Capítulo 5
Às vezes, estar diante de algo novo pode te fazer agir de diversas maneiras. Alguns encaram a realidade de frente. Outros se esquivam, fogem, ou faz de tudo para aquilo sumir. É uma espécie de fobia. Você pode se comportar de diversas maneiras e ninguém a sua volta irá te entender, a não ser você mesmo, ou não.
...
Assim que o intervalo chegou, como de costume, eu e as meninas descemos para comer alguma coisa. O assunto inteiro foi o fato de eu estar trabalhando com Alex e Jhony.
- Liza, agora não tem mais desculpa para você não falar com os meninos. - disse Kate.
- Isso não muda nada. Eu vou continuar saindo antes do intervalo na quarta e na quinta, não tem jeito de eu vê-los. - expliquei.
- Poxa vida, precisamos marcar logo alguma coisa com os meninos, já estou com saudades deles. - avisou Sam.
- Você não está precisando fazer alguma reforma no seu quarto? Trocar uns armários ou algo do tipo? - perguntei.
- O que isso tem a ver? - perguntou Sam.
- Você pode passar na empresa e pedir para o Jhony dar uma sofisticada a mais no seu quarto. Ele deve conhecer camas incríveis e você aproveita para matar a saudade dele. - brinquei rindo e as meninas me acompanharam. E Sam me deu um tapa de leve no braço.
- Claro que não. Imagina. - riu sem graça.
- Boa Liza! - ajudou Kate que não conseguia para de rir.
Back olha por trás de mim e faz sinal para eu me virar. Assim eu faço. Ele se aproximou da nossa mesa e cumprimentou as meninas.
-Olá meninas! Como estão? - Certeza que essa simpatia toda não era comigo.
- Estamos bem. - respondeu Back pelas meninas. - Estávamos falando agora mesmo de você.
Nessa hora eu havia me virado, de forma a ficar de costas a Alex. Eu não disse absolutamente nada.
- De mim? Por que? - perguntou surpreso.
- Ah você sabe, sobre o fato de Liza estar trabalhando com você e Jhony. - Respondeu Sam.
Alex passou a mão pelos cabelos encaracolados e pigarreou:
- Claro. Falando nisso, Liza, preciso falar com você, é possível? - pediu. Incrível como seu tom havia mudado na maior naturalidade. Não respondi, só levantei da mesa e o acompanhei.
Fomos em direção ao portão da Universidade onde se encontravam apenas algumas pessoas, pois era mais fácil para conversar. Paramos de andar e ele se posicionou a minha frente.
- O que aconteceu com o seu celular? - perguntou grosseiramente.
- Está sem bateria, por quê? - devolvi no mesmo tom.
- Porque faz horas estou te mandando mensagens, te ligando, e nada. - ele falava como se fosse me contar uma tragédia.
- Meu Deus, quem é que morreu? – provoquei.
- Não morreu ninguém, mas eu gastei tempo e gasolina para vir até aqui. Sabe quantos quilômetros dá da minha casa até aqui?
- Não sei e nem quero saber. - cruzei os braços.
- Claro, porque a gasolina não é sua.
- Vai falar ou não vai o que veio fazer aqui? – retruquei.
Alex respirou fundo:
- Preciso de você amanhã cedo.
Descruzei o braço e franzi o cenho:
- Que? Você com essa marra toda, para dizer que precisa de mim amanhã cedo. Porque não esperou que conectasse meu carregador e visse a mensagem depois? E para quem disse que ficou horas me mandando mensagem, engraçado porque eu não recebi nenhuma no momento em que ele estava ligado.
-Agora já estou aqui. E eu não tenho que te dar satisfações. Preciso que vá comigo ver algumas casas. Quero alguém para ir anotando algumas coisas enquanto converso com o cliente.
- Desculpa, mas meu horário é a uma da tarde.
- Sério? Não me lembro de ter perguntado. - atacou ele.
- Qual é a tua em garoto? - digo alterada.
- Eu preciso dos seus favores amanhã cedo. – repetiu.
-Olha só! – digo com um tom de admiração. – Alguém aqui entende o que um favor. – falo com os braços abertos como se quisesse atrair a atenção de alguém. - Pois bem, tenho aula de alemão.
- Sinto muito, você terá que faltar, afinal, quem é que faz Alemão? - debochou Alex.
- Eu faço. – apontei o indicador na minha direção. – E não, não vou faltar.
- Vai sim. Eu sou seu chefe e você tem que me obedecer. - sempre arrogante.
- O meu contrato não me permite fazer trabalhos extras. - informei.
- Eu estou pouco me lixando para essa droga de contrato, você vai comigo e pronto. – gritou ele. Todos a nossa volta nos olhavam.
- Quem você pensa que é? Qual é o seu problema comigo? - agora eu sou quem gritava.
- Não é óbvio? Estou pedindo para você um favor urgente e você recusa. - retrucou.
- Isso não é um pedido e muito menos favor. E eu não estou falando disso. - a raiva me consumia aos poucos.
- Está falando do que então? - indagou Alex.
- Estou falando do tom como você fala comigo, uma hora todo arrogante, em outro tenta ser legal, daí faz um charminho e até me beija. E agora, essa estupidez toda. Tá achando que eu sou carrinho de montanha russa pra ficar aguentando seu sobe e desce de humor? – perguntei.
- Não se iluda garota. Aquele beijo foi um erro. Eu devia estar muito bêbado para ter feito aquilo. - debochou novamente Alex.
Engoli seco e não me contive, dei um tapa com toda a minha força em seu rosto, e fui saindo. Ele me puxou pelo braço:
- Sabe que eu posso te demitir, não sabe? - ameaçou.
- Faz o que você quiser, pelo menos assim, não sou obrigada a olhar pra você todos os dias. Soltei-me de seus braços e saí, por sorte, ele não veio atrás.
Eu poderia jurar que meu rosto estava pegando fogo, assim como as minhas mãos que ardiam. Fui direto para minha sala e não disse uma palavra sequer às meninas. Elas perceberam que algo estava errado e não insistiram em perguntar. Fiquei apenas dez minutos na aula e fui embora, pois a raiva dominava meu corpo e eu não podia controlar. Fui em direção ao estacionamento, entrei no carro, e por lá fiquei. Meus olhos estavam pesados em ligação com meu coração. Por cinco vezes eu respirei fundo, e na última eu desabei. Chorei feito uma criança quando se perde da mãe. Chorei como alguém que grita por socorro. Eu queria definitivamente não ter um coração naquele momento.
Depois que eu chorei tudo o que havia para chorar. Encostei-me no banco do carro e estiquei as pernas de modo que meus pés tocassem o para-brisa. Eu olhava apenas o nada. Olhava mas não via. Era como se eu estivesse dormindo de olhos abertos. Ouvi algumas vozes em direção ao estacionamento e me dei conta de que a aula havia acabado. Foi assim que eu reagi. Liguei o carro e parti em direção a estrada, dirigindo para um lugar não definido. Apenas... dirigindo.
...
Seis anos atrás
"Lá estava ele. Definitivamente é o garoto mais lindo que eu já vi. Esses olhos azuis eu poderia muito bem confundi-los com o mar e me afogar. Que sorriso perfeito, que boca perfeita.
- Ei Liza. - diz Júlia estralando os dedos de frente ao meu rosto. - Pare de babar no meu irmão. Vamos cortar o bolo. – ele me informa. – Vem!
- Espera Júlia! - digo a puxando de volta. - Seu irmão pode beber? - perguntei sem tirar os olhos dele.
- Ele é maior de idade. Agora vem! É meu aniversário, são 15 velinhas para apagar. – diz ela me pegando pelo braço e me levando em direção ao bolo. Uma roda de pessoas se formou em volta da minha melhor amiga para parabenizá-la pelo seu décimo quinto aniversário. Era automático. Meus olhos insistiam para seguir uma única pessoa: Nick. O irmão de Júlia. Ele era tão simpático e atencioso comigo, era diferente dos outros garotos que só serviam para zombar de mim. Meu coração pulava só de olha-lo. Ele olha em minha direção, levanta o seu copo como quem quisesse me dar um oi. Ele sorri, dá um gole em sua bebida e vem até. Posso sentir meu coração saindo pela boca.
- Oi Liza! Você está linda. – Elogia-me e eu coro, pois nunca ninguém havia me dito um elogio.
- O...Obrigada. - abaixo a cabeça sem graça. Ele pega meu queixo e levanta meu rosto:
- Não precisa ficar com vergonha. Você é linda. - Confirma Nick.
Ele começa a me olhar com uma expressão séria para mim. Não consigo desviar o olhar dos dele, e então ele olha os meus lábios e deposita um beijo. Como eu esperava pelo seu beijo. Foram dois anos desejando sentir aquela sensação. Meu primeiro beijo sem dúvida, eu queria que fosse com ele. Foi a melhor festa da minha vida.
No dia seguinte, na saída da escola, enquanto eu esperava meus pais virem me buscar, avisto Nick, chegando de carro. Ele sai de seu Audi, com os óculos escuros e se aproximava de mim. Como na noite anterior, fiquei nervosa e dou apenas um sorriso tímido.
-Liza, você viu minha irmã? - perguntou. Ele não meu deu um oi, nem um tudo bem, nem me abraçou, nem me beijou, absolutamente nada. Nem olhava nos meus olhos.
- Ela ficou um pouco mais com a professora, ela já vem. - avisei.
- Ok, han, Liza, sobre ontem à noite, eu tinha bebido um pouco mais que o normal. Me desculpe.
- Tudo bem. - peguei em suas mãos. Eu estava tremendo - Eu gostei. – sorrio timidamente. Ele então soltou a sua mão da minha e coçou a nuca.
- Você não entendeu. Não era para aquilo ter acontecido. Nada contra você, mas... - ele olha para o nada em busca de palavras - Eu não quero que as pessoas fiquem falando de mim por ter ficado com você. Você entende, não é mesmo?
Eu apenas balanço a cabeça que sim.
- Ótimo, até mais. - ele me dá um tapinha no ombro e vai embora. Viro-me para olha-lo e sem que ele pudesse me ver, com os olhos marejados e a voz embargada eu respond:
- Claro".
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