Capítulo 4
" - Alex!!!!! – chamei-o.
Olho de um lado para o outro e não o encontro.
- Alex!!!! - tentei mais uma vez. Minha voz era aguda.
- Alex!!!! onde está você?!? - começo a andar procurando por ele entre as árvores.
- Estou aqui - ouço uma voz atrás de mim que me faz assustar. Me viro em seguida.
- Oh Meus Deus!!!! Você me assustou, digo colocando as mãos em direção ao peito.
- O que você quer?- Pergunta ele, rindo.
- Toma. - digo estendendo a mão pra ele. – É pra você.
Ele fica um pouco tímido e coça a nuca.
- Não sei se posso aceitar.
- Por favor, aceite. Estão frescas e lavadas. - insisti.
Lentamente ele pega a maçã que está em minhas mãos, posso sentir o calor de seus dedos encostarem nelas. Quando Alex ia morde-las, eis que surge uma voz grossa próxima de nós:
- Não coma essa maçã.- ordenou aquela voz. - Ela está seca por dentro. Seu paladar não merece sentir o gosto amargo que ela tem. Prove outras melhores que esta.
Assustado, Alex foge jogando a maçã no chão que rola até encostar em meus sapatinhos.
Eu ainda não tinha visto de onde vinha aquela voz. Ela era alta, raivosa e fazia eco em meus ouvidos. Dizia coisas terríveis, me fazendo chorar. Ela se divertia com meu sofrimento. Desesperava-me ao ouvir o seu riso.
- Menina tola. Como acha que alguém vai gostar de você? - gritava friamente a voz do além
-Ninguém nunca vai te amar. Nunca! - continuou.
A frase ia se repetindo o tempo todo. Um vento forte se alastrou me fazendo cair. Sem forças, eu permaneci no chão".
...
Um mês havia se passado e era o meu primeiro dia no emprego de forma efetiva. Acordei cinco horas da manhã, pois além do nervosismo eu tive mais um pesadelo.
Antes fosse só ansiedade, nervosismo, mas não, mais um pesadelo veio invadir a minha noite, impossibilitando-me de ter um sono tranquilo. A cada dia eu descobria mais mensagens subliminares na história de Vovó, como os livros serem a passagem tempo e o reencontro sendo a persistência do amor de se efetivar. Eu sonhava com a pobre garotinha chorando, seu sofrimento era o meu sofrimento. Eu a via chorando com toda a sua alma e acordava com os olhos molhados.
Poderia com toda certeza culpar Vovó por não ter me dado uma resposta mais clara, mas entendi. Quando o assunto vem do coração, só você deve saber como resolvê-lo, e para uma pessoa que desistiu dele, ficava ainda mais difícil.
Tentei me concentrar na minha apresentação, no meu trabalho, e no alemão. Comecei a me concentrar nas provas, as quais estavam por vir, mas em alguns finais de semana eu tirava o dia para sair com as meninas. Eu estava precisando. Alex e eu continuávamos na mesma falta de diálogo de sempre, trocava olhares, sem muito interesse, talvez uma pitada de constrangimento pelo que havia acontecido aquela noite.
Aproveitei que tinha acordado cedo e mais que depressa fui encontrar a minha companhia preferida da manhã: o café. Com uma xícara nas mãos, andei em direção à sacada para ver a rua. Como eu imaginava, apenas alguns carros passavam. Um vento frio, mas calmo se alastrou pelo meu corpo me fazendo arrepiar. Mas logo ele se foi e a normalidade voltou. O céu estava escuro com alguns feixes de luz dizendo que daqui a algumas horas, o sol ia aparecer. Aquilo me deixou em paz por alguns instantes me fazendo respirar fundo e no expirar, era como se eu tivesse jorrado todo o meu peso de dentro do peito pelo buraquinho que se formara em meus lábios. Dei um último gole no café e entrei.
Eu não tinha muita escolha, então me dediquei a manhã toda aos livros, cadernos e coisas do tipo, era só estudar, estudar e estudar.
Quando deu o horário do almoço, resolvi colocar uma lasanha de microondas para cozinhar enquanto ia ao banho. A água quentinha tomava conta do meu corpo me fazendo relaxar. Depois daquele pesadelo horrível, eu precisava daquilo. De repente, o meu celular começa a tocar me despertando de meus devaneios embaixo do chuveiro. Fechei a torneira, peguei a toalha e me enxuguei descoordenada, mais molhada do que seca. Enrolei-me abrindo a porta do banheiro em direção à mesa onde estava o aparelho. Era número não salvo e me relutei a atender, pensando em quem poderia ser. Tomei coragem e atendi.
- Alô?
- Bom dia, han... Elisabeth Walker? - perguntou a voz no telefone.
- Sim. - respondi.
- Aqui é do escritório do Doutor Philipis. Recebemos seu e-mail dizendo que gostaria de fazer uma entrevista para um trabalho de faculdade com ele, certo?
- Isso mesmo. - disse animada.
- Pois então, aqui é a secretária dele, podemos agendar um horário para você na sexta-feira?
-Claro, as dez, pode ser? - Perguntei.
- Está marcado então. Até sexta, tenha um bom dia.
- Obrigada, igualmente – agradeci, despedindo-me.
Retornei o celular à mesa e fui direto ao meu quarto terminar de me arrumar. Estava feliz porque consegui a entrevista e empolgada para apresentar logo o seminário.
Fui até a cozinha para almoçar a minha lasanha e em seguida, fui para a empresa.
Fui direto a sala de Sarah que me cumprimentou calorosamente.
-Como vai querida? Pronta pra começar? - perguntou ela.
- Um pouco nervosa, confesso, mas pronta. - respondi.
- Não se preocupe, meu filho é adorável, tenho certeza que vocês vão se entender. Vamos? - repousou suas mãos sobre minhas costas e foi me dirigindo até aquela que seria minha sala.
Assim que abri a porta havia um rapaz sentado a cadeira conversando ao telefone de costas a mim.
Quando estava para desligar, Sarah o chama:
- Filho, essa será sua nova secretária. - comunicou.
O mesmo se virou no mesmo instante e eu não pude acreditar. Ele arregalou os olhos de forma discreta, mas sua expressão era de assustado.
- Liza?
Não respondi. Sarah olhou para mim e para ele sem entender nada.
- Espera! Vocês se conhecem? - questionou surpresa.
Eu não conseguia abrir a boca.
- Ela faz direito empresarial comigo. - respondeu Alex.
Não desviamos o olhar uma única vez sequer. Era como se estivéssemos concentrados em uma coisa para ter certeza de que ela existia.
Sarah se virou para mim surpresa:
- Você é a famosa Liza, então? - certificou Sarah. Noto que Alex olha para a mãe com uma expressão do tipo: "cala a boca, mãe".
Sarah pareceu não se importar com o sinal do filho. Acredito que nem o tenha percebido.
- Claro, Elizabeth, Liza. Eu que sou a lerda. - observou Sarah rindo.
Eu não perguntei o porquê do: "Essa é a famosa Sarah". Apenas me virei pra ela e dei um falso sorriso, tentando parecer verdadeira.
Sarah apertou o meu ombro e se despediu:
- Já que se conhecem, não vejo mais o porquê de eu estar aqui. - Ah, mas eu via, como via. - Garanto que juntos farão um ótimo trabalho. - Sarah deu uma piscadela e saiu.
Meus olhos a acompanharam pela porta e logo depois voltaram a Alex. Eu me sentia como se estivesse em um palco com milhões de pessoas me olhando esperando que eu dissesse alguma coisa, ou fizesse algo. Mas falar e fazer o que? Bom, agora eu podia dizer : "Estudo com Alex, faço trabalho com Alex, vou a casa do amigo do Alex, mãe do Alex, escritório do Alex". Certeza que Peter era primo dele, ou quem sabe irmãos. Claro, agora tudo fazia sentido, ele trabalhava no escritório da mãe, Sarah tinha um filho que trabalhava com ela, e como ela mesma havia dito era : "um projeto de executivo". Como eu não percebi isso antes. Agora só falta o meu segundo projeto de chefe ser...
- Liza?
- Jhony! – Virei-me para certificar quem era o dono daquela voz. O fato de ele ter chegado, tirou-me daquele constrangimento terrível entre mim e Alex por não saber o que fazer.
Jhony estava na porta com uma pasta transversal e alguns papéis em mãos. Assim como Alex, vestia camisa e calça social. Se não tivéssemos sido apresentados antes, certamente eu ia ter dificuldades de concentração por tanta beleza numa única sala.
Jhony então passou pela porta e deixou aquela pilha de papéis em cima de uma mesa que eu julguei ser a minha e veio me cumprimentar.
- Menina, o que faz aqui? - perguntou surpreso.
- Bem. – comecei. – Estou trabalhando aqui agora. Serei sua nova secretária e estou a sua disposição. - Comuniquei rindo fazendo uma leve reverência.
Ele sorriu e foi em direção a sua mesa.
- Bom, então, vamos começar. - animou Jhony.
- Da minha disposição também, pra sua informação - lembrou-me Alex.
Dei a volta pela mesa para sentar em minha cadeira:
- Pra sua informação, eu já sei. - informei um pouco sarcástica e quem sabe um pouco grossa demais.
Ele se levantou com algumas pastas e papéis nas mãos. E jogou sobre a minha mesa.
- Preciso que separe esses papéis em ordem alfabética para mim e some os valores de cada um separadamente. Consegue fazer isso? - levantou uma sobrancelha.
"Não, eu não consigo. Pode me ajudar? Eu não lembro quais são as letras do alfabeto. Só me contrataram por ser bonitinha".
- Claro, eu faço esse favor. - disse fazendo questão de enfatizar a última palavra.
Eu sei, ele é meu chefe, mas educação não vê graus de hierarquia.
Ele saiu sem dizer obrigada e de costas pra mim, eu cutuquei um pouco mais:
- De nada, sempre que precisar.
Ele se virou, mas não disse nada, apenas continuou em direção a sua mesa. Fiz conforme ele me pediu, separei as fichas em ordem alfabética, anotei todos os valores. Anotei alguns recados e telefonemas. Entreguei papéis a outros funcionários, e busquei relatórios tanto para Alex quanto para Jhony. Jhony sempre muito educado e Alex um verdadeiro idiota, grosso, estúpido e arrogante.Eu tentei manter a calma, mas estava difícil.
O relógio marcou cinco e meia me dizendo que estava na hora de ir. Jhony havia saído para se encontrar com alguns clientes restando só eu e Alex. Comecei a organizar as minhas coisas e relutei o máximo possível antes de falar com aquele chumaço de cabelo todo enrolado.
- Se não precisar de mais nada, eu estou indo, Alex. – comuniquei.
Ele se virou surpreso.
- Como assim? A loja só fecha ás sete. - informou com um tom ríspido.
- O meu horário é até às cinco e meia. Está no contrato que fiz com a senhora sua mãe. Para sua informação minhas aulas começam às sete horas. - tentei parecer o mais tranquila e menos irônica possível. Ele me olhou e levantou uma sobrancelha, apoiou o cotovelo sobre a mesa e com uma caneta na mão, apontou-me a saída.
- Pode ir. - autorizou secamente.
A caminho da faculdade eu fiquei numa briga com meus pensamentos. Como eu não havia percebido isso antes? Como não liguei uma coisa a outra? Esse negócio de coincidências estava ficando chato demais. Tudo me levava ao Alex, ou tudo levava Alex até mim. E como se não bastasse ele era insuportável inclusive respirando. Porém, preferia ele me odiando do que me amando, com certeza seria mais fácil de lidar. Amando? Pra quem não acredita no amor, era até patético pensar assim.
Entrei na sala de aula interrompendo a conversa de minhas amigas:
- Vocês não sabem da novidade. - falei sem muita animação.
- Se você não nos contar, não iremos saber. - disse Kate.
- Lembram quando o Jhony disse que ele e o Alex trabalhavam juntos no escritório da mãe de Alex? - Elas fizeram que sim com a cabeça. - Pois então, adivinhem quem está trabalhando com eles agora?
- Não sei. Carter? Daniel? - perguntou Back lixando suas unhas sem muita importância.
Eu revirei os olhos:
- Se fosse assim tão óbvio eu não faria tanto suspense.
- Ai, então eu não sei. - magoou Back.
- Fala logo Liza. - implorou Kate.
Coloquei meu cotovelo sobre a mesa e repousei minha cabeça nas mãos:
- Eu. – informei.
- Como assim? - questionou Sam.
- Pois é. Sou secretária tanto do Jhony quanto do Alex. - informei com cara de deboche ao pronunciar o nome do encaracolado.
- E você ta com essa cara assim por quê? Eu se estivesse no seu lugar tendo aquelas duas beldades como meus chefes, iria ficar mega animada. - disse Sam com um grande sorriso no rosto.
-Porque não é você que vai ter que aturar todo santo dia, a arrogância do Alex. – falei.
- O que acontece entre vocês dois hein? - Indagou Kate.
- Não acontece nada, ele só não vai com a minha cara e me odeia. – afirmei.
- Normal os outros ter essa impressão de você. As vezes você é meio rude e um pouco antipática com quem você não conhece. - Sam tentava explicar a situação.
- O modo como você se impôs no seminário, fez com que ele pensasse em você de uma forma diferente do que você realmente é. - ajudou Kate.
- Vocês deveriam estar do meu lado suas traíras. - apontei fingindo estar grossa. – Então porque o restante dos meninos conversou comigo simpaticamente? – Antes que pudessem responder recebo uma mensagem no meu celular: "Você foi aceita na Heidelberg University no curso de direito - graduação e pós graduação. Suas aulas começam em agosto de 2017. Faça sua matrícula até maio deste ano".
Sem dúvida foi a melhor notícia dos últimos meses e isso só me fez ver que seja lá o que eu estivesse sentindo por Alex, era mera coincidência e o meu destino era ir atrás do meu sonho e nada me faria mudar de ideia.
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