Capítulo 14
Quando finalmente você descobre da onde vem, quais os motivos, e as âncoras de seus problemas, fica muito mais fácil de você conseguir resolver a situação, ou não. Talvez seja mais complicado e totalmente descontrolado. Desesperador, quem sabe, seja a palavra certa.
Era como eu me sentia pelo menos. Jogar um balde de água fria em alguém não é nada legal quando é você quem recebe. Descobrir que o inimigo mora dentro de você é aterrorizante. É como tentar fugir de algo que existe dentro de sua essência, é como se mesmo após a vacina, o vírus conseguisse se manifestar. E o que fazer? Sinto-me uma completa ignorante no meio de toda essa história, de toda essa complicação.
Alex tinha razão. Eu não queria que ele parasse de gostar de mim, nem que ele fosse embora. Pelo contrário, eu queria que ele ficasse, que ele continuasse a gostar de mim, eu apenas não queria querer. Eu apenas não queria sentir.
O loiro de olhos claros me fez uma proposta pouco antes de me colocar para dormir. Poderíamos tentar um relacionamento. Ele tentaria me conquistar. Seria mais fácil para ambos. Porém, até quando seria mais fácil? Se despedir não seria fácil. Então talvez eu devesse ficar. Ou ele ir junto. Mas é o meu sonho, não o dele. Não posso fazê-lo abrir mão de tudo e de todos por algo que sou eu quem quer.
Não dei uma resposta de imediato. Era um tempo que eu precisava para pensar. Aliás, pensar era uma das coisas, as quais eu mais estava fazendo desde o começo do ano. Alex não insistiu, mas ficou ansioso. Chegava a ser patético, mas engraçado e um tanto fofo.
Depois que nos beijamos ele me deu um abraço e um beijo na testa dizendo que eu era muito especial a ele. Nitidamente eu estava exausta, então ele percebendo se deitou ao meu lado e mexeu no meu cabelo até que eu dormisse. Seria o genro perfeito tanto para minha mãe quanto para meu pai, e com toda certeza o namorado, o marido e o amante sensacional. Coisas relevantes, as quais eu deveria pensar. Mas de um lado a minha cabeça martelava, todas as minhas promessas, os meus juramentos cairiam por terra.
Último dia no acampamento e mais uma dúvida me invadia a cabeça: "Acordar, ou não acordar, eis a questão". Dormir não é bom quando pesadelos invadem a sua mente. Por três vezes eu acordei suando frio, e o fato é que eu não me lembro de nenhum sonho, só que eu chorava muito, e sentia um grande aperto no peito. Provavelmente se eu fosse a louca dos sonhos eu iria procurar um psiquiatra ou optaria por um processo mais barato: Google - qual o significado dos meus pesadelos? Mas eu não. Essas coias não eram pra mim. Acordar também não estava sendo. Ter que lidar com as minhas amigas e com Jhony depois de tudo o que eu aprontei, estava sendo torturante.
Levantei-me meio que num impulso. As meninas ainda estavam dormindo e agradeci internamente por isso e por não estar novamente com dor de cabeça.
Peguei o celular e olhei as horas. De novo tinha acordado mais cedo do que deveria. Resolvi tentar voltar a dormir até que pelo menos alguma alma pudesse abrir os olhos. Em vão. O teto me pareceu mais atraente. Até que me peguei sorrindo. E por que é que eu estava sorrindo? Com certeza não era um bom sinal.
Esfreguei o rosto na tentativa desviar meus pensamentos, e por alguns segundos deu certo, mas logo meus devaneios voltaram. Acho que na verdade, eu queria era o Alex dormindo ao meu lado e quando eu lembrava dele só de cueca com seu corpo brilhando pelo toque da lua, um arrepio dominava minha pele, e meus instintos. Ele sabia tirar meu fôlego e a minha sanidade. Esfreguei meu rosto mais uma vez na tentativa de não pensar mais em Alex.
Kate suspirava ao meu lado. Começou a coçar os olhos e a bocejar. Pensei que iria acordar, mas somente colocou uma mecha dos seus cabelos negros que caíram sobre seu rosto atrás da orelha, e voltou a dormir.
Continuava o teto e eu numa conexão de imagens nem um pouco castas. Decide me levantar e procurar o encaracolado. Dei a volta atrás da casa e olhei pela janela pra ver se Alex estava em seu quarto. Hesitei por um instante, aquilo era invasão de privacidade, eu poderia ver cenas desagradáveis, ou não tão desagradáveis assim, mas de certo modo, constrangedor. Porém estava de manhã, muita gente dormindo, as chances de alguém estar em trajes inapropriados era mais difíceis. Alex não estava, e só havia um lugar em que ele estaria naquele momento. O riacho.
Aproximei-me lentamente para o que Alex não percebesse minha presença. Cheguei tão próximo e tomei uma atitude nem um pouco madura e totalmente clichê. Coloquei as duas mãos tapando os seus olhos. Dei um sorriso irônico por estar fazendo isso.
- Advinha quem é, cachinhos dourados?
Percebi que ele sorria.
- Eu só posso estar sonhando. A Liza que eu conheço jamais faria isso.
Tirei a mão dos seus olhos e a levei em direção a minha cintura.
- É tão óbvio assim que sou eu? - finjo estar brava.
Ele se vira rindo.
- Pra falar a verdade, se eu não conhecesse sua voz, nunca diria que era você.
- Não sou tão ogra assim.
- Imagina, a Fiona era uma princesa.
- Muito engraçado, - dou um soco de leve em seus ombros e acabo rindo também.
- O que faz aqui? - ele pergunta.
- Digamos que eu não consegui dormir bem essa noite e acabei acordando cedo demais. - respondo.
- Eu perguntei o que está fazendo no riacho. Não porque está acordada. - ele tinha um sarcasmo nítido no olhar. Dou um sorriso.
- Tá legal, digamos que eu estava procurando por certa pessoa, e pensei que ela poderia estar aqui. E...
- Você acabou de achá-la, certo? - confere Alex.
Ergo uma sobrancelha e respiro fundo. Não conseguia olhar em seus olhos, pois provavelmente o agarraria.
- É, talvez.
Alex se aproxima.
- Por que não olha pra mim?
- Eu estou olhando. - qualquer pessoa que enxergasse por menos que fosse saberia que eu não estava olhando para Alex.
- Liza? Por favor. Está constrangida pela proposta que eu te fiz?
- Um pouco. - digo, ainda seu o ver.
Ele morde o lábio.
- Não vou te pressionar. Vou entender a sua resposta.
- Eu só tenho medo de não conseguir e te machucar. - engulo seco.
- Liza, eu tenho vinte e seis ano. Se eu perder nessa história, vai doer, mas dizem que o tempo cura tudo não é mesmo.
- Mesmo assim. Eu sou uma pessoa muito fria, Alex. Posso não ser muito gentil, carinhosa, fofa, ou coisa do tipo. E se eu tiver que... - Eu não conseguia falar, mas era preciso ser clara e dizer no que ele estava se metendo. - Se eu tiver que ir, se der errado, eu não vou ter rodeios em te deixar. - avisei com os olhos pesados e ainda sem olhá-lo.
- Na vida a gente deve se arriscar. Mesmo que a condição seja pular de um penhasco.
Respirei fundo.
- Tá, eu prometo que vou pensar.
Alex me dá um beijo.
- Pensa com carinho tá. - diz enquanto me dá outro. - Lembre-se que eu sou irresistível e persistente.
Avisou entre beijos.
Minhas pernas já haviam sumido. Envolvo meus braços em seu pescoço e o beijo. Dessa vez eu nem tentei resistir. Pelo contrário, eu estava com vontade, e ceder aos meus instintos a essa altura me pareceu mais válida.
- Viu? Eu disse que sou irresistível.
- Esqueceu de falar convencido. – lembrei.
- Eu só disse a verdade. - falou me dando um selinho.
- É importante avisar que talvez eu demore um pouco pra ter dar uma resposta. É muito tempo tentando fugir disso, é um logo histórico de decepções e eu não sei se estou preparada pra me arriscar. Eu ainda tenho certo receio e dar uma resposta assim, sem pensar bem, o arrependimento pode ser maior. Desculpa.
Ele passa a mão no seu cabelo.
- Tudo bem. Sem pressa. - ele consente.
- Beleza, agora, por favor, podemos ir tomar café. Minha boca está implorando. - peço juntando as mãos.
- Achei que ela estava implorando por beijo.
Reviro os olhos.
- É a minha ou é a sua?
- Tá legal, você me pegou. - confessou Alex.
Vou andando em direção ao casarão, mas Alex me puxa, dando mais um selinho.
- Pronto, agora podemos ir.
Eu apenas dou um sorriso e continuo a andar.
O refeitório já estava praticamente cheio. Kate, Back e Sam já haviam acordado, bem como os amigos do encaracolado. Fiquei parada na entrada tomando coragem para encará-los, mas eu não podia continuar ali. Entrei e fui me sentando no lugar que havia sobrado ao lado de Sam, Alex se sentou perto de Jhony. Dei um bom dia e ao contrário do que eu pensei não fui recebida com pedradas.
- Bom dia Liza, está melhor? - perguntou Jhony.
- Sim, estou, me desculpe, por ontem. - pedi.
- Tudo bem. Todos passamos por um dia ruim de vez em quando. - ele sorriu.
- Tive vontade de dar na sua cara. Por sua culpa eu fiquei feia na festa e ninguém me quis. - brigou Back.
- São todos uns idiotas por terem te ignorado. Me desculpa, por ontem. Prometo fazer o cabelo e a maquiagem de todas vocês hoje. - digo fazendo bico.
- Vamos pensar no seu caso. - Sam finge estar brava.
- Bem, eu não tenho do reclamar, Mat disse que eu estava linda. – suspirou Kate e eu e as meninas reviramos os olhos.
- Liza, também quero que você me arrume hoje. - brincou Carter.
- Claro com toda certeza, vou te deixar linda.
- Ai eu também quero. - Daniel também entrou na brincadeira.
- Claro, será um verdadeiro salão de beleza. E que tal se alisarmos o cabelo do Alex? - propus.
Todos riram, inclusive ele.
- Oh não, ia ficar horrível. - recusa Alex.
- Acho que ficaria sensacional. - olho pra ele com uma olhar malicioso. Ele retribui e dá um sorriso de lado. Ameaça beber o seu café, mas é interrompido por um ataque de riso.
- Assim não vale Elizabeth.
- Liza, com essa cara, Alex faz até as unhas. - Daniel se pronunciou.
- Até parece. Eu vou é cobrar depois. - maliciou Alex. Todos se pronunciaram fazendo graça pelo comentário do Alex.
- Só vou avisando que estamos num lugar cheio de gente, onde a privacidade é praticamente zero. Mas por outro lado, temos o riacho que a noite está vazio. - recomendou Daniel.
Dou uma engasgada e Alex ri.
- Está atrasado Daniel. - comenta o loiro de olhos verdes. Encolho-me na cadeira e com toda certeza minhas bochechas estavam vermelhas.
- Relaxa Liza, nós sabemos que não aconteceu nada demais. - Alex percebe meu nervosismo. Dou uma pigarreada, e tento me recompor.
- Podemos mudar de assunto? - Dou um sorriso irônico.
- Liza, sabia que temos mais um casal no grupo? - Pergunta Carter.
- Me deixa adivinhar? Jhony e Sam?
- Exatamente. - confirma Daniel. Foi a vez de Sam ficar vermelha, o que não era muito difícil pela sua pele extremamente branca.
-Podemos voltar a falar de Liza e Alex - pediu Sam.
- Não. Agora o assunto será Sam e Jhony. - nego.
- Tá legal, diferente de vocês, eu assumo que estamos numa espécie de romance. - confessa Jhony.
- Romance? Já está assim então? - Daniel provoca.
- Calma. Também não é assim. Só ficamos algumas vezes. - explicou Sam. Jhony fez cara de decepcionado.
- Caramba, já até estava pensando na aliança de compromisso.
- Tem que comer muito arroz e feijão ainda, Jhony. - avisou Kate.
- Mais tarde a gente conversa. - ameaça dando uma piscadela a Sam - Porque agora eu tenho um convite pra fazer a vocês.
- Ui! Um convite, fala logo. - implorou Kate.
- Convido a vocês pra no final do ano, irmos a minha casa em Balneário Comburiu, com direito a muita festa e animação.
- Sério? Super topamos. - respondi pelas meninas.
- Mas como vai ser? - quis saber Back.
- Bem, nós vamos no ano novo. Ainda tem bastante tempo, mas é bom ir começar a ir atrás das coisas, porque época de temporada vocês já sabem. Ficaremos sete dias. Topam?
- Com toda certeza. - confirmo.
- Se Liza for, nem preciso dizer que Alex também vai. - Carter respondeu por Alex que apenas concordou com a cabeça.
- Vocês vão de casal em balneário. - Back revirou os olhos.
- Eu não vou de casal, ainda estou solteira - falo.
- Ainda? - Alex se animou.
- Modo de dizer. - dou um meio sorriso e Alex levantou uma sobrancelha.
- Posso chamar o Mat, Jhony? Por favor. - Kate juntou as duas mãos e implorou
- Pode Kate, ele parece ser legal.
Às duas da tarde teríamos arvorismo e tirolesa. Adorava a sensação de estar em ambos. Era como sentir a liberdade sem que nada te prendesse. Engraçado que há alguns anos atrás essa empolgação toda era domada pelo medo. Altura era algo apavorante, menos que aranha, mas continuava sendo horrível a sensação. Porém, essa fobia eu superei quando Bill segurou minha mão aquele dia na montanha russa. Eu deveria ter pegado um trauma maior, mas não. Vi como uma superação. Em me auto-afirmar dizendo "Ei seu imbecil! Eu consigo, não preciso da sua ajuda". Uma pena que a minha superação deu lugar a minha maior fobia: o amor. Pensar na possibilidade de Alex fugir, desaparecer e eu nunca mais vê-lo, não era nem de longe agradável. Um arrepio tomou conta de mim e percebi quer minhas mãos estavam suando. Alex teria que ter imensa paciência e eu tentaria fazê-lo mudar de ideia, sempre que possível. Mas o encaracolado era persistente. Ele prometeu que seria assim, e eu prometi que pensaria na possibilidade de tentar. Como eu queria Vovó aqui, ela saberia me dizer o que fazer.
Estranhei o fato de não ter mais visto Peter em lugar algum desde ontem. Fiquei preocupada pensando se o motivo de seu sumiço tivesse algo a ver com o fato dele estar com ciúmes de mim e Alex. Por um breve instante, achei que seria desnecessário todo esse drama, mas por outro lado, eu não sabia o que se passava na cabeça dele, e nem em seu coração. Afinal, era tão pouco tempo juntos que criar um sentimento tão forte assim a ponto dele não querer mais sair, seria exagero demais. Pra mim qualquer espécie de amor é algo passageiro, e provavelmente se Peter sentisse alguma coisa por mim, seria apenas uma paixonite, ou uma espécie de encantamento. Coisas efêmeras e de fácil superação. Tolice. Ninguém mais do que eu sabe que tudo que envolve coração machuca. Mas é algo o qual todos estão sujeitos a passar e aprender a superar faz parte do plano.
Só por curiosidade, resolvi averiguar. Talvez eu estivesse me importando mais do que eu deveria. Sei lá, Peter era uma boa pessoa e poderia ser um bom amigo, por que não? Esperei um tempo em que todos estivessem distraídos e encontrei Mat sentado no banco em frente o casarão conversando com alguns colegas.
- Mat, posso falar com você um instante? - perguntei.
Ele assentiu e fomos até a passarela.
- Faz um tempinho que a gente não se fala. - ele observou.
- Pois é. - dou um meio sorriso. - E você e a Kate? Como estão? - quis dar uma enrolada antes de entrar no assunto principal.
- Está tudo bem. Estou gostando bastante dela. To pensando em pedi-la em namoro, o que você acha?
- Acho ótimo, Kate vai aceitar com toda certeza.
- Certo, mas acho que você não veio perguntar só da minha relação com Kate. - Mat era esperto demais.
Respiro fundo
- Na verdade não. Quero saber sobre Peter. Ele anda meio sumido, aconteceu alguma coisa?
- Ele foi embora. - comunicou coçando a nuca.
Franzo o cenho:
- Como assim ele foi embora? - eu realmente não estava acreditando.
- Bem Liza, Peter tinha um plano de tentar te conquistar no acampamento, mas parece que Alex chegou primeiro.
- Meu Deus. Mas por que ele não ficou pra curtir? Sei lá. Tem tantas garotas por aí. Não é possível que em tão pouco tempo ele... - parei por não saber o que realmente se passava.
- Liza, ele ficou encantado com você. Disse que você era diferente de outras garotas, era determinada, ia atrás do que queria, e não era aquelas meninas fáceis e muito menos tolas, as quais acreditam em tudo que uma homem fala. Ele se apaixonou por você.
Mordo o lábio inferior.
- Eu sinto muito que tenha sido desse jeito. Alex e eu na verdade não temos nada. Mas ficamos muito próximos, é natural a nossa afinidade. Gostaria que Peter visse nossa relação apenas na amizade, mas eu torço pra ele encontrar uma garota especial.
- Acho meio difícil Liza. Peter era o cara mais galinha que eu conhecia. E depois daquela festa ele não parou de falar de você um segundo. - avisa Mat. - E outra, eu vejo a sintonia existente entre você e Alex. Vocês tem uma conexão que transborda.
- Como assim? - levanto uma sobrancelha.
Mat dá um sorriso.
- Desde o primeiro dia que vocês se viram, não desgrudaram o olhar um do outro por nenhum segundo, apesar de se estranharem num primeiro momento. Quando vocês sem querer se esbarravam pelo corredor, não agiam naturalmente, ficavam sem graças na presença um do outro. Acho que brigavam para fugir de seus próprios sentimentos. O destino fez questão de te mostrar o Alex, Liza.
Chocada definia meu estado. Ninguém nunca havia me dito essas coisas e naquela hora eu tive a certeza que Kate deveria casar com ele. Fiquei um tempo encarando Mat sem saber o que dizer. Ele tinha razão? Eu mesma já havia questionado essa possibilidade inúmeras vezes, e em nenhuma delas eu obtive um resposta concreta, a não ser negar todos os sinais que a vida me dava.
- Desculpa Mat, mas eu não acredito nessas coisas de destino, felizes para sempre, nada desse tipo.
- É uma pena. - lamentou Mat. - Peter é meu amigo, mas você e Alex é um casal perfeito. Não tanto quanto Kate e eu. - Mat de um sorriso.
- Alex é perfeito, eu não. Pelo contrário, sou uma pessoa cheia de defeitos, Alex merece alguém melhor do que eu.
- Liza, Liza. Você tem muito que aprender. Nós não procuramos alguém cheio de defeitos, nem procuramos alguém perfeito. Não procuramos alguém inferior, muito menos superior. A gente procura por alguém que põe brilho a nossa rotina. Alguém que nos completa, que arranca o melhor de nós. - Era engraçado ver um homem falando do amor. Pra mim essas ideias faziam parte do gene feminino, e sexo era o DNA dos homens. Mas era fofo por parte de Mat, se preocupar comigo.
Dei um riso um tanto contido.
- O que foi? - Mateus havia percebido meu estado.
- Você é meu total oposto. É engraçado.
- Escuta, você é amiga da Kate. Ele fala muito de bem de você e todas as amigas dela. Mas em você, é especial. Ela me contou que sua forma de demonstrar afeto não é de uma forma muito explicita pelas coisas que você já viveu. De certa forma, ela enxerga em você um coração muito maior que a própria Liza não consegue ver, e Alex provavelmente o enxergou também. Se eu puder te ajudar em alguma coisa, fique a vontade para me procurar. - se dispôs Mat repousando sua mão em meus ombros.
- Obrigada Mat. Você é um bom amigo e dará um ótimo cunhado. - agradeci de forma mais carinhosa possível.
Mat saiu me deixando sozinha com a minha mente. Um nó se alastrou em minha garganta. Era tão estranho as pessoas serem gentis comigo, porque eu sempre me via como uma ogra sem sentimento, que não fosse capaz de amar. Era bizarro as pessoas falando do amor como se fosse a coisa mais linda do mundo. O jeito como elas agiam ou se comportavam era perda de tempo.
As horas haviam passado na velocidade da luz. O almoço foi tranquilo, apesar de rolar algumas indiretas um tanto constrangedoras. Alex vinha com força total, e não estava disposto a desistir tão cedo. Como eu queria, mas só Deus sabe como eu queria dizer sim a ele, mas meu medo ainda era maior que meu desejo.
Ansiedade definia meu estado ao querer, impacientemente, sentir a sensação de estar voando mesmo que por alguns míseros segundos, e sem estar totalmente livre. A sensação era maravilhosa e o sentimento de liberdade e superação era ainda mais excitante.
Estávamos em fila indiana, colocando os equipamentos e os revezando já que não tinha para todo mundo. Primeiro passaríamos pelo arvorismo e de lá para tirolesa caindo no riacho.
Lances invadiram a minha mente me recordando do louro de olhos claros segurando naquele cipó só de cueca e de como eu o desejei aquele dia. Um sorriso impensado brotou em meus lábios e em seguida o mordi só pensar em como seria.
- Estava pensando em mim Liza? - Alex me traz pra realidade. "Droga, eu deveria tentar ser mais discreta".
- Han? O que? - estava constrangida. - Eu estava pensando que daqui a pouco é a minha vez. - menti.
- Sei. - ele pareceu não acreditar. - Se você estiver com medo, eu vou com você e seguro a sua mão, e eu prometo na soltá-la. Nunca.
Os olhos verdes estavam indecifráveis. Mas sua expressão era séria. As borboletas esquiavam em meu estômago e meu coração sambava sem pedir permissão.
Dei uma pigarreada tentando disfarçar, sem nenhum sucesso.
- Não precisa. Está tudo bem. - dou um sorriso tímido.
- Achei que tivesse medo de altura? - Alex tinha uma sobrancelha erguida.
- Tinha. Digamos que eu o tenha superado. – expliquei.
- É uma pena. - fez cara de magoado.
-Desculpa. - pedi.
Alex pegou minha mão olhando fixamente no fundo dos meus olhos:
- Terei muito tempo ainda para segurar as suas mãos. Ele se aproximou e foi em direção aos meus ouvidos:
- E outras partes do seu corpo. - Cochichou.
Sua voz fraca me fez arrepiar e eu por um instinto me afastei. Eu podia sentir meus ossos arrepiados. Ele se afastou e apenas riu da situação.
- Isso, é covardia. - disse dando um leve soco em seu braço.
Ele apenas ria, e seu globo ocular transbordava malícia.
Alex estava a minha frente, de modo que ele fosse primeiro. Eu observava cada passo e atitude que ele fazia. Era como um imã.
Enquanto ele atravessava a ponte, de lá de cima ele me olhou me mandando um beijo que me deixou completamente sem graça.
- Esse aí está apaixonado. - concluiu Kate, lançando seu braço ao meu pescoço. Eu não parava de fitá-lo.
Na descida ele gritava, e quando estava prestes a cair na água, ele gritou o inesperado:
- Liza! Eu te amo!
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