Capítulo 17
"Um cheiro delicioso invadiu a minha cozinha. Havia muito tempo que eu não preparava alguma coisa tão elaborada para o jantar. Seria eu e a companhia de um bom vinho. Arrumei a mesa como se fosse receber alguém especial, e estava animada, mesmo estando sozinha. A campainha toca e eu estranho. Abro a porta e me deparo com um verde intenso que ilumina toda a sala do meu apartamento. Era Alex com toda a sua beleza.
- Desculpa, mas eu não estava aguentando mais - ele diz entrando.
- O que aconteceu? - pergunto preocupada já que seu semblante era sério.
- Saudades. - ele sorri.
Respiro aliviada por saber que não há nada de errado.
- Por Deus Alex, você me assustou. - digo colocando a mão no peito. - Achei que fosse sério.
Ele levanta uma sobrancelha, incrédulo:
- Mas é sério. É muito sério. Posso morrer de saudade, sabia?
Dou uma risada e me aproximo dele entrelaçando meus braços em seu pescoço.
- Mas é muito bobo. - sorrio.
Ele pega na minha cintura e me puxa mais perto dele.
-Não sou bobo, sou apaixonado. - selando nossos lábios, ele explica.
Nosso beijo começa a ficar mais intenso. Alex tropeça caindo no sofá e caio por cima dele. Rimos daquela cena patética, mas voltamos a nos beijar. Ele arranha as minhas costas por dentro da blusa o que me faz arrepiar. Eu não aguentava mais toda aquela resistência e ele também não. Pena que por algum motivo, eu não consegui ver detalhes de do seu peitoral nu, mas ele era macio assim como meu travesseiro.
O dia amanheceu. Por um segundo me perguntei o que tinha acontecido. Eu estava com o corpo enrolado em um lençol no chão da sala, quando me dei conta do ocorrido. Dei um sorriso por lembrar. Olhei de um lado para o outro procurando por Alex, mas nem sinal dele.
Não me lembrava de ter comido a lasanha, e me levantei indo em direção à mesa. Ela estava intacta, exceto por um pedaço, o qual estava faltando. Avistei um prato sujo de molho e um guardanapo disposto à cima, rabiscado com caneta. "A lasanha estava deliciosa, assim como você. Vou em busca da sobremesa, adeus", dizia aquele pedaço de papel.
Um nó se formou na minha garganta. Ele não seria capaz de tamanho absurdo. O meu coração novamente tinha se partido em mil pedaços e o passado invadido a minha janela, ou melhor, a minha porta. Estava ele disfarçado de Alex, e eu o permiti entrar de braços abertos.
Amassei o guardanapo com todo ódio que se formara dentro de mim, joguei o prato no chão o partindo em vários pedacinhos assim como meu coração estava mais uma vez.
Caí no chão e não consegui conter as lágrimas".
Nesses últimos três meses, meus pesadelos não me deram trégua um único dia sequer. Eles não eram nenhum pouco castos, mas nem um pouco agradáveis também. O último eu acordei suando, com uma falta de ar tremenda. Fiquei o dia inteiro sem falar com Alex, e fiquei pensando se não era algum sinal me dizendo para fugir enquanto ainda tinha tempo. A sensação era a pior do mundo. Entretanto era só um pesadelo, nada demais, assim eu esperava.
Kate e Mat estavam namorando. Os olhinhos de uma das minhas melhores amigas brilhavam todas as vezes que tocava no nome de seu namorado. Dizia ter encontrado a pessoa certa e se dependesse dela, viveriam felizes para sempre. Não que eu estivesse gorando, longe disso, mas felizes para sempre me arrepiava só de lembrar da frase final de todos os livros de romance. Mesmo que o narrador não mencionasse, a grande maioria dizia internamente: " E viveram felizes para sempre". Mas apesar de tudo, Kate estava feliz, e isso valia mais que tudo. Estávamos num jantar, logo que voltamos do acampamento. Num momento Mat parou pedindo a atenção de todos:
- Quero dizer que estou imensamente feliz pela presença de todos. Fico honrado por receber amigos que fiz em tão pouco tempo e considero praticamente irmãos. Eu sei, parece exagero de minha parte toda essa encenação, mas quando você encontra alguém por quem se está apaixonado, você pretende formalizar essa união. Calma, ainda é cedo para pedi-la em casamento, mas isso não deixa de estar incluso em meus planos para o futuro. No momento, eu só queria poder chamá-la de minha namorada. Por isso Kate, eu pergunto... Você aceita namorar comigo?
Kate pulou em seu colo o beijando e gritando vários sim. Todos aplaudiram, até eu, mesmo revirando os olhos e achando patético tudo aquilo. Alex percebeu minha indiferença.
- Não está feliz pela sua amiga?
- Estou. E muito. Só não quero que ela se iluda.
- Mat me parece um cara legal. - constatou Alex.
- Eu sei. Mas o amor não é legal como Mat.
- Deveria dar a ele uma chance, não acha? - a indireta do encaracolado veio como tapa na minha cara.
- Todo mundo merece uma segunda chance. Não uma vida inteira.
- Liza, o amor não é matéria. - explicou-me Alex, como se eu já não sou soubesse.
- Mas vale pra ele também.
Ele apenas respirou fundo, sabia que seria em vão insistir nessa conversa.
Jhony e Sam estavam se entendendo mais do que o normal. Mais cedo ou mais tarde teríamos mais um casal no grupo. Back estava feliz do jeito que estava assim como Carter e Daniel. Achavam cedo demais pra ingressarem num relacionamento, e esperariam até o final da faculdade. Alex e eu nesses últimos tempos estávamos nos entendendo cada vez mais. Éramos bons amigos até que se provassem o contrário.
Meu novo emprego estava uma maravilha. Cada dia eu tinha mais certeza de que eu escolhera a profissão correta para minha vida. Era gratificante, mesmo tendo que acordar cedo. Doutor Philips bem como o resto de sua família eram muito atenciosas e pacientes. Identifiquei-me com todos eles, e consegui arrancar-lhes elogios, de certo modo me motivava e eu sempre procurava dar o meu melhor.
Minha rotina começou a ser mais corrida. Eu acordava todos os dias às sete da manhã, entrava às oito no escritório e ficava até o meio dia, quando eu almoçava e ia direto a empresa, em seguida, ia para a faculdade. Tive que transferir meu curso de línguas para o sábado, era o dia em que mais tinha tempo. A madrugada era a minha companhia de estudos, provavelmente eu adquiri algumas olheiras e certo mau humor. Porém, não havia palavras para descrever toda a sensação de dever cumprido quando domingo chegava. Eis o dia de dormir o dia inteiro, e eu aproveitava o máximo a minha cama.
Amanhã seria aniversário de Alex e eu ainda não havia comprado seu presente. Em minha mente passava vários tipos de presentes, mas nenhum que fosse tão especial ou tão surpreendente. Fiquei todo esse tempo prestando atenção em cada detalhe de Alex para saber mais sobre ele.
Bem, Alex tinha uma relação complicada com o pai, isso já não era mais segredo. Adorava estrogonofe, e de vez em quando trazia a tona o seu lado criança. Adorava torta de nozes e sua cor preferida era o vermelho. Seu maior medo era andar de avião. Fiquei surpresa quando soube, ele não parecia o tipo de pessoa que teria esse tipo de medo.
Tentei perguntar ao Jhony, mas ele disse pra eu descobrir sozinha, e nem Sarah, mãe de Alex quis me ajudar. Sendo assim, não iria me admirar nem um pouco se eu me deparasse com aqueles olhinhos verdes decepcionados em ver a humilde lembrancinha comprada pra ele. Eu estava desesperada e me restava apenas algumas horas para me decidir. Eu não iria pra aula hoje, visto que iria ter um jantar da empresa na casa de Alex. Não queria de jeito nenhum ir, mas só faltaram me demitir caso não fosse. Porém, por outro lado, talvez essa seria a minha ultima chance de descobrir o que dar ao encaracolado.
Pois bem, a hora do almoço chegou e eu não estava com muita fome. Decidi apenas por uma omelete e um suco de laranja natural. Sentei-me a mesa e me surpreendi quando o interfone tocou e o porteiro anunciou que era minha mãe. Consenti que subisse, e confesso, um calafrio invadiu minha pele. Lilian nunca me visitava e não fazia questão nenhuma disso. Estremeci pensando ter acontecido algo de grave e andei de um lado para o outro, agoniada até que minha mãe chegasse.
Abri a porta logo que a campainha tocou. Mamãe estava com os olhos inchados, provavelmente havia chorado. Era engraçado que a idade em nada afetava a sua fisionomia, continuava tendo o mesmo rosto de quando eu era criança.
- Entre. - pedi assustada.
Ele trazia um lenço em suas mãos, e notei algumas olheiras em seu rosto. Lilian analisou cada pedacinho do meu apartamento antes de se sentar à mesa, nunca tinha o visto. Pra falar a verdade ela sempre achou um absurdo papai me dar um apartamento dizendo que eu nunca na vida saberia tomar conta de uma casa sozinha. Era sarcástica quando louvava os céus por eu não querer casar, e assim, poupar que a minha sogra a culpasse por não ter ensinado sua nora como ser uma dona de casa.
- Achei que tivesse te ensinado a cozinhar mais coisas do que um mísero ovo. – Lilian criticou fazendo pouco caso da omelete.
Respirei fundo e me sentei ao seu lado.
- Veio aqui para me ensinar como cozinhar? - pergunto sem paciência.
- Você está precisando mesmo de algumas dicas, mas eu não vim aqui pra isso. - respondeu.
- E então?
- Só queria te informar que seu pai e eu nos separamos. - desabafa.
Parei alguns segundos tentando assimilar suas palavras. Estava em estado de choque por suas palavras. Eu sabia mais do que ninguém que a relação de meus pais não era a das melhores e já pensei várias vezes que mais cedo ou mais tarde eles se divorciariam. Mas já fazia tanto tempo e eu acabei descartando essa possibilidade.
- Quando isso aconteceu? - engulo seco.
- Há mais ou menos três dias. Tivemos uma discussão mais séria e achei que seria o melhor a fazer.
- Foi a senhora que pediu?
Ela consente.
- Deve estar feliz agora. Tem o seu pai só pra você. Pode dar adeus ao seu apartamento e ir morar com ele. - sempre os motivos ruins mamãe fazia questão de me culpar.
- Sabe mãe, a senhora está enganada. Eu não estou feliz. Pelo contrário, você sabe o que eu penso sobre isso, e por mais que a ideia esteja fixada em minha mente não é legal ver alguém passando por isso.
- Não seja hipócrita. – atacou. - Eu sempre fui um estorvo naquela casa. Vocês ficarão livres de mim e poderão agir como bem entenderem. Podem, sei lá, fingir que eu morri.
- Não seja tão dramática. Por Deus. Quantos anos você tem? - se uma coisa eu puxei a minha mãe foi a falta de paciência.
-Mais respeito porque eu ainda sou sua mãe.
- Mãe? Há muito tempo você deixou de agir como uma.
Ela deu um riso irônico.
- Você é igualzinha ao seu pai. Em todos os aspectos, inclusive na fisionomia. Eu tenho pena de mim por ter errado na sua educação. Seu pai nunca percebeu o tipo de filha que ele estava criando. Ele sempre te mimou. Sempre te acobertou. Era a princesinha dele. - os olhos cor de mel de dona Lilian saltavam raivosos.
- Por que você me odeia tanto? - indaguei sem pensar. Era uma coisa, a qual eu queria saber a muito tempo, mas nunca tive coragem de perguntar.
-Vai chorar agora? Quer se fazer de vítima? - a essa altura eu estava cética com cada palavra que mamãe dizia. Eu estava com raiva e incrédula em como uma mãe podia ser tão fria com uma filha.
- Vai me dizer ou não.
- Eu não te odeio. Odeio a situação. O fato de seu pai sempre te acobertar. Dele sempre te mimar. Eu precisava de alguém pra me ajudar em casa, mas não, você tinha que estudar. Enquanto eu, eu tinha que cuidar de uma casa inteira.
- Finalmente você confirmou as minhas perspectivas. Pois eu te digo, você teve apenas um único filho. Não teve vários, e eu nunca te dei trabalho. Pelo contrário, eu sempre fui uma criança calada que não tinha amigos, e que gerava comentários por toda a cidade. O único problema que eu dei a você era passar pelos comentários de quem quer que fosse de como a filha de Lilian Walker era gorda e feia. Se você queria uma filha pra ser sua empregada, sinto muito, mas meu pai queria me ver ir além. Não é porque você não teve uma vida de luxo, que eu também não tenho que ter. Você nunca se importou comigo, nem sequer se perguntava o porquê sua filha se escondia no banheiro, ou porque voltava com os olhinhos inchados, da escola. Meu pai era o único que enxergava isso. Meu pai e minhas avós, e infelizmente uma delas não está entre a gente. E não mãe. Eu não sou a culpada pela relação de vocês não terem dado certo. Veja a mulher amarga a qual você se tornou com o passar dos dias. O quanto você se descuidou. Dê graças pelo tempo ter sido bondoso com você te fazendo parecer mais nova do que realmente é. Mas não me culpe. - a minha voz soava embargada. Minhas lágrimas saíam ao mesmo tempo em que cada palavra dita me dava mais raiva.
Mamãe me encara com os lábios espremidos e uma sobrancelha erguida. Seus olhos estavam molhados e eu pude ver o esforço imenso que ela estava para não chorar. Seu ar era de superioridade. De certa forma aquela palavras a tinha atingido, mas ela era orgulhosa demais para admitir.
- Você não sabe o que está dizendo. - foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
- Eu realmente queria estar enganada. Aliás, em muitas coisas eu queria estar enganada. Mas a única certeza que eu tenho, é que o amor é uma grande merda. Em todos os sentidos, em qualquer tipo de relacionamento e o exemplo mais claro é dentro da minha própria casa. Sabe, eu tenho medo. Medo de que o único sentimento puro que exista em mim se perca. Medo de saber que as pessoas as quais eu nutro um sentimento, o qual eu me recuso a dizer que é amor, mas que é tão lindo quanto as pessoas dizem ser, não seja recíproco.
- Vejo que arranjou uma empregada pra limpar o seu apartamento. - mamãe assim como eu sempre tentava fugir de assuntos que nos incomodavam. Lilian e eu tínhamos a personalidade muito parecida. Lutávamos até o fim por um objetivo, e éramos persistentes em nossas opiniões. Papai era mais calmo. Levava tudo na base de uma conversa mais tranquila, e por vezes aguentou calado, as reclamações de mamãe. Nossos traços eram muito parecidos: olhos castanhos de um escuro intenso, grandes e penetrantes, cabelos ondulados e um tanto acobreados. Mamãe tinha um tom mais avermelhado nos cabelos, sua pele era extremamente branca, e seus olhos eram de um mel incrível. Com certeza era muito linda. Algumas pessoas diziam que tínhamos o sorriso e as sobrancelhas, parecidos.
- Não Mãe. Não arranjei uma empregada. Eu cuido sozinha da casa.
- Até que está bom. Mas chamar alguém de vez em quando não é nada mal. - dei um sorriso e levei a minha mão a testa completamente descrente de sua atitude.
- Não mãe. O dinheiro que eu gasto com uma empregada eu junto pra quando eu for pra Alemanha.
- Achei que tinha desistido dessa ideia absurda. Seu pai não tem condições de ficar bancando seus luxos, minha filha.
- Minha filha? - pergunto surpresa. - Pois saiba que não precisarei de ninguém me bancando. Estou trabalhando em dois empregos, eles me pagam muito bem, e além do mais, eu não ficarei a toa em outro país, pelo contrário, pretendo arranjar um emprego por lá.
Lilian apenas balançou a cabeça levando suas duas sobrancelhas pra cima.
- Bom, eu vou indo. O ar aqui está meio pesado. - seu jeito de se despedir era ainda mais deplorável.
- Ótimo, eu te acompanho até a porta.
O dia hoje não estava sendo um dos melhores. Primeiro um pesadelo, depois Mamãe. Eu até cogitei o fato de perguntar ao universo se ainda teria mais alguma coisa de bizarro pra acontecer, mas decidi que não seria legal testá-lo a essa altura. Infelizmente eu não consegui comer minha omelete, ela estava fria e o pouco apetite que me restara foi embora com a minha mãe.
Sentei-me no sofá e me dei conta de que estava atrasada para empresa, mas eu estava sem condições de ir até lá. Eu queria simplesmente chorar e acreditar que nada daquilo estava acontecendo. Mas a realidade era tão clara quanto a água.
Uma separação nunca foi uma coisa a qual eu soubesse lidar. Eu chorava em todos os casamentos que ia, e chorava mais ainda quando eles acabavam. Abalavam-me de um jeito inexplicável. Eu sempre ouvi de minha avó materna que os filhos são para o mundo. Que o objetivo de todo o ser humano é encontrar o amor, e o seu companheiro deve ser a pessoa mais importante da sua vida, porque ela será a única que estará com você quando seus pais não mais existirem, e quando seus filhos, de casa, saírem.
Lembro-me vagamente dos meus pais quando eu ainda era muito novinha, talvez uns seis ou sete anos. Papai lhe dava uma flor em cada data comemorativa. Mamãe vivia sorrindo, e os dois todos os dias acordavam aos beijos e um dizia ao outro o quanto se amavam. Algumas vezes eles cozinhavam juntos e colocavam algumas músicas do tempo deles. Eles se divertiam, papai e mamãe dançavam sobre o chão da cozinha parecendo dois adolescentes. Apesar de muito pequena, eu ficava admirada com todo aquele amor. Amor, tão intenso e tão efêmero. Tão descontrolado e tão dolorido. Nunca, naquela idade, eu diria que meus pais um dia iriam se separar. Mas aí a vida te ensina que tudo pode acontecer, e você não sai ileso de todas as circunstâncias a qual ela cria, pelo contrário, cada um está sujeito a passar por alguma surpresa que a vida oferece, seja ela boa ou ruim.
Visitar papai seria inevitável. Iria aproveitar a saudade que estava, alias fazia muito tempo que não o via, toda vez eu e mamãe discutíamos e eu decidi dar um tempo.
Meu celular vibra e então eu desligo meus pensamentos. Era Alex preocupado do porque eu ainda não havia chegado. Apenas disse que não estava muito bem, mas que era pra não se preocupar, não era nada grave e eu estaria presente no jantar de hoje. Ele apenas consentiu.
Cerca de meia hora depois ,Alex estava no elevador do prédio onde eu morava, indo em direção ao meu apartamento.
- O que aconteceu? - ele pergunta logo após eu abrir a porta.
- Entra. - digo indiferente.
- Você está com febre? Quer que eu te leve ao médico? - eu só sentia suas mãos sobre meu rosto. - oh meu Deus, você estava chorando? - ele me abraça.
A princípio é dei uma recuada. Aquele sonho ainda era persistente em minha mente, mas depois eu me rendi, deixando escapar algumas lágrimas.
- O que aconteceu Liza? - tenta Alex agora um pouco mais calmo e ainda mais apreensivo.
Afasto-me dele olhando profundamente em seus olhos.
- Minha mãe esteve aqui. Meus pais estão se separando. Eu preciso conversar com meu pai ainda. Nós discutimos e foi horrível, mas eu não quero tocar nesse assunto. - joguei as palavras, simplesmente.
Alex me encarava com ternura. Passou a mão em meu rosto e depositou um beijo em minha testa me abraçando novamente.
- Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você, não se preocupe.
Por quanto tempo ele estaria aqui? Por quanto tempo seria esse Alex, tão amoroso?
-Desculpa. Não queria que se preocupasse
- Amanhã vou com você falar com seu pai, está bem? - ele se oferece.
- Não precisa, de verdade. Não quero que se incomode bem no dia do seu aniversário.
- Não será incômodo nenhum. Faço questão.
Consinto com a cabeça e o abraço fortemente. Como se não quisesse que ele nunca fosse embora.
- Se não quiser, não precisa ir no jantar hoje. - disse acarinhando meu cabelo.
- Tudo bem. Não me importo. Vai ser bom pra eu ocupar a cabeça.
- Tem certeza?
-Sim. - confirmo com a cabeça afagada em seus braços.
Eu acabei pegando no sono. Alex deitou-me na cama fazendo um cafuné em meus cabelos até que eu dormisse.
...
Sete horas marcavam no relógio. Eu não estava nem um pouco a fim de ir naquele jantar. Minha cabeça ainda estava perturbada e a ideia de que o dia de hoje fosse um sinal, não saía do meu subconsciente. Parecia que o fato de eu deixar a vida me conduzir não era algo que eu deveria fazer. Todos os dias eu pensava na possibilidade de dar mais um chance ao amor, mas estava ficando cada vez mias impossível. É como se ele aparecesse no momento em que eu mais o desprezava e resolvesse sumir quando que eu gostaria de lhe dar uma oportunidade. Ele poderia simplesmente ser meu amigo e me ajudar a entendê-lo, pelo contrário, eu nutria um ódio ainda maior.
Sabia que mamãe estava sofrendo e papai também. É isso que esse sentimento causa nas pessoas, dor e sofrimento. A alegria é só uma forma de fazer com que as pessoas abram seu coração para dar passagem a sua entrada, e quando ele toma conta de todo aquele músculo inteiramente frágil, ele o parte em mil pedacinhos. Ele diz adeus e vai embora assim como Bill foi embora. Assim como minha tia, quando descobriu a traição de seu marido, assim como os pais de Alex, assim como os meus pais. Quem sabe aquele sonho não tenha me servido justamente para me dizer isso, que Alex também iria embora. Quem sabe eu deveria dizer adeus primeiro para não sofrer em seguida.
Precisava de um banho gelado. Dirigi-me até o banheiro e levei um susto quando vi Alex sentado em minha mesa de jantar mexendo em seu note book. Não imaginava que ficaria ali até aquele horário.
- Achei que tivesse ido embora. - digo chamando sua atenção.
- Boa noite Bela adormecida.
- A história está errada. Não acordei com um beijo do meu amor verdadeiro. - concluo.
- Você não acredita nele, então é como se ele não existisse. Mas eu poderia muito bem ir até lá e te dar um beijo.
- Ele realmente não existe. Mas por que está aqui ainda? - pergunto cruzando os braços e ignorando seu último comentário.
- Está fria assim por causa da visita de sua mãe? - Encaro o nada e respiro fundo. Eu não percebi que estava sendo meio rude. O encaracolado simplesmente suspirou e decidiu mudar de assunto. - Eu fui até em casa tomar um banho e me arrumar. Como você me deu certeza de que iria ao jantar achei que seria melhor buscá-la, só por segurança.
- Não sou mais criança. - eu sempre era estúpida quando algo estava me incomodando. Era involuntário, um tanto incontrolável. - Sei me virar e sei dirigir um carro muito bem.
Os olhos de Alex murcharam. Fazia um bom tempo que eu não o tratava daquele jeito.
- Pois parecia quando chorou em meus braços e pediu que eu não a abandonasse. Pediu não, foi quase como se estivesse implorando por isso. - Levantei uma sobrancelha. Não me lembrava de ter dito aquilo. -Você pode não saber, mas você fala enquanto dorme. - Alex não parecia irritado, mas estava sério. Eu estava sendo muito ingrata por ele ter se preocupado comigo, mas no momento eu só pensava que não havia me lembrado de pedir para que ele fizesse isso por mim.
- Tanto faz. Eu estava num momento de fraqueza. Agora se você quiser pode ir embora.
- Sabe qual é o seu problema Liza? - Alex se levanta. - É não saber lidar com seus próprios sentimentos. Mas quer saber de uma coisa? O resto das pessoas não é culpado por isso.
Vi aqueles cachinhos indo em direção à porta e no mesmo instante senti meus olhos molharem. Ele tinha razão. Sem saber ao certo o que eu estava fazendo vou atrás dele e puxo seus braços antes mesmo dele chegar à porta.
- Alex, desculpa. - à essa hora uma lágrima decidiu escorrer. - Fica. Por favor.
Ele tinha uma mania que eu achava muito sexy: morder o maxilar. Alex fazia isso quando estava nervoso, e fez naquele momento, quase derretendo todo o gelo que Dona Lilian havia deixado em meu peito. Mesmo sabendo que aquele gesto não significava coisa boa. Becker apenas me encarava e não se pronunciou nem se mexeu.
- Por favor. – insisti. - Amanhã é seu aniversário não quero que fique um clima ruim entre a gente. Você tem razão, eu não sei lidar com meus sentimentos, mas... Ficar sozinha não melhora em nada. - engulo seco com medo de sua reação. "Se é ruim com, não queira viver sem".
Alex se virou e foi abrindo a porta. Ele era tão difícil quanto eu quando estou com raiva, mas eu estava indo contra minha própria personalidade e meu próprio orgulho indo atrás dele, o mínimo que ele poderia fazer era ceder também. Não. O encaracolado era orgulhoso demais a esse ponto, e certo modo, não tirava sua razão e nem o julgaria, já que éramos completamente parecidos nesse sentido. Então me restava minha última chance.
- Prometo compensar de alguma forma.
Ele fechou a porta e internamente eu sorri.
- E como pretende fazer isso? - pergunta com seu olhar em mim novamente.
Limpo a garganta.
- Ah, sei lá. Seria mais fácil se eu fosse a Liza de alguns anos atrás, mas a Liza de hoje, é mais difícil de dizer.
Suas mãos se dirigiram novamente a maçaneta da porta. Ele queria uma resposta mais objetiva e eu sabia o que seria isso. No entanto, esse tipo de concessão eu não estava disposta a fazer. Se ele fosse um desconhecido, tudo bem. Mas de certa forma eu gostava de Alex e aquele pesadelo horrível não me permitiria ir além.
Posicionei-me a sua frente ficando de costas a porta.
- Sabe. Você está muito elegante hoje sabia? - digo pegando em sua gravata. - Assim... Eu ainda não estou pronta pra compensar da maneira exata como você gostaria, mas talvez exista algo que eu possa fazer pra você ficar. - Meus olhos se encontraram com o dele. Sua posição ainda estava firme.
Aproximei-me dele o encarando profundamente. Na ponta dos pés, fui até seu pescoço.
- Quem sabe uma mordida em seu lóbulo? - digo mordiscando sua orelha praticamente sussurrando. - Ou um beijo em seu pescoço? - Aquele cheiro me deixou tonta e por um breve instante eu pensei em ceder aos meus instintos. O pomo de Adão de Alex se mexeu lentamente. Dava pra perceber o tamanho de seu esforço. - Ou quem sabe eu posso simplesmente lhe fazer uma massagem? - uma de suas sobrancelhas se levantou. Desci minhas mãos que estavam em seu pescoço passando pela sua cintura até chegar ao caminho da cinta e levemente dei uma apertada ali. Nesse momento Alex acordou, me empurrou contra a porta e me beijou desesperadamente. Ele apertava meu cabelo com força e eu retribuía, eu amava aquele cabelo. Suas mãos percorreram minha costa por dentro da blusa e eu jurava que ate minha alma se arrepiou naquele momento. Nossa respiração estava ofegante e meu coração parecia estar numa olimpíada. Se eu não parasse naquele exato momento, eu o jogaria na minha mesa de jantar mesmo e o amaria loucamente, porém a minha consciência voltou e me dei conta de que era melhor interromper antes que meus instintos sobressaíssem a minha razão. Nesses últimos meses eu tentei não beija-lo e ser o mais indiferente possível, não queria que parecesse que eu estava lhe dando esperança.
Separamo-nos por falta de ar, mas poucos centímetros de distância se faziam entre nós. Molhei os lábios um tanto nervosa e meio tímida com o que quase acabar de fazer e sem me conter, dei uma gargalhada. Alex me acompanhou rindo em seguida.
- Está querendo me matar? - perguntou.
- Você não indo embora já está bom.
- Acho que se eu disser que vou embora mais vezes acabo conseguindo uma declaração.
- Talvez até mais que isso. - lhe dou uma piscada e vou até o banheiro. Eu necessitava de um banho, extremamente gelado, por sinal.
A caminho do jantar eu estava meio enjoada, alias não havia comido nada o dia inteiro. O movimento do carro me dava náuseas e eu rezei para que Alex não decidisse conversar, pois na certa eu não resistiria. Mas aquela boquinha rosada não conseguiu ficar quieta. Eu respondia de forma monossilábica e tentava o máximo não demonstrar desinteresse.
- Está acontecendo alguma coisa? Ainda está brava? Olha que eu posso resolver te deixar sozinha. - ameaçou com um sorriso irônico.
Apenas esbocei um gemido. Aquilo aumentava cada vez mais.
- Tem certeza que está tudo bem? Você parece incomodada.
Engulo seco e respiro fundo. Tento me controlar o máximo.
- Desculpa! Eu estou um pouco enjoada. Estou sem comer. Uma mistura de queda de pressão e tontura. - digo tentando focar num único ponto, qualquer movimento mais brusco seria vital.
Alex parou o carro em frente a uma farmácia. O encarei entrando os seus motivos.
- Espere aqui, eu já volto. – ele sai do carro, antes que eu pudesse contestar.
A noite estava meio fresca, mas ainda sim o pouco vento que fazia era gostoso. O céu estava estrelado e a lua como sempre muito bela. Inclusive, acho que nunca vi lua mais bonita. A rua estava solitária, estranhei por não estar muito movimentada.
Alex apareceu com algumas sacolas e estendeu-me uma garrafinha de água.
- Tome um pouco. Comprei alguns biscoitos salgados se precisar pra melhorar a pressão.
Poderia dizer que o encaracolado era uma espécie de super protetor. Dizem que quem ama se preocupa, e se isso realmente fosse verdade eu acreditasse na benevolência do amor, diria que Alex me amava. Senti-me confortável por pensar assim.
- Obrigada. Não precisava se preocupar. - praticamente sussurro.
Ficamos quietos o caminho todo, o que me deu um tempo pra controlar todas as minhas emoções e causar uma boa impressão no jantar de hoje.
Finalmente chegamos a casa de Alex. Lucky veio correndo em minha direção praticamente pulando em meu colo.
- Lucky, deixa Liza em paz. - mandou Alex num toma calmo, mas firme.
- Imagina, pode deixar. Eu adoro esse meninão, não é mesmo Lucky? - de fato acho que eu adorava mais o huscky do que o próprio Alex, ou não.
- Acho que é recíproco.
Lucky apenas latiu e abanou o rabinho a espera de mais um carinho.
Não havia muitas pessoas, eram só os mais íntimos, que uma ou duas vezes no ano faziam uma comemoração. Jhony veio me cumprimentar, em seguida Sarah.
- É um prazer tê-la aqui. Sei que já veio aqui algumas vezes, mas comigo aqui é a primeira vez. Espero que venha mais vezes. Nós a adoramos e de certo modo, meu filho vai ficar menos apreensivo.
- Como assim? - pergunto olhando para Alex sem entender.
-Mãe! - Alex a repreendeu. - Por favor.
- Digamos que ele fala de você e me pedi alguns conselhos para conseguir roubar esse coraçãozinho. - explicou Sarah num cochicho.
Percebi, depois de muito tempo, que Alex e eu estávamos de mãos dadas. Ele me levou em todos os cantos para cumprimentar um por um. Mas uma pessoa, eu não conhecia. Não me lembrava que ele trabalhava na empresa e apertei a mão de Alex que me deu um sorriso.
- Liza, esse é meu irmão mais velho, Arthur. E essa é a esposa dele.
- Muito prazer. - digo dando-lhes um aperto de mão.
- Essa é a famosa Elizabeth? - quis saber Arthur.
Acredito que todo mundo dos Becker me conhecia. Isso estava ficando estranho e parecia que éramos um casal.
Alex consentiu um pouco envergonhado.
- Ele me fala muito bem de você. - disse Clarissa, a esposa de Artur.
- Ok, Liza vai acabar ficando constrangida.
- Eu ou você? - provoquei.
Ele apenas deu um sorriso irônico.
Arthur limpou a garganta.
- Alex. Posso falar com você um minuto? - Alex me olhou como se esperasse meu consentimento. Eu apenas acenei com a cabeça.
Os dois irmãos saíram me deixando com Clarissa. Ela parecia extremamente simpática, e de fato era. Pediu que eu me sentasse no sofá, ao seu lado e então começamos a conversar.
- Sabe, você é mais bonita do que Alex possa descrever.
- Imagina. - dou um sorriso um pouco tímido. - Ele fala muito de mim? - estava curiosa.
- Mais do que você possa imaginar. Escuta Liza, meu cunhado gosta muito de você, alias, ele está apaixonado. É impressionante. Seus olhos brilham quando toca no seu nome. Nunca o vi assim.
- Vocês se falam bastante mesmo morando em outra cidade? Legal essa relação entre vocês. - Eu havia pedido pra ela dizer isso, mas eu não precisava continuar aquele assunto.
- Somos amigos desde a infância. Nossos pais eram muito amigos. Se conheceram na faculdade até que casaram, tiveram filhos, e bem, nos tornamos amigos.
- Então você e o Arthur...?
- Sim. - Clarissa me interrompeu. - Amor de infância. Sempre brincávamos juntos, mas como eu e Arthur éramos mais velhos que Alex, acabamos tendo uma sintonia maior. No começo achamos que era amor de irmão, mas depois quando adolescentes, não era nada disso. Engraçado que ainda parecemos como quando crianças. O mesmo amor sabe.
- Ual! – exclamo indiferente, levantando minhas sobrancelhas e balançando a cabeça.
- Eu sei. Alex me contou que você não acredita nessas coisas. - A cunhada do encaracolado percebeu minha indiferença.
- Desculpa. Não quis ser indelicada.
- Tudo bem. Só não entendo o porquê. Nunca se apaixonou? - Sua pergunta foi meio que um choque.
- Já. - suspiro - Várias vezes. Nenhuma delas com um final feliz.
- Liza, nem todas as histórias de amor são iguais.
- Talvez eu seja uma exceção. - conclui.
- Ou talvez você ainda não tinha encontrado o Alex. - disse sorrindo.
Nesse instante, eu senti certo desconforto por Alex não ter voltado. Não que eu precisasse dele, mas certamente ele viria até mim depois de algum tempo. Aquela conversa estava demorando e uma preocupação apertou meu coração. Corri meus olhos pela casa e vi com dificuldade Alex e Arthur conversando seriamente. Aquela cena me desligou da voz de Clarissa, quando a mesma estralou os dedos em minha direção.
- Desculpa.
- O jeito como você o olha. Impossível que não sinta nada por ele.
- Eu sinto. Mas... - tento disfarçar o máximo minha voz embargada.
Clarissa segura minhas mãos.
- Alex é um menino de ouro. Ele jamais a magoaria posso te garantir. Eu adoraria tê-la como cunhada. E se você diz que sente alguma coisa, está na hora de mostrar isso a ele, nesse momento, principalmente. - disse se virando em direção aos dois irmãos.
A única coisa que eu vi foi um Alex com raiva subindo as escadas. Eu sabia que havia algo errado. Minhas mãos suaram e num sem perceber apertei as mão de Clarissa. Arthur veio em nossa direção, e deu gole em sua bebida.
- Liza. Acho melhor você ir falar com ele.
Era o mínimo a ser feito. Alex precisava de mim, e eu precisava compensa-lo por hoje cedo. Subi as escadas mesmo sem saber onde procurá-lo. Escutei um barulho vindo de um quarto e cogitei a possibilidade dele estar ali.
A porta estava fechada. Bati, mas não obtive resposta. Tentei abri-la e agradeci por estar aberta. Ou não.
Havia uns CDs e uns bonecos jogados, bem como porta retratos. A cena era de um Alex com o rosto ardente, e com a sua constante mania de passar as mãos nos cabelos o segurando sobre a cabeça.
- Vai embora Liza. Sai daqui, é melhor. - ordenou tentando controlar sua respiração, logo quando me viu.
Fechei a porta atrás de mim.
- Não vou. E não adianta nem pedir ou ordenar.
- Liza, eu estou de cabeça quente. Não me responsabilizo se eu for um idiota com você.
- Eu fui idiota com você hoje.
- Quero ficar sozinho.
Ignorando seu pedido, pulei aquele monte de objeto espalhado pelo quarto e sentei-me na cama. Provavelmente aquele era o quarto de Alex. Era enorme. Uma cama de casal, e a frente uma televisão. Uma mesa de vidro com alguns porta-retratos e um note book. Seu guarda-roupa formava uma espécie de "L". Em cada lado da cama tinha um criado-mudo de madeira, e alguns enfeites que eu desconhecia o que era.
Ele percebendo minha atitude tentou controlar a sua raiva e sentou do meu lado com a cabeça apoiada sobre as mãos. Sim, Alex estava chorando. Repousei uma mão em suas costas e a outras em seu braço a fim de chamar a sua atenção e o puxá-lo para o meu colo. Aqueles cachinhos dourado hesitou por um momento e deitou a sua cabeça sobre meu peito, de forma que eu pudesse abraça-lo.
- Não pergunta nada. Não agora. Só fica aqui. - pediu.
- Está tudo bem. Eu não vou. Quando quiser desabafar, sinta-se a vontade.
Ficamos alguns minutos ali sem dizermos uma única palavra sequer. Alex foi contendo o choro aos poucos, quando se levantou.
- Pode descer. Eu já estou bem. Vou só arrumar essa bagunça e eu desço em seguida. - disse secando seus olhos.
- Eu te ajudo a arrumar. Faço questão.
Aqueles olhos verdes tentou recusar, mas eu o interrompi. Comecei juntando alguns CD's e os posicionando em cima de sua cama para que Alex os guardasse em seu devido lugar. Enquanto isso, ele arruma suas fotos em cima da mesinha de vidro. Estava quase tudo arrumado, faltavam apenas aqueles bonequinhos, os quais me chamaram a atenção.
Alex pegou um por um os encarando com certa dificuldade e pensei que o motivo de seu estresse tivesse relacionado com aqueles bonecos. Eram super-heróis. Provavelmente uma coleção de quando era criança, mas me livrei dessa ideia quando notei que só havia sete.
Quando o ultimo foi colocado em sua estante, eu não me contive.
- Seria algum tipo de paixão, ou uma coleção não completada? - pergunto. Uma de suas sobrancelhas se levantou, provavelmente ele não sabia do que eu estava falando.
- Esses bonecos de super-heróis. - aponto para os mesmos.
Um nó formou-se em sua garganta e seu cenho estava franzido.
- Disse algo errado? - ele parecia incomodado.
-Meu pai me dava de presente. Um por ano, em cada aniversário. Ele dizia que dentro de cada ser humano existia um super-herói. Não precisava saber voar, nem usar uma capa, ou um uniforme. Não precisava mudar o mundo. Batava simplesmente fazer a sua parte. Ajudar quem precisasse de sua ajuda. Uma criança que adorava desenhos e se inspirava em seus heróis favoritos ficava encantada por saber que poderia ser importante pra alguém. - sua voz estava trêmula e sua pupila estava embaçada pelas lágrimas que se formaram.
- Por que só sete?
- Porque foi o último aniversário que ele passou comigo. - as palavras saíram com dificuldade. Ele estava chorando novamente.
Vou em sua direção e o abraço. Meus braços o envolvia com toda a minha força.
- Ei. Está tudo bem. Desculpa por tocar nesse assunto.
- Eu via meu pai como um super-herói. Eu o idolatrava e ele jogou tudo isso fora. - falou se afastando - E agora... - deu uma pausa, pois outro nó se formara sem sua garganta. - Está internado. Ele teve um AVC.
Alex odiava o pai que nessa hora tanto precisava de seu perdão. Fiquei sem saber o que dizer.
- E o que você vai fazer? - soltei a primeira coisa que me veio em mente.
- Nada. - totalmente indiferente, ele disse tentando conter o choro.
- Nada? - questiono incrédula. Ele é o seu pai Alex. Como não vai fazer nada?
- Não posso. Não consigo.
- Eu sei que você tem raiva pelo que ele fez com sua mãe. Mas ele ainda é seu pai. E por mais que você negue, você ainda o ama, você ainda se importa.
- Claro que não. Eu o quero longe. Distante. - deu um soco na parede com raiva.
- Serio? Esse choro todo é por que? Raiva acumulada, ou amor reprimido?
- Não é você que não acredita no amor? - atacou.
- Tem razão. Não acredito. Mas você sim. Seu pai tentou várias vezes uma aproximação com você. Sabe o que não é ter o amor de um pai ou de uma mãe? Eu daria tudo pra que minha mãe pudesse gostar de mim, mas ela não me ama. Isso dói. Machuca. Quanta gente no mundo não daria uma vida pra ter seus pais de volta. E você tem os dois. E os dois te amam. Você tem o amor do seu pai e da sua mãe. Falando em mãe, olhe pra ela. A grande mulher a qual ela se tornou. Independente. Ela sofreu? Sofreu, e disso eu não tenho dúvida. Mas ela soube seguir em frente. Imagina a dor de seu pai com desprezo do filho. Alex se você não o amasse estaria rindo pelo fato dele estar mal, mas olhe para o seu estado. A possibilidade de não ter seu pai o machuca, mesmo você não admitindo. - Ele apenas chorava. Chorava feito uma criança. Era nítido seu desespero e medo mesmo tentando esconder por trás de toda aquela marra. – Alex. - aproximo-me. - Se seu pai tiver que partir, alivie o seu coração e o coração dele. Mas talvez se você der um motivo ele possa encontrar mais ânimo pra viver.
- Ele tem mais dois filhos. Pra que precisa de mim?
- Pois ele poderia ter mil. Se tivesse que dar a vida por apenas um deles, ele daria, sem pensar duas vezes. Nunca subestime o amor de um pai.
- Eu não consigo vê-lo Liza. Não tenho coragem de encará-lo. Nem de conhecer sua outra família. Não posso fazer isso sozinho.
- Eu vou com você. Te levo até ele.
Surpresa definia sua expressão. Mas eu queria ajudá-lo. Incomodava o jeito como ele estava.
- Preciso pensar.
- Tudo bem. Só não pense demais.
Alex se aninhou em meu colo novamente.
- Obrigada por estar aqui. - sussurrou.
Lentamente ele se afastou, e pegou em minhas mãos.
- Vem. Quero te mostrar uma coisa.
Não tinha reparado que por trás daquelas cortinas existia uma sacada. De lá eu pude ver a lua. A lua cheia sempre resolvia estar conosco nas melhores situações. Ela parecia tão próxima e não havia como não ficar encantada. Seu brilho era intenso e uma paz tomou conta do meu coração.
-Eu adoro a lua. Adoro contempla-la em todas as suas fases.
- Ela é realmente linda. Não tem como não se apaixonar por ela.
- Não é somente por isso. - Alex diz levando seu olhar até mim. - Ela me lembra muito você. Eu já disse uma vez que vocês são muito parecidas. Ilumina o dia quando está presente, é cheia de fases, ambas se escondem do amor. Além do mais, a Lua esconde um grande desejo meu que talvez demore um pouco pra acontecer, ou... - ele dá uma pausa e olha para o nada. - Não aconteça. Mas enquanto você estiver aqui, eu terei eu sempre terei uma chance.
Quando o filho de Sarah resolvia dizer coisas tão doces e bonitas as minhas pernas desmontavam. Minha sanidade ia embora e todos os meus sentidos eram corrompidos, meus princípios eram duvidosos. A vontade de beijá-lo era única, porém eu sempre dava preferência a minha razão. Sem que pudesse dizer nada, ou tomar qualquer atitude, Alex depositou um beijo totalmente casto em meus lábios. Meus sentimentos se tornaram diferentes de todas as outras vezes. Era como se eu pertencesse àquele lugar - seu abraço, ao mesmo tempo em que a ansiedade e o medo insistiam em aparecer.
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