Capítulo 22
Dormir com Alex estava sendo uma tortura. Ele não se mexia muito, o que era bom, nem tinha pesadelos que me assustavam. Entretanto, o fato dele dormir sem camisa e eu ter trazido apenas camisolas deixava o quarto extremamente quente a ponto de nem o ar condicionado conseguir cumprir o seu papel.
Acordei várias vezes pra beber água de madrugada e lavar o rosto, e como se não fosse suficiente, o sol estava adorando espionar ele e eu dormindo agarrados. Antes que Alex acordasse e tentasse fazer alguma gracinha, desvencilhei-me de seus braços e fui fazer decidi por um banho gelado a fim de me refrescar. Quando saí, Alex ainda dormia. Ao mesmo tempo engraçado era fofo, praticamente um anjo. Dei um sorriso por vê-la daquela maneira e uma vontade enorme de lhe dar um beijo surgiu, mas me contive. Já pronta, desci e fui até a cozinha, onde Jhony e Sam estavam preparando o café.
- Muito romântico essa cena. - reviro os olhos.
- Boa tarde pra você também. Está com inveja? - Jhony pergunta.
- Amor, esqueceu que ela e Alex estão dormindo juntos? - Sam abraça Jhony.
- Provavelmente estão se matando. - deduziu o amigo de Alex.
- Já passamos essa fase. - falo pegando uma maça que estava na fruteira em cima da mesa. - Espera, você disse boa tarde?
- Sei, na empresa ficam os dois um irritando o outro, se provocando toda hora. Hora é tacando bolinha de papel, outra é aviãozinho. Isso quando o Alex não fica o tempo todo tentando conseguir um beijo de Liza. - Jhony fez questão de narrar a rotina. - E sim, já são duas da tarde.
- Caramba! Tava achando que era cedo ainda. - reviro os olhos. - A propósito, meu trabalho é sério. Não faço essas coisas. Sou estritamente profissional. Sam, fala para o seu namorado parar de falar mentiras. - franzo o cenho, irônica.
- Sei bem o profissionalismo que existe naquela sala. - diz Sam com uma sobrancelha levantada.
- Bem, já que vocês se entenderam, Sam, poderia me deixar dormir com Back? Você dorme com Jhony e o Alex dorme sozinho. - dou um sorriso como se tivesse dito algo extraordinário.
- Nada disso dona Elizabeth. - a voz de Alex surge atrás de mim o que me faz assustar.
- Quer me matar do coração? - coloco minha mão no peito.
- Seria uma injustiça com o universo perder alguém tão lindo. - seu sorriso era radiante.
- Para, não tem graça. - digo dando um soco de leve em seu braço.
- Não muda de assunto. Que história é essa de me deixar dormindo sozinho?
- Alex, não vejo porque dormirmos juntos se não somos um casal. – explico.
- Essa doeu. - foi a vez de Alex colocar a mão no peito.
Jhony olha para Sam
- Vai começar.
- A Back não vai querer ficar sozinha e Jhony e Sam tem o direito de ficarem juntos. - insisto.
Alex chega mais perto de mim e segura meu rosto com as duas mãos.
- Liza, meu amor, a Back já é grandinha o suficiente para dormir sozinha. Se for o caso o Daniel ou o Carter dividem o quarto com ela. - disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Alex, meu chuchu. - tento imitá-lo. - Já acho que você e eu dormindo juntos não é muito normal, pois não temos toda essa intimidade, imagina Back e os meninos.
O encaracolado dá um sorriso malicioso.
- Se for por intimidade, podemos resolver isso agora se você quiser.
- Mas que abusado. - seguro suas mãos a fim de tirá-las do meu rosto, mas ele acaba puxando as minhas de forma que ficamos a abraçados, e então ele me beija. Fico sem reação e meio sem saber o que fazer, mas ele é persistente e com o tempo vou amolecendo.
Jhony limpa a garganta fazendo nos separarmos.
-Desculpa, mas vocês tem quarto pra isso.
- Desculpa Jhony, isso não vai mais acontecer. - limpo o canto do lábio.
- Diga isso por você. - Alex sorri e joga uma piscada enquanto senta-se a mesa.
Estávamos nos preparando para o café, quando Back chega com a cara toda inchada e o cabelo um tanto bagunçado.
- Bom dia. - diz meio sem ânimo e com a voz rouca.
- Boa tarde. - corrige Jhony - Ressaca? - pergunta.
- É sono mesmo, até porque não bebemos muito ontem a noite. Foi o que três champanhe? - Back tentava se recordar da noite passada. - Espera, boa tarde?
-Outra perdida. Querida, depois que a gente saiu da praia ficamos até ás sete da manhã bebendo. Misturamos um monte, cerveja, whisky. - tento fazê-la lembrar.
- Tá falando sério? Eu não lembro nada disso. - Back colocou um pouco de café em sua xícara.
- Não lembra que cantou e dançou igual uma louca no Karaokê do Jhony? - tentou Sam.
- Oh céus eu não fiz isso. - Back estava incrédula com essa possibilidade.
- Fez sim Back, foi a cena do ano. - concluiu Alex.
- Isso porque mal começou. - constatou Jhony.
- Por que vocês me deixam fazer isso? - perguntou Back com o cenho franzido, provavelmente pela dor de cabeça - E vocês estão bem assim por que?
- Porque ao contrário da senhorita, nós jantamos. Você preferiu ficar de estômago vazio. - digo.
- Mas relaxa, você pode dividir a ressaca com os outros dorminhocos que não se levantaram ainda. Ou melhor, com o seus parceiros de dança. - fala Sam rindo, e todos a acompanham.
- Falando em dividir... - Alex se pronunciou. - Back, minha amiga querida e especial.
- Ei! - magoou Sam.
- Você também é Sam, mas...
- O que você quer Becker? - Back interrompeu Alex.
- Agora que Jhony e Sam se entenderam, você não se importaria de dormir sozinha, não é mesmo?
Back o encara com uma sobrancelha levantada sem entender o que Alex queria dizer.
- Por que é você que está me perguntando isso, se tem a Liza que pode dormir comi... Ah já entendi. - compreende revirando os olhos. - Não é justo. Vocês tudo de casal e eu sozinha. - cruza os braços emburrada.
- Não se preocupa Back, eu durmo com você. - digo piscando pra ela.
- Qual é Back? Você já é grandinha. E outra, não quer ver a felicidade da sua amiga estando ao lado de alguém como eu? - e o Alex convencido mandou oi.
Back franziu o cenho.
- Olha aqui, vou fazer isso porque torço por vocês e quero logo que você descongele esse coração da Liza, só por isso, entendeu? Mas vou cobrar depois. - ela diz com a faca de pão na mão, e todos riem da sua atitude.
- Pensei que você fosse minha amiga? - olhei seriamente para Back.
- Exatamente por isso. - deu um sorriso cínico.
Depois que todos acordaram e tomaram o café fomos à praia aproveitar novamente o sol. A praia estava extremamente lotada e tivemos um pouco de dificuldade de achar um bom lugar. Apesar disso, estava animada, algumas pessoas traziam caixas de som tocando músicas, enquanto outras aproveitavam pra dançar. Nós cantávamos as músicas que sabíamos e nos animávamos vendo as outras pessoas dançarem.
De repente, uma bola de vôlei caiu em nossa direção derrubando algumas cervejas o que nos fez assustar. A bola parou entre mim e Alex, e então eu sinto passos pesados na areia como se alguém estivesse correndo.
- Desculpa gente. - uma voz feminina me chamou a atenção e eu me virei para olhá-la enquanto ela pegava a bola.
- Não foi nada. - Alex responde.
- Estávamos jogando e a bola veio parar aqui, sem querer. Peço desculpas novamente. - disse mais para Alex do que pra qualquer outra pessoa que estava lá. - Prazer, me chamo Melissa. - se apresentou dessa vez olhando para todos.
- Prazer Melissa, eu sou Liza. - apresento-me simpaticamente lhe estendendo a mão. A mesma me corresponde com um sorriso.
- E você? - pergunta olhando para o encaracolado.
- Alex.
Melissa era uma mulher muito bonita. Um pouco mais baixa que eu, tinha os cabelos negros e lisos e os olhos azuis, pele branca, boca rosada e bem magra.
- Não querem jogar com a gente? - pergunta, logo assim que a gente se apresenta. - Como tem bastante gente, podemos revezar.
- Eu topo. - aceitou Carter.
- Não estou fazendo nada mesmo. - Daniel se manifestou.
Jhony e Sam também aceitaram.
- E você? - Melissa piscou pra Alex.
Alex coçou a nuca pensando na proposta.
- Você vai Liza? - dirige a pergunta a mim.
- É melhor não. Não me dou bem com esportes.
- Relaxa, somos todos amadores. É só diversão. Vamos? Vai ser legal - insistiu Melissa.
- Melhor não. Mas obrigada pelo convite.
- Bom, eu vou. - disse Alex.
- Ótimo. - Melissa sorriu e foi indo em direção a seus amigos com Alex, Carter, Daniel, Jhony e Sam.
De onde estávamos, conseguíamos vê-los jogando. Alex e Carter ficou no mesmo time que Melissa, enquanto o Sam, Jhony e Daniel ficaram na equipe adversária. O jogo estava animado e se eu soubesse jogar eu iria com certeza.
- Dona Liza, o que foi isso? - Kate me pergunta assustada.
- Isso o quê? - eu não estava entendendo.
- Você quase entregou o Alex de bandeja pra essa tal de Melissa. - explicou.
- Não somos namorados e outra é só um jogo. - dou de ombros.
- Aquilo lá é só um jogo? - Mat aponta em direção a eles.
Melissa e Alex estavam abraçados comemorando a pontuação de 3X0. Fiquei encarando aquela cena e senti uma leve fisgada no lado esquerdo do peito. Balancei a cabeça tentando afastar ideias desnecessárias.
- Estão apenas comemorando. - finjo parecer não me importar.
- Claro, no 3x0 é um abraço, no 6x0 é um beijo. - provocou Back.
- Ele é livre, é solteiro. - tentei.
- Liza, eu tenho vontade de te bater, de verdade. - ameaçou Kate.
- Tecnicamente ele é tudo isso que você falou, mas em compensação o coração dele está preso. - avisou o namorado de Kate.
- Isso é uma coisa que desprende rapidinho. - falo convictamente.
- Como pode ser tão indiferente. Olha aqueles dois, estão rindo, se divertindo. Se eu fosse você iria lá jogar e mostrar que quem tem moral nesse negócio todo é você. - incentivou Back.
Não consegui prestar muito atenção no que minha amiga estava dizendo. Fiquei assistindo aquele jogo me concentrando em apenas dois jogadores. Eles se entendiam muito bem, estavam rindo, se divertindo, e a cada placar era uma comemoração. Melissa parecia ser uma boa garota, era simpática, extrovertida, divertida, e atraente para quem quisesse ver. Parecia ser doce e amável. Vibrava com seus amigos e dançava a cada vitória. Por um instante eu senti uma pitada de inveja, mais ainda por toda interação que ela tinha com o encaracolado. Seriam com certeza um casal perfeito, e ele, certamente, merecia alguém como ela. Senti-me sufocada, presa a um sentimento que eu não sentia a um bom tempo e neste momento ele parecia ser desconhecido.
- Ei, Liza. Acorda! - Kate chamou me fazendo retornar a realidade.
- Que foi?
- Ta no mundo da lua é?
- Não é só que... Está meio quente aqui, não acham? Vou comprar uma água de coco, alguém quer? - tento disfarçar meu nervosismo.
- Tem mais cerveja aqui.
- Obrigada Mat, mas acho que prefiro uma água de coco. - falo saindo.
O carrinho estava super longe, o que me fez andar um pouco mais do que eu gostaria. Porém, durante a caminhada, deparei-me com uma cena familiar. Uma garotinha que deveria ter seus sete anos estava com uma boneca vestida de princesa, cujo vestido era amarelo e o cabelo era castanho. Com toda certeza seria a Bela, e confirmei pelo boneco loiro vestido de príncipe que a garotinha segurava na outra mão. A Bela e a Fera era o meu conto de fadas preferido. Era uma esperança a todos os meninos pelos quais eu me apaixonava e viviam zombando de mim. Eles eram as feras que com todo o meu amor, poderiam ser meu par perfeito, aliás, para uma criança, tudo pode acontecer, até um sapo virar príncipe. No meu caso, entretanto, o príncipe virou sapo, ou a fera. E o final não foi nem um pouco feliz.
De frente ao mar, a garotinha havia feito um castelo, nada muito harmônico, mas extremamente delicado. Seus bonecos iam se casar, pois ela cantarolava a marcha nupcial. Mal sabia aquela pobre garotinha o quão cruel era a vida fora de toda aquela imaginação, de todo aquele mundo de fantasias e momentos alegres. Voltei a minha infância com um sentimento de saudade. Poderia permanecer ali pra sempre, sem precisar crescer e ser quem eu era nesse momento. O problema não é a ilusão, é acordar dela.
- Você quer brincar comigo? - uma voz doce se dirige a mim.
Agacho-me para ficar mais próximo dela.
- Como é seu nome? - pergunto.
- Zoe.
- É um lindo nome.
- E o seu?
- Liza.
- Liza, essa é a Bela, e esse é o Adam. - Zoe me apresentou aos bonecos.
- Muito prazer.
- Eles vão casar sabia? Viverão felizes para sempre e terão muitos filhinhos. Você tem namorado? - seus olhinhos eram tão brilhantes que não resisti em sorrir.
- Não, eu não tenho namorado.
- E por que? - ela parecia decepcionada.
- Digamos que eu não tenha achado ninguém ainda.
- Liza! - uma voz conhecida pronuncia meu nome.
Levanto-me e olho em direção a ela.
- Alex? O que faz aqui?
- Kate disse que você foi pegar uma água de coco e não voltou mais. Fiquei preocupado.
- Está tudo bem. Só estava conversando com Zoe.
- Ei princesa, como vai? - Alex pergunta a garotinha.
- Você é o príncipe dela?
- Olha bem que eu gostaria, mas a sua amiga é meio complicada.
- Tenha paciência, o final feliz demora um pouquinho. - Zoe era sabida demais para sua idade.
- Você é uma garotinha muito esperta, sabia? - Alex deu - lhe um beijo na testa. - Mas agora temos que ir, ok.
Ela consentiu com a cabeça e veio me dar um abraço. Eu não estava acostumada com crianças, mas foi bom sentir seus bracinhos e todo o seu carinho. No fim, voltamos sem minha água de coco.
- Meu Deus Liza, onde você estava? - pergunta Back logo que chagamos na tenda.
- Conheci uma garotinha. Ficamos conversando. Sem falar que o carrinho estava do outro lado da praia.
- Quer matar a gente de preocupação. - Kate levantou uma sobrancelha.
- Mas e então, como foi o jogo? - pergunto.
- Foi ótimo, nós ganhamos. - contou o encaracolado.
- Vocês roubaram, isso sim. - acusou Sam.
- Mentira, Melissa e eu demos uma cortada e marcamos a pontuação, você precisava ver Liza. - Alex estava animado.
- Você e Melissa deram um corte juntos? Isso é possível? - isso soou mais preocupado do que eu gostaria.
- Sim. Temos uma sintonia incrível no jogo, aliás ela vai jantar com a gente hoje.
- Oi? Como assim? - estava tentando processar tudo aquilo.
- Parece que os amigos dela vão a uma festa hoje só de música eletrônica. Ela disse que odeia esse tipo de música e sempre fica deslocada. - explicou Alex.
-Daí o Alex chamou ela pra jantar com a gente. - completou Sam com um sorriso forçado.
Meus amigos me olharam esperando que eu demonstrasse alguma reação, mas a verdade é que eu não tinha nada para falar. Porém, aquela pressão de olhares estava me incomodando.
- Ótimo. Já sabem onde vamos comer?
- Podemos ir ao Chaplin. - sugeriu Mat.
- Eu topo. É um bom lugar. Tem uma porção de camarão lá, divina. - Kate se empolgou.
Melissa chegou por volta das sete da noite na casa de Jhony. Ainda não estávamos prontos, o que a fez esperar um pouco para todos se arrumarem. Esperei Alex tomar banho primeiro, eu estava entediada e ansiosa sem nenhum motivo aparente, mas algo estava me incomodando e eu não sabia o que era.
- Liza, já terminei, pode entrar. - informa Alex saindo do banheiro.
Não respondo. Apenas pego as minhas coisas e vou, mas encontro um Alex só de toalha ainda na porta. Engulo seco, limpo a garganta e tento ao máximo olhar em seus olhos.
- Me dá licença? - estava escancaradamente ofegante.
- Claro. - sorriu maliciosamente e se afastou.
]Alex ainda estava no quarto quando saí, mas ignorei a sua presença pegando meu secador.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não. Por quê? - ainda não olhava pra ele.
- Você está estranha. É pelo fato de Melissa estar almoçando com a gente? Liza eu...
- Não. - o interrompo - Não tem problema nenhum de Melissa estar com a gente. - respondo um pouco seca demais.
- E esse tom é pelo o que?
- Só não quero ter que responder perguntas. - explico um pouco mais calma.
Eu sabia que a presença daquela garota iria gerar comentários. Minhas amigas não me deixariam um segundo sequer em paz e toda aquela pressão era extremamente irritante. Saí e fui direto ao banheiro secar meus cabelos.
Alex para na porta e fica me encarando e isso me obriga a desligar o secador.
- Está com ciúmes?
- O que? - fiquei surpresa.
- Liza a Melissa é só uma amiga.
- Alex, por favor. Não somos namorados pra ter esse tipo de discussão, pelo amor. - reviro os olhos.
- Você não respondeu minha pergunta.
Respiro fundo
- Não estou com ciúmes. Não tenho esse direito.
- Como assim?
- Não se pode ter ciúmes daquilo que não é seu. - dou um sorriso irônico "É claro que pode".
- Mas e quando se tem um sentimento? - perguntas diretas sempre me deixam sem resposta.
- Escuta, eu preciso terminar de me arrumar. Sua amiga já chegou, acho bom você ir lá fazer sala pra ela, pode ser?
Alex dá um sorriso e sai.
Chegamos ao restaurante e Alex decidiu se sentar ao meu lado, porém, Melissa sentou do seu outro lado, deixando o encaracolado no meio de nós duas. Kate e Sam se entreolharam e sem hesitar mudei de lugar sentando no único lugar vago, ao lado de Back. O clima ficou estranho e Alex me olhou preocupado.
- Acho que vou querer uma caipirinha hoje, quem me acompanha? - tento quebrar aquela situação.
- Eu aceito. Adoro as caipirinhas daqui. - pronunciou Melissa.
Dei um sorriso a ela e ignorei o fato de Alex não parar de me encarar.
- Eu vou na de morango. - pedi logo assim que o garçom veio nos atender.
- O mesmo. - disse Melissa.
Melissa estava bem na minha frente de modo que eu tivesse uma visão completa dos dois.
- Alex te contou que fomos um arraso no jogo hoje?
- Contou. Fico feliz por vocês terem se dado bem. E meus parabéns pelo jogo.
- Obrigada. Você poderia ter jogado conosco, Liza.
- Oh Melissa, mais uma vez obrigada. Mas esportes não é comigo, sou uma negação. Vocês iam perder comigo, eu garanto.
- Liza, esses dois são uma dupla e tanto jogando. Se não fosse por eles teríamos perdido feio. - Carter se manifestou e Daniel o cutucou. - Com todo respeito Liza.
- Tudo bem. Eu também acho. - A minha caipirinha chega e eu dou umas quatro goladas rapidamente. "Por que todo mundo faz questão de me contar sobre esse jogo"?
O encaracolado tinha os olhos murchos e expressão de desapontamento e novamente eu rejeitei sua atitude.
- Podíamos aproveitar hoje e ver o sol nascer na praia. O que vocês acham? Até porque parece que vai ter uma espécie de festinha. - convidou Daniel.
- Estou dentro. - consentiu Back.
- Por mim... - Alex pareceu indiferente. Eu sabia o que estava se passando e provavelmente teríamos uma briga mais tarde.
- Sendo assim, eu aceito. - Melissa se empolgou.
Depois que jantamos, compramos algumas bebidas e fomos até a orla, alugamos algumas cadeiras e sentamos em roda. Como previsto, havia várias pessoas na praia, mas a festa ainda não tinha começado. O mesmo episódio de algumas horas atrás aconteceu, Alex sentou ao meu lado e Melissa do outro, mas dessa vez, não tinha como escapar.
- Vocês não foram em nenhuma balada aqui ainda? - perguntou Melissa.
- Chegamos ontem a tarde, daí preferimos fazer algo em casa. - explicou Kate.
- Entendi. Estou aqui há duas semanas.
- Nossa! Não enjoa? - quis saber Daniel.
- Cansa. Mas enjoar, jamais.
- Amanhã iremos a uma, Melissa. - disse Sam.
- Sério, onde vão?
- Ainda não decidimos. Tem tantos lugares bons aqui. - Carter deu um gole em sua bebida.
- Alguma comemoração especial?
- Não, nada demais. Se quiser você pode ir. - convidou Alex.
- Claro. Está mais que convidada. - insisto.
- Com todo esse carinho, impossível dizer não. - Melissa sorri - Posso levar meus amigos também?
- Com toda certeza. - concordo.
- Falando nisso, um amigo meu perguntou de você, Liza.
- Sério? - pergunto com um ânimo que não estava sentindo.
- Sim. Amanhã eu apresento vocês, ok. - ela pisca pra mim.
- Melissa, vai por mim. Não é uma boa ideia. - Alex pegou uma cerveja e bebeu. - Liza não sabe lidar com homens.
- Como assim?
- Se o cara se apega, ela se afasta. - Alex olhou em minha direção e levantou uma sobrancelha.
- Por que isso, Liza? Assim você não vai achar um namorado nunca, amiga. - Melissa me olhava incrédula.
- É essa a intenção. Sem dor de cabeça, sem ter que dar satisfação. - dou um meio sorriso.
- Isso é coisa de quem esconde o que sente. - indireta era arma de Alex contra mim. Estávamos nos olhando sem prestar atenção em ninguém. Mas novamente eu fiz o que sabia fazer melhor. - fugir. Levantei-me e fui em direção ao mar. Eu respirava com dificuldade e apertei os olhos várias vezes na tentativa de não desabar.
- Liza, o que houve? - Melissa repousa uma mão sobre meu ombro.
- Nada, só precisava tomar um ar.
- Posso te fazer uma pergunta?
Consinto com cabeça.
- Você e Alex tem alguma coisa? - ela morde o lábio inferior.
- Não. Somos apenas bons amigos.
- É que vocês se olham de um jeito diferente, pensei que... sei lá.
- Impressão sua. - tento parecer o mais natural possível.
- Sabe se ele está afim de alguém, ou tem namorada, sei lá?
- A pergunta é, você está afim dele? - devolvo.
- Está tão na cara? É que sei lá, ele mexeu comigo sabe. Nos demos tão bem.
Senti minhas pálpebras pesarem, mas me controlei.
- Não. Ele não está ficando com ninguém. Pelo contrário, está totalmente livre.
- Jura? - Melissa deu pulinhos e me abraçou. - Acha que eu tenho chance?
- Toda a chance do mundo, você é linda. - nem eu mesmo estava acreditando no modo como soltava as palavras.
- Que bom. Esta melhor?
- Sim, claro. Vamos?
Sentei novamente no meu lugar e Kate se levantou colocando sua cadeira ao meu lado.
- O que Melissa queria? - perguntou num sussurro.
-Queria... Queria uma roupa emprestada. - minto.
- Liza, se tem uma coisa a qual você é péssima é mentir. Fala logo.
- Nada demais.
- Tem a ver com Alex, não tem? - insiste Kate.
Respiro fundo.
- Ela queria saber se tinha alguma chance com Alex.
- E o que você respondeu?
- Que sim.
- Você enlouqueceu Liza? - Kate estava assustada, - Por que fez isso?
- Porque é a verdade.
- Sabe muito bem que não.
Viro pra ela demonstrando seriedade.
- Acredite em mim, eu quero que Alex seja feliz.
- Sabe muito bem que a felicidade dele depende de você.
- Kate, não sou uma boa companhia. Farei mal a ele. - nessa hora eu o vejo conversando com Melissa. - O melhor para Alex é ele encontrar alguém que o fará bem.
- Elizabeth, você não sabe nem o que é melhor pra você, como pode saber o que é melhor para outros? - Kate retorna ao seu lugar me deixando falando sozinha. Engulo seco, eu estava irritada e minha companhia seria desagradável.
- Gente, eu não estou muito bem. Vou dormir mais cedo hoje. - todos me olham preocupados.
- O que aconteceu Liza? - Alex se preocupa.
- Nada demais. Acho que o camarão não me caiu muito bem. - coloco a mão na barriga. Carter dá uma risadinha, provavelmente achava que estava entendendo o motivo pelo qual eu estava passando mal.
- Eu vou com você.
- Alex, não precisa de verdade.
-Mas você vai sozinha? - Melissa pergunta.
- É aqui pertinho. Não estou com tontura nem queda de pressão. Chegarei a salvo.
- Mesmo assim Liza, eu vou com você.
- Já disse que não precisa Alex. Prefiro ficar sozinha.
- Mas...
- Deixa Alex. - Kate o interrompe. - A Liza sabe o que é melhor pra ela.
Eu a fuzilo com os olhos e a mesma retribui com um sorriso irônico. Alex não insiste e então sigo meu caminho.
Como de costume eu me perguntei o porquê simplesmente eu não poderia ter cindo dias de paz. O porquê de tudo dar errado, ou o porquê de cada coisa não sair conforme eu estava planejando, o porquê eu sempre terminava como a errada e acabava irritada e chateada ao mesmo tempo. Seria um castigo por ter renunciado ao amor? Mas poxa, não sou obrigada a aceitar aquilo que me faz mal. E como eu estava me sentindo agora? Bem é que eu não estava. Só queria que esses momentos na praia eu pudesse relaxar e não brigar novamente com meus sentimentos.
Estava caminhando tendo a brisa como companhia. Meus cabelos dançavam com o vento e a avenida estava cheia, embora eu não via ninguém. Por mais agitada que rua estava nada estava tão turbulento quanto o meu interior. Agradeci por estar chegando, e quando estava prestes a atravessar a rua, uma voz me impediu.
- Ellie? - Cada pelo do meu corpo arrepiou. Estremeci por inteiro e senti as minhas mãos suarem. Meu coração batia rápido, mas pesado. Aquela voz era conhecida e eu implorei pra não ser de quem eu estava pensando. Estava relutante a me virar, ficando parada contemplando o asfalto. - É você Ellie?
Era ele. Sem dúvida era ele. Ninguém me chamava assim a não ser ele. Virei-me e olhei diretamente para aqueles olhos azuis. Suspirei assustada sem conseguir dizer nada mais do que seu nome.
- Bill?
- Oh meu Deus Ellie! Quanto tempo! - não respondo. Ainda estava assustada. - Você continua linda.
- Obrigada. - dou um sorriso forçado. Bill tinha ficado ainda mais bonito. Seu cabelo liso e dourado, seu sorriso radiante e o corpo escultural de sempre, porém com um ar mais maduro e corpo ainda mais definido.
- Você sumiu. O que houve?
- Morei uns tempos com a minha avó.
- Problemas com a sua mãe?
- Isso. - concordei.
- E você? Está fazendo faculdade? - quis saber Bill
- Direito.
- Não parece alguém para o direito. Você é muito doce pra isso. - nem sua personalidade havia mudado seu jeito doce e divertido de fazer perguntas.
- As coisas mudaram um pouquinho, Bill. - digo seriamente e ele fica um pouco sem graça.
- Claro. Eu estou terminando veterinária, e já estou trabalhando no ramo. Pretendo abrir uma clínica em breve.
-Você e sua paixão por bichos.
- Desde sempre. - ele ri.
- Bem eu já vou indo.
- Espera Ellie, gostei muito de ter ver. Quer... Sei lá, tomar um sorvete? Já sei, creme com cobertura de chocolate.
Estava lutando com todas as minhas forças pra não chorar e o fato dele lembrar o meu sorvete preferido tornou essa tarefa ainda mais difícil.
- Não é mais. - minto.
- Como assim Liza? Ninguém deixa de gostar de uma coisa de uma hora pra outra
- Oh Bill, por Deus. Não fale como se tivéssemos conversado ontem. - coloco a mão na testa. - Não precisamos fazer isso.
- O que quer dizer? – ele pergunta um pouco assustado.
- Você sabe. Depois de tudo o que aconteceu.
- Está namorando? - ele pergunta.
- Não. Não estou.
- Então?
- Eu realmente preciso ir. - tento novamente sair, mas ele me interrompe.
- Ellie! Você tem razão, as coisas mudam. Você mudou, mas tem coisas que continuam intactas. - aquele olhar era o mesmo daquele dia quando fizemos amor pela primeira vez e ele disse que me amava.
- Ou estão quebradas em mil pedaços. - meus olhos já estavam molhados.
Ele abaixa a cabeça e pressiona os lábios enquanto eu tento não deixar as lágrimas saírem. Tento sair, mas novamente ele me interrompe.
- A propósito, feliz aniversário adiantado, Ellie. – ele deseja e vai embora.
Senti minhas pernas bambas. Voltei há quatro anos e eu acabei perdendo o domínio dobre meu corpo sentindo meu rosto molhado. Rapidamente eu as seco e contemplo a movimentação da rua, sentia-me sem direção e por um momento era como se eu não me lembrasse do caminho para casa de Jhony.
Estava desnorteada e minhas pernas estavam fixas ao chão.
- Liza! - ouço um grito e me viro em direção a ele. - Eu sei que você disse que não precisava de companhia, mas eu realmente fiquei preocupado. Se fosse o caso eu voltaria até eles, mas...
Eu o abraço interrompendo suas palavras e choro sem controle algum em seus braços. O abracei com toda a vontade do mundo e entreguei, sem pensar, toda a minha dor naquele momento.
- Liza, você está chorando? O que houve?
- Alex, só me abraça, por favor. Não pergunta nada, só me abraça e obrigada por estar aqui.
Atendendo ao minha súplica ele me corresponde do jeito Alex de ser. O calor de seus braços era como morfina para o meu corpo, aliviava as minhas dores e me fazia sentir protegida.
- Ei, seja lá o que foi já passou. - Alex acarinhava meus cabelos. – Vai ficar tudo bem.
- Desculpa. - pedi secando o rosto. - Não queria te preocupar. Já estou bem. - falo um pouco mais calma.
- Nada disso. Minha garotinha está precisando de colo. - Vem, vou te levar pra casa.
- Alex, não precisa. Não quero estragar a sua noite, vai se divertir com eles.
- Nada disso. Vou cuidar de você.
- Mas... - ele me cala com um selinho.
- Sou eu quem decide,está bem?-
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