Dois meses depois

A noite estava bem quente, e os alunos ansiosos. Os ônibus estavam dispostos, só a espera do horário. E eu finalmente, respiro mais aliviada.

O acampamento não poderia ter vindo em hora melhor. Como uma forma de comemorar o fim das provas e principalmente, divertir-se com a sensação de dever cumprido depois do dia da apresentação do seminário e das notas altíssimas.
A Liza de hoje nem parecia a mesma de dois dias atrás, que sonhou a noite inteira com o seminário e acordou duas horas mais cedo do que deveria. O nervosismo tomava conta de mim e somente após uma prévia overdose de café, eu comecei a dar os primeiros sinais de tranquilidade. Tinha chegado adiantada a faculdade, então aproveitei pra testar o data show e assistir novamente a entrevista, além de estudar toda a minha apresentação novamente. Enquanto isso, os alunos iam chegando e meu coração começou a bater ansioso. Alex chegaria a qualquer momento e eu tinha que encará-lo e o fato de expor a entrevista ao fim do trabalho, deixava-me com medo de sua reação. Nós estávamos nos entendendo e ele poderia muito bem virar o Alex idiota novamente, mesmo sendo mais fácil de lidar.

Em relação àquela noite na casa de Daniel, Alex não se lembrava de absolutamente nada, a não ser o fato de sentir alguém passar as mãos em seu cabelo.
Ele então chegou, veio em minha direção e deu o sorriso de sempre.
- Está nervosa?
- Um pouco. – respiro fundo.

Ficamos de frente a sala inteira. Todos com os olhinhos bem atentos, e então Alex começou.
Ele era um pouco tímido pra falar, mas ainda assim, falava bem. Em alguns momentos mordia o lábio inferior, e assim como eu, tinha as mãos como companhia. Todos fizeram uma grande apresentação. Até que chegou a minha vez.
Inspirei o ar, soltei, e comecei a falar.
Assim que os primeiros minutos do vídeo começaram, meu grupo me olhou como se eu estivesse colocando um vídeo proibido para menores. Alex, no entanto, só mordia a mandíbula e me olhava fixamente.
Por fim, o professor se posicionou:
- O tema dessa apresentação é algo extremamente maçante, tenho que admitir. Entretanto, vocês trouxeram um diferencial, deixando ele mais interativo e atraente.

Aquelas palavras, sem dúvida, foram as melhores do meu dia. Alex ficou mudo a aula toda, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde a gente iria se esbarrar e teria que conversar.

Quando eu cheguei ao escritório, Jhony não estava. Teria que aturar o encaracolado, sozinha. Dei um "Boa Tarde" como de costume, mas não obtive retorno. Não insisti. Simplesmente me dirigi a minha mesa e comecei o meu trabalho, até que Alex se pronunciou:
- Liza, preciso que você vá até a sala da minha mãe e entregue esses papéis. Pode fazer isso, ou vai tomar decisões, sozinha?
"Ótimo, o Alex idiota retornou das cinzas".
- Obrigada Liza, por enriquecer a nossa apresentação. - A minha ironia era algo natural. - Não cometi nenhum crime pra sua informação.
Ele então se levantou segurando alguns papéis e parou de frente a minha mesa, jogando os mesmos:
- Pra sua informação, eu não perguntei, agora leve esses papéis até a sala da minha mãe.
Minha vez de levantar, apoiei as mãos sobre a mesa ficando mais próximo dele.
- Veja só! O Alex idiota voltou. – levantei uma sobrancelha e ameacei sair. Mas Alex pegou as minhas mãos e a retornou a mesa, deixando nossos rostos ainda mais próximos, foi quando eu senti meu coração numa verdadeira festa da Sapucaí.
- Obrigada, por tudo. - disse num sussurro e com um olhar malicioso.
- Boa tarde gente! – Jhony chega e Alex e eu nos afastamos, eu abaixei a cabeça, peguei os papéis e tentei disfarçar.
- Ok Alex, pode deixar que eu levo esses papéis a sua mãe. - olho para Jhony. – Ah! Oi Jhony.
- Aconteceu alguma coisa? – estranha Jhony.
- Não, só pedi um favor pra Liza. – responde Alex.
Saí e fui até a sala de Sarah. Alex estava de joguinho o tempo todo. Ele sabia o que eu esperava e se aproveitou disso. Se eu gostei ou não, eu ainda estava na dúvida.

Descobri que Alex e os amigos iriam ao acampamento. E pra ajudar, Mat também iria, ou seja, Peter estaria lá também. Agora seriam dois pra eu lidar, ou fugir, como em todas as outras vezes.
Kate e Mat, voltaram a se entender, e agora eu teria que aguentar o romance dos dois. Mat disse que estava com problemas em casa e por isso havia dado uma sumida. Kate não acreditou de primeira, pra falar a verdade, eu também não, mas isso não era nenhuma novidade. Ela só resolveu aceitar o pedido de desculpas quando Mat apareceu em sua casa com comida, na verdade chocolate.

Os assentos no ônibus estavam mais ou menos decididos, eu ia com Sam, Back iria com Kate, Jhony com Alex, Carter com Daniel. Tentamos sentar o mais perto possível um do outro, mas de qualquer forma, não íamos ficar comportados. Mat e seus amigos foram em outro ônibus.

Muitos começaram a cantar, outros faziam movimentos engraçados. Alex e Jhony aproveitaram para fazer uma dupla, e as meninas e eu ríamos sem parar de suas cara e bocas. Alex fazia a primeira voz, e Jhony a segunda, extremamente desafinados. Não ficamos de fora, éramos suas backing vocals. Carter e Daniel, apenas riam, dizendo que a gente era muito legal em dar moral para os dois.

Depois de um tempo Kate reage:

- Gente, to com uma fome. Alguém tem alguma coisa aí?

- Kate, espera o ônibus fazer a primeira parada, já a gente come - disse Sam.

- Como pode essa menina tão magrinha e tão esfomeada? -perguntou Carter.

- Fico me perguntando isso desde quando a gente se conheceu - digo.

- Mas e aí Liza, tudo certo no trabalho? Eles pegam muito no seu pé? - Daniel quis saber.

- Sou quase uma escrava naquele lugar. - respondo rindo.

- Do Alex então, mais mimada não existe. - provoca Jhony.

- Jhony e suas viagens. - reviro os olhos.

- Ah Liza! Sabe quem perguntou de você esses dias? - Daniel tem um sorriso malicioso no rosto.

- Não, quem?

- Justin. Ele adorou você e disse que foi uma pena não terem conversado mais. Disse até que queria marcar de sair com você qualquer dia desses. – informou. – Mas sem o Alex, vai que ele resolver dar problema de novo.

- Já disse que não me lembro de nada. E outra, avisa seu primo pra desistir, porque a Liza, não é muito fácil. - informa Alex.

- Ta com ciúmes Alex? - provoca Back.

Respiro fundo tentando achar o que dizer naquela hora, com certeza iria sobrar pra mim.

- Enfim, fala para o seu primo Daniel, que eu gostei muito dele. - nessa hora Alex mordia o maxilar. - Mas pra ele não se empolgar muito.

- É que a Liza não se apaixona fácil, sabe. Teve uns problemas na vida aí e ela não quer se envolver. - explicou Sam.

Olho para ela com uma sobrancelha levantada. Elas sabem que eu não gosto de tocar nesse assunto.

Sam então faz cara de assustada:

- Desculpa Liza, esqueci que você não gosta de falar sobre isso.

- Relaxa Liza, você está entre amigos. Se quiser desabafar, pode contar com a gente. - Carter tinha uma voz amigável.

- Alex, meu amigo, se quiser conquistar a Liza, vai ter que lutar muito. - Jhony aperta o ombro de Alex.

- Bem Jhony, a Sam não pensa como eu. Vai demorar muito pra você tomar uma atitude, ou vou ter que fazer esse favor pra você, também? Vou cobrar como hora extra, tá. - provoco.

Jhony e Sam ficam vermelhos, enquanto o restante ovacionam.

- Podemos mudar de assunto? - Sam mal conseguia falar.

- Sim, claro, até porque o ônibus parou. - Alex informa.

- Finalmente. Meu estômago agradece.

- E o coração também, não é mesmo Kate? - dou um sorriso.

Kate fica vermelha e faz cara de apaixonada:

- Ai para Liza. - finge ela de brava.

Fizemos a primeira parada. Não era só Kate que estava com fome, nós também estávamos, mas Kate se supera. De saudades do seu amado, foi se sentar com ele na mesa da lanchonete. Eu acabei vendo Peter, e ele veio até mim.

- Oi Liza, como vai? - me cumprimenta.

- Vou bem, e você?

- Ótimo. Saudades de você. - diz fazendo um carinho no meu rosto. Olho para o nada, constrangida e vejo Alex olhando em minha direção. Jhony se aproxima e comenta algo que eu não consigo escutar. - Você não retornou as minhas mensagens, aconteceu alguma coisa?

- Não Peter, está tudo bem. É que esses dias foram muito corridos. – omiti.

- Ah! Eu entendo. Quer se sentar com a gente? - oferece.

- Me desculpa, mas eu estou com alguns amigos. - dou um falso sorriso.

- Tudo bem. Conversamos depois. - diz Peter saindo.

- Onde está Kate? - pergunta Carter logo que estávamos a mesa.

- Ah! Ela está com o Mat. Acho que eles estão numa espécie de romance. - diz Sam.

- Gente, alguém aceita uma mordida? - ofereço. Alex coloca seu braço na minha frente. Franzo o cenho em sinal de desentendida.

- Morde, mas morde devagar. - brinca Alex.

Olho para ele e levanto uma sobrancelha:

- Se for pra morder seu braço, pode deixar que eu mordo com força mesmo. - agora meu sorriso era malicioso.

Todos dão risada e Alex morde o lábio, sua expressão não era nem um pouco casta. As borboletas já estavam dançando mambo no meu estômago.

- Liza! Quase tive que chamar os seguranças quando você conversou com seu amigo. - disse Jhony. – Alex estava se segurando para não bater na cara dele.

- Para de falar bobagens Jhony, já deu. - Alex parecia um pouco nervoso. Jhony deu um sorriso, mas resolveu ficar quieto.

Kate chega de repente

- Gente, Mat disse que tem um lugar sobrando ao lado dele. Posso me sentar com ele? - implora.

- Pode sim Kate. – consentiu Sam. Back e eu balançamos a cabeça em sinal de concordância.

- Agora eu vou me sentar sozinha. - Back fez bico.

- Eu sento com você Back. - se prontificou Sam. - se importa Liza?

- Eu? Imagina, é mais espaço para mim. – brinco.

Peter então aparece e Alex o encara.

- Liza, Kate me disse que você provavelmente vai ficar sozinha no ônibus. Se quiser, posso ir com você. - se dispôs Peter. "Kate, você me paga, querida".

Antes que pudesse dizer alguma coisa, alguém fala por mim.

- Pode ficar tranquilo que eu vou me sentar com a Liza. Mas se quiser, pode ir com meu amigo aqui. - a voz de Alex era forte. Eu arregalei o olho no mesmo instante e me encolhi na cadeira constrangida.

-Tudo bem. - Peter dá um sorriso irônico e vai embora.

- Por que fez isso? - pergunto a Alex. - Ele ficou morrendo de vergonha. - eu o repreendo.

Alex não responde nada. Só se levanta e vai até o ônibus e eu olho para o Jhony em busca de explicação.

- Eu avisei. - ele diz.

Voltamos ao transporte e encontro Alex sentado no lugar de Sam. Vou até ele e sento no lugar ao seu lado.

- De verdade, não precisa sentar ao meu lado.

- Você prefere a janela? Posso trocar de lugar se você quiser. - Alex ignora meu comentário.

- Sim eu prefiro a janela. - respondo um pouco grossa.

Sento-me encostando a cabeça no vidro da janela e não falo mais nada, irritada.