Capítulo 23
"Eu não resisti
Meu corpo quis se permitir
Era como o mar com suas ondas
Ora rápidas
Ora lentas
Eu queria mais...
Muito mais
Como se nele, eu pertencesse
Como se daquilo, eu dependesse". (D.N)
Foi inevitável sonhar som Bill. Foi tão desesperado quanto no dia em que eu o vi com outra garota, logo depois que transamos. Era como seu eu estivesse passando por tudo aquilo novamente, a mesma sensação, o mesmo sofrimento. A única coisa que eu queria saber naquele momento era por quê? Aliás, não só naquele momento, mas desde o dia em que tudo aconteceu. Precisava esquecer tudo aquilo e não deixar o encontro de Bill me abalar. Porém, o fato de ser meu aniversário era uma data que desde então, eu passava em branco. Parecia uma comemoração para aquele momento, tão maravilhoso e tão humilhante.
Respirei fundo e me virei para o lado acostumando com a claridade. Alex não estava deitado, mas preferi não me preocupar, talvez tenha visto que eu estava bem e decidiu voltar à praia. Levantei-me e fui lavar o rosto. Escovei os dentes e coloquei um shorts e uma camiseta, fiz um rabo de cavalo e desci.
Estava tudo silencioso e nem sinal de nenhum dos meus amigos, provavelmente ainda não haviam chegado. Peguei um copo d'água que parecia a melhor bebida do mundo.
- Feliz aniversário! - gritaram em coro me fazendo assustar.
- Também gosto muito de vocês, viu. - respirava com dificuldade. Kate trazia um bolo de chocolate com morangos nas mãos.
- Liza, sabemos que você não gosta de comemorar o seu aniversário, mas quisemos fazer essa singela surpresa pra mostrar que mesmo com todo esse seu jeito, você é muito especial. - Sam dizia com os olhos cheios de água.
- Queríamos tentar colocar um pouco mais de cor nesse dia. - disse Back.
- Pelo amor de Deus Liza, eu te amo, mas nós podemos comer esse bolo logo. - pressionou Kate. Minha amiga colocou o bolo em cima da mesa e me deu um abraço, assim como todos fizeram em seguida.
Estava sem reação, de fato eu não esperava por nada daquilo. Fiquei extremamente sem graça e acabei por não dizer nada. Alex foi o último a me dar os parabéns.
- Não acredito que vocês lembraram do meu aniversário meninas, depois de tanto tempo passado em branco, achei que nem se lembrariam mais. - surpreendi-me.
- Achamos que seria uma boa ideia, num momento de diversão lhe fazer essa surpresa. Até porque, Alex nos contou que você não estava bem. O que houve, Liza? - perguntou Sam.
- Podemos comer o bolo e deixar esse assunto de lado? - elas assentiram e eu apenas agradeci.
- E pra quem vai ser o primeiro pedaço? - quis saber Carter.
- Que pergunta, é claro que é para o Alex. - Daniel mostrou o que parecia o óbvio.
- Como todos são especiais, o primeiro pedaço vai para mim. Ninguém fica de fora. - corto um pedaço e dou a primeira garfada.
- Senti que esse especial foi quase um eu te amo. - observou Back.
- Vindo da Liza, é uma grande coisa. - Sam pega um pedaço de bolo.
- E como foi ontem? - mudei de assunto.
- Tirando o fato de que você sumiu e Alex sumiu em seguida, foi ótimo. Essa desculpa de estar passando mal em Liza, só pra ter um tempo com Alex. - concluiu Carter.
- E Alex para não dar na cara, esperou um pouquinho e foi em seguida - completou Jhony.
- E nós preocupados com você. - Daniel semicerrou os olhos fingindo estar bravo.
- Não é nada disso. Vocês é que são maliciosos. - reviro os olhos e continuo a comer meu bolo. - A propósito gente, obrigada.
- Só pra informar, a surpresa ainda não acabou. - avisou Back.
Subo para o meu quarto e Alex vem atrás. Estranhei o fato dele estar calado todo aquele tempo. Começo a arrumar as minhas coisas e preparo o biquíni que eu iria vestir, tendo a companhia de um Alex parado na porta me observando.
- Alex, está me deixando incomodada. O que houve?
- Tenho um presente pra você. - ele diz se aproximando.
O encaro um tanto desconcertada esperando que ele reagisse, mas acredito que ele esperava o mesmo.
- Não precisava ter se incomodado, mas mesmo assim obrigada.
- Calma, nem te mostrei o que é. - ele sorri, mas continua parado.
- E então?
- Só um segundo. - pede e vai em direção a sua mala. Ele me entrega uma caixinha embrulhada com um papel vermelho.
Eu a pego, receosa e a abro com cuidado. Era uma pandora com alguns berloques já pendurados.
- Você é uma pessoa cheia de momentos, com muitos anseios, sonhos e segredos. Gostaria que registrasse cada instante de sua vida, cada aventura diferente que possa ter. Ousei comprar alguns pingentes que deduzi combinarem com você. O martelinho, que representa o direito, esse que é uma medalhinha tem a foto de um husky, pois sei que é a sua raça preferida e você e o Lucky se deram tão bem que achei legal deixar uma espécie de lembrança dele. Esse terceiro é uma bandeira da Alemanha, representando o seu maior sonho. Por fim, o quarto é uma meia lua, pois espero que possa se lembrar de mim, como alguém que a considera extremamente importante.
Engoli seco sem saber o que dizer. Alex sabia de todos os meus gostos e fez questão de deixá-los ainda mais perto de mim. O presente era maravilhoso e eu não contive algumas lágrimas. Peguei a pulseira e pedi para que ele colocasse em mim e assim ele fez. No final depositou um beijo no dorso da minha mão.
- Obrigada, de coração. Eu adorei. - agradeço o abraçando. - Mas como teve tempo de comprar tudo isso?
- Eu já sabia do seu aniversário, há algum tempo. Gostei tanto do que você fez pra mim no dia do meu aniversário que queria retribuir de alguma forma. Perguntei para suas amigas.
Descobri que o dia hoje ia ser inteiro dedicado a mim. Toda aquela bajulação era um tanto assustadora, mas de certa forma eu esqueci o fato de ter visto Bill. Primeiro me levaram a um restaurante japonês para almoçar e claro, não pensei duas vezes em pedir um yaksoba, e alguns sashimis de salmão.
- Não importa a origem, o molho, o formato, o jeito como é feito, a Liza sempre vai no macarrão. - indignou-se Alex.
- Não tenho culpa se foi a melhor coisa inventada pelos chineses. É divino. - falo beijando a ponta dos dedos.
- Coma a vontade Liza, hoje é o seu dia e o seu almoço vai ficar por nossa conta. - contou Jhony.
- Até parece que eu vou aceitar. Imagina, eu pago.
- Nada disso senhorita, fica quietinha aí e não ouse em nenhum momento colocar as mãos em sua carteira, está me ouvindo? - bronqueou Back.
- Ok. - fiz sinal de rendição.
- Ótimo. - minha amiga de um sorriso satisfeito.
Depois que fomos ao restaurante, eles quiseram me levar numa sorveteria, mas depois dos últimos acontecimentos eu estava era me esquivando de sorvete e optei por um capuccino gelado. Senti-me uma criança quando a garçonete colocou aquela taça imensa diante das minhas vistas, com as bordas recheadas com creme de avelã, o modo como aquilo era delicioso, me deixaram com a boca toda suja, que acabou por me arrancar algumas risadas.
- Rindo sozinha Liza? - estranha Daniel.
- Estou me sentindo uma criança que toma seu capuccino gelado pela primeira vez.
- Ta parecendo mesmo, olha essa boca toda suja. - Alex zomba de mim e pega um guardanapo me ajudando a limpa-la. Todos olham aquela cena com um sorriso malicioso o qual eu prefiro ignorar.
- Me superou daquele dia do macarrão.
- Alex, eu não derrubei nada na minha camisa.
- E isso aqui no seu nariz? - ele pergunta.
- Não tem nada no meu nariz - fico vesga tentando analisar o que estava errado.
- Agora tem. - fala pegando com o indicador um pouco de creme de avelã e passa em meu nariz.
- Alex, seu bobo, não tem graça. - finjo estar brava, mas acabo soltando uma risada enquanto limpo sua arte.
- Esses dois são tão lindos juntos que eu não sei o porquê não se assumem logo. - escuto Mat comentando com Kate.
- Liza tem um passado meio conturbado. É difícil para ela lidar com essas coisas. - explicou Kate. - Mas eu tenho a esperança que Alex possa concertar seu coração, mesmo que isso leve um tempo.
Alex e eu estávamos nos provocando e foi gostoso o fato de eu estar gargalhando, perdendo inclusive o fôlego. Por mais que fosse instantâneo, estava sendo divertido passar o dia com eles.
O sol estava extremamente quente e o calor estava intenso. A praia estava lotada e preferimos ficar na piscina. Não me importei da água estar gelada, pelo contrário, não poderia estar melhor. Estávamos nos divertindo jogando água um no outro. Alex tentava me segurar em seu pescoço e eu implorava para que ele parasse, porém ele era persistente. Ele estava um charme com aqueles cabelos molhados, as gotas de água deslizando pelo seu corpo, fiquei extasiada e não contive um sorriso.
Saí da piscina depois de algum tempo sedenta. Peguei um copo e meus amigos vieram em seguida, loucos por água também.
- Liza, Sam me disse que você é ótima em sinuca. – Jhony comenta.
- A melhor. – faço a convencida.
- Certo. O que acha de jogarmos? – ele sugere.
- Se prometerem jogar sério, sem gracinha por ser meu aniversário, eu aceito.
- Jamais faríamos isso, mas se sua coordenação é tão ruim quanto você disse, queremos ver o que você sabe fazer de bom com um taco em mãos. – Alex se manifesta de forma maliciosa.
- Ótimo. - levanto-me. - Se preparem para perder...
Aprendi a jogar sinuca depois que passei a frequentar alguns bares, era uma bebida, uma partida, e sempre uma amizade diferente. No começo, eu não entendia a lógica daquilo, mas de tanto começar a jogar, eu acabei ficando ainda melhor. O jogo de hoje era mais light e sem muitas regras, assim como quando joguei com Peter.
- Eu vou com a Liza, se o Alex me permitir. - Carter me abraça.
- Ela é toda sua.
- Alex, meu amigo, Liza é uma tremenda gata, toma cuidado. - ele diz me dando um beijo na bochecha e ri em seguida.
- Se está difícil pra mim, imagina pra você. - Alex piscou para o amigo.
- Depois dessa, desanimei. - Carter tem uma expressão de desapontamento.
- Vocês dois podem parar de bobagens. - peço pegando o taco. - Quem vai ser a dupla adversária?
Kate e Mat se prontificaram.
- Liza, você falou para jogarmos para valer. Não vou ter dó de você, já vou avisando. - ameaçou Mat.
- É isso que eu quero ver.
Tiramos par ou impar para ver quem começava e eu acabei por dar início a jogada. Na primeira tacada marquei dois pontos colocando duas bolas pares no buraco – sete e treze.
- Duas bolas com números da sorte. O que será que o destino lhe reserva Liza? - Kate me olhava desconfiada e curiosa.
- Há quem acredite que dão azares. Seja lá qual for, é só uma superstição. - falo me preparando para jogar novamente e acerto mais uma me proporcionando a terceira jogada onde eu deixo a bola o mais perto possível do buraco.
- Poderia ser mais confiante. - Kate se posiciona. - Vai que é um sinal.
Kate acerta duas bolas pares jogando novamente, dessa vez sem sucesso.
- Carter, eu confio em você, vamos lá garoto. - torci para o meu companheiro.
- Deixa comigo. - Carter acerta a bola que eu havia deixado preparada. Joga novamente, acertando outra e na terceira tacada sua jogada fora infeliz.
- Não se anime Liza, agora é a minha vez. - Mat provoca. Ele encarava com toda a concentração do mundo cada centímetro, a força com a qual deveria jogar, calculando tudo, o que fez acertar quatro bolas de uma vez. - Meu tio era dono de um bar, e eu acabei por aprender. - se prepara para a próxima tacada, mas não pontua. Kate dá um beijo em Mat como forma de parabenizá-lo. Placar: 4x6 eu precisava mudar aquilo. Olho pra ele assustada.
- Liza, a jogada está em suas mãos, vamos lá. - Carter me apoia. Eu sabia de várias tacadas e manobras diferentes. Era só saber qual a melhor a ser usada.
Analisei cada bola por alguns instantes. Eu tinha apenas três e ganharia a partida. Posicionei meu taco de várias formas diferentes a fim de simular a jogada em minha mente. Quando tinha a tacada pronta situei-me e com o taco deslizando sobre os meus dedos empurrei a primeira bola que foi direto ao buraco. Não gritei a vitória, pois ainda estava arriscado. Preparei-me para a segunda jogada, e numa tacada triunfal, as duas foram diretamente aos seus destinos e eu pude pular convencida. Carter me abraçou me levantando de surpresa.
- Ei, pode para com essa agarração toda. - Alex fingiu um ciúme. - Ainda mais quando ela estiver nesses trajes. - referiu-se ao meu biquíni.
- Pode ir parando aí o ciumento. Você e a Melissa são o casal do vôlei, a Liza e eu da sinuca. - Carter sempre tem uns comentários desnecessários e eu não pude evitar certo desconforto por ele.
- Certo, eu sei que vocês me amam, mas decidem logo quem serão os próximos, porque eu só estava me aquecendo.
- Ah Liza, você não perde por esperar vou querer uma revanche. - Mat desafiou.
Jogamos a tarde inteira. Íamos revezando entre os jogadores e com toda aquela diversão, era como seu eu não tivesse problemas e como se Bill não estivesse na cidade.
A balada a qual eles se referiam na note passada era para comemorar meu aniversário. Fiquei feliz em saber que esse ano eu não passaria dentro do meu apartamento comendo um bolo comprado na padaria.
Fiz questão de caprichar no visual e me trocar no quarto de Back. Era mais fácil tendo em vista que no meu eu teria que dividir o banheiro com Alex, e haja paciência para aguentar ele arrumando aqueles cachos. Sem falar que a meninas com toda certeza iriam querer minha ajuda na produção. Parecia festa do pijama, nós quatro no quarto de Back com maquiagens, vestidos, sapatos, secador, chapinha, brincos e colares espalhados pelo quarto todo. A balada era country, onde tocaria uma banda local, mas de muito sucesso. Disseram que conseguiram uma mesa e mais uma vez era tudo por conta deles.
Comecei a me arrumar primeiro, pois era mais fácil de cuidar das meninas depois. Era uma saia e uma blusa compondo um visual simples, mas elegante. Quando estávamos prontas, os meninos já estavam lá embaixo nos esperando, exceto Alex que ainda não estava na sala.
- Vocês estão incríveis, meninas. - Daniel nos elogiou.
- Liza, está radiante. - Carter segurou minhas mãos a fim de que eu desse uma volta. - Aproveitar porque Alex não está aqui, senão eu estou perdido. - ele ri fingindo medo.
- Deixa de bobagens Carter, e obrigada.
- Mas falando em Alex, você poderia ir ver como está aquela noiva que não saiu de lá ainda. Vamos nos atrasar para a reserva da mesa. - Jhony olhava para o relógio.
- E por que você não sobe?
- Ai, essa foi em cheio. - comentou Daniel.
- Liza, minha amiga querida e secretária preferida, se Alex estiver em trajes inapropriados terei pesadelos para o resto dos meus dias, porém, se você for a coisa muda um pouquinho. - Jhony coloca suas mãos em meus ombros. - Sem falar que você convence ele muito mais facilmente do que eu.
O encaro com uma sobrancelha levantada.
- Eu vou cobrar isso depois tá, chefinho. - aperto sua bochecha e vou atrás de Alex.
Bato na porta e não obtenho resposta, então resolvo entrar. Ele ainda estava sem camisa e tinha um rosto meio estressado.
- Eu já estou indo. - gritou.
- Ei calma lá, cachinhos dourados, só vim ver se está tudo bem.
- Está querendo me provocar? - ele pergunta sério.
- Talvez. - sem me importar com o seu tom eu começo a analisar as unhas.
- Pois está conseguindo. - ele para e me olha. - Está linda como sempre. - respira como se tivesse tirado um peso.
- O que houve?
- Não consigo achar minha camisa.
- Qual camisa?
- Aquela que eu te emprestei.
- Por que faz tanta questão de ir com ela? - "Por mim ele podia ir daquele jeito"
- Ela me traz sorte.
- Números da sorte, camisa da sorte, só eu que não acredito nessas coisas? - começo a ajudá-lo a procurar.
- As duas vezes que eu estive com ela eu passei um dos melhores momentos com você.
- Coincidência, já ouviu falar?
- Liza, você é muito chata. - ele me taca uma camiseta e ri.
- Aqui está. Sua camisa da sorte. - entrego a ele que sorri feito bobo.
- Quem sabe ela não me traga mais uma sorte hoje?
- Só não se atrase Alex Becker, ou irei sem você. - saio pela porta e desço avisando que Alex estava vindo.
Finalmente estávamos em frente à balada tendo que encarar uma fila imensa para entrarmos, graças ao atraso do encaracolado. Nesse momento, Melissa chegou com alguns amigos, Dafne, Alison, Guilherme e Alan. Melissa nos apresentou e pela olhada que Alan me deu, desconfiei ser ele o tal garoto que Melissa falava. Com toda certeza era ele. Alan não tirava os olhos de mim um segundo sequer. Tinha os cabelos pretos e os olhos castanhos e as bochechas bem avermelhadas, era muito bonito, mas sua concentração estava me deixando sem graça. Alex por outro lado, notou e acabou segurando minha cintura e percebi os olhares de Melissa completamente murchos. Desejei que um poço se formasse a baixo dos meus pés e eu pudesse permanecer ali até que toda aquela situação acabasse. Se eu tirasse as mãos de Alex, ele se decepcionaria, se deixasse, Melissa iria pensar que eu estava mentindo. Decidi com muito custo pela primeira opção.
O encaracolado tinha o cenho franzido, Melissa parecia mais calma e Alan deu um meio sorriso. Faltavam apenas algumas pessoas a nossa frente e eu entrei mais que depressa quando chegou minha vez. Algumas músicas eletrônicas estavam tocando antes que a banda entrasse. Dirigimo-nos até a mesa que ficava perto do palco enquanto Jhony foi até o bar.
- Gente, hoje é o aniversário de Liza. - comunicou Sam.
- Por que não disse antes? - Melissa veio me abraçando e desejando feliz aniversário, assim como todos os seus amigos.
Alan me deu um abraço demorado e não contente em me dar apenas os parabéns fez questão de sussurrar em meu ouvido o quanto eu era linda. Senti sendo fuzilada por um belo par de olhos verdes e assim que Alan me soltou, pude ver sua expressão nem um pouco feliz.
Assim que Jhony chegou com as bebida eu fui logo pegando uma cerveja. Precisava de alguma coisa para refrescar e dar aquela empolgada. Eu já movimentava um pouco o corpo e levantava as mãos quando a música atingia o seu auge. As meninas como verdadeiras parceiras de muitas festas, me acompanharam. Melissa junto com sua amiga, entraram na onda de forma que fizéssemos um círculo. Fechei os olhos de forma a sentir melhor a sintonia, queria apenas me divertir e deixar que o ritmo me conduzisse para onde ele quisesse me levar. Alex decidiu entrar na brincadeira e eu lembrei daquele dia em que ficamos os dois bêbados e ainda com os olhos fechados, acabei dando um leve sorriso. Quando dei espaço para que minha íris fizesse seu papel, Melissa dançava de forma a tentar provocar Alex. Ela não estava vulgar, mas era capaz de chamar atenção. Alex talvez por vingança de eu ter tirado suas mãos da minha cintura, ou porque realmente estava gostando, meio que correspondia as insinuações de Melissa. Alan que ainda tinhas os olhos em cima de mim, resolveu se aproximar ficando ao meu lado e eu sem me importar fiquei a sua frente. Pra dizer a verdade eu não queria provocar nem Alex, muito menos Alan, eu queria era curtir o meu momento e me divertir o máximo que eu pudesse. Numa virada que eu acabei dando pude ver o encaracolado com raiva e pegar as mãos de Melissa para que ele a conduzisse. Sim, ele estava me provocando, e eu me odiei por estar funcionando, mas fingi não me importar. Algum tempo depois, ali dançando, eu pego outra cerveja e percebo que a banda já iria começar a se apresentar. Eles fazem uma introdução e começam a cantar a primeira música. O que esperar da música quando a batida já começa lenta? Precisava de mais cerveja para aguentar toda aquela declaração de amor e dei algumas goladas em minha bebida.
A letra da música era bonita, mas completamente utópica, pelo menos para mim. Melissa e sua amiga a cantavam com total entrega e minhas amigas faziam o mesmo, os meninos estavam apenas bebendo e trocando alguns assuntos aleatórios. A música acabou depois de longos três minutos dando espaço a outra mais animada e com uma letra ainda melhor e mais verdadeira, e essa eu sabia. Era a minha vez de cantar com emoção, e mais ainda com uma total empolgação que já estava sentindo depois de ter virado rapidamente a segunda garrafa de cerveja e já iniciando a terceira.
Dessa vez todos estavam animados e cantando juntamente com a banda que conseguia a todo momento interagir com a galera. O espaço estava bastante lotado, mas isso não pareceu preocupar nem um pouco Alan que me convidou para dançar. Estava livre, desimpedida e sem dever nada a ninguém, acabei aceitando e claro já avisando o meu desastre. Alan apenas riu e pediu para que o deixasse conduzir. E eu claro, não ousei em discordar.
Ele dançava muito bem. Claro, qualquer um saberia dançar melhor do que eu, mas me surpreendi quando consegui acompanhá-lo sem ao menos pisar em seus pés. Em alguns momentos, ele me abraçava e cheirava meu cabelo me arrancando alguns arrepios inevitáveis. Alan me girava e sorria satisfeito e quando dei a última volta, aconteceu: pisei em seus pés.
- Oh meu Deus me desculpe. Você se machucou? Eu disse que era um desastre. - estava envergonhada e pedi desculpas várias vezes enquanto ele grunhia de dor.
- Está tudo bem. Irei sobreviver. - ele ri segurando a ponto do meu queixo e em seguida pega as minhas mãos de novo para que continuemos dançar.
- Tem certeza? - pergunto totalmente sem graça.
- Relaxa Liza, você é demais.
Noto Alex acompanhando cada passo que eu dou e Daniel está cochichando alguma coisa em seu ouvido. O encaracolado se aproxima e faltando apenas alguns centímetros para chegar até mim e Alan, Melissa lança seu braço em seu pescoço e o convida para dançar. Meio frustrado, ele acaba aceitando.
Sabia que a atenção de Alex estava em mim. Mas eu não podia me desconcentrar ou ia acabar deixando Alan aleijado, mas ignorar o fato dele estar com as mãos em Melissa era quase impossível.
Alan e eu dançamos umas três músicas juntos. Jhony dessa vez tinha trazido uma vodka para acompanhar a cerveja e eu como amante de um bom destilado, não resisti.
- Cuidado para não ficar bêbada e sair por aí fazendo besteiras e eu precisar te levar carregada para casa. - Alex foi direto e tinha ironia no tom da sua voz.
Eu apenas o encarei com uma sobrancelha levantada nem um pouco descontente com seu comentário.
- Mentira que você levou Liza carregada? - Melissa se espantou.
- Faz algum tempo. Estávamos num acampamento e Liza tinha acordado meio irritada descontando seu mau-humor até na sombra, e na festa começou a beber sem pudor nenhum. Acabou se oferecendo para um garoto aí e se não fosse por mim, sabe se lá o que iria ter acontecido. - Alex contou.
- Meu Deus Alex. Liza é uma sortuda de ter você como amigo. - Melissa estava radiante.
- Amigo. - Alex pronuncia debochadamente enquanto eu estava consumida pela raiva por Alex ter agido daquela maneira tão infantil. Ele não tinha o direito de me expor daquela maneira. Com o rosto pegando fogo, bebi toda a minha vodka numa virada, deixei meu copo na mesa e fui até o Alan. Senti o álcool fazendo efeito e estava mais animada do que nunca.
Dessa vez não dançamos juntos, mas cantávamos as músicas um para o outro e ríamos descontroladamente. Melissa piscou pra mim e me mostrou o polegar como se estivesse aprovando a nossa relação.
Pude notar todos os meus amigos se divertindo. Back estava ficando com um cara e Daniel tinha encontrado uma menina no bar. Sam e Jhony dançavam alegremente, assim como Kate e Mat, mas Alex, por mais que se esforçasse em dar atenção em Melissa, era nítido o seu incômodo.
Na minha concepção eu não estava fazendo nada de errado a não ser me divertir. Se Alex estava com ciúmes isso era um problema dele e não meu. Não iria ficar com Alan mesmo ele sendo super legal, não apenas por Alex, mas também por mim que estava indiferente.
Esse era o melhor aniversário que eu estava tendo depois de tantos anos e eu não queria ter que me preocupar em agradar alguém, ou ter que me comportar como uma donzela para conseguir isso. Sei que pode ser egoísmo da minha parte, mas era o meu dia. Implorei internamente para que tudo ocorresse bem, mas como já era de se esperar, mantras não funcionam comigo.
Já havia bebido mais do que devia e achei que era hora de parar, pois já estava alterada e rindo sem descontroladamente. E contar o fato que ficar de pé estava sendo uma tarefa não muito fácil. Apesar disso, eu ainda estava com a minha consciência funcionando. Sam de repente aparece com um minúsculo bolo e uma velinha dando início aos parabéns e chamando a atenção de todos. Os cantores percebendo a agitação decide usar dos instrumentos para animar ainda mais a galera. E por fim, os mesmo me desejaram um feliz aniversário. Apaguei a vela e todos gritaram em comemoração. Enquanto estavam distraídos, prontos para iniciarem um brinde, percebo entre os copos levantados Alex e Melissa distantes. Alex olhava em direção ao encontro dos copos enquanto Melissa o encarava. A mesma virou seu rosto para ela e tomou a iniciativa de beijá-lo. O encaracolado estava surpreso e sem reação. Kate percebeu minha expressão e seguiu o meu olhar vendo a mesma vista que eu. Sem esperar para ver o que aconteceria, desci minhas mãos e sai de lá o mais rápido possível indo direto a saída.
Não foi fácil atravessar aquele monte de gente, praticamente cambaleando. Não esperava que aquela cena me abalaria tanto e por mais que fosse culpa minha, e talvez exatamente por isso, a dor era ainda mais intensa. Logo que consegui passar pelos seguranças e entreguei minha comanda para as atendentes, senti o vento tocando a minha pele e agradeci por ninguém ter ido atrás de mim. Respiro fundo com uma vontade de chorar e ao mesmo tempo rir. Poderia muito bem esperar por um taxi e ir pra casa sozinha. Notei que ainda tinha fila para entrar e ela estava tão imensa que ia em direção a calçada. Desci o degrau em direção a rua e acabei tropeçando, mas antes que eu pudesse ir de encontro com o chão, senti braços fortes me segurando. Ainda meio zonza e com uma visão levemente distorcida eu era capaz de reconhecer aquele rosto. Estremeci por estar em contato com a sua pele.
- Ellie, você está bem?
- O que está fazendo aqui? - pergunto com o cenho franzido devido a tontura.
- Um amigo meu disse que teria uma festa aqui e eu vim. Eu é que pergunto, o que você está fazendo aqui, e ainda por cima nesse estado? - Bill pergunta parecendo espantado.
- Ora, é meu aniversário, estou apenas me divertindo. - rio forçadamente.
- Você não é de beber Ellie, o que houve? - rio mais ainda com o seu comentário.
- Bobinho, você não sabe nada. Agora se me der licença, eu preciso ir embora.
- Nada disso. - ele me impede. - Você não está em condições de voltar para casa sozinha, eu te levo.
- Pois eu preferia pegar carona com um traficante. - falo séria, e pendo o meu corpo novamente, fazendo Bill me segurar no mesmo instante.
- Não diga bobagens. Vamos.
- Não Bill, me solta. - tentava em vão tirar suas mãos de mim.
- Ellie, deixa eu te ajudar.
- Eu não quero a sua ajuda. O que vai fazer? Vai me abandonar no meio dar rua como se eu fosse uma qualquer?- começo a chorar descontroladamente e ele me abraça. Senti-me uma completa estúpida por corresponder a seu abraço fortemente como se eu pedisse para que ele não me soltasse nunca mais, por não ter forças para afastá-lo de mim, e por me sentir embriagada com o seu cheiro. Por tanto tempo eu me senti protegida em seus braços, senti-me confortável. Era o melhor lugar do mundo para procurar refúgio. Ele me trazia segurança, passava-me paz. Eu o amava intensamente e esquecê-lo foi a tarefa mais difícil que já havia feito. Estava com saudades?
- Vai dar tudo certo. Confia em mim. - quando ele diz aquilo eu me afasto.
- Confiar em você? - pergunto debochada - Ainda prefiro ser levada por um traficante.
- Pois eu não irei te deixar sozinha. Vou te levar para casa nem que eu tenha que te pegar no colo. - ele estava irredutível e eu sem forças para contestar.
Bill me colocou em seu carro delicadamente e encaixou os cintos em meu corpo. Eu o olhava lembrando das vezes em que ele se preocupou comigo, e sentia meus olhos se pesarem cada vez mais.
- Onde você está? - ele pergunta.
Fiquei em silêncio tentando sem sucesso lembrar do trajeto que fizemos na ida.
- Droga! Eu não me lembro. Não lembro o nome da rua, só sei que é perto de uma pracinha e enfrente o mar.
- Ellie, tem inúmeras casas de frente para o mar e diversas praças.
- Eu não lembro! Tá legal! Só me tira daqui antes que comecem a me procurar. - minha voz estava mole, mas alterada, e eu não queria ter que dar explicação sobre o motivo pelo qual eu sumi.
Bill deu partida no carro e eu encostei minha cabeça na janela. Seu cheiro me consumia e minha vontade era de me jogar de um precipício por toda aquela sensação. Ele me levou a avenida e me ajudou a sentar num banco.
- Espere aqui. Eu já volto.
Estava frio e pude sentir meu corpo inteiro tremer. Abracei-me tentando conter o frio até que avistei Bill trazendo-me uma garrafa de água.
- Obrigada.
Percebendo que eu estava com frio ele me abraça e novamente sinto todo aquele desconforto, mas não me afasto porque o frio estava demais. Bebo minha água sentindo levemente meu cérebro funcionar com mais clareza.
- Está melhor? - ele pergunta.
- Estou. Obrigada.
- Me conta, por que bebeu tanto?
Faço um silêncio voltando aquela cena e um aperto no peito surge.
- Vi um amigo beijando uma garota.
- E você sente algo por esse amigo? - desviou os olhos de mim parecendo decepcionado.
- Por que mesmo estamos conversando sobre isso?
- Ellie, desde quando começou a beber assim?
- Desde os meus dezoito anos. Pra falar a verdade, assim, desse jeito, foi aos vinte. Com dezoito eu nem estaria conversando com você nesse momento aqui na praça. Provavelmente eu estaria na cama de algum desconhecido ou sendo levada por algum deles na casa da minha avó. - disse tranquilamente.
- Até parece que você faria uma coisa dessas. - ele ri e eu o olho seriamente. - Ellie, o que fizeram com você? - percebe que eu não estava brincando.
Dou uma gargalhada intensa e Bill fica sem graça.
- O que fizeram comigo? - volto ao meu estado de antes. - O que você fez comigo. - fiz questão de enfatizar o você e me afastei de seus braços. - Tem noção de como eu fiquei depois que eu acordei no dia seguinte e você não estava do meu lado e ficou sem dar notícias o resto do dia. Senti que a culpa tinha sido minha por você não ter gostado da nossa noite, pensei em mil e uma possibilidades de você ter sumido, mas a verdade veio à tona quando o vejo aos beijos com outra garota. Me senti um lixo, um peso para sociedade, fiquei um mês trancada no quarto, seis meses tendo uma vida de merda, magoando todas as pessoas a minha volta, porque meu coração, você tinha roubado de mim e o descartado da pior forma possível, Bill. Te amei e te odiei com a mesma intensidade até me tornar o que sou hoje. Sabe o amor? Não sei mais o que é isso. Não sei dizer eu te amo, nem o quanto as pessoas são importantes para mim, porque sempre duvido dos seus sentimentos, então não venha me perguntar o que fizeram comigo porque tudo isso é culpa sua. - desabafo chorando descontroladamente e um pouco mais calma eu continuo. - Eu só queria saber o porquê. Por que, Bill?
Bill me olha assustado, provavelmente surpreso enquanto eu choro sem parar. Ele encara o nada e engole seco inúmeras vezes. Seguro seu rosto e pergunto o porquê novamente, mas ele não consegue olhar nos meus olhos.
-Droga, Bill. Me diz.
- Ellie, se eu te contar a verdade você vai me odiar pra sempre. - dou uma risada.
- Como se eu já não te odiasse agora.
- Não diz isso Ellie.
- É a verdade, anda, me diz.
Ele limpa a garganta antes de começar
- Eu era só um garoto, tinha dezoito anos, tinha tudo o que eu queria. O popular do colégio, todas as meninas que eu quisesse. Mas havia uma competição todo ano no colégio em que juntava os garotos mais famosos e mais pegadores e cada um tinha uma missão para ter o título de garanhão do ano. Então você apareceu, seu jeito todo introspectivo e ingênuo, rapidamente eu conseguiria me aproximar de você. Porque um nome exclusivo para uma única pessoa a faz se sentir especial para ela, porque ao apresentar para os seus amigos, ela acredita que você queira estar com ela. Mas as coisas mudaram. Conforme o tempo ia passando e eu ia te conhecendo melhor, com toda a sua doçura, delicadeza, o jeito educado e carinhoso com o qual tratava as pessoas e estava sempre disposta a ajudar, as suas inseguranças, os seus medos os quais eu sentia a necessidade de cuidar, cuidar de você, começaram a mexer comigo, de um jeito diferente. Você parecia um anjo Ellie. Era para tudo ter acabado mais cedo, mas eu me apaixonei por você e fui adiando os dias porque eu gostava de ter você por perto e sempre que eu pensava em te magoar eu travava. Mas o meu tempo estava se esgotando então foi aí que tudo aconteceu. Eu sumi pra não ter que dizer a verdade que eu estava com você esse tempo todo pra conseguir um título idiota. A Bia me alertou várias vezes sobre o quanto você era especial demais para que eu fosse capaz de fazer uma coisa dessas e mesmo sabendo que ela estava certa, eu me vendi e perdi a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu. O fato de você ter visto eu com outra garota não foi nada planejado, eu juro.
Aquela mesma sensação de tê-lo visto aos beijos com outra garota veio com força total novamente. A cada verdade que eu descobria eu me sentia mais no chão. Minha última apresentação no balé não poderia ter sido mais perfeita para tudo o que eu estava vivendo.
- Como você teve coragem de fazer isso? - minha voz estava embargada e meu rosto estava inteiro molhado. Esfreguei o peito e tentei em vão soltar todo o ar preso em meus pulmões.
- Ellie...
- Não me chame de Ellie, porque agora mais do que nunca eu odeio esse apelido.
- Desculpa, por favor eu não queria te magoar.
Levanto-me e o encaro estupefata com o que ele acabara de dizer:
- Não quis me magoar? Tem certeza? Porque você sumir de repente e agora me dizer que foi tudo pra ganhar um título idiota, que tudo o que vivemos foi pura mentira, não tinha porque me deixar magoada. Você sabia, sabia como eu ficaria, não se coloque como vítima nessa história. Por isso que a Bia me olhava desconcertada , porque ela sabia. Todos sabiam, todos. E ninguém foi capaz de me dizer o que estava acontecendo. Quando eu achei que finalmente as pessoas gostavam de mim de verdade, que eu tinha amigos e um namorado que me amava, eu estava caindo de cabeça num mar de mentiras. - eu estava irônica e completamente sufocada.
- Ell... Por favor. Me perdoe. - ele se levanta. - Fiquei desesperado quando eu me dei conta que havia te perdido. Estava apaixonado por você. Eu a amava. Tentei te procurar na sua casa, mas seu pai não quis dizer onde você estava, praticamente me expulsou. Eu também sofri, acredite em mim.
Solto outra gargalhada ainda mais forçada do que a anterior.
- Claro, você estava com o seu prêmio, deve ser duro ser o garoto mais popular do colégio, enquanto você é a garota mais idiota, mais tola, ingênua e burra. - eu gritava desesperada.
- Eu te amo Ellie. Nunca deixei de te amar. Achei que tivesse te esquecido, mas quando te vi atravessando a rua ontem, senti meu coração pulsar novamente. - ele se aproxima e tem um leve sorriso no rosto.
Dou um suspiro agudo, pois controlar o choro já era impossível. Ando de um lado para o outro com a mão no rosto e balancei a cabeça várias vezes em sinal de negação.
- Amor. - pronunciei com desdém - O que é isso? Eu te odeio Bill, com todas as minhas forças eu te odeio e esse sentimento é o mais verdadeiro e mais sincero. Eu preciso sair daqui. - vou em direção a rua, mas Bill me impede.
- Não diz isso Ellie, eu te amo. Te amo. - ele se aproxima e me beija me segurando com força.
- Liza? - solto-me de seus braços e vejo a cara da decepção.
- Alex. - ele sai e eu tento ir atrás dele gritando seu nome, mas Bill me puxa.
- Me solta seu idiota.
- Então é ele o seu amigo. Ellie, me dá uma chance de tentar, prometo que vai ser diferente.
- Me solta, eu te odeio e quero você some da minha vida, desaparece - tiro forças do além e consigo me livrar dele.
- Ellie, se o destino fez a gente se reencontrar é porque ele quer dar uma chance para nós. - estava prestes a atravessar a rua, mas fiz questão de voltar. O olhei com todo ódio que eu nutria por ele e coloquei uma mão em seu rosto.
- Ou talvez ele queira te fazer sofrer o tanto que eu sofri. Vá a merda Bill. - digo saindo.
- Ellie!
- Elizabeth para você. - entro no primeiro taxi que aparece sem olhar para trás.
Como já estava melhor da bebedeira consegui me lembrar do caminho, mas não consegui controlar o meu desespero e medo de enfrentar Alex. O taxista me olhava do retrovisor enquanto eu chorava feito uma criança desamparada.
Chego em casa gritando por Alex e o encontro na sala parado com os punhos cerrados.
- Alex me deixa explicar. - digo tocando seus braços e ele se afasta.
- Explicar o que? Que você estava aos beijos com outro cara enquanto eu fiquei preocupado com o que você estava pensando. Eu sou idiota. Você tem razão, camisa da sorte, número da sorte. Nada disso existe.
- Alex, por favor, aquele era...
- Não quero saber Liza. Você faz o que você quiser da sua vida. Como você mesma diz, não temos nada para ter esse tipo de discussão. Acho melhor você subir para o seu quarto.
- Você não vem? - pergunto mais num sussurro.
- Vou dormir no sofá.
- Alex não precisa de tu...
- Já disse que vou dormir no sofá. - ele aumentou o tom. - Agora some da minha frente.
Subi correndo e fui para o meu quarto. Deitei na cama e abracei o travesseiro de Alex a fim de sentir seu cheiro. Era a mesma cena, o mesmo sofrimento de um passado entrando por qualquer fresta que pudesse encontrar, mas vinha como um vendaval. Eu soluçava e batia na cama com raiva e ódio. Queria que fosse o rosto de Bill para descontar tudo o que eu sentia por ele e estava me consumindo, queria realmente naquele momento não ter um coração.
As lágrimas secaram e o quarto ficou silencioso. O nada de repente ficou mais agradável. Meus olhos trêmulos avisava que o sono estava para chegar e então se fecharam. Dormir era o mesmo que não sentir, não pensar, não padecer. Era como acalmar uma alma conturbada. Como entregar toda sua dor para o vento.
Num suspiro eu acordei assustada e pela primeira vez eu gostaria que tudo fosse um pesadelo, mas me abracei esfregando as mãos em meus braços porque o abalo da noite anterior veio assombrar minha mente. Olhei para o lado e confirmei meus pensamentos. Alex não veio dormir. Meus olhos tremeram, mas estava cansada demais para chorar. Espremi o mesmo por sentir as fisgadas da dor de cabeça.
Fui direto para um banho quente. Tentei relaxar e deixar a água cair com toda a sua força como se ela fosse capaz de lavar e curar qualquer machucado. Fiquei alguns minutos só me entregando ao chuveiro, e então tomei meu banho efetivamente.
Enrolada na toalha, escovei meus dentes e como Alex não estava no quarto decidi vestir um roupão, enquanto secava os cabelos e pensava o que eu ia fazer o resto do dia. Escuto barulhos na porta e desligo o secador para confirmar.
- Entra!
Saio do banheiro e vejo Alex emburrado entrar no quarto.
- Só vim pegar algumas roupas, já estou saindo. - avisa sem olhar para mim.
- Eu já usei o banheiro, se quiser pode...
- Usarei o social, fique tranquila. - o seu tom me feria ainda mais.
- E o pessoal, onde está?
- Foram a praia. Eles acordaram mais cedo e não quiseram esperar. Sam guardou seu bolo, está na geladeira. - Seu tom me machucava ainda mais, o modo como ele se dedicava a suas coisas sem que eu pudesse ter o prazer de ver seus olhos. Ele estava saindo, mas eu o interrompo.
- Alex! - ele parou de costas para mim. - Sobre ontem a noite. - ele se vira.
- Não temos nada sobre o que conversar. - seguro o seu braço com toda a força implorando para ele me ouvir.
- Por favor me deixa explicar.
- Explicar? O que? Que eu fiquei preocupado quando Kate disse que você saiu quando viu Melissa e eu nos beijando, e eu fui atrás de você te contar o que realmente aconteceu e eu a vejo aos beijos com outro cara. Já tá tudo explicado. Não adiantaria dizer que foi a Melissa que me beijou, porque...
- Eu sei que foi a Melissa quem beijou você. - olho para baixo e sento na cama. - Eu vi a cena.
- Então porque você...
- Porque de certo modo a culpa é minha. - encaro o chão completamente constrangida.
- Sua?
- A Melissa veio me perguntando se você estava livre e se ela tinha alguma chance com você e eu disse que sim. - minha voz estava trêmula.
-Por que você fez isso? Você sabe que de certo modo não é verdade, por que Liza? Me responde. - ele estava totalmente bravo.
- Melissa é uma linda mulher. Ela é divertida, é legal, simpática. Tem brilhos nos olhos. E diferente de mim, ela tem um coração. Ela é a pessoa mais certa para você. - senti meu rosto quente e percebi que estava chorando.
Alex começa a andar de um lado para o outro e segura o seu cabelo evidenciando a sua testa. Talvez tentando conter sua raiva, já que eu chorava sem parar.
- Melissa é tudo isso que você disse. Você tem toda razão. Ela é linda, maravilhosa, incrível, carinhosa e super amorosa com todos as sua volta. Ao contrário de você, ela sabe jogar vôlei e provavelmente deve saber ficar mais tempo num cipó e com toda certeza, ela não suja a boca ao comer sua comida preferida. - por mais que ele tivesse razão o jeito como ele soltava as palavras era como se estivessem me apunhalando. - Mas ela tem alguns defeitos. Aliás, muitos defeitos. Ela não tem os olhos castanhos que parecem duas jabuticabas. Ela não morde os lábios quando quer alguma coisa ou quando está nervosa. Ela não morde a ponta da caneta quando está concentrada e nem canta enquanto estuda. Ela não tem os cabelos ondulados e nem um corpo maravilhoso. Ela não tem pesadelos a noite e não fala enquanto dorme. Não tem a sua risada e nem o seu o seu sorriso. Ela não é você Liza. Melissa pode ser perfeita, mas não pra mim. Porque não é ela que faz meu coração palpitar e nem quem me deixa louco só de vê-la com outro homem. Eu queria que você enxergasse isso. Mas percebo que mesmo você enxergando, seus sentimentos não são recíprocos. Você não sente nada por mim. - ele fala com os olhos marejados.
- Alex, não diga isso. - o olho tentando conter o choro.
- Então me diz, por que estava beijando aquele cara?
Começo a chorar descontroladamente por lembrar de todo aquele momento
- Era o... Era o Bill. - digo com dificuldade.
- Bill? Aquele que você me contou? - balanço a cabeça que sim. - Você ainda o ama? É isso? É por isso que não consegue abrir seu coração para mim? - ele pergunta gritando e eu não consigo responder. Alex segura meus braços e começa a me balançar me pressionando para dizer.
- Alex, você está me machucando. - amolecendo os braços ele me solta.
- Desculpa.
- Ele me contou o motivo pelo qual ele me deixou e foi horrível. Eu preferia ter ficado sem saber. Ele ainda teve a cara de pau de dizer que me amava. Que sempre me amou. - rio debochada. - E então num impulso ele me beijou e você chegou. – Levanto-me para olhar bem no fundo dos seus olhos. - Mas não Alex. Eu não o amo. Eu o odeio com todas as minhas forças. - consigo falar sem chorar e o mais séria possível.
- E eu? O que você sente por mim? - ele pergunta ainda me olhando nos olhos.
Abaixo a cabeça e me viro de costas a ele, e um pouco mais distante, volto a olhá-lo.
- Você é mais especial do que imagina. - confesso.
- Sabe muito bem que não é isso o que eu quero que diga. - ele grita.
Novamente eu volto a chorar.
- Eu não posso. Eu não consigo. - falo chorando e suspiro tentando me controlar.
Alex se aproxima.
- Então escute seu coração. - mais perto, ele coloca sua mão sobre meu peito. Lembro que eu estou nua por baixo do roupão e me arrepio pelo seu toque. - Ele está gritando. - sussurra em meu ouvido e suas mãos descem para o laço. Olhando o fixamente ele o desata. Dou um suspiro e nem sinto mais as minhas pernas.
Com a sua mão no meu pescoço ele olha em meus olhos e depois para os meus lábios, e calmamente deposita um beijo neles. Com a outra mão, ele segura a minha cintura por dentro do roupão e sem conseguir me conter eu o abraço. Colando nossos corpos, ele intensifica o beijo. Aproximando-me da cama, ele para de me beijar e tira o meu roupão. Ele me deita e eu posso sentir seu peitoral descoberto. Passo a mão pelo seu corpo até chegar aos botões de sua calça, desabotoando-os.
Alex percorre suas mãos em todo o meu corpo e a cada beijo que ele deposita eu me contorço segurando o lençol, tento em vão controlar um gemido. Completamente nu, ele se encaixa em mim e sinto a emoção tomar conta do meu corpo. Senti-lo era maravilhoso, era mágico, como se fosse possível flutuar. Queria registrar e gravar cada momento em minha memória e jamais esquecer daquele momento. Meu coração batia dentro dele, eu tinha certeza. Entreguei-me em seus braços com total confiança, porque sabia do que estava por vir e resolvi tomar a iniciativa. Dei a volta por cima, tirei seus cabelos de seu rosto para que eu pudesse ter uma visão completa dele. "Tão lindo". O beijei intensamente e apaixonadamente. Eu queria lhe proporcionar o mesmo prazer, o qual estava sentindo, queria que ele se lembrasse daquele momento do mesmo jeito que eu me lembraria. Movimentava todo o meu corpo querendo senti-lo cada vez mais. Ele percorreu suas mãos pelas minhas coxas chegando as minhas costas com as mãos pesadas e lentas como se quisesse sentir cada partícula de minha pele. A movimentação dos nossos corpos, nossa respiração ofegante e o silêncio do quarto, era possível ouvir nossos corações. Abraçamo-nos e nos amamos com desejo, com intensidade e desespero. Ele se levantou, pois parecia não ser suficiente, e com as pernas entrelaçadas em sua cintura ele me abraçou e me apertou contra ele. Eu sentia um calor absurdo, um prazer imenso. Não havia palavras para decifrar tudo aquilo. Deitei-me ao seu lado olhando seus olhos e acarinhando seus cachos. Um nó se fez em minha garganta e eu me controlei para não chorar. Ele percorreu sua mão pelo meu rosto de forma que eu fechasse os olhos. Deitei-me em seu colo e acabamos dormindo.
Acordei primeiro que Alex. Relutante e com toda a delicadeza do mundo, tirei seus braços de mim. Troquei de roupa e desci. Agradeci Jhony por ter feito café antes de sair. Peguei uma xícara e coloquei aquele líquido preto dentro do copo, extasiada pelo cheiro. Andei pela casa em busca de papel e uma caneta para escrever um bilhete. "Alex, dei uma saída. Prometo que volto logo. Com carinho, Liza".
Saí a procura de um taxi, queria que me levasse até a praia do Buraco. Eu adorava aquele lugar.
O taxi me deixou até a entrada da travessia, pois o resto do trajeto teria quer ser feito a pé. Pelo horário, não havia muita gente, o que era bom. Enquanto caminhava, senti o vento batendo em meus cabelos e me esqueci das poucas pessoas que estavam lá. Só conseguia me concentrar no mar e na forma como ele batia sobre as imensas pedras. Senti a areia sobre meus pés e percebi que tinha chegado.
Escolhi a pedra mais próxima e mais fácil para que eu me sentasse. Queria contemplar o mar e sentir a brisa me tocar. Toda aquelas ondas, toda aquela movimentação das águas trouxe a minha mente os momentos de algumas hora atrás. Sentir Alex em mim foi libertador e me trouxe todas as respostas das quais eu precisava.
Estamos divididos entre o que queremos fazer e o que devemos fazer. E o que devemos fazer, nem sempre é a decisão mais correta e nem a mais fácil, mas é precisa. Se o tempo é capaz de curar tudo, o meu tempo ainda não havia chegado e talvez demoraria um pouco mais.
Alex e eu somos o conjunto perfeito, o casal perfeito, a combinação mais errada, mas nunca houve encaixe mais perfeito. Eu pertencia e ele e ele pertencia a mim, e se fosse nosso destino ficar juntos, nos encontraríamos em qualquer lugar e em qualquer época. Estaríamos sempre ligados, não importa a distância.
Depois de todos os acontecimentos eu me sentia insegura ainda mais, como se toda a minha história fosse uma mentira e agora eu não consigo mais enxergar a verdade, afinal, uma mentira contada várias vezes, quando se torna verdade, continua sendo uma falácia. Decepções vividas várias vezes quando lhe mostram o caminho da felicidade, gera desconfiança, medo da entrega. Eu ainda não estava pronta. Pra eu abrir meu coração ao Alex ele tem que estar completo totalmente. Eu teria que apagar as luzes do meu passado e redescobrir novamente o amor, pois só assim eu poderia fazê-lo feliz, e ser feliz.
Com o som do mar e com toda aquela vista maravilhosa, eu tive a certeza. Eu deveria partir.
-Pr&5
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