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Capítulo 20


A distância nunca foi algo agradável. Independente do tempo que ela dura, dos motivos os quais fizeram com que ela existisse, a saudade sempre vem te dizer bom dia e quando menos você se dá conta, ela se torna a sua melhor amiga.

Tudo te faz lembrar aquela pessoa, cada ambiente, cada canto, cada cheiro, por mais bizarro que seja, as lembranças aparecem. Os dias sem Alex foram perturbadores, pois eu estava numa guerra comigo mesma por não conseguir controlar meus sentimentos. Será que ele estava pensando em mim? Será que ele estava sentindo minha falta? Por que me importo tanto com isso?

Durante a semana eu não respondi nenhuma mensagem de Alex. Algumas eu acabei esquecendo, outras não deram tempo, e muitas eu preferi ignorar. Com certeza ele estaria pensando que eu o havia esquecido e não estava nem um pouco se importando com ele. Mal sabia ele do meu estado.

Quando você conhece alguém e sente alguma coisa por essa pessoa, a correspondência, a reciprocidade te leva nas nuvens. Um sorriso bobo invade o seu rosto e ansiedade toma conta do seu corpo. Eu odiava sentir aquilo. Sentia-me fraca e vulnerável. Tentava de todas as formas, ocupar minha cabeça fazendo coisas aleatórias e sem sentido.

Lucky era a minha maior companhia. Um cão adorável, fofo, e muito simpático que com o tempo acabou se acostumando com o novo ambiente e ficando mais calmo. Acordava todos os dias bem cedinho para passear com ele e tentava voltar pra casa no horário de almoço pra passar um tempo com aqueles olhinhos claros. Aqueles olhos de certo modo me lembravam o encaracolado, então eu abraçava Lucky tentando conter a saudade. Conversava horas com ele antes de dormir, contava minha rotina, o que eu estava sentindo. Cachorros são bons ouvintes, ele me ouvia atentamente e em alguns pesadelos ele me acordava, deitava em minha barriga e esperava eu adormecer novamente. Sentiria falta dele quando Alex chegasse para levá-lo.

...

Dia dos pais era sinônimo de almoço na casa de Dona Branca. Ela chamava todos os filhos e suas respectivas famílias. Eu não os via com tanta frequência, pelo contrario, só em datas comemorativas, isso quando tinha algum tipo de comemoração. Papai era o filho mais velho, tendo dois irmãos. Tio Henri era o do meio, casado com Emily, uma simpatia em pessoa, eles eram pais de Emma, minha prima advogada. Eram os únicos da família que ainda tinham um relacionamento mais sólido. Tio Ian era o mais novo e devido a sua aparência de garotão, nunca casou. Eu não me dava muito bem com ele. O mesmo não perdia a oportunidade de me zoar quando eu era mais nova e fazia questão de enfatizar que seu não parasse de comer ninguém iria gostar de mim. O resultado disso era um enorme culpa e a solução mais plausível é eliminar aquilo que te faz mal.

Entretanto, o dia dos pais deste ano seria diferente. O dia estava maravilhoso, céu claro, poucas nuvens e um sol radiante. Um dia que não combinava nem um pouco com o ambiente de um hospital. Estacionei meu carro, respirei fundo, e sai, entrando e indo direto a recepção.

- Liza! - alguém me chama.

Viro-me para trás e vejo um Alex com os olhos trêmulos e um semblante não muito agradável. Sem pensar muito eu o abraço. Abraço com toda a vontade e sinceridade do mundo. Como eu sentia falta do seu colo. Porém, ele não corresponde com a mesma intensidade. Afasto-me e o encaro com o cenho franzido me perguntando o que aconteceu.

- Achei que iria ignorar mais uma mensagem minha. - ele morde o maxilar.

- Alex, desculpa. Foi uma correria essa semana, eu acordei todos os dias super cedo pra passear com o Lucky, chegava em casa tarde e quando não caia de sono eu aproveitava pra estudar. Desculpa.

- Tudo bem. Já me acostumei com o fato de seus estudos, trabalhos e outras coisas relacionadas a isso, virem primeiro. Eu é que sou um idiota.

- Ei! Estou aqui não estou? Prometi que viria. - tento convencê-lo.

- Sentiu minha falta ou não teve tempo pra isso também? - Alex tinha razão, foi muito egoísmo da minha parte não respondê-lo. Quando me levantei pela manhã, li sua mensagem dizendo que queria visitar seu pai. Seria um ótimo dia e segundo Arthur, ele estava apresentando sinais de melhora, mas nada muito efetivo.

- Meu abraço já não respondeu? - devolvo a pergunta, mas não utilizo das palavras concretas. Elas não saíam. "Sim, seu idiota, quase morri".

- Seria mais fácil se você dissesse.

- Alex Becker? - a enfermeira o chama.

- Sim, sou eu - ele responde.

- Você já pode entrar.

Acompanhamos a enfermeira até o quarto onde Charles estava e do vidro avistamos o mesmo com alguns aparelhos. Alex travou naquele momento. Encarava seu pai aflito fechando os punhos.

- Podem entrar. - a enfermeira avisou.

Alex não se moveu, estava paralisado. Seguro suas mãos e então ele reage.

- Vamos? - pergunto. Ele consente me seguindo.

- Ele está dormindo faz algum tempo. Se tiverem sorte é capaz dele acordar. Vou deixar vocês a sós.

- Obrigada - respondo a enfermeira.

O encaracolado senta-se ao lado de seu pai e eu apenas o observo. Charles dormia tranquilamente. Ele tinha os cabelos esbranquiçados e alguns traços remetiam ao Alex, a expressão forte e uma aparência jovial, não combinava nem um pouco com o seu estado.

Vi Alex engolir seco várias vezes antes de pronunciar as primeira palavras.

- Oi pai. Provavelmente você não está me ouvindo. Pra falar a verdade acho que prefiro que continue dormindo. Ou que acorde e veja que eu estou aqui, ainda não me decidi. - ele suspira. - A única coisa que eu tenho certeza é que eu quero que o senhor fique. Que melhore logo, e não me deixe. - as primeiras lágrimas surgiram e Alex não conseguiu contê-las. - Sabe, eu ganhei quatro bonequinhos. - ele dá um leve sorriso. - Não foi você quem me deu, mas foi tão especial quanto. Essa pessoa me ensinou que até os super heróis têm defeitos. Esse tempo todo eu fiquei pensando se viria ou não vê-lo. Eu não conseguia. Sentia medo, vergonha de mim mesmo. Mas Liza me mostrou a dar valor nas pessoas quando as tem por perto. Gostaria que ela pudesse seguir seus próprios conselhos, seria tão mais fácil. Só queria te dizer que eu sinto muito. Eu o perdoo por tudo e peço lhe perdão também, por afastá-lo de mim e dizer que te odiava. A verdade é que eu nunca deixei de amá-lo, pai. Você foi e sempre vai ser o meu herói, meu professor, meu melhor amigo, o melhor pai do mundo, com

Alex chorava feito uma criança. Senti meu coração arder vendo-o naquele estado. Lembrei-me do seu desespero naquela noite, sonhando com Charles. Aproximei-me dele e agachei pra ficar da sua altura. O envolvi com meus braços e acarinhei seus cabelos. "O que você fez comigo Alex"?

- Ei, calma, vai ficar tudo bem. Ele já apresentou sinais de melhora, resta esperar e ter fé.

- Eu sei, mas ainda assim, estou com medo. - ele confessa. Só Deus sabe o quanto eu me controlei pra não chorar, - Queria que ele pudesse me ouvir. - disse segurando a mão de seu pai.

Percebi uma movimentação nas pálpebras de Charles, quando o mesmo abriu os olhos, evidenciando um verde tão intenso quanto o de Alex.

- Filho? - chama com dificuldade. - Não estava sonhando?

- Pai! - Charles começa a chorar.

- Me desculpa, filho. Por favor. Eu devia ter feito diferente, eu sei, mas eu fui fraco. Eu errei. Me perdoa. - ele pedia com dificuldade e certo desespero.

Decidi me afastar, dando certa privacidade para os dois.

- Eu que peço desculpa. Tomei as dores da minha mãe. Senti como se você tivesse me abandonado, mas a verdade foi eu quem deixou você ir. Não sabe como senti sua falta. Eu te amo muito pai.

Vontade de sair dali veio numa força imensa, mas sabia que Alex não permitiria que eu fosse. Meu coração gritava em descompasso, bem como as lágrimas que insistiam sair sem pedir permissão. Se o amor de fato existisse essa seria a sua forma mais bonita, ou quem sabe todas elas eram lindas e eu não era capaz de conhecê-la. Em matéria de amor eu era uma estúpida, porém, como agir diferente se pra você é como se ele não existisse?

Aquela cena me comoveu mais do que eu gostaria ou esperava. A alegria tanto no rosto de Alex quanto no de Charles, era admirável. Esconder um sentimento por tanto tempo deveria ser sufocante e de fato eu me sentia sufocada. Quantas vezes eu escondi meus sentimentos sem dizer as pessoas o quanto elas eram importantes pra mim. Mas eu tinha medo. Medo da rejeição, da falta de reciprocidade. Eu admito. Eu sou uma covarde em todas as suas esferas. Alex não merecia alguém como eu. Ele era bondoso demais, corajoso demais, e eu... Bem, alguém que não sabe amar, que não é capaz de dizer o que sente, que é insegura e nunca se acha boa o suficiente. Alguém sem coração.

Alex abraçou Charles lhe desejando um "Feliz dia dos Pais", que certamente fora o melhor.

- Quem é essa moça bonita? - pergunta Charles referindo-se a mim.

- Alguém muito especial. - responde Alex.

Limpo minhas lágrimas e aproximo.

- Muito prazer senhor Charles, sou Elizabeth, mas pode me chamar de Liza. - pego a sua mão.

- Namorada?

- Bem que eu gostaria, mas Liza é difícil. - Alex olha em minha direção.

Eu não o encaro. Apenas dou um sorriso contido.

- Uma pena. Formariam um lindo casal. - concluiu Charles. - Meu filho é um bom rapaz Liza.

Um soluço de choro me vem sem querer, mas eu consigo controlá-lo.

- Eu não tenho dúvida.

Alex se despede de seu pai e me abraça indo em direção a saída. Com a brisa invadindo nossa pele e a claridade nos contemplando, o encaracolado solta um suspiro de alívio. Não digo uma palavra durante todo o trajeto até o carro.

- Eu vou indo. - informo pegando a chave.

- Ei! Espera. Por que está tão calada?

- Nada eu só... - Olho para o nada pensando numa desculpa. - Tem almoço na minha avó hoje e não queria me atrasar. - dou um meio sorriso.

- Ainda são dez horas, Liza.

- Quero ir mais cedo. Sei lá, ajudar em alguma coisa.

-Você está mentindo. O que houve?

Engulo seco.

- Fiquei comovida, tá legal. Não esperaria que fosse me abalar tanto, mas me abalou. - algumas lágrimas começaram a sair enfatizando meu desabafo.

Alex me abraça.

- Tá tudo bem Liza. Já passou.

- Já to melhor. Obrigada. - falo me afastando. - Já posso ir.

- Espera! - Alex me puxa em e me dá um selinho demorado. Para e me olha, dando o segundo. - Só Deus sabe o quanto eu senti falta disso. Juro que quando você for pra Alemanha eu vou atrás de você. Venço meu medo de avião. Não vou suportar sua ausência. - ele diz sorrindo.

Eu não digo nada, só o beijo. Um beijo desesperado como se fosse uma despedida. Precisava daquilo naquele momento por mais que eu fosse me arrepender depois.

- Agora eu preciso ir, de verdade.

Antes que ele pudesse se manifestar, entrei no carro e dei partida.

Queria que uma luz surgisse em cima da minha cabeça como nos desenhos animados quando as personagens têm uma ideia. Queria saber o que fazer e como agir. É tão ruim não ter a certeza de nada, não saber se tudo vai dar certo ou não, se tudo vai acabar bem. Não ter respostas é frustrante demais. Analisando todas as circunstâncias eu tinha duas opções: ficar, ou conciliar as duas coisas. Tanto pra uma quanto pra outra eu teria que abrir mão do meu pior pesadelo - o passado. Fazer as pazes com o amor e agarrá-lo dizendo que eu o perdoo. Do contrário, partir sem olhar pra trás seria o mais sensato, me levando a uma terceira opção. Se seguir o coração fosse a melhor saída eu estaria mais perdida do que eu estava. Todo bagunçado, nem ele conseguia decifrar seus sentimentos. Eu só queria chorar naquele momento. Chorar por acreditar que meu encaracolado merecia alguém melhor que eu, ao mesmo tempo em que essa possibilidade me apertava o peito.

Era possível odiá-lo naquele momento por me confundir. Por deixar minha vida de cabeça pra baixo e me fazer questionar todas as minhas decisões. Preferiria mil vezes continuar odiando seu jeito arrogante e continuar o chamando de idiota, porém tudo nele me amolecia, tirava minha sanidade e o controle sobre o meu corpo. Sabia que sua ausência era um terror e sua presença uma perturbação.

A única conclusão mais concreta era a de que Alex era a pessoa certa e eu a pessoa errada.

Cheguei a casa de vovó tentando parecer o mais tranquila possível. Rezei em voz alta pra que Deus me ouvisse nitidamente e não me fizesse pensar em Alex o resto do dia. Passei uma boa maquiagem pra tentar disfarçar minha cara inchada, e meu rosto vermelho. Interrogações de parentes neste momento, não seriam agradáveis.

A mãe do meu pai como sempre preparava um banquete. As opções de cardápio eram imensas: macarrão pra não perder o costume, arroz carreteiro, frango assado, polenta, e batata soutê. Pra sobremesa, sorvete, muito sorvete, e torta de nozes. Balancei a cabeça tentando afastar a associação que minha mente fizera espontaneamente.

Meus tios já haviam chegado. Tinha me atrasado um pouco, tendo em vista que tentei recuperar o fôlego inúmeras vezes. Cumprimentar um por um era desanimador, ainda mais quando faz mais de um ano que não nos vemos. Ano passado não frequentei o dia dos pais por motivo de força maior - prova no dia seguinte. Além do que, as perguntas envolvendo o fato de eu estar solteira me incomodava em todos os sentidos, e quando eu dizia que não iria casar, me olhavam como se eu fosse a pior pessoa do mundo.

- Meu Deus, como você está diferente. - tio Henri constatou assim que eu o cumprimentei. - deve estar cheia de pretendentes não é mesmo?

- Mais do que eu gostaria. - respondo com um sorriso forçado.

- Olá querida. Quanto tempo não nos vemos. Por que anda tão sumida? - Tia Emily me abraçou bem forte.

- Correria. Estou estudando muito.

- Seu pai me disse que quer estudar na Alemanha. Boa sorte. Estou torcendo por você.

- Liza, minha prima. Estou com saudades. Saudades das nossas conversas, éramos tão amigas. Mas me conta, deu certo a entrevista com o Doutor Philips? - Emma perguntou.

- Desculpa, as coisas andam meio difícil ultimamente. Mas sim, deu certo, inclusive estou trabalhando com o irmão dele como estagiária. Não sei como agradecer, de verdade, muitíssimo obrigada.

- Pode me agradecer sendo mais presente, por favor. Estava morrendo de saudades. - diz um pouco magoada.

Vou em direção à cozinha e vejo Vovó conversando com Ian.

- Vovó, como vai? - a abraço.

- Oh minha querida. Que bom que veio. Desculpa não ter ido recebê-la na porta, mas estou cuidando do almoço.

- Tudo bem? Meu pai ainda não chegou? - pergunto.

- Ele está vindo. - avisou mexendo a panela. - Disse que ia tentar convencer sua mãe de vir.

- Duvido que mamãe venha.

- Eu também. Mas não custa tentar. Pode ser bom a ela.

- Mamãe anda tão fria ultimamente. Acho que puxei a ela. - concluo olhando o nada.

Vovó para de mexer a panela e vem em minha direção.

- Não diga bobagens. Vem. Me ajuda a arrumar a mesa.

Consinto com a cabeça e ignoro a presença de tio Ian.

- Não vai me cumprimentar? - indaga enquanto eu ia pegar a primeira panela.

- Não, vou comer primeiro. - olho para ele ironicamente.

- Poxa, achei que tínhamos superado isso. Olha só pra você. Está maravilhosa. De certo modo eu te ajudei.

- Ajudou? Não como você imagina. - digo secamente.

Ele vem em minha direção.

- Liza, naquela época eu era um garoto. Mas apesar de tudo, eu sou seu tio. Era só uma brincadeira.

- Brincadeira ou não, você tinha razão. Nenhum garoto me quis. A verdade está escondida por trás de uma brincadeira, e nem sempre ela é tão agradável. A verdade é que por causa da sua brincadeira, quando alguém finalmente me quer, eu não consigo corresponder. - eu estava sensível e era nítido. Meu rosto estava pegando fogo. Tio Ian me olhava assustado e engolia seco. Ia me afastar, mas o mesmo me abraçou.

Sua atitude me deixou surpresa. Ele era um dos rapazes mais mulherengos que eu conhecia. Tendo apenas dezessete anos quando eu nasci, nunca amadureceu. Muitas vezes acreditei que minha presença era insignificante, mas papai me dizia que ele apenas era imaturo.

- Desculpa. Não quis te magoar. Não era essa e nem nunca foi a minha intenção. Sabe, eu não sou nenhum santo. Já magoei muitas mulheres. De todos os estilos e corpos diferentes. Prometia-lhes amor eterno, mas nunca estava presente no dia seguinte. Não queria ficar preso a nenhuma delas. Queria curtir e satisfazer meus prazeres carnais. - a ultima frase ele disse mais num sussurro já que vovó estava na cozinha. - Mas nesses últimos meses, eu acabei me apaixonado. Conheci uma mulher que me faz cair de quatro. O único problema é que... Não é correspondido. Estou colhendo o que plantei. Já fiz de tudo pra conquistá-la, mas devido a minha fama ela se esquiva.

Pela primeira vez eu via sinceridade em seus olhos.

- A verdade é que vocês são mais parecidos do que pensam. - Vovó decidiu se manifestar.

-Está aí ainda, vovó?

- Estou acompanhando a cena de uma novela ao vivo. Não posso perder. - Ian e eu demos uma risada. - A verdade é que vocês dois se esquivam do amor, mas ele anda mais próximo de vocês do que possam imaginar. - vovó sai levando consigo a panela de arroz.

Tio Ian e eu nos encaramos um tanto constrangidos.

- Estou tentando mudar. Mostrar a ela que tenho sentimento. - continua Tio Ian. - Só saiba dar valor a quem realmente se importa com você, porque do contrário, você vai sair por aí mendigando o amor, do mesmo jeito que eu faço com a Jane.

- Jane?

- A mulher por quem estou apaixonado.

- Ah sim!

- Nos entendemos então? - ele pergunta fazendo bico.

Se eu deveria apagar as sombras do passado, deveria começar a perdoar as pessoas que mais me machucaram e suas atitudes. Nunca foi e nunca vai ser fácil desculpar alguém. Esquecer tudo é praticamente impossível. Porém, a cena de Alex e Charles me sensibilizaram e seria irônico demais se eu não aceitasse as desculpas do meu tio caçula.

- Tudo bem. - respiro aliviada.

- Ótimo. - diz me abraçando novamente. - Caramba, você está muito linda.

- Tá legal, sem bajulações, eu já te perdoei.

Estávamos todos a mesa quando papai chegou. Levemente preocupado e um pouco abatido, vinha sozinho se juntar a nós. Quando me viu deu sorriso sincero e pareceu mais tranquilo.

Levantei-me e resolvi me aproximar.

- Ela não quis vir não é mesmo? - pergunto já sabendo da resposta.

- Não. Disse que não tinha tempo, e que não pertencia mais a família. Falou com a maior naturalidade, como se aquilo não a afetasse.

- Eu sinto muito. - falo o abraçando - E como ela está?

- Envelhecendo.

- Queria poder fazer alguma coisa, mas...

- Não há o que fazer, filha. Só rezar pra que ela não definha.

- Vem, vamos sentar.

Começamos a almoçar tranquilamente. Mas como todo almoço em família, fofoca e interrogações rolam soltas, este não podia ser diferente.

- Como anda você e Lilian? - perguntou tio Henri.

- Não temos nos falado mais. Tentei chamá-la pra vir, mas ela ficou meio sem graça. Disse que não se sentiria bem. - papai tentou omitir os fatos.

- Achava ela tão estranha. Era uma mulher muito ativa quando você nos apresentou. Eram tão apaixonados. Mas depois de um tempo ela mudou tanto. - comentou tia Emily.

- A culpa foi minha. - confessou papai. - não dei atenção devida a ela.

- Podemos mudar de assunto? - sugiro e todos me olham constrangidos. - Desculpa, mas se estamos numa comemoração, assuntos tristes ou constrangedores deveriam ser evitados.

- Tudo bem. Não está mais aqui quem falou. - concordou tio Henri.

- Bem Liza, como anda as coisas para a Alemanha? - Adorava minha prima no quesito mudança de assunto.

- Me mudo em menos de um ano.

- Está tudo tão certo assim? - Vovó pergunta.

- Sim. Eles me mandaram uma mensagem há um tempo dizendo pra eu confirmar minha matrícula e assim eu fiz.

- Vai levar alguma coisa com você? - Dona Branca estava fazendo rodeios para que eu respondesse uma única questão, a qual referia-se ao Alex.

- Tirando meus pertences, eu ainda não me decidi.

- Então pense logo, porque se você deixar pra trás não vai compensar buscá-lo. - vovó tentou disfarçar suas indiretas levando um pouco de comida a boca.

- Ainda temos tempo pra isso não é mesmo? E então Emma, como vão as coisas no escritório? - Minha vez demudar de assunto.

- Está ótimo. Bem que eu gostaria que você trabalhasse comigo, mas estamos cheios de estagiários. - ela parecia decepcionada.

- Imagina. Não me importo. Só o fato de estar estagiando com doutor Eduardo já é um prazer imenso e se não fosse por você, talvez eu não teria essa oportunidade.

- Por que Alemanha? - indagou Henri dando um gole em sua cerveja.

- Eu pretendo seguir a área cível, além da família. A Alemanha em muito influenciou o Direito Civil aqui no Brasil. Por que não estudar pelas raízes? Sem falar que é um país lindo pelo que eu vi nas fotos, e tem uma história muito emocionante. Vocês não entenderiam se eu contasse. Só posso dizer que a Alemanha me atrai em sua cultura, mas principalmente em sua história.

- Mas a história da Alemanha é tão triste. - concluiu tia Emily.

- Sim, é. Mas toda a sua história de superação, sua garra. Muitos ensinamentos estão escondidos por trás de toda uma história triste. São coisas as quais devemos refletir e mudar a nossa vida, pra que assim como o povo alemão, possamos nos reerguer. Meu sonho de conhecer a Alemanha não é pelo simples fato de querer estudar fora, mas pelo aprendizado da alma. - Concluo.

- Quem sabe ela não amoleça seu coração. - esperançou Dona Branca.

- Se ela for capaz de destruir o passado...

- Só espero que não seja tarde para o retornar. - Vovó mais do que ninguém, torcia pra que eu e Alex ficássemos juntos.

- Se ela achar um bonitão é capaz que ela fique por lá mesmo. - concluiu o irmão caçula de meu pai.

- Acredito que essa possibilidade está bem longe de acontecer. - respondo.

- E por que? - Emma quis saber.

- Meu foco é estudar. E não ir para namorar.

- De novo você com essa história de não querer casar, Liza. - Henri se pronunciou.

- Sim. Continuo com essa mesma ideia.

- Triste pelo seu pai, que não vai ter o privilégio de ter netos. - Emily se sensibilizou.

- Ele terá sobrinhos neto. - dei uma piscada pra Emma.

- Mas não será a mesma coisa. - insistiu a esposa de tio Henri.

- Eu já terminei de comer, vou lavar o meu prato, com licença. – levanto-me e vou até a cozinha. Por que não podem simplesmente aceitar a minha opinião. Entendo o fato de meu pai querer muito um neto, mas se minha condição for envelhecer sozinha, o que eu posso fazer? Se bem que depois do meu "Se puxar para o pai vai ser bem teimoso" eu nem sei mais qual será minha condição.

Durante todo o almoço, papai não soltou uma única palavra, a não ser as perguntas direcionadas a ele. Quando terminamos de comer, Walter sentou na cadeira de balanço da vovó e por lá ficou imóvel. Ele não era assim, e aquilo estava me preocupando.

- Pai, o que houve? - decido perguntar.

- Nada não. - ele dá um meio sorriso, mas sem olhar pra mim.

Sento-me ao seu lado e coloco minha mão no braço da cadeira.

- Desculpa. Mas com essa correria, eu não tive tempo de comprar seu presente. Prometo que assim que der, vou comprar uma coisa muito especial pro senhor.

- Sabe qual seria o meu maior presente?

Faço que não com a cabeça.

- Minha garotinha de volta.

Engulo seco e franzo o cenho sem entender.

- Pai, sinto muito, mas sua filha cresceu, já tenho vinte e um anos. – sorrio para ele.

- Não digo na estatura, muito menos na idade. Me refiro a sua personalidade.

- Como assim? - pergunto ainda sem entender.

- Liza, você está tão diferente. Mudou muito em tão pouco tempo. Era tão doce, tão amável e carinhosa com as pessoas. Estava sempre disposta a ajudar os outros. Sorria pra todo mundo e tinha leveza em seu andar.

- Eu... Eu não sou mais uma criança. Amadureci, faz parte, eu sinto muito. - falo com dificuldade.

- Faz parte se tornar fria? Esquecer de sua família? Veja só você, está dando mais valor a sua carreira profissional do que para os sentimentos. O seus estudos, o seu trabalho, é mais importante do que as pessoas que estão a sua volta, minha filha. Eu tenho orgulho por ver você querer ser uma mulher trabalhadora, construir um futuro promissor, mas eu tenho medo. Medo de você acabar como a sua mãe. Abra o seu coração. Não é porque o meu relacionamento com sua mãe não deu certo, que a sua história será igual a nossa. Dê uma chance ao amor de novo. - papai, tinha o semblante preocupado. - Você não capaz nem de dizer o que sente.

Um choque de realidade foi despejado sobre o meu corpo e eu não tinha forças para me mover. Todos a minha volta tinham razão, mas eu estava cega. Talvez, sei lá, um tratamento com um psicólogo pudesse tirar as vendas dispostas em meus olhos, ou clarear a minha cabeça para responder tantas perguntas.

"Não custa tentar"

Custa. E o preço pode sair mais caro do que você gostaria. Eu só conseguia enxergar empecilhos. Estava parada no mesmo lugar sem seguir a diante e sem nenhum esforço aparente para me mover. Vovó tinha razão, o medo é maior quando se está parado.

Cheguei no final da tarde em casa. Lucky estava todo feliz por finalmente ter companhia. Abaixei-me para ficar mais próximo a ele, enquanto o mesmo me dava lambidas. Em uma semana a conclusão que tive, era que eu adorava aquele cachorro.

- Está com fome? - perguntei indo pegar sua ração. Despejei em sua tigela, mas ele não se interessou, pelo contrário, ficou me seguindo pela casa.

Sentei-me no sofá e encarei a televisão que há um bom tempo permanecerá desligada. Peguei o controle e resolvi fazer algo que há muito tempo na fazia. Assistir televisão. Lucky me acompanhou, deitando em meu colo. Como de costume desviei dos filmes de romance e decidi investir na comédia, precisava dar umas risadas a fim de evitar a tensão que havia em todo o meu corpo.

Uma hora depois e a campainha toca. Lucky levanta e vai em direção a porta, todo feliz, abana o rabinho esperançoso.

Alex apareceu a porta e Lucky começou a pular de felicidade. Andava de um lado para o outro, enquanto eu apenas encarava aquele ser de bermuda preta e camiseta vermelha, e claro, o humilde cordão com o qual eu havia lhe presenteado. Ele estava mais lindo do que nunca, e eu dei um sorriso quando seus olhos foram ao meu encontro.

- Vim buscar o Lucky. - informou.

- Não quer entrar? - convido.

- Acho que não, não quero dar trabalho.

- Alex, hoje é domingo. Sei lá. Estou assistindo uma comédia, está afim? Posso fazer uma pipoca.

- Liza, de verdade. Não quero incomodar.

Reviro os olhos e puxo a sua mão pra dentro do apartamento depositando um beijo em seus lábios.

- Queria muito assistir um filme de terror, mas estou com medo. Assiste comigo? - pergunto mordendo os lábios.

- Quem é você e o que fez com a Elizabeth? - desconfiou o encaracolado.

- Estou carente. – confesso. - Eu só queria companhia hoje. - suplico seriamente.

Alex dá um sorriso e me beija novamente. Sentamos no sofá e eu me apoiei em seu peito. Lucky se aconchegou ao nosso lado e ficamos ali até pegarmos no sono. Desejei internamente que aquele momento durasse pra sempre.

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