Capítulo 28
Depois que eu mandei a mensagem ao Alex em nenhum momento eu obtive retorno. Pensei em várias possibilidades para que ele não me respondesse: o e-mail teria parado na lixeira, ou ele não havia recebido, ou estava sem internet, quem sabe mudado de e-mail, ou não conseguiu me ligar. Até mesmo o contrário, ele me mandou uma mensagem, mas não consegui abrir. No entanto, a única que se fazia mais certa na minha mente, era a de que ele me odiava. Eu não o culparia, até porque a única culpada nessa história toda seria eu.
Parecia uma adolescente apaixonada, ou melhor, a boa e velha Liza apaixonada. Sempre achei bobagem esse desespero todo das garotas por esperar loucamente uma ligação no dia seguinte e nesse momento eu estava exercendo esse papel perfeitamente. Andava de um lado para o outro pensando no que poderia ter acontecido e no que eu deveria fazer. Estava uma verdadeira boba imaginando se tudo desse certo e sorria por estar confiante e por desesperadamente desejar tê-lo por perto. Mas me angustiava a cada segundo, minuto, dia, em que uma mensagem não fora recebida.
A cada toque do meu celular meu coração vibrava, cada toque do meu notebook era como correr uma maratona faltando poucos segundos para a linha de chegada. Olhava a nossa foto pela tela do telefone e ficava contemplando todos aqueles cachos, os quais formavam um conjunto perfeito de seus cabelos, ou encarava aqueles olhos verdes tão intensos, os quais me deixavam hipnotizadas, tudo isso até conseguir pegar no sono, ou pelo menos tentar, já que não parava de pensar nele um segundo sequer.
Andava com todos os aparelhos eletrônicos possíveis comigo a todo lugar que eu ia esperando ansiosamente por uma resposta. Peguei-me chorando algumas vezes desesperada e com medo achando que era melhor que ele não respondesse, mas era só o celular apitar que uma esperança surgia. Estava uma verdadeira idiota por agir assim, mas eu não estava ligando.
Todas as horas em que eu estava no estágio pareciam eternidades e a minha concentração estava corrompida. Cada processo em minhas mãos, cada caso que batesse a porta, por mais que eu fazia com toda a dedicação do mundo o meu trabalho, a ansiedade era a minha companhia.
Meus colegas de trabalho em inúmeras ocasiões me pegaram mordendo a caneta e encarar o teto. Às vezes diziam que eu estava sorrindo feito uma boba, e em outras que falavam comigo e eu nem sequer me mexia.
- Ei liza, aconteceu alguma coisa? - um deles estala os dedos a minha frente quando eu digito apenas a primeira palavra da minha petição.
- Oi? - pergunto sem muito interesse.
- Está com cara de boba apaixonada, preciso desses processos encaminhados para amanhã, lembre-se, prazo é algo muitíssimo importante. - meu chefe chamava a minha atenção e eu toda constrangida terminava de escrevê-la. Minha sorte o doutor ser bem tolerante. Ficava a noite andando pelas ruas de Heidelberg olhando todas luzes. Muitas vezes eu escutava os alemães cantando e se eu soubesse a letra eu poderia acompanhá-los sem me preocupar se eu iria ou não desafinar, ou se alguém estivesse me olhando. Apenas sorria e sentia estar flutuando. Abraçava-me para tentar aquecer o frio, e imaginava sentir os braços de Alex. Meus dias estavam sendo assim, um sorriso bobo, uma música aleatória e a mente divagando.
Eveline veio em casa todo esse tempo me visitar. Ficávamos horas conversando coisas aleatórias e ela me perguntava sobre o Brasil. Expliquei toda a minha história para ela e Eve ficava abobada pelas informações que recebia.
- Liza, como assim você deixou um homem doidinho por você no Brasil? Sua louca.
- Eu sei. Isso é um arrependimento que eu vou carregar por um bom tempo. Mas de todo jeito, agora eu posso dar a ele o que ele tanto queria.
- Posso ver uma foto desse sortudo? - ela pergunta.
- Claro, mas no caso a sortuda sou eu. - corrijo-a enquanto mostro a fotografia a ela.
- Liza, ele é um Mausi¹. Tem razão, é você a sortuda da história. - ela ri e eu a acompanho.
A lua cheia fez-se presente todos esses dias e eu a assistia todas as noites. Poderia parecer bobagem e qualquer um que visse aquela cena me acharia uma completa idiota, mas eu conversava com ela e pedia que em algum momento me houvesse esperança. Eu sabia que esperar seria complicado. Não ter a certeza do que iria acontecer no final era uma agonia tremenda.
Estávamos no ano novo e era impossível não se lembrar da nossa viagem, por mais que tive momentos muitos ruins, todos vividos com Alex foram os melhores, e quando pensava em todos eles, abraçava o travesseiro querendo que fosse meu encaracolado. As cenas de cada detalhe, do balanço de nossos corpos e a vontade que eu tinha de repetir aquilo, me fazia morder o lábio inferior e desejá-lo a cada dia.
Eu deveria parar de agir assim, pois o tombo seria imensamente grande se as coisas não saíssem como o planejado. Dizia até a Eveline que tinha grandes chances de eu voltar ao Brasil, e ela me parecia triste e feliz ao mesmo tempo dizendo que se de repente eu fosse, ela iria me fazer uma visita.
Eu era muito tola por não dar todo o valor merecido aos meus amigos e muito menos aos meus familiares, fui tola por esconder todos os meus sentimentos. Incrível como o medo pode te dominar completamente a ponto de não te fazer enxergar a verdade das coisas. E mesmo que meu coração estivesse agoniado, ele estava livre para amar.
Estava deitada em minha cama entediada quando meu notebook apita. Ele estava ao meu lado e mais que depressa eu o abri.
- Oi Liza! - minhas amigas gritaram em uníssono.
- Oi. - dou um sorriso sincero, mas um pouco frustrado.
- Com você está?
- Estou bem. O que estão fazendo todas juntas? Que lugar é esse?
- Liza, esse é meu novo apartamento, aliás, meu e do Mat. - Kate informa com cara de apaixonada. - E estamos todas juntas para ver você. Na verdade eu decidi fazer uma janta pra estrear o apartamento e comemorar o ano novo. Uma pena você não ter vindo. - faz cara de decepcionada.
- Kate cozinhando? Essa eu queria ver. - rio e ela finge estar brava.
- Ficou tudo uma delícia, tá. - ela mostra a língua.
- E as novidades? - pergunta Back.
- Tenho tanta coisa para contar para vocês.
- Espera Back, estamos nos esquecendo do motivo principal para estarmos aqui. - lembra Sam e eu franzo o cenho sem entender.
- Verdade. - Kate se manifesta.
- Feliz ano novo! - desejaram todas juntas, assim como as felicitações que vieram em seguida.
- Nem parece que faz um ano da nossa viagem. - diz Back.
- Feliz ano novo para vocês também.
- Mas agora conta logo, Liza. - apressa-me Back.
- Bom. – comecei. - Todo esse tempo que estive aqui, muita coisa mudou. Vim pra cá com os planos de realizar o meu maior sonho e conciliá-lo com uma boa carreira profissional. Mas depois de certo tempo, o meu desejo de vir pra cá aumentou, mas por outro motivo: negar a mim mesma os meus sentimentos. - tentei controlar o máximo para não chorar enquanto minhas amigas me olhavam sem entender nada. - Durante todo esse tempo eu pensei em encontrar grandes livros, adquirir um bom conhecimento e visitar lugares históricos somente para dar aos meus olhos uma bela visão e ter a sensação de ver seu desejo realizado. O que aconteceu, no entanto, foi algo mais, além do esperado e do imaginado. Cada momento que eu estive aqui eu obtive um grande aprendizado, mas não técnico, um aprendizado espiritual. Aprendi que o passado nos faz ser quem somos no presente e que tudo depende do modo como o enxergamos. Podemos enfrentá-los, ou simplesmente fugir deles, porque esquecê-los é impossível. Mas o fato de crescermos significa que devemos amadurecer e entender que o passado ficou pra trás e que nesse momento devemos construir o nosso futuro. E nesse momento eu entendo que o meu futuro eu quero passar ao lado das pessoas que eu amo. E vocês estão incluídas nele. - Elas me olham com lágrimas nos olhos e completamente surpresas.
- Meu Deus Liza, pela primeira vez eu escutei um "eu te amo" vindo de você. - observa Kate e eu rio.
- Nós também te amamos sua boba. - Sam sorri secando suas lágrimas.
- Ainda bem que não estou de maquiagem agora, senão eu ia até a Alemanha pedir pra você retocá-la só pra pagar por me deixar assim. - Back diz chorando.
- Sem exageros Back, por favor.
- Mas e então, o que pensa em fazer de agora em diante. - Kate pergunta.
- Depois que eu fiquei nesse lado sentimental. - reviro os olhos. - Eu pensei muito no rumo que tomar, e fiz uma coisa, mas eu ainda estou na dúvida se fiz ou não a coisa certa. - digo receosa.
- Conta logo, Liza. - Kate insiste.
- Achei que depois de tomar coragem e dizer o que eu realmente sinto, a primeira pessoa a quem eu deveria me expor seria o Alex. Eu o amo, aliás, eu sempre o amei, mas tive medo de confessar isso. Mandei uma mensagem com a esperança de saber se ainda me restava algumas chances, mas não obtive resposta. Ele mudou de e-mail ou me odeia tanto assim? - pergunto com medo da resposta.
Minhas amigas se entreolharam e me olharam com uma cara não muito agradável. Elas encaravam chão, teto, tudo, menos os meus olhos. Alguma coisa havia acontecido e eu precisava saber, ou era melhor não?
- Liza, preciso terminar de lavar a louça. Adorei ter te visto, beijos. - Kate se despede se levantando.
- Eu seco a louça. - Back grita a Kate. - Liza, vou lá ajudá-la, mais tarde a gente se fala. - ela levanta e acompanha Kate, restando apenas Sam.
- Obrigada meninas, deixa a parte mais difícil para mim. - Sam dá um sorriso falso.
- Bom, eu agradeceria com todo o coração se eu alguém pudesse me dizer o que está acontecendo. - falo um pouco irritada.
- Liza, desculpa. Fico feliz que você tenha aberto seu coração. Isso significa que você venceu os fantasmas de seu passado e está seguindo em frente, mas... - ela volta a olhar o nada. - Talvez você tenha demorado um pouquinho. - ela espreme os lábios e franzi o cenho sem coragem de dizer o que se passa.
- Pode me dizer, por favor?
- Liza, Alex mudou muito depois que você foi embora. Ele ficou um bom tempo sumido, e com grande frequência, Jhony o encontrava caído de bêbado em vários bares da cidade. Começou a largar mão das coisas e sua personalidade ficou alterada. Numa dessas idas ao bar ele... - engole seco.
- Me diz logo, Sam. O que aconteceu? - não aguentava mais de agonia.
- Liza, o Alex vai casar. - ela finalmente diz.
A olho por alguns segundos e por mais que eu já esperasse que algo desse tipo viesse acontecer, seria mentira se eu dissesse que eu não me sentia apunhalada.
- Como? - mal conseguia falar, pois minha voz saiu totalmente fraca.
- Ele conheceu uma garota, Flávia. Eles saíram algumas vezes juntos e ela... Ela acabou engravidando dele. Alex depois da notícia começou a tomar jeito, voltou a ser o Alex de antes mesmo ainda estando um pouco frio. Ele preferiu assumir as suas responsabilidades e seguir com a vida dele, se casando com ela. Eu sinto muito, Liza. - Sam dizia com aperto no peito.
- Eu... Eu... Não sei o que dizer. - faço uma imensa força para não chorar na frente de minha amiga.
- Liza, se serve de consolo, ele jamais te esqueceu.
- Sam, obrigada por me dizer. Eu preciso ir agora. Minha vizinha me convidou para jantar lá essa noite e eu estou atrasada. - minto e sorrio forçadamente com lágrimas nos olhos.
- Eu entendo. - Sam sorri em compaixão, sabendo que era apenas um desculpa.
Fechei a tela do computador e dei permissão para que as lágrimas escorressem. Meu coração estava me golpeando bruscamente como forma de me castigar por todo esse tempo que eu o deixei trancado. Não esperava que fosse doer tanto, mas aquilo estava me machucando. Nem quando vi Bill com outra garota naquele dia foi tão terrível quanto o que eu estava sentindo naquele momento.
Poderia ser egoísta da minha parte acreditar que Alex estaria no Brasil me esperando com os braços abertos depois de tudo o que eu fiz. Poderia eu jogar a culpa no destino ou até mesmo no próprio amor, novamente, mas eu culpava a mim. Por todos os dias, por todos os beijos negados, por todas as palavras não ditas e por todo sentimento escondido.
Fiquei sem sair de casa por um bom tempo. Não tinha mais ânimo para fazer qualquer coisa muito menos trabalhar ou estudar. Pedi licença dizendo que estava doente e sem condições, por mais que internamente eu me sentisse uma fracassada por me comportar daquele jeito, aquela era a minha realidade diante da situação.
Escuto a minha campainha tocar e sem muito ânimo vou abrir a porta, era Eveline com seu sorriso que acabou se desmanchando logo quando me viu.
- Liza, o que aconteceu com você? Está pálida, parece abatida. E esses olhos inchados cheios de olheiras? - ela pergunta preocupada.
- Já entendi, estou horrível. - digo deixando-a na porta e indo ao meu sofá abraçar a almofada e novamente deixar minhas lágrimas escorregaram sobre minha face.
Eveline entra fechando as portas e se senta ao meu lado.
- Liza, o que foi?
- Ele... - havia um nó em minha garganta. - Ele vai... Alex vai casar - digo chorando desesperada.
-Alex, o rapaz que você admitiu que o amava? - faço que sim com a cabeça sem condições de respondê-la. - E como você está? - era óbvio, mas...
- Como você acha que eu estou? Me sentindo uma completa idiota. Culpando meu passado e a mim por ser uma estúpida, uma ignorante. Jamais vou me perdoar por isso.
- Liza, calma. Quem sabe depois de um tempo eles se separam. Vai ao Brasil, faça uma surpresa, se ele ainda te amar ele vai desistir de se casar com ela. Ou melhor, faça como nos filmes e entra na igreja impedindo ele de se casar e você revelando todo o seu amor a ele. - Eve fantasiava toda a cena em sua mente.
- Ele vai ser pai, Eve. - era como se eu estivesse atirando em mim mesma.
Ela se encolhe no sofá frustrada.
- Mas... - ela desiste - O que você vai fazer agora?
- Eu não sei. Eu estou perdida. Desanimada para tentar qualquer coisa. O que eu queria apenas era uma chance de ter no mínimo alguns dias com ele. Os últimos.
- Liza, você já teve muitos momentos com ele. Eles vão ficar guardados em seu coração para sempre.
- Eu sei Eve, mas eu queria estar ao seu lado podendo amá-lo. Sem medo de me entregar, poder dizer a ele o quanto eu o amo. Poder andar de mãos dadas pelas ruas, poder beijá-lo em frente às pessoas e abraça-lo todas as vezes que eu tivesse vontade sem pensar se iria ou não criar falsas expectativas. Queria poder mudar meu status, e apresentá-lo a meus amigos e familiares dizendo que ele era meu namorado. Queria poder dormir com ele todas as noites e acarinhar seus cachos. Poder enchê-lo de beijinhos ao amanhecer. Poder correr com ele a praia e sair para jantar sem ficar constrangida. Poder entrar em uma igreja e deixar que ele realizasse meu sonho de quando criança. Dançar com ele na chuva e poder fazê-lo sorrir. Eu queria poder amá-lo nem que fosse uma única vez, nem que fosse a última vez, mas dessa vez com o coração preparado. Queria ter seu coração de volta. Eu queria que a vida me desse uma segunda chance. - solucei e suspirei mais uma vez enquanto Eveline me abraçava tentando me tranquilizar.
- Liza, enquanto se tem vida, você tem todas as chances do mundo.
- E quando não se tem mais amor?
- Você tem que confiar no tempo. Hoje em dia as coisas são mais fáceis que antigamente. Liza, por mais que a realidade seja completamente distinta da ficção, nós podemos transformá-la. Podemos dar a ela mais cor e deixá-la menos árdua. Acredite que no final ainda exista uma esperança, acredite no amor que você sente por ele e no que ele sente ou já sentiu por você. É isso que os une. Tudo o que viveram, tudo o que construíram é o que liga você a ele.
- Mas e se...
- Por favor, deixe de colocar obstáculos onde há soluções. - Eveline me repreende. Não coloque objeções em sua vida, só a siga. Pare de tentar deixar as coisas mais difíceis. Tire a venda de seus olhos e permita enxergar um mundo melhor. Você está acomodada com decepções a sua volta, pare de colocá-las em frente a sua felicidade, e pelo menos por um segundo pense, acredite que as coisas começaram a acontecer.
Eveline poderia ser até maluquinha às vezes, mas estava sendo de grande ajuda naquele momento. Ela tinha sido de grande ajuda durante todo esse tempo para que eu não desabasse.
Depois que as lágrimas cessaram, fiquei boa parte do meu tempo pensando em toda a trajetória da minha vida. Com uma frequência absurda eu ficava horas olhando a lua da sacada não importa as suas fazes. Ela me fazia companhia e preenchia temporariamente o vazio que eu sentia e me perguntava o que ele teria feito com o presente que eu dei a ele, ou o que ele sentia quando a visse. Até me bateu uma grande curiosidade em saber o que ele havia pedido a ela, e provavelmente ela não entregou.
Não seria difícil querer fechar meu coração novamente e repetir que o amor não era para mim, porém eu havia cansado de fugir e negar o que eu sentia porque eu precisava desabafar, e construir uma muralha estava fora dos meus planos, sem falar que eu não tinha forças para uma atividade tão extrema. Precisava aliviar tudo o que me consumia.
Durante muito tempo eu fui a Liza apaixonada e renegada por todos os garotos. A Liza que acreditava num conto de fadas e sonhava acordada com o príncipe encantado. Que conseguia sorrir mesmo diante dos problemas e que a todo momento abria seu coração para as pessoas. Sempre estive disposta a ajudar meus amigos e a dar valor em todas as pessoas que eu tinha por perto. Só que depois de tantas decepções, depois de tantas humilhações e tapas na cara que a vida me deu, eu perdi minhas forças e ao invés de crescer eu fui infantil por não saber lidar com minhas dificuldades e encarar tudo aquilo. Simplesmente tranquei meu coração a sete chaves quando o último o partiu em vários pedacinhos. Acreditei que o tempo pudesse me livrar desse sentimento e o fato de ter me tornado uma pessoa tão fria, fez-me acreditar que eu havia superado.
A verdade é que eu nunca pude superar, sempre o meu passado me impedia de continuar e eu ficava ali, presa, parada no mesmo lugar sem conseguir me mexer. Acabei concluindo que o amor não existia, que tudo era pura ficção assim como todas as histórias em que ele estava presente. Mas hoje eu o enxergo em um novo horizonte.
O amor verdadeiro existe simplesmente porque foi sentido e quando corrompido se torna outro tipo de sentimento. O amor é complicado porque quando não correspondido, magoa profundamente e te faz tomar atitudes impensadas capazes de te fazer agir inconscientemente. Ele invade o seu sono, tira a sua sanidade, mas de certa forma lhe traz a alegria. Ele não enxerga classe social, não enxerga beleza nem sua conta bancária. Ele não enxerga se você está completo por fora, mas ele enxerga o que você tem por dentro e entra quando seu interior está vazio. Você não pede para que ele entre em sua vida, porque ele aparece quando menos esperamos, mas no momento em que mais precisamos, ele surge para acalmar as nossas dores, corromper a nossa razão, nos fazer sair da rotina e perceber que às vezes é possível voar. Ele engloba vários sentimentos, controla nossos instintos e influencia nossa adrenalina. O amor é essencial, junta duas almas numa mistura turbulenta e calma.
Fui capaz de entender que uma vida sem amor é pequena. É como caminhar estando oca por dentro e ter que encarar obstáculos constantemente sem um segundo de paz de sequer. Não é o amor que causa sofrimento, mas a falta dele. Não é o amor que é ruim, mas as pessoas.
E quando ele aparece, deve ser segurado com todas as forças para que ele não vá embora. Ele pode voltar, se tiver sorte, mas pode demorar um pouquinho e paciência é algo que poucas pessoas possuem, mas que vale a pena.
Depois de tanto tempo trancada no quarto, eu precisava espairecer. Decidi secar minhas lágrimas e contemplar o sol por trás das paredes. Fui a cafeteria mais próxima, pois de lá era possível sentir todos os seus raios e o gosto maravilhoso de um café bem forte, pedi qualquer coisa que envolvesse muito chocolate para levar ao meu cérebro um pouco de serotonina. Olhei a pulseira que Alex havia me dado e sorri, mesmo com um nó na garganta e o coração inteiramente pesado.
Alex apareceu no momento certo. Destruiu aos poucos o muro em meu coração, removendo pedra por pedra. Descobriu todas as chaves, arrancou-me os melhores sorrisos. Curou minhas feridas, acalmou meus machucados, aliviou minhas cicatrizes, protegeu-me dos monstros e me salvou dos pesadelos. Alex me deu um novo coração. Transcendeu uma nova Liza e eu seria eternamente grata a ele. Alex fez transparecer a Liza que eu era antes, e conseguiu enxergar o melhor de mim. Trouxe cor a minha vida, foi luz quando eu estava na escuridão. Levantou-me do chão e foi capaz de me levar as alturas.
Conheci o significado real da palavra amor quando eu o conheci e entendi que todo o resto era apenas ilusão, uma fantasia. Alex permitiu que eu fosse eu mesma, amou-me do jeito que eu era mesmo sendo tão fria, e ele ao poucos foi me aquecendo, quando em muitos momentos eu senti meu coração derreter. Ele não pediu nada em troca a não ser meu coração, mesmo ele não estando inteiro ele o queria daquele jeito, porque ele era o único capaz de regenerá-lo. E eu sabia disso, ou pelo menos agora, eu sabia disso.
Jamais eu o esqueceria. Seria guiada pelas lembranças de todos os nossos momentos: a sua arrogância, o seu momento idiota, a sua mania de morder o maxilar ou de segurar os cabelos quando estava nervoso, e balançar caneta ao ficar concentrado; o seu sorriso quando me via, as suas ironias em relação a mim, o seus gostos, os seus gestos, o modo como me fazia sorrir, o jeito como cuidava de mim; o seu eu te amo ao descer a tirolesa, seu sentimentalismo em relação a sua família, o seu ciúmes em relação a Peter, e o seu mau humor que se desmanchava com apenas um pouco de carinho, tudo, cada detalhe, ficaria guardado para toda a minha vida. Isso seria o significado do amor eterno. Porque Alex foi, e para sempre será, o amor da minha vida.
{...}
Enquanto a garçonete me servia o pedido, lembrei-me de uma coisa. Rapidamente abri a bolsa e encontrei aquela caixinha que Jhony havia me entregado no aeroporto a mando de Alex. Era para abrir somente no meu aniversário, e seria este o momento exato.
A abri cuidadosamente e dentro estava um berloque de coração para que eu colocasse em minha pandora. Peguei aquele coraçãozinho totalmente delicado segurando com firmeza entre as mãos no mesmo instante que pegava um mini papelzinho dentro da caixinha. Era um cartão: "O de verdade você jogou fora".
{...}
Eu desejava, a cima de tudo, que Alex fosse feliz. Ele havia seguido sua vida e eu teria que seguir a minha.
Por mais que seria difícil era o que teria que ser feito naquele momento. Estaríamos ligados para sempre mesmo que tão distantes e pensar assim me confortava. Tentei colocar o pingente na pulseira, mas a minha coordenação falou mais alto, ou melhor, a minha falta de coordenação.
- Precisa de ajuda? - Uma voz ecoou ao meu lado e eu vi aquele loiro que estudava comigo e morava no mesmo prédio que eu.
- Por favor. - sorrio.
Ele se senta a minha frente e eu timidamente entrego as minhas mãos a ele, o qual com cuidado se prepara para colocar o pingente no seu devido lugar.
- Você está bem? A vi passando com os olhos inchados e agora está com eles molhados. - ele nota enquanto eu afasto meus braços.
Respiro fundo e sorrio.
- Sabe quando você demora muito pra tomar uma atitude e percebe que é tarde demais...?
-... E fica pensando se fez a escolha certa todo esse tempo? - ele completa e eu concordo.
- Exatamente.
- Sabe, se uma coisa eu aprendi é que nunca é tarde demais. Sempre temos uma segunda chance.
- Acho que não terei uma segunda chance. - concluo decepcionada.
- Que tal uma segunda chance para começarmos de novo? - Ele sugere.
- Tudo bem. - estendo a mão a ele. - Elizabeth, muito prazer. – apresento-me e meu companheiro aperta minha mão.
- Franz.
É como dizem, no final tudo se ajeita, mas se ainda existe coisas sem sentidos ou peças não encaixadas, corações partidos, é porque o final ainda não chegou. Aliás, quem disse que a última página de um livro, é o final de uma história?
Continua...
³ Mausi: apelido utilizado pelos alemães para dizer que determinada pessoa é bonita. Significa dizer que fulano (a) é um (a) ratinho (a). Igual no Brasil quando queremos dizer que determinada pessoa é um "gato" ou "gatinho"
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro