria de ter um pai, um homem com quem conversar que não fosse meus tios ou os pais dos meus amigo.
- Eu gostaria de ter o MEU pai, partindo da ideia que eu tenho um pai, porque eu não sei mamãe ninguém nunca pode me falar nada.
- "lamento muito Paulo mas sua mãe não quer que lhe falemos sobre seu pai, você vai ter que ver com ela" essa foi a resposta que recebi todos esses anos.
'Desde que aprendi a falar a palavra PAI eu soube que não poderia perguntar sobre ele.
'Agora mamãe, quem lamenta sou eu. Eu vou fazer quinze anos daqui a quatro meses, e pense comigo, o salmista diz que sou sua herança, então o certo é que eu seja herança dele também, certo?
Ariane confirmou com a cabeça sentindo um nó na garganta, jamais havia pensado nas coisas daquele jeito.
- Sendo assim não acha justo eu querer conhecê-lo? Saber dele, saber o que houve com vocês, entender por que ele nunca quis saber de mim.
As lágrimas desceu pelo rosto tão amado, e seu coração sangrou.
- Me perdoa meu filho, eu não deveria ter sido tão egoísta, eu lamento profundamente. Ele quis sim saber de você, por várias vezes, sua família paterna quis ter notícias suas, e ele próprio foi até a casa de seus avós uma vez, querendo saber aonde eu estava com você. Se ninguém nunca disse nada pra você que é o queridinho de todo mundo, imagina seu pai que estava todo mundo chateado com ele?
- Ele não sabe aonde nós moramos? - Perguntou surpreso.
- Não. Ele não sabe nem se você é menino ou menina, ou se está vivo ou morto.
- Ele foi tão terrível assim com a senhora? - Perguntou magoado.
- Na verdade meu filho, eu já nem sei!
- Eu gostaria de ouvir a história de vocês, como se conheceram, se apaixonaram, enfim, essas coisas.
Ariane suspirou.
- Bem. Quando nos mudamos para Paraíso eu detestei o lugar, nunca vi lugar mais quente e estranho, fiquei dois dias intocada dentro de casa.
'Então um dia ouvi gritos, estavam jogando bola na rua de casa, e curiosa fui ver. E lá estava o garoto mais lindo que eu já vi na vida.
'Você é igualzinho a ele, a única coisa que você não herdou dele foi o cabelo cacheado, que como você já percebeu esses cachos são meus. E eu fiquei olhando pra ele, ele sorriu e acenou pra mim e continuou jogando.
'Quando começou as aulas a primeira pessoa que eu vi na escola! Seu pai. A ideia de ir pra igreja só pra vê-lo foi minha, claro que uma péssima ideia e que tinha tudo pra dar errado.
'E então começamos a namorar, claro que ninguém queria. Mas a gente não importava, iríamos nos casar quando crescessemos e iríamos provar pra todo mundo que havíamos nascido um para o outro, era um plano perfeito.
Ela suspirou, perdida nas lembranças.
- No meu aniversário de treze anos, tudo se perdeu. Meu avô estava muito doente, então meus pais vieram para cá, Adriana quis vir com eles, e eu claro não queria sair de Paraíso de jeito nenhum.
Ela sorriu triste, não imagina que essa história ainda a machucasse tanto.
- Então meus pais concordaram que eu ficasse com meus irmãos; só que eles foram pra casa de um amigo e eu fiquei sozinha, na verdade eu nunca tinha passado um aniversário tão sozinha.
'Então o Pedro ficou me fazendo companhia, ele ia dormir na casa de um amigo dele, mas como seus tios não apareceram ele ficou comigo...
Interrompeu-se era desgastante lembrar de tudo aquilo, passara anos se esforçando ao máximo para não lembrar. Seus olhos encheram d'agua. E ela virou o rosto para o outro lado.
- E foi nessa noite que aconteceu. - Disse Paulo baixinho.
- Sim, uma única vez. - Concordou.
Envergonhada abaixou a cabeça.
O filho pegou no queixo da mãe levantando o seu rosto.
- Não fique assim, por favor! Eu sei que a senhora se envergonha do que aconteceu, e quando eu vejo isso em seu olhar eu sinto como se a senhora tivesse vergonha de mim também. - Refletiu triste.
- Filho de onde você tirou isso? Você é o orgulho do meu coração, você é o meu presente de Deus.
'Eu me envergonho sim, de ter sido tola, de não ter me convertido verdadeiramente quando levantei para aceitar a Cristo lá na igrejinha que seu avô pastoreava, por ter sido exatamente a garota que seu avô dizia que eu era.
'Mas de ter tido você? Jamais. Lamento por ter gerado você nessas circunstâncias e deixar você envergonhado.
'Não sei como você vai reagir a tudo isso, porque tudo isso te afeta também, veja bem, seu avô é um pastor, seu pai nasceu dentro de uma igreja e ele era um bom garoto, eu entrei na vida dele, e tive a chance de fazer uma outra escolha, mas escolhi o pecado.
- É disso que eu estou falando EU sou fruto desse pecado. - Disse triste.
- Todo mundo é fruto do pecado lembra? Eu me arrependo sim daquela noite e me arrependo muito filho, mas eu jamais me arrependi ou vou me arrepender de ter tido você.
'Como eu já disse você é um presente, Deus me ama de uma tal maneira que mesmo eu fazendo tudo errado ele me presenteou com você.
'Para que eu compreendesse a magnitude do amor dEle por mim, Ele deu o filho dEle pra morrer por mim, e não foi uma morte qualquer, Ele sofreu por cada pecado meu.
'E quando eu penso no quanto eu te amo, eu lembro que Deus me ama muito mais, eu não quis dividir você com o seu pai e você nem é meu, pois sou apenas um mordomo nesta vida, e Deus deu o Seu Unigênito para tomar o meu lugar.
'Hoje eu sou verdadeiramente convertida porque Deus, que sabe de todas as coisas, naquele momento, já sabia do eu precisava.
O filho sorriu.
- O que foi? - Ela perguntou insegura.
- Faz sentido. Porque é muito azar em uma única relação amorosa ficar grávida. - Disse ainda sorrindo.
- Pois é, só que não foi azar, foi Deus agindo.
Ela encostou no sofá também sorrindo.
- Se bem que nos primeiros meses de gravidez eu também pensei que havia sido MUITO azar.
'Quando eu percebi que estava grávida, já estava com dois meses, no início eu não sentia nada, mas quando eu comecei a vomitar foi um Deus nos acuda... - Ela refletiu um pouco.
- Pensando bem, o Deus nos acuda foi quando seus avós descobriram, porque aí sim foi complicado. - Ela suspirou.
- Eu te amo mãe! - Disse o filho carinhosamente.
- Eu também te amo meu filho. Não sou a melhor mãe que se tem por aí, mas eu tenho tentado ser a melhor para você. E eu sinto muito por tudo que sofreu todos esses anos.
- Sabe, agora que podemos falar sobre esse assunto a qualquer momento, não precisa me contar tudo de uma vez, além disso tenho muitas perguntas para o lado de lá também.
'E não se preocupe, eu sei que tenho um Pai sem igual que é Deus, mas quero conhecer o homem que Deus escolheu pra ser meu pai aqui. E então posso começar a perguntar por aí? - Perguntou animado.
- Por aí? Como assim? - Perguntou confusa.
- Imagino que assim como ele não sabe aonde estamos, a senhora também não sabe aonde ele está....
- Verdade. Não faço ideia. E qual a sua ideia?
- A senhora precisa liberar meus tios pra falarem comigo. Com certeza alguém naquela cidade sabe dele e da família.
- Deus meu! Ainda tem a família.
Bateu a mão na testa dramaticamente. Sorrindo, levantou e foi pegar a bolsa.
- Certo, vamos ligar pra casa. - Pegou o celular e discou.
- Obrigado mamãe! - beijou o rosto dela.
- Drica, precisamos da ajuda de vocês....
Continua......
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