Capítulo 18
O jantar na casa de Alex foi tranquilo, exceto pelo prato servido - Lasanha. Poderia ter sido qualquer outra coisa, um caviar, uma lagosta, um estrogonofe para agradar o dono da casa, até um pernil assado seria uma boa opção, mas não. Tinha que ser lasanha. O jantar não era nada muito elegante, era apenas pra dar uma descontraída e interagir a galera. Mas ainda assim, opções de cardápios eram imensas.
Não contive meu incômodo. Disse a mim mesa várias vezes que tudo não passava de um sonho, alias o cheiro estava maravilhoso, e o sabor deveria estar igual, e como não comi o dia todo, com certeza eu estava faminta. Alex me serviu um pedaço que eu encarei com profundidade. Agradeci por não ser macarrão. Todos já estavam se deliciando e meu pedaço estava intacto.
- Não vai comer? - o loiro de olhos verdes interrompeu meus pensamentos. - Achei que estava com fome.
- Vou. Claro. Estou morrendo de fome. - tentei evitar ao máximo parecer sarcástica.
Peguei meu talher e sem ânimo nenhum cortei um pedaço levando receosamente até a boca. Ela estava divina. Eu era uma completa idiota por achar que nunca mais comeria lasanha por causa de um pesadelo idiota. Comi logo dois pedaços, só não comi mais pra causar boa impressão.
Durante o jantar o assunto foi exatamente sobre a empresa. Eles estavam desenvolvendo um novo projeto, uma nova opção de decoração, algo que usasse materiais recicláveis. Eu conhecia algumas decorações, inclusive móveis, e eram realmente incríveis, mas os trabalhos eram todos manuais, pois o acabamento saía melhor.
Em seguida, Arthur pediu para conversar comigo e eu consenti indo ate a sala de entrada.
- Liza, meu irmão te contou o que aconteceu?
- Contou com os olhos cheios de lágrimas. - respondi.
- Eu sei. Alex era muito pequeno quando tudo aconteceu. Eu já era maior tinha mais noção. Mas minha mãe mesmo, já perdoou meu pai, então não tinha o porquê Alex ficar todo esse tempo magoado. Se ele visse nossa irmã se derreteria todo.
- Vocês tem uma irmã por parte de pai? - quis confirmar.
- Sim. Ela tem quatro anos. Alex não quis conhecê-la a negando como irmã.
- Jura? Alex não me parece ser tão frio assim. - estranhei.
- Vai por mim. Alex pode te amar do fundo de seu coração. Mas se ele estiver magoado com alguém ele consegue ser mais frio que isso. - me contou Arthur. O irmão de Alex era seu oposto. Os cabelos eram mais lisos e pretos, os olhos eram verdes, mas os formatos diferentes. Provavelmente havia puxado ao pai, já que Alex era uma replica de sua mãe.
- Não imaginava que ele seria desse jeito.
- É. Mas com jeitinho, aos poucos você consegue amolecê-lo novamente. Leva um tempo, mas o coração dele é imenso. Ele gosta muito de você, aliás.
Apenas dou um sorriso tímido.
- Liza. Preciso que convença Alex a visitar nosso pai. Sua situação é estável e quando está delirando pede pra ver o filho. Por favor. - Arthur implorou.
- Eu tentei, ele prometeu pensar.
- Acredito que ele irá se você estiver por perto. Obrigada.
- Imagina. Mas agora, me faz um favor?
- Claro. - ele consentiu.
- Me diga o que Alex gostaria de ganhar de aniversário?
- Eu sei lá. Meu irmão não é muito fácil com presentes.
- Eu sei. Mas eu queria que fosse especial.
- Meu irmão é louco por você. Você é especial. Problema resolvido. - disse sorrindo.
- Já entendi. Obrigada pela ajuda. - meu agradecimento foi irônico, mas Athur não deixava de ter razão.
Por um breve instante eu pensei - se eu machucasse Alex, ele nunca me perdoaria.
...
Eu não sabia o que dar. Nem ao menos o que vestir. Nem como, nem onde seria seu aniversário. Estava desesperada. Andava de um lado para o outro mordendo o dedo porque tinha acabado de fazer as unhas, do contrário não as perdoaria. Não sabia exatamente o porquê de estar tão nervosa.
Respirei fundo. Peguei o celular e mandei uma mensagem às meninas. Era minha única saída.
"Preciso da ajuda de vocês urgentemente. Shopping hoje?"
Palavras mágicas para as amigas perfeitas. Óbvio que elas topariam. Precisava encontrar um presente adequado e ficar de braços cruzados não me ajudaria em nada, olhar vitrines me pareceu mais útil.
- Ok, vocês vão me ajudar a achar alguma coisa pra eu dar ao Alex, quero que seja especial. - digo logo que entramos no shopping.
- Ok, vamos a uma papelaria então. - disse Kate.
- Papelaria? O que eu vou comprar numa papelaria? Um cartão? - definitivamente não sabia o que ela queria.
- Não sua boba, a gente compra um papel de presente tamanho gigante, te embrulha e manda pra ele, quer mais especial que isso? - zoou Kate.
Franzi o cenho fingindo estar brava.
- Boa Kate. - saldou Back.
- Estou falando sério. Poxa, achei que iriam me ajudar. - faço bico.
- Nós vamos. Mas de certo modo Kate está certa. O melhor presente seria você aceitar dar uma chance para o coitado. - Sam se manifestou.
- Eu ainda não estou pronta.
- Meu Deus Liza! O que te impede? Passado é passado. - Back coloca a mão na testa, parecia indignada.
- Não contei a vocês, mas meus pais estão se separando. - informo com um nó na garganta. Não esperaria que aquilo fosse me marcar tanto.
As meninas pararam de andar na mesma hora e me olharam com indignação.
- E como você está? - preocupou - se Back.
- Não muito bem, mas eu não sou uma criança. De certa forma eu esperava que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. Só não sei o porquê fiquei tão sentida.
- Porque mais uma vez você confirmou sua teoria. - Sam colocou sua mão em meu ombro.
Respirei fundo.
- Ok, vamos mudar de assunto. Aliás, vocês já sabem o que comprar pra ele?
Elas se entreolharam e me encararam por alguns segundos.
- Depois pensamos nisso. Você é quem tem que caprichar. - Sam tomou a iniciativa.
Dou continuidade ao passo, entranhando toda a tranquilidade delas.
- Achei que Alex fosse amigo de vocês.
- Mas ele é. - Kate olhou pra mim. - E nós vamos dar um bom presente a ele, mas somos quatro. Se ficarmos pensando demais, você deixa de comprar algo especial, lembre-se, você é a mais importante. - Kate piscou pra Back que concordou com a cabeça.
- Não sei porque sou tão importante assim. - reviro os olhos. - Quero dar algo especial pra ele, porque ele sempre é tão gentil comigo.
- Ata Liza, não se faça se cínica. Alex está louco por você e você está louca por ele, só não quer assumir porque é uma boba. Ele é tão gente boa. - Sam atacou.
- Cuidado se não ele te esquece e o arrependimento será tarde. - conclui Kate. - Mas antes da gente começar, podemos parar pra fazer uma boquinha?
Comer era a única coisa que calava a boca das minhas amigas. Pelo menos eu achava isso. Fomos até a praça de alimentação procurando cada uma pelo seu almoço. Escolhi rapidamente, pois estava com pressa, não poderia demorar, tinha que encontrar papai, e me arrumar para o grande dia.
- Sabe. - começou Sam. - Estou na dúvida quanto aos meus sentimento em relação a Jhony, aliás, estou na dúvida também quanto ao nosso relacionamento.
- Meu Deus, outra Liza. - Back revira os olhos. Eu apenas dou de ombros.
- Estou falando sério. Eu gosto dele. Gosto muito. Mas eu não sei se ele gosta tanto de mim assim. Liza, você que convive mais com ele, o que você acha? - Sam estava com o coração na mão e eu pude perceber.
- Desculpa Sam, mas ele não comenta nada comigo. Alex também não. - precisava ser sincera. Os olhos de Sam murcharam.
- Bem que eu pensei sobre. Faz três meses que estamos saindo, mas nada formal ou coisa do tipo. Acho que vou dar um tempo antes que eu me magoo.
- Jhony não é um rapaz muito aberto em seus sentimentos. Mas quando estamos juntos ele sempre é legal com você e até faz piadas a respeito. Talvez seja uma indireta. - tento amenizar a situação.
- Ai Samanta, sem drama, por favor. - pede Kate de boca cheia.
- Poderia ser mais educada quando come. - Back olhava Kate com certa repulsa. Ela não pareceu se importar. - Não liga pra ela - disse Back. - Acho que você deve conversar com ele explicar o que você está sentindo, antes de tomar alguma situação precipitada.
Fiz sinal de concordância com Back e Sam me pareceu mais confortável.
- Viu. - Kate chamou nossa atenção. - Preciso passar numa loja que vende uns cordões muito lindos, que abriu recentemente. Quero comprar alguns.
Assim que terminamos nosso almoço, fomos em direção a tal loja que Kate mencionou. Queria logo resolver minha situação, mas o fato delas estarem comigo me dando uma força, eu tinha que recompensar de algum jeito e parar de ser egoísta. Mas confesso que ao entrar, não me arrependi nem um pouco. De fato havia muito cordões, um mais lindo que o outro, de várias modelos, cores, pingentes e origens. Olhei um por um encantada, quando um me chamou a atenção mais que os outros. Ele estava amarrado a uma pedra redondinha e brilhante e num primeiro momento achei ser apenas algo aleatório, mas vi que a mesma pedra encontrava se em formatos diferentes remetendo a Lua, foi então que me dei conta que o cordão que eu estava segurando era o da Lua cheia e confirmei ao ler em sua etiqueta. "Eu adoro a Lua, ela me lembra muito você". A voz de Alex ecoou em minha mente. Poderia certamente levar um desses a ele, já que o cordão era unissex. Se eu fosse embora seria uma lembrança da minha pessoa quando a noite estiver tomada pela tempestade. "Se eu fosse"? Não era isso que eu queria para a minha vida? Talvez seria egoísmo demais entregar uma lembrancinha como esta somente para que ele se lembrasse de mim. E se ele não gostasse tanto de mim quanto eu penso que gosta? Aliás, eu não acredito nesse sentimento que ele diz ter por mim. Mas algum tipo de afeto ele deve ter. Uma paixão, uma amizade forte, ou sei lá. Seria bem capaz de depois de certo tempo ele deixasse aquele humilde presente de lado. Mas eu não iria embora pra sempre. Eu voltaria. Além de tudo somos amigos, não é mesmo.
- Liza, olha isso! - Back me acordou de meus pensamentos.
Back segurava em suas mãos um pingente de coração com as cores da bandeira alemã. Era linda e sem sombra de dúvidas eu a levaria. Peguei os dois cordões e pedi que a moça da loja embrulhasse apenas um deles, para presente.
- Vai dar um simples cordão ao Alex? - estranhou Kate.
- Não só isso. Penso em complementar. - respondo.
- Que bom, porque com isso aí, a expressão dele vai ser de total desapontamento.
- Kate, eu tenho os meus motivos, tá legal.
- Tudo bem. Não está mais aqui quem falou. - diz ela em sinal de rendição.
- Ótimo, agora vamos porque estou com pressa. - falo saindo da loja.
Durante todo o tempo que andamos pelo shopping as meninas ficaram conversando, rindo e dizendo coisa as quais eu não estava prestando atenção. Estava concentrada em cada vitrine olhando desesperadamente de um lado para o outro em busca de alguma ideia. Nada. Ainda faltava olhar os outros dois pisos e eu estava perdendo todo o meu ânimo.
- Quero um sorvete. - gritou Kate.
- Certeza que tem uma anaconda aí. - digo.
- Essa daí é pior que criança. - Sam coloca a mão na cintura.
- Ata, duvido que vocês também não querem.
Olhamos uma para a outra e demos de ombros.
- Tudo bem. Vamos lá. - consinto.
A fila estava imensa. Aquilo estava me incomodando e o relógio se tornara a atração do meu dia.
- Oh meu Deus! - Exclama Sam.
Levo minha atenção a minha amiga de pele branca espantada com toda a sua empolgação. Ela encarava um vestido extremamente bonito na loja ao lado. Era um vermelho, tecido crepe, cujas alças eram grossas e tinha um decote levemente aparente, era acinturado, mas a saia era rodada.
- Liza, você precisa experimentar esse vestido. - Sam pegou minha mão e foi me arrastando até a loja, enquanto eu contive meus passos.
- Hei! Por que pra mim, se foi você que o viu primeiro?
- Han... Porque essa cor combina mais com o seu tom de pele do que com o meu.
- Ei vocês duas! Vão perder a fila do sorvete. - gritou Back.
- Deixa pra outra hora. - devolveu Sam. – Anda! Vamos! – puxou-me novamente e eu permaneci no mesmo lugar. – Liza! Facilita, amiga. -Eu a encaro com uma sobrancelha levantada. - Ele é perfeito pra hoje à noite. Certeza que o Alex vai ficar impressionado.
- E quem disse que eu quero impressiona-lo? - "Não era esse o plano desde o começo?" - Além do mais, nem eu sei o que será esse aniversário, ele não me disse nada e eu esqueci de perguntar. Vai que é um churrasco. Não vou com esse vestido.
Sam revirou os olhos e bufou.
- Elizabeth Walker, quer fazer o favor de entrar nessa loja comigo e só experimentar pelo menos?
Mordi o lábio inferior e a segui.
Minha amiga entrou pedindo o vestido do meu tamanho e por coincidência era peça única. Entrei no provador nem um pouco animada ainda mais depois que vi o preço. Se eu fosse compra-lo teria que parcelar em umas dez vezes. "Tudo para uma Samanta sorridente".
O vestido ficou perfeito. Coube adequadamente a cada curva do meu corpo e de fato essa cor combinava comigo. Senti-me radiante e não contive um sorriso. "Alex vai ficar encantado", imaginei Sam falando.
- Liza, sai logo. Quero ver como ficou. - a voz da minha amiga ecoou de fora do provador.
Respirei fundo e saí. Os olhinhos de Sam brilharam, bem como os de Back e Kate que entraram na loja com uma casquinha cada uma.
- Você está linda. Pode levar. - disse Kate me olhando de cima é embaixo.
- Alex vai ficar encantado. - repetiu Sam, os meus pensamentos.
- Ótimo, agora podemos comprar o presente do Alex? - pergunto.
- Não antes de você pagar pelo vestido. - Back fez uma expressão séria.
- Gente...
- Sem contestar Liza, você vai levar, senão vamos ficar magoadas. - chantageou Sam.
- Tá legal. Eu levo.
Logo assim que eu saí, a loja da frente me arrancou a atenção. A encarei pensativa e eis que uma ideia finalmente surgiu. Brinquedos nunca foram tão atrativos quanto naquele momento. Assim como eu nunca havia gastado tanto num único dia como naquele. Mas trabalhar em dois empregos tem suas vantagens, mesmo que isso significa não ser rica.
- Liza, acorda! - Back estalou os dedos na frente do meu rosto.
- Tive uma ideia. – Disse sem ligar muito para o que Back tinha falado.
Entrei sem hesitar mesmo minhas amigas me olhando incrédulas. Fui direto a ala masculina e encontrei o que eu gostaria. Um nó se fez em minha garganta, ao mesmo tempo feliz e triste, lembrei-me da noite passada. Alex todo tristonho e desesperado pela situação de seu pai. Acho que não teria presente melhor que ele pudesse ter do que uma reconciliação com seu pai.
Infelizmente vinte bonequinhos eu não poderia comprar, mas eu sabia quais ainda não estavam em sua estante. Eu não entendia nada sobre heróis, mas o atendente sim, pedi alguns conselhos e levei mais uns quatro. Alguns eu conhecia, outros eu nem sabia que existiam, mas Alex entenderia. Pedi para que embrulhasse para presente e assim ele o fez.
- Minha amiga. - Kate colocou sua mão sobre meu ombro - Alex vai fazer vinte e sete anos, e não sete.
Dou uma risada pela sua expressão.
- Tenho certeza que ele vai gostar.
- Esse seu futuro namorado deve ter uns gostos muito estranhos. - Back franziu o cenho.
- Não é gosto. São lembranças. Lembranças que merecem ser recordadas. E ele não é meu namorado.
- Você conhece ele mais do que nós, então, tudo certo. - me ajudou Sam.
...
Alex chegou ao meu apartamento às quatro da tarde. Tinha apenas duas horas para falar com meu pai, e eu estava aflita com a reação do encaracolado quando eu entregasse seu presente. Em seu rosto havia um sorriso nervoso. Provavelmente ainda estaria sobre o efeito da noite passada.
- Aconteceu alguma coisa? - estava preocupada com o que ele deveria estar sentindo naquele momento.
Ele apertou o maxilar, estralou alguns dedos e me encarou.
- Meu irmão ligou. Meu pai está na mesma.
- Alex, se não quiser, não precisa ir comigo. Por que não marca seu aniversário para outra data? - sugiro.
- Não. Vai ser bom pra ocupar a cabeça. Eu gosto de ficar perto de você, de certa forma eu esqueço ou acabo ficando mais relaxado em relação as minhas preocupações.
Mordi o lábio inferior. Um gelo percorreu meu corpo e eu senti meu coração numa luta contra sua própria natureza ao tentar bater. Alex percebeu que agora eu é que estava nervosa.
- Tem alguma coisa para me dizer? - pergunta.
- Não... Quer dizer, eu comprei algo pra você, mas não sei se vai gostar.
- Não pode ser tão ruim assim. - ele ri. Mas era sério. Um arrependimento tomou conta do meu corpo e eu não sabia se agora era o momento de entregar a ele o que eu havia comprado.
Fiquei sei dizer nada. Minhas mãos suavam e eu desconhecia toda aquela sensação e o motivo pelo qual estava tão nervosa.
-Liza? - o encaracolado me acordou.
Fui até o sofá e peguei uma caixa embrulhada com papel presente e a entreguei. Um sorriso se formou em seu rosto, enquanto minha vontade era apenas sumir dali.
O embrulho já estava amassado, era questão de segundos, e então chegou a hora de abrir.
Ele não esboçou nenhuma reação a princípio, apenas engoliu seco. Não disse nada, apenas olhava focava nos objetos contido na caixa.
- Alex. - resolvi quebrar o silêncio. Minha voz estava trêmula assim como minhas mãos. - desculpa. Eu pensei que você ia gostar de ter mais alguns pra sua coleção. De certa forma, nenhum super-herói é perfeito como os filmes nos mostram. Eles erram várias vezes, simplesmente pelo fato de serem humanos. Pelos menos os que eu conheço são. Heróis existem, com todos os seus defeitos, mas existem. Se de repente você é seu pai se entenderem, espero que ele possa de compensar com outros bonecos. Sei que o significado não é mesmo e que seria melhor se fosse ele lhe presenteando desta forma, mas...
- Obrigada. - interrompeu - me voltando a me olhar. - Eu adorei, de verdade. - secou uma de suas lágrimas que caíram sem nenhum esforço de sua parte.
- Ei! Não queria que ficasse triste, me desculpa.
- Não estou triste. Estou emocionado. Há tanto tempo que não sinto isso, meio que, retornei a infância. - explicou.
- E isso é bom? - pergunto ainda preocupada.
Ele somente coma cabeça.
- Foi umas das melhores fases da minha vida. Apesar de tudo, eu lembrei que não tive só momentos ruins. E os bons merecem ser considerados. É o melhor presente. - seus olhos estavam marejados. - Eu te amo Liza - suas mãos foram até meu rosto e o mesmo fez um carinho.
Eu te amo era uma frase muito forte. Forte até demais pra uma pessoa como eu. Elas me atingiam quase como uma facada e eu nunca sabia como retribuir. Apenas dei um sorriso.
- Ah! Tenho mais uma coisa pra você. - falo pegando e meu bolso aquele pequeno pacotinho.
- Mais? Estou sendo muito mimado. – ele ri.
Alex abriu aquele humilde saquinho e tirou o cordão. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa eu me antecipei.
- É uma lua. Pra você lembrar de mim quando... Eu não estiver com você. - por enquanto era a melhor coisa a se dizer.
- Retiro o que disse. Esse é o melhor presente. - seu sorriso era radiante.
- Até parece. - falo desconfiada. - Comprei mais pelo pingente, não precisa usar se não quiser.
- Faço questão.
Na mesma hora ele o coloca. Seu fecho não era tão difícil, então não foi preciso minha ajuda.
- E então? - ele pergunta.
- Com essa bermuda, se estivesse de regata, diria que era um surfista - ri.
- Isso é bom?
- Se estivéssemos numa praia sim, mas como não estamos, agradeço por não estar usando uma regata no momento.
Ao contrário do que eu pensei ele ficou ainda mais atraente e acabei dando um sorriso malicioso por pensar assim.
- Pensando em mim de novo, Liza?
Limpo a garganta constrangida. Como ele sabia? Era tão evidente assim?
- Seu Bobo. Estava apenas tendo certeza de que está bom. - omiti.
- E pela sua cara você gostou. - concluiu.
- Temos que ver meu pai, não temos? - uma pergunta aleatória para mudar de assunto me pareceu muito útil.
- Tudo bem, vamos, então. Mas antes, eu preciso te contar uma coisa - ele fala meio nervoso.
-Pode falar.
- É que... - Alex da uma pausa coçando a nuca. - É sobre meu aniversário. Não vou fazer festa nem nada do tipo, mas se possível, eu gostaria de outro presente.
- Outro? - franzo o cenho sem compreender. - Sabia que você não tinha gostado.
- Não. - ele ri. - Eu amei. Mas meu melhor presente hoje seria um encontro.
Levanto uma sobrancelha.
- Um encontro? - finjo a desentendida para confirmar se era realmente isso.
- Isso. Aceita sair comigo? Uma noite especial, só você e eu.
Ótimo, um "eu te amo" e um encontro no mesmo dia, eu devo estar enlouquecendo, pra fazer o que eu ia fazer.
- Aceito. - consinto sem ânimo nenhum.
- Não me parece muito animada. - nunca quis ser atriz mesmo, então disfarce nunca foi o meu forte e o encaracolado era esperto suficiente para perceber isso.
- Desculpa. - peço soltando o ar preso em meus pulmões. - É seu aniversário, você venceu.
- Não quero que isso seja uma obrigação, só pra me agradar. Quero que você tenha vontade de estar comigo. - aquela carinha de decepcionado derreteu meu coração. É claro que eu queria estar com ele, sentia-me bem com a sua presença, mas se eu aceitasse, como ele entenderia isso?
- Alex, eu adoro estar com você, só me preocupo com...
- É sem compromisso, eu juro. Aliás, ainda estou num processo de tentar te convencer. Lembre-se, enquanto você estiver aqui eu terei todas as chances do mundo. - ele me interrompe.
- Tudo bem. Iremos a um encontro, no lugar em que você quiser. Inclusive fui ao shopping hoje e... Espera aí! - semicerro os olhos quando algo me pareceu muito estranho. - Minhas amigas sabiam disso? - Alex faz cara de desentendido. - Anda, pode falar. - insisto com uma sobrancelha levantada.
- Digamos que eu tenha avisado nossos amigos que não iria fazer festa. Contei que queria algo mais particular e eles entenderam o recado.
- Ainda bem, senão não teria roupa pra hoje à noite. - rio.
- Então vamos?
Um mix de saudades e medo se fez em meu peito quando Alex estacionou seu carro em frente à casa dos meus pais, ou melhor, só do meu pai a partir de agora. Fazia um bom tempo que eu não os visitava. Sempre evitava ter que voltar a minha antiga casa. As constantes brigas de mamãe e papai vieram como um filme pra mim. Os momentos em que eu corria para o sótão chorar porque alguém falou mal de mim na escola, ou porque eu não aguentava mais as reclamações de mamãe. Todas essas lembranças retornavam quando eu vinha pra cá.
Meus pais moravam naquele sobrado desde quando casaram. Nunca pensaram em mudar, nem nada. A casa continuava do mesmo jeito - as janelas e as portas de madeira, as paredes brancas nunca repintadas, e a cor verde limão na fachada. Eu odiava aquela cor, mas mamãe a adorava. Nunca mudaram os móveis de lugar, nem mesmo o trocaram quando velhos estavam. Tudo permanecia igual. Exceto pela ausência de Dona Lilian.
Papai estava sentado à mesa cuidando de alguns papéis, uma calculadora em suas mãos, fazendo contas apressadamente. Walter era contador e trabalhava com outros sócios há muito anos. Números era a sua paixão.
- Pai! - chamei-o logo que entrei. Alex vinha como uma sombra atrás de mim.
- Estou aqui. - disse sem tirar os olhos de sua calculadora.
- Até no sábado, papai?
Ele tira os ósculos e olha pra mim não muito feliz.
- É o que tem me mantido ocupado nos finais de semana, já que sua mãe não mora mais aqui. Lembrou que tem Pai? - sabia que ele não estava bem, mas papai não era de ficar bravo, tudo não passava de ironia.
- Desculpa. É a correria. Agora estou trabalhando em dois empregos, quase não tenho tempo.
Papai se levantou e foi em minha direção.
- Não ganho um abraço?
Entrelacei meus braços em seu colo feito uma garotinha. Quantas saudades.
- E esse rapaz? Quem é? - pergunta assim que nos separamos.
- Esse é Alex. O conheci na faculdade e coincidentemente trabalho pra ele.
- Pra ele não. Comigo. - Alex me corrige.
Os dois se cumprimentam e papai o olha um tanto desconfiado.
- E vocês são o que? - Walter sabia ser direto quando queria.
- Amigos. - respondi.
- Por opção dela. Não minha. - fiquei me perguntando desde quando Alex era desinibido.
Walter coloca sua mão no ombro de Alex.
- Rapaz, minha filha não é fácil. Ela sofreu muito no seu último relacionamento. Se quer conquista-la vai ter que fazer um esforço imenso.
- Não tenho pressa. Sou persistente.
- Gostei desse rapaz. - concluiu sorrindo.
Revirei os olhos. Como não gostar de Alex?
Papai nos preparou um café. Sentamos a mesa e começamos a conversar.
- Faz direito também, Alex? - quis saber papai.
- Não, faço administração. Essa área não é comigo.
- Mais um ponto pra você. Esse negócio de livros não é comigo. Não sei pra quem Liza puxou. Tanto eu quanto a sua mãe sempre preferimos números.
- OK, eu ainda estou aqui. - chamei a atenção deles. Se eu aceitasse namorar Alex, do sogro ele já teria aprovação.
Os dois me olharam sorrindo. Dei um gole no meu café e resolvi e ir direto ao assunto.
- Pai, como o senhor está com toda essa situação?
Ele limpou a garganta. Sua expressão deu uma mudada. Assim como mamãe o tempo fora generoso. Papai estava com seus cinquenta e sete anos, cabelo e barba grisalhos, mas ainda era muito charmoso.
- Liza, minha filha, você sabe mais do que ninguém que sua mãe e eu não nos dávamos bem já faz algum tempo. Acredito que tenha chegado a hora.
- Mas você está bem? Mamãe parecia tão abatida.
- Ela foi te procurar? Vocês brigaram? - papai franziu o cenho.
- Não é nenhuma novidade. Você ainda a ama?
- Mudaria alguma coisa dizer logo a você que sim? - Dei de ombros. - De qualquer jeito, Amei muito sua mãe. E mentiria se eu dissesse que não a amo. Mas o amor muda. Aquela paixão de adolescente não tem mais. Sua mãe se tornou amarga com o passar do tempo. Acredito que parte disso é culpa minha.
- Culpa sua? - Estranho.
- Éramos muitos jovens quando nos conhecemos. Sua mãe tinha seus dezessete anos e eu vinte e três. Estava para me formar enquanto ela estava terminando o ensino médio. Um dia, indo para o trabalho eu passei na rua do colégio que sua mãe frequentava e a vi saindo. Nunca tinha visto cabelos tão radiantes e olhos tão bonitos. Comecei a passar por lá todos os dias no mesmo horário para vê-la. Até que um dia tomei a coragem de ir falar com ela e convidei para um sorvete. Mas Lilian sempre fora muito recatada, então recusou de imediato. Eu não desisti, aproximei-me aos poucos e consegui sua confiança. O sonho da sua mãe era ser arquiteta e como você, ela tinha a ambição de ir estudar fora, mas eu não deixei. Não podia deixar minhas coisas aqui, tudo meu estava aqui. Ela decidiu ficar. O mercado para área da sua mãe aqui não era muito bom na época, então ela não insistiu, até porque as oportunidades para as mulheres ainda era limitada. Nós casamos e no começo estava tudo muito bom, mas eu tinha que viajar muito e ela ficava sozinha, então acabou se dedicando aos afazeres da casa pra se sentir útil, mas não era aquilo que era queria pra sua vida. Eu chegava cansado do trabalho e não a dava devida atenção e ela reclamava. Isso a fez assim.
Agora tudo fazia sentido. Mamãe de certo modo tinha inveja por eu querer estudar fora e papai me apoiar por isso, quando na sua época ele não a incentivou como deveria. Meus olhos estavam marejados. Sentia-me sem chão. Era claro que eu não tinha culpa, mas eu cresci com a ideia de que os pais sempre queriam o melhor para seus filhos, e pelo visto minha mãe queria o contrário. Fiquei sem reação tentando não chorar.
Alex apertou meu ombro tentando me confortar. Respirei fundo.
- Liza. Não quero que se sinta culpada, filha. Só não queria cometer o mesmo erro com você.
- Tudo bem. - digo um pouco mais calma.
O café me pareceu extremamente atraente, tanto que eu não consegui deixar de encara-lo.
- E agora? Como vai ficar? - volto a olhar meu pai.
- Prometi nunca deixar de cuidar de sua mãe e eu vou fazer isso. Mas agora é cada um por si. Seguiremos nossas vidas, separados e quem sabe poderemos ser amigos. - Walter parecia esperançoso para que isso acontecesse.
- Só não quero que mamãe piore. - estava realmente preocupada com essa possibilidade.
O caminho de volta foi silencioso. Alex não ousou dizer uma palavra sequer durante o resto da conversa, ficou sério e me pareceu incomodado algumas vezes. Papai e Alex haviam se dado bem, e na saída Walter cochichou algo em seu ouvido, mas não consegui entender, apenas compreendi, pelo movimento de seus lábios, um "Boa sorte".
- Se não estiver bem pra sair hoje, eu vou entender. - Alex decidiu quebrar o silêncio. Porém não tinha muito afeto em seu jeito de falar.
- Vai ser bom pra distrair cabeça.
- Hum. - foi sua única reação.
- Fala. -peço. Aquilo tava me irritando. O encaracolado dirige a sua atenção a mim meio que sem entender. - Alguma coisa está te incomodado. Você não me engana.
Novamente a sua mania de morder o maxilar veio à tona.
- Eu não achei que seria tão difícil. Talvez eu devesse desistir. Talvez eu não devesse alimentar minhas esperanças ou chances. Tudo parece tão certo, como um destino. Mas se você permitisse eu faria diferente do seu pai. - sua voz embargada.
Sabia o que ele queria dizer. Com toda a história da minha mãe era certo a minha ida à Alemanha. Ele não queria que eu ficasse como minha mãe e eu certamente também não. Sua ideia era me acompanhar, possibilidade essa que eu já havia pensado, mas era algo a ser estudado.
-Alex, podemos não pensar sobre isso agora. Não pense você que eu não me importo com a nossa relação, mas ainda temos tempo. Podemos aproveita-lo sem pensar no amanhã?
Ele consentiu com a cabeça, mas não estava tudo bem. Preferi não insistir.
- Te busco ás 20h? - ele pergunta receoso.
- Claro. - respondo da maneira mais doce possível e dou um beijo em seu rosto tentando deixá-lo mais relaxado. Acho que deu certo, pois o mesmo deu um sorriso.
Cheguei e casa a fim de tomar um banho quente e ficar lá por horas. Precisava relaxar cada pedacinho do meu corpo. Era muita coisa a se pensar e ia acabar enlouquecendo. Decidi focar no meu encontro, se é que isso iria ajudar. Mas eu não ia desistir do dia de hoje e decepcionar Alex.
Suspirei ao colocar meu vestido. Sequei meus cabelos e enrolei a suas pontas o jogando para o lado. Fiz uma maquiagem simples, mas elegante - um delineado, uma sombra marrom clara, bastante máscara de cílios e um batom vermelho. Não quis exagerar nos acessórios, então optei por um ponto de luz no pescoço e um brinco de pérolas. E claro, um salto alto preto. Estava mais que perfeito, exceto pelo frio na barriga que me consumia. Há tanto tempo que não fazia isso. Desconsiderei o último encontro com Peter porque era diferente. Eu queria um escape, uma fuga. Alex me colocava de cabeça pra baixo e vinha como vendaval bagunçando toda a minha vida, confundindo meus sentimentos e me deixando um pouco mais louca a cada dia.
Aqueles olhos despertavam em mim uma Liza adormecida e eu o agradecia internamente por isso, ao mesmo tempo em que o odiava por me deixar assim. Odiava ter que ficar com as pernas bambas sempre que ele me abraçava, por arrepiar cada parte do meu corpo sempre que ele me tocava. Odiava o fato de meu coração saltar de paraquedas toda vez que o via. Odiava não conseguir lutar contra minha natureza e tudo ao meu redor aumentava ainda mais esse sentimento. E então ele aparecia com uma bagagem completa de confusões que deixava à minha porta e sempre esquecia de vir buscar.
O barulho da campainha toca. Saio de frente ao espelho e suspiro tentando conter todo meu nervosismo. Alex ficou parado a porta como uma estátua apenas me encarando. Sua boca abriu e fechou algumas vezes e eu podia jurar estar corada naquele momento.
- E então? - precisava quebrar todo aquele clima.
- Não sei o que dizer. Você está linda. - seu sorriso era radiante o que me fez sorrir também.
- Vamos? - Perguntou com sua mão estendida.
Segurei-a e saí pela porta.
A noite estava maravilhosa, assim como naquele dia do acampamento. As luzes da cidade acesa decoravam a rua a deixando ainda mais encantadora. Por um instante esqueci tudo o que estava acontecendo, sendo tomada por certo alívio. Alex me olhava de canto de olho e ria disfarçadamente, provavelmente era pela minha reação ao vislumbrar a janela.
- O que foi? - pergunto.
- Parece uma criança quando consegue um lugar na janela. - reponde Alex rindo.
- Ah para, o crianção aqui é você. - dou soco de leve em seu braço.
- To vendo mesmo. Pelo menos não estou babando pela janela.
- Eu não derrubo comida na roupa quando como e nem durmo fazendo sons estranhos.
Ele ri.
- Eu não falo dormindo, pelo menos. - retrucou.
- Porque não te vi dormindo mais vezes, mas tenho certeza que fala.
- Pode me ver dormindo quando quiser. – maliciou. - mas eu garanto que não falo dormindo.
- Quero só ver.
- Quer mesmo?
Até então eu não me dei conta do que eu tinha acabado de falar. Não contive certa vergonha e um sorriso malicioso. Viajei em meus pensamentos por um instante. Eu precisava de uma resposta urgente ante que um "quem cala consente" entrasse na cabeça de Alex.
- Quem sabe um dia.
- Quem sabe hoje?
- Alex, Alex, o que está tramando?
- Nada. Só quero provar que não falo dormindo. Sem malícia nenhuma se é o que está pensando. - sua ironia era contagiante.
- Sei. - digo desconfiada.
- E então?
-Tá falando sério? - queria confirmar o porquê de tanta insistência.
- E você acha que eu iria brincar com uma coisa dessas? Acha mesmo que eu ia perder a oportunidade de tirar uma casquinha sua?
- Abusado. - digo dando outro soco em seu braço, dessa vez um pouco mais forte.
- Ai! - exclamou rindo.
O encaracolado me levou no melhor restaurante da cidade. Ele estacionou o carro e um frio percorreu meu corpo. Fiquei encarando a entrada e não fiz muita questão de tirar os cintos. Alex estava prestes a abrir a porta, mas eu não consegui me mexer.
- Liza, vamos?
Olho pra ele, confusa. Mordo o lábio inferior e consinto. Repouso minhas mãos no cinto prestes a destravá-lo, mas retorno minha visão a entrada. Sinto um calor sobre a minha mão, provavelmente o aniversariante do dia percebeu minha aflição.
- Ei? Está tudo bem. Vai dar tudo certo, eu prometo. - ele apertou minha mão enquanto a outra acariciava a minha bochecha.
Senti-me uma completa idiota por pensar em Bill naquele momento. Foi inevitável mesmo o restaurante sendo diferente. Alex não era Bill, mas era tão carinhoso quanto ele aparentava ser. Mas afinal, eu não era mais uma garotinha. Tinha me tornado uma mulher e deveria saber lidar melhor com minhas fobias.
Ele quis obedecer ao protocolo. Abriu a porta pra mim e me acompanhou de mãos dadas até a entrada, bem como puxou a cadeira para eu me sentar. Apesar de achar tudo aquilo uma bobagem, não fiz questão de hesitar suas atitudes, era seu aniversário e bem lá no fundo, mas no fundo mesmo, um sorriso se fazia presente mesmo que eu não admitisse.
Nunca tinha frequentado aquele lugar. Era muito caro para o que meu bolso poderia pagar. Os cardápios traziam infinitas opções e uma variedade imensa.
Alex pediu um vinho antes de escolhermos nosso prato. A parte de massas deu-me água na boca, mas preferi algo mais light a fim de dar uma diferenciada - um frango grelhado ao mel e limão acompanhado com uma salada. O louro de olhos claros pediu o mesmo que eu, estranhando a combinação do mel com o limão, mas lhe garanti que era maravilhoso.
O vinho chegou e o aniversariante pediu um brinde.
- Ao dia de hoje. Que ele possa se repetir mais vezes.
Juntei minha taça a dele ouvindo o tilintar das mesmas. Estava meio desesperado com o motivo pelo qual brindamos, mas não ia deixa-lo no vácuo. Dei duas goladas de um uma vez e discretamente limpei a garganta.
- Me conta algo sobre você. - pediu Alex
- Tipo o que?
- Sei lá. Algo que eu não saiba. Uma curiosidade, um momento feliz.
- Bem. – comecei. - Eu já te falei uma vez que fiz balé, mas não deu muito certo. Não tinha coordenação nenhuma para isso, mas eu achava tão lindo. Enfim, sempre saía com arranhões e roxos pelo corpo todo, pois vivia caindo. Uma vez, num salto em meio a apresentação, eu quebrei o pé. Fiquei no palco com várias pessoas me olhando, enquanto eu estava chorando e grunhindo de dor. Foi o dia mais constrangedor da minha vida. – rio por lembrar, mesmo que o momento tivesse sido horrível. - Fiquei um bom tempo sem poder dançar. E eu não desisti. Quando fiquei melhor tentei de novo, até o dia que a professora pediu com toda educação para que eu escolhesse outro tipo de dança ou qualquer outro esporte. E estou eu aqui, num sedentarismo puro.
- É, tive a chance de conhecer a Liza descoordenada no acampamento. Não conseguiu ficar um segundo no cipó.
- Para! - digo logo após beber um pouco de vinho. - eu estava bêbada, senão você iria perder na nossa aposta.
- Iria não. Você me beijaria de qualquer jeito. - ele levanta a sobrancelha e da um sorriso nem um pouco comedido.
- Nossa! Como é convencido. - reviro os olhos sorrindo.
- Vai me dizer que não é verdade?
- Um pouquinho. Mas bem pouquinho mesmo.
- Sei, como naquele dia que você me beijou sem eu ter tentado nada. - diz recordando da noite em que ele se declarou, o último dia do acampamento.
- Estava coagida pelo cenário da situação.
- Ata. Admite Liza, eu sei que sou irresistível.
Dou de ombros e não contenho o riso.
- Quem diria que duas pessoas que se estranharam logo de cara agora estão apai... - Paro me assustando pelo que eu ia acabar de falar. - Se entendendo tão bem. - concluo a frase.
Alex não percebeu ou fingiu não perceber.
- Posso contar um segredo? - ele pergunta.
Consigo com a cabeça.
- Gostei de você desde o começo. Mas achei que fosse aquelas garotas metidas, que se acham. Mas quanto mais eu ficava perto de você, mas eu me apegava, acabei não resistindo.
- Quem é o irresistível, agora? - pergunto na brincadeira.
- Não vale. Você é encantadora.
- Você também. - digo olhando no fundo de seus olhos.
Certa felicidade tomou conta de mim. Eu nem sabia explicar o motivo, mas toda aquela tristeza que eu tive no dia anterior e em algumas horas atrás se desfez como num passe de mágica. Sentia bem com Alex ao meu lado e isso era indiscutível. Ele me trazia sentimentos puros e bons.
Saímos do restaurante sentindo levemente um frio tocar minha pele me fazendo arrepiar e abraçar a mim mesmo. Alex passou seus braços por mim me juntando ao seu tronco.
- Ainda está cedo, mas se você quiser, eu te levo pra casa. - ofereceu Alex.
- O que está planejando?
- Queria passar mais um tempo com você. O que acha de um passeio?
- É o seu aniversário. Você decide o que vamos fazer. - consinto.
- Então terá que me ver dormindo hoje. - sorriu maliciosamente.
- Não começa. - finjo estar brava.
- Até eu te levar pra casa eu te convenço.
Fomos até o centro da cidade e por lá fomos andando sem rumo algum. Passamos pela catedral, e eu não me lembrava do quanto era linda. Eu a adorava com todos os seus detalhes, mais parecia um monumento. Era imensa contemplada pela arte gótica e rosáceas espalhadas, tanto na entrada quanto no seu interior. Ainda estava aberta e eu decidi entrar.
- Sabe, quando eu era criança, eu vinha pra cá quase todos os dias. Chorava em todos os casamentos que ia e sonhava esperançosamente para o meu dia chegar. Imaginava eu entrando de véu e grinalda, e meu futuro marido me esperando no altar. Era o meu passatempo quando eu estava angustiada e minha casa me sufocava. Quando os rapazes pelos quais eu havia me apaixonado destruía um pedacinho do meu coração eu vinha pra cá, sentia como se estivesse vivendo a realidade e não apenas um sonho. Depois de tudo o que aconteceu eu nunca mais vim. Deixei de ir a muitos casamentos. - a recordação deixou minha visão embaçada devido às lágrimas que se formaram, mas que eu impedi de escorrerem.
Fez-se um silêncio. Escutava apenas o eco da igreja. Não sei se Alex não sabia o que dizer ou se não sabia se deveria dizer.
- Eu gostaria de realizar esse sonho com você. - finalmente Alex se manifestou.
Estava a poucos centímetros e de costas a ele. Encarei o chão e me virei olhando pra ele que tinha os olhos brilhantes.
- Esse sonho não existe mais. - falo com um nó na garganta. - Mas você pode realiza-lo com alguém que acredite no amor é que saiba corresponder ao seu. - minha voz estava embargada.
- Está querendo dizer que não me ama? - ele pergunta decepcionado.
Um gelo tomou conta do meu coração. Sem dizer uma palavra passei por ele e fui em direção a saída. Se quem cala consente, ele entenderia.
- Liza? - chama. Paro na porta rezando pra que ele mudasse de assunto ou esquecesse. Viro em sua direção sem coragem de vê-lo.
- É isso? Você não sente nada por mim? - ele insiste.
- Você é mais especial do que imagina. - falo seguindo meu caminho novamente.
Desci os degraus da igreja e parei na metade do caminho com dificuldade de respirar e uma vontade imensa de chorar. Inspirei todo ar e o expulsei em seguida. Alex parou ao meu lado e estendeu seu braço.
- Vamos? - Agarrei-o e fomos andando.
O chafariz da praça era inteiro iluminado à noite e as águas faziam movimentos aleatórios deixando o cenário ainda mais perfeito.
- Desde quando você toca violão? - pergunto interrompendo aquele vácuo que se formaram entre nós
- Como sabe?
- Eu vi em seu quarto ontem.
- Digamos que foi mais uma coisa que meu pai me ensinou. Então faz um tempinho.
- Você nunca me disse que tinha esse dom. Canta também?
- Toco melhor do que canto. Eu tocava pra passar o tempo é pra sanar um pouco a saudade que eu tinha de Charles.
- Charles? - esse eu não conhecia.
- Meu pai. A falta de tempo não me faz tocar muito. Mas senti necessidade depois desses últimos acontecimentos.
- Podia tocar pra mim qualquer dia. - peço.
- Quando quiser.
O modo como as águas dançavam me trazia certa paz, mesmo sabendo que Alex trazia certo desânimo em sua expressão.
- Vem! – chamo-o puxando ele para frente do chafariz.
- Vamos tirar uma foto. - falo pegado o celular na bolsa.
Posiciono o celular a nossa frente, tirando a primeira fotografia. Alex pareceu um pouco mais animado e tirou o seu do bolso pedindo ao casal que passava pra que tirasse outra foto e assim o fez. Dei um sorriso contido, pois tinham ficado lindas todas as fotos, quem olhasse assim, certamente diria que fazíamos um lindo casal. Aliás, o encaracolado tinha se empolgado e queria tirar algumas fotos somente minhas.
- Já chega Alex. - peço timidamente na quinta foto tirada. Não sabia mais que pose fazer.
- Espera, só mais uma.
Na volta pra casa o céu não estava mais estrelado. Pelo contrário, estava meio avermelhado e até relampeava.
- Meu Deus, o que aconteceu com aquele céu maravilhoso? - pergunto entrando no carro.
- Você brilhou mais que as estrelas, elas ficaram constrangidas.
Reviro os olhos achando aquilo patético e engraçado.
- Não é mais bobo porque é um só.
- Isso se chama estar apaixonado. - explica ele dando partida no carro.
A chuva começou a dar seus primeiros sinais até que decidiu despencar de vez. Ela estava engrossando cada vez mais, deixando a visão meio turva. Já estávamos em frente ao meu prédio é nem sinal de trégua.
- Alex! Acho bom você entrar. Ta muito forte e perigoso.
- Tudo bem Liza. Meu violão está no carro também.
- Sobe ele, ué.
- A chuva não vai passar agora, não vai compensar.
Eu me arrependeria daquilo, mas era o melhor a ser feito.
- Han... Dorme em aqui.
- Sério? - surpreende-se.
- Está muito perigoso, é melhor.
- Parece que o destino quer provar a você que eu não falo dormindo.
- Tanto faz. - reviro os olhos sorrindo.
Alex tira seu casaco, sai do carro, e da a volta vindo em minha direção. Corremos até a portaria mais molhados do que secos, rindo de toda aquela situação.
- Esqueci o violão. - lembra-se Alex levando sua mão a testa.
- Espera que eu pego um guarda chuva lá em cima.
- Não, vou rapidinho.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele sumiu diante dos meus olhos. Voltou todo encharcado, com os cachos murchos e eu ri do jeito como ficara.
- Está mais irresistível do que nunca hein senhor Alex Becker. - ironizo.
- Shhh... - faz colocando o indicador nos lábios e com um sorriso discreto.
Sabia o que estava pra acontecer e eu não estava nem um pouco tranquila, mas tentei ignorar. Assim que ele entrou, tirou a sua camisa e seu sapatos levando diretamente a lavanderia, ele conhecia mais meu apartamento do que eu mesma.
- Ainda tenho sua camisa que eu esqueci de devolver, pode usá-la - aviso logo que ele entra no meu quarto.
- Hum... Na verdade eu costumo a dormir sem.
- Suas calças não estão molhadas também? - pergunto tentando mudar de assunto e me dou conta que não usei as palavras correta.
- Quer me ver só de cueca de novo, Liza? - seu olhar era pura malícia.
-Tanto faz, você vai dormir no sofá mesmo.
- Qual é Liza? Com uma cama de casal maravilhosa em seu quarto, você vai me deixar dormir nesse sofá todo duro? - faz bico.
- Se pensa que vai dormir comigo está muito enganado.
Ele se aproximou.
-Está frio. Nada esquenta melhor que calor humano. Como você vai provar que eu falo dormindo, também.
- Eu confio em você.
- Liza, muito você é muito má. Prometo dormir de calças e me comportar. - insistiu se aproximando ainda mais. Minhas pernas estavam tremendo e se estivesse fazendo frio, era lá fora porque meu apartamento estava prestes a entrar em ebulição.
- Está com sono? - tento desviar o assunto mais uma vez. - Sempre assisto um pouco de TV antes de dormir. – Digo entrando em meu quarto e pegando meu pijama omitindo um pouquinho.
- Não. Ainda está cedo para dormir. - ele sorri. - Mas não sei se eu queria assistir televisão hoje. - Alex empurra aporta do guarda roupa a fim de chamar a atenção já que minhas roupas estavam em minhas mãos e eu insistentemente continuava encarando o seu interior.
- O que quer fazer? Conversar? Jogar damas? Sei lá.
- Damas?
- Meu pai e eu vivíamos brincando. Era divertido na época.
- Acho monótono demais. – disse.
- Pois eu acho que está com medo de perder. - o desafio.
- Num simples jogo de damas? – ele debocha.
- Vamos ver se consegue ganhar de mim.
- Liza. Não quero me gabar, mas era o número um no xadrez na época de colégio.
- Ótimo, o lance vai ficar ainda mais divertido se jogarmos xadrez. - levanto uma sobrancelha pegando o tabuleiro.
- O que está fazendo? Isso é covardia demais com você mesma. - Alex tentava me fazer desistir da ideia.
- Alex, como você acha que uma pessoa como eu, na infância, passava o tempo?
- Essa eu quero ver. Mas... Vamos apostar.
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