Capítulo 13
Está para ser inventada coisa pior que ressaca. Tanto a moral quanto a após bebedeira.
Acordei com a cabeça latejando e enjoada, como já era de se esperar. Levantei correndo e fui em direção ao banheiro. Com toda certeza eu iria ficar o dia inteiro no quarto. Nunca gostei de vomitar, as pessoas sempre dizem que dá uma sensação de alívio, mas pra mim, sempre foi repulsivo.
Como ainda era cedo, ninguém estava acordado. Volto para o quarto, pego minha escova de dente, e começo a tirar todo aquele gosto horrível. Olho no espelho e percebo que estou com a camisa de Alex. Recordações invadem a minha mente. Dou um tapa na testa"Fiz merda".
Ainda meio tonta e com a cabeça doendo, resolvo tomar um banho quente. Toda aquela água de um lado me relaxava, mas de outro, dava espaço para que minha consciência viesse à tona.
Eu fiquei três anos, focada apenas em me divertir e estudar. Relacionamentos para mim eram apenas casuais. Sempre estive certa a respeito do que eu queria e agora tudo parecia tão confuso e tão duvidoso. Sempre foi tão fácil dizer não e fugir, e de uns tempos pra cá, parecia que eu queria ficar. Parecia que eu precisava ficar.
Uma parte de mim estava certa de morar na Alemanha e passar a minha vida só construindo uma carreira. Ser independente seria a minha identidade. Eu não teria que dar satisfações da minha vida a ninguém, nem ter que lidar com crises de ciúmes, ou temer ser traída. Pelo contrário, liberdade seria minha casa. Porém, tinha meu coração dizendo pra eu não ir embora, pois já estava no meu devido lugar. E com a presença de Alex, era como se ele gritasse implorando pra dar uma chance.
Como eu gostaria de sumir por um tempo, ou que uma mágica pudesse me fazer esquecer o loiro de olhos claros e cabelos encaracolados. Como eu gostaria de não tê-lo conhecido. E por mais que eu tivesse certo trauma de tudo que envolvesse romance, com o Alex era diferente. Ele demonstrava verdade nos olhos e isso me doía ainda mais por ter que dizer adeus.
Desligo o chuveiro e começo a me trocar. Pego a camisa de Alex e a deixo dobrada em meu colchão escondida embaixo dos lençóis. Mais tarde eu devolveria. Passo até o refeitório e sinto o cheiro do café, peço um copo e saio em direção ao jardim. Resolvi voltar ao riacho e me sentar encostada em uma árvore.
Tudo era tão calmo, tão tranquilo que uma sensação de paz invadiu meu corpo. Vinham-me alguns lances da noite anterior e mais incertezas em minha mente. Eu respirei fundo e comecei a cantarolar, talvez, para não desabar. Bem que dizem que o barulho de água acalma, e de fato eu me sentia mais leve.
Se eu não estivesse com tanto sono, provavelmente eu ficaria lá por horas. Mas decidi me levantar e voltar a contemplar o meu lindo colchão.
- Pega um café pra ela. Duvido que ela demore a acordar - a voz de Kate soava longe.
- Tá, espera que eu vou lá. - foi a vez de Back.
Depois de algum tempo, sinto um cheiro muito bom e começo a acordar lentamente. Abro os olhos e encontro a figura de minha amigas, um tanto embaçadas por causa da vista sonolenta.
- Não falei. – convence-se Kate.
- O que vocês estão fazendo aqui? - pergunto com a voz meio rouca.
- Dormimos aqui. - lembrou-me Sam.
- Eu sei suas bobas. - digo coçando os olhos.
- Anda! Levanta! Seu café vai esfriar. – apressou-me Back.
Levanto um tanto preguiçosa ainda, e olho para elas com o cenho franzido:
- Sério isso? Vocês me dando café? Já sei! Ta envenenado? - desconfio.
- Mas é muito mal agradecida mesmo. - concluiu Kate. - A gente quer que você acorde logo e nos conte porque sumiu da festa.
Dou de ombros e não falo nada.
- Ah e o café, é para agradecer de ontem e hoje. - avisou Back.
- Hoje? – estranho.
- E de amanhã também.
- Você vai nos arrumar de novo. - Sam estava convicta.
- Só arrumo amiga interesseira, impressionante. – brinco.
- Mas agora conta, por que sumiu? - pergunta Back.
Dou um gole no meu café e não respondo.
- Ei Liza! Fala! - insistiu Sam.
- Eu estava com o Alex. – sussurro.
- O que? - grita Kate assustada. - Você sumiu com o Alex?
- Fala baixo Kate. - a repreendo.
- E o que vocês fizeram? - Sam tinha malícia nos olhos.
- Não fizemos nada. – minto. - Quer dizer... - dou uma pausa. - A gente se beijou.
Dou mais um gole no café.
- Ai meu Deus, eu sabia que vocês dois tinham alguma coisa. - Kate estava toda animada.
- Mas e aí você gostou? - questiona Back.
Reviro os olhos e faço que sim com a cabeça.
- E você está com essa cara por quê? - Sam coloca a mão na cintura.
- Porque não era pra ter acontecido.
- Qual o problema? Ele beija mal? - questiona Kate.
- Claro que não, senão ela não teria gostado. - Back mostrou o óbvio.
- E então é o que?
- Alex não quer só uma ficada. Ele quer algo mais, assim como Peter. – explico.
- Entendi, e você está em dúvida em qual dos dois você quer. - concluiu Sam.
Respiro fundo
- Não é nada disso, eu sei quem eu quero. - dou uma pausa. - Quer dizer, eu não quero nenhum dos dois.
- Liza, seja mais clara, por favor. - pediu Back.
- Digamos que Alex mexe comigo e Peter não. - afirmo.
- Quer dizer que você está apaixonada por Alex? - Sam deu um sorriso radiante.
- Claro que não. Eu... - procuro pelas palavras. - Nem sei mais o que é isso. E seja lá o que for eu não posso sentir, eu não quero. - digo em tom de desespero.
- Liza, qual é o problema de estar apaixonada? - indaga Back.
Engulo seco.
- Eu não quero. Me dá aflição só de pensar.
- Se for por causa do Bill, isso é passado, meu amor. - falou Kate pegando em minhas mãos.
- Eu sei. Mas eu não consigo. Eu tenho outros planos para mim, e Alex não está incluído neles. - disse firmemente. - O que aconteceu ontem foi um erro, e eu preciso dizer isso a ele. - meus olhos estavam marejados. - Só não sei ainda, como.
- Sabe que esse sofrimento todo pode ser poupado não sabe? - avisou Sam.
- Sei. Mas eu prefiro sofrer agora do que mais tarde e de forma pior. - eu estava quase chorando.
As meninas me dão um abraço em sinal de companheirismo e afeto. Elas não tocaram mais no assunto. Só que eu não conseguia mais pensar em outra coisa. Eu queria era ficar trancada o dia inteiro naquele quarto, e novamente fugir. Porém eu vim para o acampamento para me divertir, e não para chorar.
- Ok meninas, se me permitem, eu preciso resolver dois problemas. A gente se fala depois. – despeço-me saindo.
Vou até o quarto dos meninos e não o encontro. Resolvo ir até o refeitório. Nada também. Pra falar a verdade eu nem sabia direito o que eu estava procurando, ou melhor, quem eu estava procurando. Eu tinha que falar com Alex e Peter, mas qual dos dois eu queria encontrar primeiro ainda era um dilema.
Passo pela passarela pra ver se via algum deles e avisto Alex.
- Liza! - ouço duas vozes.
Atrás de mim está Peter. "Obrigada universo, os dois ao mesmo tempo facilitou demais".
Começo a olhar os dois que se encaram sem desgrudar os olhos um do outro. Aquilo era constrangedor e eu realmente estava perdida.
Os dois se aproximam de mim ainda com os olhos na mesma posição. Sem saber o que fazer eu os apresento.
- Então, Alex, esse é o Peter, Peter, esse é o Alex.
- Já nos conhecemos. - disse Alex.
- Verdade, no restaurante quando o ônibus fez a parada. - meu sorriso era o mais sem graça possível.
- Isso. - confirma Peter com uma sobrancelha arqueada. – Liza, eu precisava falar com você, mas posso deixar pra depois. - ele finalmente olha pra mim.
- Ah, claro. – concordo. - Depois eu te procuro. - dou um meio sorriso.
Peter dá uma última olhada em Alex e sai.
- Sério? Depois eu te procuro? - Alex parecia bravo.
- Ele quer falar comigo. Quero saber sobre o que se trata. - falo como se eu tivesse que dar uma satisfação.
- E você tem alguma dúvida sobre o que ele quer falar com você?
- Não me parece tão óbvio. Pode me explicar? - meu tom se igualou ao dele. Depois de tanto tempo estávamos brigando.
- Ele vai dar em cima de você. E você vai cair. - concluiu Alex. Franzo o cenho.
- Eu não acredito no que eu estou ouvindo. Alex por Deus, eu não te devo satisfação. E eu não sou uma criança que se deixa influenciar por qualquer papinho. E eu já te disse que Peter e eu somos apenas amigos. Assim como eu e vo... - travo porque não consigo terminar de dizer. Ele morde o lábio e parece irritado.
- Você já beijou o Peter. É uma amizade com benefícios?
- Como sabe?
- Eu vi vocês juntos na casa do Daniel.
- E eu achando que você tinha chegado bem depois. Olha Alex, acho que você não entendeu a parte do "eu não quero um relacionamento". Peter e eu ficamos apenas duas vezes e foi só. Quando vi que ele estava começando a se apegar eu me afastei.
- Vai se afastar de mim também? – preocupa-se Alex. Por essa eu realmente não esperava. Fiquei completamente sem reação e em busca de palavras.
- Alex, eu pedi pra você não se apegar, mas não tem como me afastar de você. Eu trabalho com você. Eu ainda sou amiga do Peter. Por que não seria sua?
Alex tem os olhos pesados. "Droga, como era ruim vê-lo assim".
- Quem você gosta mais?
- Sério? - franzo o cenho.
Ele faz que sim com a cabeça.
- Vamos lá, eu vi Peter o que? Umas cinco vezes, ficamos duas. Eu vejo você todos os dias, você já foi a minha casa, eu já almocei na sua e você já almoçou na minha. E desde que eu cheguei aqui eu só fiquei com você. Isso responde a sua pergunta? - falo seriamente cada palavra. Ele dá um meio sorriso até se tornar um sorriso completo. Eu apenas reviro os olhos.
- Alex. Não quero que se machuque por minha causa, por favor.
Ele se aproxima e faz um carinho no meu rosto:
- Eu disse que ia correr o risco.
- Então, quanto a sua camisa, vou levá-la pra casa e lavar, pode ser? - tento desviar o assunto. Aqueles olhos verdes continuam compenetrados aos meus e Alex parece não se importar com o que eu falo.
- Alex! - o chamo tentando atrair a sua intenção.
- Tudo bem. - ele então desperta.
- Bem, eu vou indo, tenho que ver o que Peter quer.
- Ah claro. Sempre o Peter. - e o Alex ciumento retorna.
- Alex, por favor. - peço firmemente.
- Por que você quer tanto saber o que ele quer? - pergunta friamente.
- Na verdade, eu quero pedir desculpas. Fui um tanto grossa ontem
à noite com ele. - explico.
- Deixa assim. Daí ele larga do seu pé.
- Alex, eu não te devo satisfação. E outra, eu não sou nada sua pra aturar esse ciúme.
- É Liza, você tem razão. Fica aí com o Peter. E sejam felizes. - diz Alex indo embora.
Eu reviro os olhos e vou atrás de Peter. Um problema pelo menos estava resolvido, quer dizer quase. Não ser grossa era uma tarefa muito difícil, e eu não sabia o que era pior, dizer a verdade agora, ou deixar o destino se encarregar disso.
Encontrei Peter na salinha de jogos encostado a mesa de sinuca. Ele tinha uma expressão séria no rosto e não pareceu muito animado quando me viu. Resolvi me aproximar um pouco receosa.
- Oi Peter, o que queria falar comigo? - pergunto um tanto sem jeito.
- Só queria saber se você estava bem, mas pelo visto, estava ótima.
- Eu queria te pedir desculpas por ontem. Carter fez um comentário meio estúpido e aquilo me deixou um tanto irritada. Não deveria ter descontado em você.
Ele deu de ombros.
- Vejo que você e Alex se dão muito bem.
"Mais um com ciúme, eu mereço".
- Alex e eu somos amigos. Apenas isso - esclareço.
- Você já beijou o Alex? - ele é direto.
Dou uma pausa e olho pra os lados. "Por que eu acordei hoje"?
- Beijei.
Peter aperta as mãos.
- Ok. - Ele apenas consente e sai.
-Ei, espera! - o chamo. - Por que ta saindo assim?
- Você estava irritada ontem. Saiu e me deixou sozinho com seu amigo. Depois vocês dois vão embora juntos. E eu descubro que vocês já se beijaram. Você quer que eu fique como?
- Normal, porque o mesmo aconteceu entre a gente. E outra, eu deixei bem claro qual era a situação. Eu disse que eu não estava à procura de um relacionamento.
- Eu sei. Talvez eu tenha me enganado com você. - ele diz e sai.
De certo modo eu havia conseguido o que eu queria. Afastei os dois, praticamente ao mesmo tempo. Mas então porque eu me sentia tão ruim? Das outras vezes sempre foi tão fácil, dizer não, se afastar. Acredito que quando a pessoa ainda é desconhecia seja mais simples, entretanto, a partir do momento que você deixa fazer parte da rotina, o complicado vira bom dia.
Um sentimento de raiva e angústia tomava conta de mim. Eu não havia pedido para nenhum deles se apaixonar. Pelo contrário, deixei bem claro que seria perda de tempo. Saí correndo em direção as macieiras, peguei uma maçã e a lancei contra o tronco, o que fez ela se partir. De algum jeito eu tinha que extravasar.
Talvez se eu não tivesse um coração seria mais fácil, não tem como quebrar o que não existe.
...
Eu havia sumido a tarde toda. Não fui almoçar, não fui assistir a jogo algum, e nem procurar as meninas. A solidão seria minha melhor amiga naquela hora. Eu estava irritada e provavelmente eu acabaria descontando em alguém. Torci para que ninguém me procurasse e parece que funcionou. Finalmente o universo quis ser legal comigo.
O sol já estava se pondo quando decidi voltar para o meu quarto. Amanhã seria o último dia no acampamento e eu iria aproveitar sem Alex e Peter.
Quando entrei no quarto as meninas me olharam estupefatas.
- Liza, onde foi que você se meteu? - perguntou Sam. - Estávamos preocupadas.
Levanto uma sobrancelha:
- Sei, por isso ficaram o dia inteiro me procurando. - ironizo.
- Liza, para de ser chata. O Alex ficou muito preocupado. - informou Kate. Dei de ombros.
- Problema é dele.
- O que deu em você? - Back parou na minha frente com a mão na cintura.
- Não deu nada, só não sou mais uma criança para ficarem se preocupando comigo.
- Mas ta agindo feito uma. - conclui Sam.
- Escuta! Eu bebo, eu saio, eu sumo, e eu fico com quem eu quiser. Não preciso dar satisfação da minha vida pra ninguém. - eu ainda estava mega irritada. - E vocês se virem na maquiagem. - falo pegando as minhas coisas e indo em direção ao banheiro.
Depois que eu tomo meu banho, coloco uma roupa mais confortável até dar o horário de se arrumar para a festa. As meninas conversaram entre elas e nem sequer se atreveram a falar comigo.
Quando deu o horário me arrumei rapidamente e esperei o ônibus chegar num banco que ficava em frente ao casarão. Observo algumas pessoas rindo, outras conversando assuntos bizarros, alguns se beijando, outros se declarando. Apenas revirei os olhos e voltei a me concentrar no celular. Na verdade não tinha muito o que ver por trás da tela do aparelho, mas era um forma de afastar as pessoas, assim elas pensariam que eu estava muito ocupada para respondê-las.
Jhony me avistou, e infelizmente resolveu se aproximar.
- Oi Liza! Você sumiu o dia todo. - Dou uma bufada. - Aconteceu alguma coisa? - Jhony parecia preocupado.
- Não.
Ele então respira fundo.
- Escuta! Alex me contou o que aconteceu com vocês.
Olho pra ele com os olhos fervendo:
- Ele não tinha nada que falar essas coisas pra você. Quem ele pensa que é?
- Calma Liza, você está muito nervosa. Ele não falou por mal. Ele gosta muito de você e me pediu um conselho. Afinal eu sou o melhor amigo dele.
Encosto as costas no banco e volto a encarar o celular. As horas me pareciam mais atraentes que aquela conversa.
- Acho que ele está apaixonado. Ficou o dia todo preocupado com você, mas achou melhor não ir atrás. Ele acredita que quanto mais se aproxima, mais você foge.
Ergo as duas sobrancelhas e faço que sim com a cabeça:
- Ele é esperto.
- Escuta, ele é uma boa pessoa. Não o machuque.
Eu me desencosto e encaro Jhony profundamente:
- Ele que fique longe. Eu não pedi pra ele gostar de mim. - digo me levantando.
Não sabia exatamente, o porquê de eu estar agindo daquele jeito. Porém eu estava consumida de perguntas sem respostas. Quando você tem algum problema e você quer esquecê-lo, a melhor coisa a se fazer é se afastar. As pessoas ficam te enchendo de interrogações e tocando na ferida, várias e várias vezes. Elas não entendem que você precisa de um tempo, e quando quiser desabafar, isso vai acontecer naturalmente, sem que elas fiquem pressionando.
A noite estava agitada, mais que a anterior. Estava meio que sozinha, pois meu mau humor afetou tanto minhas amigas quanto Jhony, o qual provavelmente deve ter dito algo a Alex, pois o mesmo não tirava os olhos de mim, mas também não chegava perto. Decidi ir direto ao bar. Peguei uma cerveja e fui em direção à pista. Naquele momento eu só queria saber de curtir a musica.
Já estava um tanto animada quando avistei um garoto, alto, forte, moreno e aparentemente de olhos claros. Resolvi me aproximar, e tentar puxar algum assunto. Nunca fui muito boa com isso, mas não era tarde para tentar.
- Olá, tudo bem? Está gostando da festa? - pergunto.
Ele me olha meio assustado, mas sorri em seguida.
- Estou gostando bastante, esse Dj com toda certeza arrasa demais. E você?
- Ele é muito bom. Meio que não dá pra ficar parado. Você está sozinho? - por enquanto estava funcionando.
- Não, estou com alguns amigos. Eles foram pegar bebidas. E você?
- Digamos que eu meio que acabei discutindo com eles, então estamos afastados. Tecnicamente, estou sozinha.
Ele dá um sorriso, e confesso que é encantador.
- Entendi. Prazer, Paul. - ele se apresenta estendendo a mão.
- Liza. - aperto sua mão.
Ficamos no encarando algum tempo, ainda de mãos dadas.
- Mas e aí, o que você faz? - tento continuar a conversa.
- Faço psicologia. - ele diz.
- Sério? - eu realmente estava surpresa. - Acho que vou procurar pelos seus serviços uma hora dessas.
-Calma, eu nem me formei ainda. - ele ri.
- Mas deve conhecer bastante coisa. Já ajuda. - dou um gole na cerveja que a essa hora já estava meio quente.
- Claro. - Paul concorda. - Mas você não me parece uma garota que tenha problemas. - conclui.
- Eu sei fingir muito bem.
Ele ri.
- E você, o que faz?
- Faço direito.
- Já sabe onde vai atuar? - pergunta.
- Família. - respondo.
- Interessante. Prometo te contratar quando eu precisar de um desses serviços.
- Eu espero que não.
- Bem, vai que eu caso com a advogada. - seu olhar era malicioso.
- Aí a situação vai ficar muito mais complicada para o seu lado. - afirmo rindo. - não recomendo.
- E um beijo?
Dou um sorriso um tanto quanto malicioso:
- Depende. – Se, se apegar, daí é com Penal, pena de reclusão. Mas, se não se apegar, daí a pena é nula.
Paul então se aproximou. O beijo era bom, envolvente, calmo, mas tinha uma pitada de agitação. Era um beijo normal como todos os outros, porém especial, que fazia as pernas tremerem, e o coração acelerar, só o Alex conseguia fazer. Senti-me uma completa idiota por estar pensando nele naquela hora.
Interrompi o beijo e avisei que iria pegar mais bebida. Paul resolveu me esperar na pista.
O loiro dos olhos claros estava invadindo a minha mente sem me pedir permissão, e isso não era nem de longe algo bom. Quem sabe eu não estava precisando mesmo dos serviços de Paul.
Pedi uma tequila e uma cerveja. Eu não estava pretendo ficar ruim assim como na noite anterior, mas eu queria ficar mais animada.
Voltei para pista e Paul estava lá no mesmo lugar. Nem havia perguntado se ele queria alguma coisa, pelo contrário, não estava nem um pouco me importando, mas ele pareceu não ligar também.
O DJ com toda a certeza era um dos melhores que eu já havia visto, parecia que ele penetrava na cabeça das pessoas. As luzes deixavam o ambiente ainda mais animado, e quem estava lá provavelmente se sentiria extasiado.
Paul e eu estávamos se divertindo muito, era uns beijos pra lá outros pra cá, uma dança, uma conversa e muitas risadas. Minha atenção estava totalmente na festa e em Paul. Não havia visto minhas amigas nem os meninos, e de verdade, eu não estava nem aí pra eles.
- Acho que vou ter que ir preso. - disse Paul.
- Olha, não começa. - fingi estar brava. - Não estraga o lance que está muito bom. Pensa assim, você será livre, poderá ir a qualquer festa sem ter que dar satisfação e pode ficar com quem você quiser.
- É, pensando por esse lado, você tem razão - concordou Paul vindo me beijar. Senti alguém me puxando e uma dor penetrou o meu braço me fazendo gritar.
- Ai! – gritei de dor. - O que pensa que está fazendo? - perguntei raivosa.
- O que você, pensa que ta fazendo? - devolve Alex dando ênfase no você.
- Me divertindo? - respondo com uma pergunta, como se a situação fosse óbvia.
- Liza, por que ta fazendo isso?
- Não é da sua conta, me solta! - digo tentando me soltar dele e Paul se aproxima.
- Liza, tá tudo bem?
- Está sim ele já está de saída. - digo olhando para Alex com certa pena.
- Estou, mas você vai comigo. - falou Alex.
- O que? Alex você não pode fazer isso. - eu fui completamente ignorada quando Alex me pegou me colocando em seus ombros.
- Ei! Solta ela! - mandou Paul.
- Fica na sua que vai ser melhor pra você. - Alex estava como eu nunca tinha visto antes. Paul não se atreveu a vir atrás.
Alex me levou até a saída da festa, quando me colocou no chão novamente.
- Quem você pensa que é? Por que fez isso? - pergunto aos berros e praticamente chorando.
- Porque aquela Liza que estava lá, não é a Liza que eu conheço.
- Que bom, porque é isso que eu quero. Que você pare de gostar de mim. - as lágrima tomavam conta do meu rosto.
Ele me olhava sem saber o que dizer. E de fato, não disse mais nada. Apenas chamou um táxi e me levou de volta para a pousada.
Não trocamos uma palavra durante o trajeto. Nem poderia, não havia o que falar.
Eu estava encostada na janela e não conseguia olhar Alex.
Quando chegamos fui direto ao meu quarto. Estava morrendo de raiva porque eu queria ter aproveitado a festa. Entrei e fechei a porta, mas Alex veio logo em seguida.
- Você me fez perder a festa de novo. Sabe, é muito egoísmo da sua parte não me deixar aproveitar enquanto você e minhas amigas se divertem. Agora vai embora, ou vai atrapalhar meu sono também?
- Se pensa que agindo desse jeito vai me fazer afastar de você, ta muito enganada. Eu sei que tudo isso é pirraça. - estávamos discutindo pra quem quisesse escutar. Parecia uma competição de quem gritava mais alto.
- Eu não gastei dinheiro a toa pra vir aqui e ficar de "casalzinho", alias eu não nasci pra viver como um casal, e você sabe muito bem disso. - o quanto mais claro isso ficasse na cabeça do Alex era melhor. Fazia questão de ressaltar sempre que possível.
- Não precisa ficar me lembrando disso o tempo todo. Mas você não pode fugir pra sempre. Se você não quer ficar de casal, ótimo. - ele se aproxima. - Mas também não pode negar que você está agindo assim porque também está sentindo alguma coisa. Aliás, você está fugindo de mim ou dos seus sentimentos?
Engoli seco. Nunca tinha parado pra pensar assim. Um desespero tomou conta de mim ao pensar que Alex poderia estar certo. Claro, agora tudo fazia sentido.
Um calafrio invadiu meu corpo e a essa altura todo o meu vocabulário parecia estar corrompido.
- Eu te odeio Alex. - soltei a única coisa que me veio na mente e em seguida veio o arrependimento.
- Não. - ele chegou mais perto. - O que você sente pode ser qualquer coisa, mas não é ódio. - a essa altura estávamos a apenas alguns centímetros de distância. Meu coração como sempre resolveu me trair mais uma vez.
- Vai embora. - eu mal conseguia falar. Alex tinha o poder me causar certa paralisia.
- Você não quer que eu vá embora. - ele pega minha cintura.
"O encaracolado é vidente agora"?
Realmente eu não queria, mas querer não é poder. E o não poder nem sempre fala mais alto.
- Achei que tinha ficado claro que quanto mais você se aproxima mais eu me afasto. - nem eu mesma escutava minha voz direito. Estava mais uma vez hipnotizada por aqueles olhos.
- Eu estava enganado. Quanto mais eu me aproximo, mais seu coração desperta.
Eu não sentia mais meu corpo. Ele segurou o meu cabelo e delicadamente o puxou, de modo que pudesse beijar a lateral do meu pescoço.
- Quanto mais eu te toco. - ele continua - Mais você se entrega. - ele então beija a minha bochecha até chegar aos meus lábios.
É clichê demais dizer que eu estava nas nuvens, mas era como eu estava me sentindo. Totalmente desnorteada e sem condições de interromper nada. Novamente eu correspondi ao Alex. Eu era fraca demais pra lutar contra ele...
Ou contra meuspróprios desejos?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro