Capítulo 6
Desculpa e perdão são palavras muito fortes. Embora pareçam sinônimas, possuem teores diferentes. Entretanto, para você utilizá-las, são necessários três passos: reconhecer o erro, se arrepender do erro, e estar disposto a nunca mais cometê-lo novamente. O valor, não está somente nas palavras, mas nas atitudes, também.
...
Eu devo ter dirigido por algumas horas, mas não voltei muito tarde para casa. Deitei na minha cama, mas meus olhos insistiam em permanecerem abertos. Eu me sentia oca por dentro. Um boneco de lata em busca de um coração, mas diferente dele, eu não queria procurar pelo meu. Depois de um tempo, meus olhos se fecharam.
Eu estava dormindo profundamente, e de repente a campainha toca. Eu não escuto de imediato. Mas ela começa a ir mais rápido e mais rápido e com muito custo e sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo, eu levantei. Cambaleei até porta e olhei para o espelho da entrada para dar uma ajeitada nos cabelos, dei uns tapinhas na cara e fui em direção ao olho mágico.
"Agora eu tenho pesadelos ao vivo. E eles entregam em casa".
A contra gosto, eu girei a chave, abri a porta e lá estava ele. Mesmo tendo olhado pelo olho mágico, ainda foi uma surpresa, eu olhei para ele como se não acreditasse naquilo, e naquele mesmo instante, meu coração começou a pulsar. Alex me olhou de cima e embaixo, quando então me lembrei que estava apenas de camisola. Ameacei fechar a porta, mas ele foi mais rápido, entrando e ocupando espaço. Alex deixava o ambiente pesado.
- Você não deveria receber as pessoas com essa roupa. - aconselhou indicando para a camisola.
- Eu acabei de acordar. - digo olhando para ele de cima e embaixo com o cenho franzido como se estivesse procurando alguma coisa. - E você está sóbrio, não corro risco. - observei.
Ele foi se sentando a mesa e não disse mais uma palavra. Eu estava em pé diante dele e ele me olhava com certo nervosismo.
- Eu não teria tanta confiança assim. - avisou ele com um olhar instigante.
Coloquei uma mão na cintura e a outra na testa, incrédula com o comentário dele.
- O que você faz aqui? Como entrou sem porteiro? - interroguei.
- Uma senhora estava saindo e eu aproveitei a porta aberta. – explicou.
- Preciso procurar outro prédio com uma segurança mais reforçada. – disse, encostando-me na bancada embaixo do espelho, de frente a ele, e cruzei os braços. - E então, o que faz aqui?
- Eu disse que viria, eu preciso de você, esqueceu? - lembrou-me. Eu não me mexo, só o encaro.
- Eu já disse que não vou. - Minha voz era firme.
Ele se levanta e parece nervoso:
- Eu não vim aqui à toa. Eu não vou embora. – gritou.
- Você não ia me demitir? Tá esperando o quê? – desafiei.
- Bem que eu queria, mas seu contrato com a minha mãe não me permite.
Eu levantei e me aproximei um pouco:
- Deveria saber também que não me permite fazer horas extras.
- Você poderia ver isso como uma espécie de favor. - sugeriu Alex.
- Favor? Se você soubesse falar direito com as pessoas, sim, eu poderia.
- Liza querida, poderia me fazer o favor de ir comigo visitar alguns clientes?
Coloquei uma mão na cintura e ergui uma sobrancelha:
- Sério? Acha mesmo que eu vou acreditar nesse sarcasmo todo? - quis me certificar.
- O que você quer? Que eu te peça de joelhos? - supõe Alex.
- Não. Eu só quero que você vá embora daqui. Você não é bem-vindo. Coloque-se daqui pra fora. - ordenei indicando a saída.
- Qual é a tua hein? O que foi que te deu? – perguntou.
Coloquei a mão na testa e semicerrei os olhos:
- Qual é a minha? Qual é a tua? Você me trata feito um arrogante sem nem me conhecer, depois age como um escroto, pede desculpa, vem com conversinha pra boi dormir, me beija, e ainda tem a cara de pau de me dizer que estava bêbado. - berrei – Agora entra na minha casa e quer ter autoridade. Você é um idiota, canalha, imbecil. – insulto me aproximando e dando de dedo.
Alex pega meu braço e me empurra de modo que eu voltasse a encostar na bancada. Minha respiração que já não estava normal, agora tinha um ritmo que eu não conseguia acompanhar. Ele me olhava nos olhos, os quais a essa altura estavam marejados por causa da raiva.
- E se eu te pedir desculpa? - sugere.
- Seria da boca pra fora. - eu mal conseguia falar, parecia mais um sussurro. Aqueles olhos verdes se afastam.
- Droga Elizabeth! – esbraveja. - Você me deixou sozinho aquela noite me fazendo realmente parecer um idiota - lembra. – Eu fiquei com raiva de você e fico mais ainda por não saber essa... - ele passa a mão no cabelo evidenciado sua testa e anda de um lado para o outro. - Essa coisa que acontece quando eu estou perto de você.
Eu o encaro por alguns segundos. Respiro fundo, coço a cabeça e me dirijo à cozinha:
- Preciso de um café.
Eu realmente não sabia o que dizer naquela hora. Eu estava com um nó na garganta e me sentia uma completa estúpida por isso. Alex por um lado tinha razão, eu o deixei falando sozinho. Aquela história de sentimentos inexplicáveis vindos do além me remete a contos de fadas ou coisas do tipo, e a um assunto o qual eu luto constantemente para não entrar em detalhes. Toda essa cena de Alex de dizer que acontece algo quando está perto de mim, eu não acreditava em nada daquilo. Não que eu também não tenha sentido, mas fugir de algo do que se tem medo é mais fácil que enfrentá-lo.
É difícil de acreditar em Alex, ainda mais depois do que ele me falou. Sem dúvida a atitude dele foi muito pior. Trouxe a tona um dos meus piores pesadelos. E mais uma vez, naquele momento, eu fugi. Só Deus sabe o quanto eu pedi para ele ir embora naquele mesmo instante.
Fez- se um silêncio. A água estava no fogo e eu podia muito bem espera-la ferver junto ao Alex, mas eu preferi acompanhar o processo de perto. Para passar o tempo, eu ia abrindo as portas dos armários. Parei diante a pia com as mãos apoiadas, tentando encontrar alguma saída, reagir de alguma maneira.
Enquanto estava escorada a pia, Alex chegou atrás de mim, e praticamente sussurrou:
- Quer ajuda? – Num impulso eu me virei e ficamos de frente, totalmente colados um no outro.
- Não precisa. - Engoli seco logo em seguida. Minhas costas estavam apoiadas na pia, minhas mãos a seguravam e eu podia jurar que estavam suando. Ele então se aproximou, colocando as suas mãos na pia também ao lado das minhas de modo que eu não tivesse como escapar. Ficamos em silêncio. Nossa respiração estava ofegante, e somente nossos olhos se comunicavam. Ele se aproximou mais, como se isso fosse possível, nossos narizes se tocaram. Nossas bocas estavam semi abertas como que implorando por um beijo:
- Tem certeza? - murmurou Alex.
Meu coração estava dando piruetas, mas a minha consciência falou mais alto e eu o empurrei:
- Tenho, eu sei fazer café. - disse em resposta a sua pergunta que eu acabara de lembrar.
Ele então se dirigiu à sala:
- Ok, tudo bem. Traga mais uma xícara. - disse desconfortável a caminho da sala.
Depois que o café estava pronto eu enchi duas xícaras e levei até a sala entregando uma a Alex.
- Está aqui.
Voltei para a mesa e me sentei olhando para ele sem saber o que dizer, enquanto ele se sentava também.
- E então? - ele pergunta.
- Eu não vou. Você pode ir embora. - falo firmemente e desvio o olhar me concentrando na xícara de café.
- Você sabe que eu não vou embora.
Dou um gole naquele líquido preto e volto a olha-lo.
- Por que insiste nisso? – indago. - Por que simplesmente não vá embora e esquece de mim? - ele parece calmo, acho que o café fazia o mesmo efeito em nós.
- Você faz aula comigo e trabalha comigo, não tem como te esquecer. - ele avisa.
Estávamos numa espécie de canseira, era como se nenhum de nós tivesse mais forças para brigar, embora o jeito das palavras pendesse a outro sentido. Dou um riso cínico e contido.
- É só isso? Não precisa se lembrar de mim quando não estivermos em uma dessas situações. - informei. Ele me olha por alguns segundos me deixando um pouco constrangida.
- Diga isso a minha cabeça e não a mim. - aconselhou.
Comecei a girar o dedo na borda da xícara para me distrair e disfarçar a vergonha que eu estava sentindo naquele exato momento. Alex apoiou a sua mão sobre a minha e a segurou. Estava fria e um pouco úmida. Pude sentir meu corpo gelar.
- Liza, me escuta. – pediu. – Eu estou aqui porque eu realmente preciso de você. Eu sei que só trabalha à tarde, mas eu prometo te compensar de alguma forma, por favor. Dessa vez ele não me pareceu irônico, pelo contrário, pôs a tona um Alex que eu não conhecia. Eu pensei por um minuto e me levantei me soltando dele.
Meus sentimentos estavam agora contra mim e eu não sabia decifrá-los. Eu andava de um lado para o outro, a mão na nuca e a cabeça baixa pensando se eu deveria ou não fazer aquilo, se eu deveria dar uma chance, ou se eu o expulsaria mais uma vez. Eu sabia que não seria fácil convencê-lo a ir embora. Entraríamos numa discussão eterna, mas o fato de ceder a ele uma ordem, ou a um pedido eu ainda não havia me decido, causava-me certa agonia. Passar um dia inteiro com Alex, só eu e ele, eu só podia pensar em como aquilo acabaria. Foi então que a voz da minha consciência finalmente resolveu se manifestar: "Concentre-se no profissional e decida".
Eu parei a sua frente, respirei fundo e me decidi.
- Pensando profissionalmente, e exclusivamente nisso. - dou uma pausa, um pouco relutante, para dar minha decisão. - Eu vou. Mas com uma condição. Você vai prometer que não vai agir como, como... - pensei em algum sinônimo para idiota, mas foi em vão, era sua identidade. - Como um idiota.
Alex se levanta e dá um sorriso:
- Prometo não decepcioná-la.
- A que horas é o compromisso? - pergunto.
- Ás dez. - ele responde.
Olho para o relógio que se encontra em cima da bancada e não acreditei.
- E você me acorda às quatro da manhã? - pergunto indignada.
- Você disse que tinha aula de alemão, como eu não sabia o horário vim o mais cedo possível para não te deixar escapar. - informou rindo do meu espanto.
- Para de rir! – ordenei seriamente. – Não tem nada de engraçado em acordar alguém a essa hora.
Ele faz sinal de redenção e não fala mais nada, só tenta segurar o riso levando uma de suas mãos a boca. O encaracolado vai em direção ao sofá e se senta. Paro a sua frente com os braços cruzados e levanto uma sobrancelha.
-Que foi?
- Eu já disse que vou com você. Acho que já pode ir. - avisei. Ele cruza as pernas e me encara com uma expressão de desapontado.
- Eu já estou aqui, pra que vou ir embora e depois voltar? - questiona.
- Não sabia que era tão pão duro. - digo. Ele então sorri.
- Não ligaria de voltar, mas eu já estou pronto, já estou aqui mesmo. Pra que fazer duas viagens? – Reviro os olhos.
-Bom, então fica aí que eu vou dormir. - Comunico indo em direção ao meu quarto.
- Ei! – chama. – Não vai me fazer companhia? – Viro-me com a expressão de desânimo.
- Sério? - Ele faz que sim com a cabeça.
- Ta, espera aí que eu vou me trocar.
Ele se levanta e se aproxima com um sorriso um tanto irônico:
- Se quiser, pode ficar assim. - sugere. Travo tentando digerir suas palavras.
- Quero dizer... – ele continua se aproximando ainda mais me fazendo dar um passo atrás. – Você já ta assim há um tempinho, não precisa se incomodar e muito menos se preocupar.
- Faço questão. – Reagi, indo em direção ao meu quarto.
Coloquei apenas um short e uma regata, e fui até a sala. Ele estava sentado no sofá olhando o celular, então sentei o outro sofá e me deitei. Minha ideia era permanecermos em silêncio e eu poder dormir. Em vão.
- Han... Por que você faz alemão? - interrogou demonstrando interesse.
- Vou estudar na Alemanha. – respondi.
- Sério? – surpreende Alex. – Quando você vai?
- Ano que vem ainda, em agosto. Vou terminar os estudos lá. - digo passando a mão no pescoço.
- Mas não vai se formar com suas amigas, com sua família?
Respiro fundo e respondo:
- Provavelmente não. Mas as aulas lá acabam mais cedo que aqui. Dará tempo suficiente para ver as meninas se formarem e meus pais estarem, embora eu acredite que só meu pai vá.
- O que suas amigas acham disso? – agora ele parece interessado até demais.
- Bem, essa ideia é minha desde antes de ingressar na faculdade, por mim meu primeiro ano faria lá, mas não consegui falar o idioma antes, então elas já se familiarizaram com a ideia.
- Só o inglês não está bom? Quanto tempo pretende ficar? – isso tava virando uma entrevista ou o quê?
- Sim. – concordei. – Só o inglês seria necessário, mas o fato é que conhecer a Alemanha é minha paixão, e saber a língua te faz interagir muito mais com as pessoas de lá. Vou ficar um ano e meio.
- Caramba! – exclamou. – Um ano e meio! Porque não termina a faculdade aqui e depois vai para lá?
- Eu até pensei nessa possibilidade, mas eu vou terminar a faculdade com vinte e quatro anos, depois vem a especialização, mestrado, doutorado. Quero conhecer cada canto, me interagir com a cultura e tudo mais, o tempo que fosse necessário, não apenas uma visita.
- Interessante. - Alex conclui. – Mas onde entra o casar, ter filhos essas coisas?
Dou uma leve pausa e respondo:
- Não entra.
- Como assim não entra? - Alex ficou surpreso.
- Isso é uma história para outra ocasião. – dou o assunto por encerrado.
Poucas pessoas entendem essa minha ideia de ficar sozinha. De não casar, não ter filhos, enfim, não construir uma família. Algumas ficam horrorizadas e pensam que eu não tenho um coração. Talvez eu não tenha mesmo. Depois de tanto pisarem, não sobrou nada, só um músculo que me deixa viva. Eu não queria dar mais corda àquela conversa com Alex. Para falar a verdade eu queria que ele fosse embora e eu pudesse organizar meus pensamentos.
...
O carro de Alex tinha o seu cheiro. Era ainda mais intenso e delicioso confesso. Uma sensação de embriaguez que poderia tornar um simples automóvel, um palco de grandes aventuras.
Alex disse que não iria embora e assim ficou em casa faltando apenas quinze minutos para as dez horas, quando então resolvemos partir. Ficamos conversando por alguns instantes e descobri que os pais de Alex são separados, mas ele não quis entrar em detalhes dizendo que essa história o machucava muito. Eu também não insisti. O sonho dele era administrar a empresa da sua mãe e de certa forma já estava começando. Nós não brigamos o que foi um milagre. Vez ou outra ele me olhava e desviava, em seguida, era a minha vez. Um momento um tanto constrangedor certamente.
Visitamos algumas casas com a presença de um arquiteto. Não era necessário, mas Alex gostava de saber de todos os detalhes, participar de cada etapa, ele dizia que era uma forma de descobrir novas tendências, quais são os produtos que estão em alta, enfim, ele gostava de se atualizar, de um jeito ou outro, para um administrador em construção era de grande importância estar por dentro de tudo quando se tem uma empresa, então pode melhorá-la sempre que necessário. Era incrível o jeito como ele gostava daquilo e parecia entender cada detalhe, era como uma criança numa loja de brinquedos. Em um mês eu ainda não tinha sido apresentada a esse Alex. E então quando o relógio marcou meio dia, terminamos o expediente.
- Vou te levar pra almoçar. - informou Alex. Fecho a porta do carro e coloco o cinto.
- Não precisa. Me deixa em casa, vou precisar do carro. Eu almoço em casa mesmo. – Alex da partida no carro e insiste.
- Liza dentro de uma hora vamos para o mesmo lugar, até eu te deixar em sua casa, você preparar algo para comer, eu voltar para almoçar, já deu o horário. Chegaremos os dois atrasados.
- Mas depois do trabalho eu tenho aula, como eu vou, de ônibus? - pergunto.
- Não tem nada demais em pegar um ônibus. - ele sorri irônico. Olho para ele com uma sobrancelha erguida. - Eu saio mais cedo e te levo para a faculdade.
- Sério, não precisa, não quero te dar trabalho, além do mais, mesmo que você me leve, eu ainda tenho que voltar pra casa.
- Liza, só relaxa, eu te espero, e te levo em seguida. As provas estão pra começar mesmo, eu aproveito e estudo na biblioteca. - ofereceu Alex. Franzo o cenho e volto a olha-lo.
- Sério? Que bicho te mordeu? – pergunto totalmente impressionada com um novo Alex ao meu lado. Ele sorri e então responde.
- Você impôs uma condição pra você vir comigo, não foi? Então, estou tentando não ser um idiota.
Pensei em contestar, mas eu sabia o quanto ele era teimoso demais para ser contrariado.
- Ok, você venceu. - respiro fundo. - Mais um vez. – digo frustrada. – Enfim, onde vamos almoçar?
Ele olha pra mim e sorri:
- Na minha casa.
Faço uma expressão assustada, mas tento disfarçar, em vão.
- Relaxa. Minha mãe não está em casa, só a Naná. - avisa Alex.
- Naná, quem é Naná? - pergunto.
- Bem, ela é... É minha babá. - confessa constrangido. Dou uma risada e Alex fica com vergonha.
- Ela foi babá do meu irmão mais velho, depois ele cresceu, e então eu nasci. Mas ela se tornou tão especial, que agora ela trabalha em casa, é como se fosse da família. – explicou.
- Entendi. - confirmo me recuperando do riso.
- Então você tem um irmão? – pergunto.
- Tenho. Arthur, ele já é casado. Tenho uma sobrinha de três anos.
Mais uma vez silêncio. Então Alex resolve quebrá-lo:
- Você disse que não se dá bem com a sua mãe, por quê?
- Minha mãe tem certo ciúme de mim. De certa forma ela coloca a culpa em mim da atenção do meu pai. Então ela sempre acha um jeito de criticar as coisas que eu faço, e tenta colocar meu pai contra mim.
Aqueles olhos verdes se mostram surpresos:
- Sério? Você não se dá bem com a sua mãe, e eu... bem, eu não falo com meu pai já tem um tempo, mas se não se importar, eu não gosto de falar sobre isso.
- Tudo bem, sem problemas. - compreendo.
-Mas o que acontece com seus pais? - Alex indaga. Eu respiro fundo e penso na melhor maneira de respondê-lo sem tentar entrar em detalhes.
- Acredito que a relação deles esteja um pouco desgastada.
- Desculpa, mas não seria o caso de uma separação? – sugere.
- Acho que para os dois é conveniente estarem juntos. Sei lá, talvez nutrem um amor reprimido ou se escondem. Alex levanta uma sobrancelha.
- Não foi você quem disse não acreditar em amor? - lembra Alex. " Droga, ele tinha que entrar nesse assunto".
- Na verdade, foi Back quem disse. Mas ela tem razão e agora é a minha vez de te pedir desculpas. Eu não gosto de falar sobre isso. - digo olhando a janela, e Alex não insiste.
- Tudo bem, teremos algum tempinho ainda para você me contar a sua história e eu contar a minha. – ele disse num tom acalentador e eu não sabia explicar por qual motivo eu me senti confortável com a possibilidade de ter mais tempo em conversar com Alex.
Finalmente chegamos a casa de Alex. Eu estava mega nervosa, embora tentasse disfarçar. Talvez a ideia da mãe do Alex não estar me deixava ainda mais tensa. Certamente eu iria passar o dia inteiro com o Alex. Eu não sabia até que ponto seria bom toda essa harmonia que estávamos tendo, ele era um risco, sem dúvida, e o fato dele agir como um idiota ajudava de certa forma, e agora sendo simpático, eu tinha que tentar de tudo para sermos apenas bons amigos.
Assim que ele abra a porta, um husky siberiano vem até mim e pula de forma a ficar quase da minha altura.
- Meu Deus! Quem é você? – ele se senta e eu me abaixo para ficar da sua altura. Deslizo minha mão sobre seu pelo macio e cinza completamente encontrada pela diferença de cores em seus olhos. – Como você é lindo. Como vai garotão? – ele abana o rabinho alegremente.
- Esse é o Lucky. – Alex o apresenta.
- Muito prazer Lucky, eu sou a Liza. – converso com ele com voz de criança. Eu era apaixonada por essa raça e eu ficava encantada sempre que via uma. Alex tentava controlar o riso pela cena cômica entre mim e Lucky, mas tinha o olhar compenetrado.
- Alex, você chegou? – Uma senhora com os cabelos presos em um coque e um avental em na cintura chega até o hall de entrada onde nós estávamos. Tinha a pele morena e aparentava ter um pouco mais de sessenta anos.
- Naná, essa aqui é a Liza, uma... - ele olha para mim em busca de uma definição. - Bem, ela estuda e trabalha comigo. - Ótimo, o fato de eu não ser nada para Alex era muito mais fácil de lidar.
Levanto-me e vou até Naná para cumprimentá-la e a mesma me puxa para um abraço.
- Muito prazer Liza. Você é uma jovem muito bonita. Alex é um garoto de sorte por andar com uma menina como você. – disse simpaticamente. Eu fico um pouco envergonhada e dou apenas um sorriso em agradecimento ao elogio.
Sento-me a mesa junto a Alex. Naná não comia na mesma mesa, não porque não pudesse, mas porque preferia fazer suas refeições, sozinha. A comida era estrogonofe, o prato preferido de Alex. E pelo jeito era mesmo, mais uma vez o lado criança de Alex se aflorando, e por um momento eu pensei se eu ficava assim quando comia macarrão. Em alguns momentos a mesa, eu começava a dar risada. O loiro de olhos claros parecia estar em sintonia com a comida. Ele me olhou algumas vezes um tanto constrangido
- O que foi? Por que está rindo? - pergunta limpando a boca com o guardanapo.
- Nada. É que você é engraçado comendo estrogonofe. - confesso rindo e Alex fica vermelho.
-Engraçado, por que?
- Sei lá, parece que você e ele tem um caso de amor. - concluo. Ele então dá risada, e toma um gole de refrigerante:
- Devemos ter sim, eu simplesmente amo essa comida. - afirma.
- Eu percebi mesmo. – confirmo rindo.
- Para! Você também deve fazer isso. Qual a sua comida preferida?
-Macarrão. – respondo.
- Pois eu faço questão de fazer um prato de macarrão especialmente para ver a sua cara – brinca Alex.
- Hum! - exclamo levantando a cabeça.
Começo a mexer na comida e então noto a ausência de alguém:
- Alex, onde está o Lucky?
-Provavelmente deve estar contemplando seu ar condicionado na sala. Depois eu te levo até ele.
Eu poderia muito bem esquecer Alex e contemplar Lucky o resto do dia, ou seja, nem tudo estava perdido. Assim que terminamos, Alex me levou até a sala. A casa de Sarah era linda, um sobrado, praticamente inteiro branco, alguns detalhes em madeira, outros em vidro. Sarah era quem tinha escolhido mais da metade dos móveis e da decoração da casa, já era de se esperar.
A porta de entrada levava a um hall, tinha um lavabo e em seguida a sala de estar. Do lado a cozinha, em frente, a sala de jantar. O jardim era maravilhoso, havia uma piscina gigante, flores e coqueiros em cada canto. Na parte de cima ficava os quartos e a sala de TV, onde Lucky estava dormindo no tapete.
- Ei garotão! - chamou Alex. – Liza veio se despedir.
Lucky se levanta num impulso e começa a abanar o rabinho. Eu então me sento ao seu lado e começo a passar a mão em sua cabeça.
- Você é muito fofo. Coisa mais linda. - digo com vozinha de criança, fazendo Alex rir novamente.
Ele então se aproxima se juntando a nós. Lucky começa a me lamber querendo brincar, eu então sorrio e vejo Alex me observando, fazendo-me corar. Ele tem certo sorriso bobo no rosto, e eu tento me distrair fazendo carinho e conversando com aquela coisa peluda e grande.
Chegamos a empresa e fomos direto a nossa sala. Jhony já havia chegado, eu o cumprimento e me dirijo a minha mesa, Alex faz o mesmo.
- Vocês dois chegando juntos? - desconfia Jhony.
Nenhuma resposta vinda de Alex, logo, eu me disponho a falar, mas Jhony toma a frente.
- Isso tem alguma coisa a ver com o fato de você ter trocado de expediente comigo, Alex?
Eu fico surpresa com a pergunta de Jhony, e procuro saber mais.
- Trocar de expediente?
Jhony vira-se para mim.
-Sim, normalmente quem visita os clientes na parte da manhã sou eu, Alex faz os da tarde, sempre que é preciso, claro.
Olho para Alex em busca de uma explicação, mas o mesmo permanece calado. Quando tudo parecia caminhar perfeitamente, veio a tempestade me trazendo o velho Alex de sempre. "Era o que eu queria, não era? Agora atura". Toda aquela cena que tivemos na metade do dia, era um forma de me dar mais trabalho e de me deixar mais irritada. Alex queria me provocar e conseguiu.
- Agora eu tenho que resolver algumas coisas com uma arquiteta e já eu volto. Juízo vocês dois e não morram de saudades de mim. – despe-se Jhony. – Ah! Liza, avisa as meninas que o Daniel vai dar uma festa na casa dele na sexta à noite e pediu para convidar vocês, provavelmente ele vai mandar mensagem a elas, confirmando – comunicou.
Assim que Jhony sai, o ser encaracolado tem a sua atenção ao computador, mas eu a desvio.
- Por que você não pode ser legal o dia inteiro? Tem que se mostrar um idiota mais uma vez, deveria colocar isso no seu crachá. De novo Alex? Eu achei que era coisa séria, mas na verdade era para me fazer ter mais trabalho. Até quando vai brincar comigo assim? - eu estava querendo uma satisfação. Ele não reage, apenas começa a digitar disfarçando. Eu então me levanto e paro em frente a sua mesa.
- Alex, eu estou falando com você - grito. Depois de respirar fundo, ele se levanta sem me encarar em nenhum momento, parando em frente a mim. Ele engole seco, está nervoso, mas não estressado.
- Não era para te dar mais trabalho, nem agir como um idiota. Eu queria passar um tempo com você. - diz se aproximando.
Nossos olhos começaram a conversar, estavam novamente em sintonia, mas eu queria sair dali ou discutir com ele, qualquer coisa era melhor do que aquela situação. Foi quando finalmente o universo começou a conspirar a meu favor.
- Desculpa gente, mas eu esqueci minha pasta.- interrompe Jhony, fazendo eu e Alex nos afastar rapidamente. Voltei minha atenção a Alex esperando por um resposta.
-Liza, por favor, a gente se deu bem o dia todo, e eu pretendo continuar a ser legal. Esquece o que aconteceu, já disse que vou tentar de compensar de algum jeito. – implora. Repiro fundo e acabo aceitando.
A tarde passou voando, o dia na empresa foi calmo. Jhony chegou depois de um tempo e deixou o ambiente mais leve fazendo uma de suas piadinhas. O trabalho ficava mais prazeroso, apesar de tudo, Alex e eu conseguimos interagir.
À noite, conforme o combinado Alex me levou para a faculdade me deixando com três repórteres de plantão – Sam, Back, e Kate. Tentei explicar tudo a elas, mas só as partes mais importantes, como "fiz um trabalho extra e foi só isso".
A hora de ir pra casa finalmente chegou, aquele dia foi longo e cansativo. Eu só queria poder deitar em minha cama e relaxar. Alex me deixou na entrada do prédio, e me acompanhou até o elevador, disse que ia cumprir o trato até o final, e assim o fez.
- Foi um prazer passar o dia com você. Fico feliz que você e u conseguimos nos entender. - despede Alex.
Ele então se aproxima e me dá um beijo casto no canto da boca. "Tava demorando para o senhor aparecer não é mesmo coração. Pode voltar a dormir, obrigada". Entrei em meu apartamento e fui direto para o meu quarto com um sorriso idiota no rosto e me detestei por isso. Não era para eu ficar daquele jeito e fiz de tudo para dormir o quanto antes, rezando para nenhum sonho me perturbasse.
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