16 - INTERCLASSES
E essa sensação de angústia não melhorou, o contrário...piorou. Apesar da rotina no colégio voltar ao normal sem maiores problemas, algo realmente incomodava Mau.
Ficar no mesmo ambiente com Juliah se tornou algo inquietante para ele de um jeito bem estranho, não que não quisesse, mas impôs limites a ele mesmo, e um deles é manter distância.
Jenna avisou que ele não sabia lidar com pessoas da classe social delas e ele começou a acreditar realmente nisso, pois as duas vezes que tentou se aproximar fez besteira.
Mau não sabia mesmo como agir perto de Juliah, então para não magoá-la de novo preferiu ficar longe, apesar dele procurá-la involuntariamente com os seus olhos em locais que precisava ir, teve alguma vezes que quando foi pegar ou devolver um livro na biblioteca, acabou desistindo de entrar quando pela janela de vidro da porta a viu lá dentro, ele nunca se aproximava pois acreditava que sua presença deveria ser desagradável a ela...estranhamente seu coração se acalmava observando ela, Mau nunca ficou assim antes por ninguém, então achava suas reações muito esquisitas.
Seu estilo mais quieta no canto dela, optando por ficar sozinha ou com pouquíssimas pessoas perto, chamou a atenção do rapaz e acabou surgindo uma curiosidade de saber sobre a vida dela. Porque ela sendo quem é, era totalmente diferente de todos naquele mundo do colégio? Enquanto todas as garota se vangloriavam de serem disputadas por uma lista ridícula de status que só mediam heranças, Juliah era o contrário, ela parecia querer se esconder de todos...ninguém nunca percebeu isso, mas Mau sim, tinha algo de errado no comportamento arredio dela, mas ele ainda não fazia noção do quê.
As palavras da Jenna surtiram bastante efeito nele, eles pertenciam a mundos diferentes, e ele tinha que ficar no seu insignificante lugar, o que um ninguém como ele teria a oferecer a alguém como ela?
No começo até que deu certo, ou ao menos ele achava que sim...
_ Atenção turma, o semestre está acabando e com isso terá o nosso torneio interclasses literário. - a professora de português Carol anuncia o próximo evento. - _ Formem suas duplas e escolham os seus temas.
_ O que é isso? - Mau pergunta para o Ale.
_ É uma espécie de preparatório para vestibular, todo final de semestre tem um "torneio" uma espécie de trabalho extra curricular e que também conta ponto no mesmo. A classe é dividida em duplas e cada uma escolhe alguma coisa para apresentar, como livro, poema, poesia essas coisas... a mesma coisa irá acontecer em todas as classes. Quer dizer que cada classe terá uma dupla "vencedora", e no final se juntam para disputar com outro período. Começa com todos os 3° A, B, C e D, terá um sorteio para juntar duas classes contra duas classes, no final as classes vencedoras disputam entre si, assim também acontece no 2° e no 1° ano.
_ Ok, tem mais alguma coisa que eu preciso saber sei lá, tipo nada de prêmio ou escolher alguma coisa?
_ Não, só vale pontos extra curriculares.
_ Certeza disso? - Mau agora quer saber detalhadamente de cada coisa que irá participar.
_ Tenho...mas porque a pergunta? - Ale estranha.
_ Nada...só não quero me enfiar em mais nenhuma confusão.
_ Cara você não resolveu ainda aquele assunto da festa da primavera?
_ Resolvi sim...eu acho... - Mau fica pensativo.
_ Oi Mau vamos fazer um par? - Becca chega sentando na carteira de Mau e como ele odeia isso, se antes já não gostava, depois da confusão da festa piorou, mas...ele não queria ser grosso.
_ Não vai dar, já escolhi o Ale. - ele responde bem seco se afastando, detesta o perfume forte enjoativo dela.
_ Ahhhh mais o Ale não se importa de você trocar ele por mim, né Ale??? - Becca tenta achar apoio
_ Importo sim, Mau é um gênio e estou precisando muito desses pontos extras, sem chances Becca, o Mau fica comigo. - Ale que também não engoliu a história da festa não deixou por menos.
Com uma cara bem emburrada de poucos amigos ela levanta rápido e sai batendo os pés.
_ Valeu Ale, te devo essa.
_ E vou cobrar. - ele brinca. - _ Que livro iremos apresentar?
_ Porque eu tenho que escolher?
_ Porque você é uma enciclopédia ambulante, não conheço ninguém que já tenha lido mais livro que você. - Ale responde rápido.
"Eu já..." - Mau pensa em Juliah soltando um longo suspiro.
_ Porque justo Ian McEwan??? - Ale revira os olhos quando Mau chega colocando o livro em cima da mesa que ele estava sentado na biblioteca.
_ Porque é um dos melhores autores que conheço.
_ Ok...e porque justo O Sonhador??? Esse livro é confuso.
_ Não é confuso, você precisa ler ele com uma mente mais aberta, vou explicar capítulo por capítulo e verá que no final esse livro é incrível. - Mau tenta convencer o amigo.
_ Ok, não tem como discutir livros com você. - Ale enfim cede.
A porta da biblioteca se abre, porém Mau está sentado de costas e não vê até que as duas garotas passam por eles sentado três mesas a frente. Mau se perde na explicação que estava dando ao amigo quando vê que uma delas é Juliah.
_ Mau, uma coisa que você nunca foi na sua vida é ser discreto. - Ale zoa o amigo.
_ Não sei do que você está falando...
_ Não preciso saber porque está na sua cara, seu comportamento mudou completamente, e pare de encarar a Juliah desse jeito.
_ Eu não estou encarando ela! - Mau tenta justificar.
_ Ah não? Olhando para Jenna eu garanto que você não está. - Ale solta uma risada.
Mau vira o rosto emburrado. - _ Presta atenção no que estou explicando.
_ Prestar eu presto, é você que não está prestando atenção no que você mesmo está explicando.
_ Leia o primeiro capítulo e me diz o que você interpreta. - Mau diz cruzando os braços esperando o amigo ler, seus olhos de novo vão em direção da mesa a frente.
Juliah e Jenna também estavam com livros na mão, conversavam descontraídas, Juliah sorri colocando uma pequena mecha de seus cabelos rebeldes atrás da orelha, o que fez Mau sorrir levemente também, relembrando ela fazendo isso toda tímida quando os dois estavam nesse mesmo lugar, é tão bom conversar com ela, estar perto dela...o clima que rolou entre eles, ou será que imaginou que rolou um clima porque ele queria muito?...Foi tão pouco o que tiveram, porque será ele sentia uma saudades tão grande disso?
Mau suspira pesado.
_ O que achou da minha interpretação?
_ Que?
_ Minha interpretação do primeiro capítulo que você pediu, narrei todo meu parecer, o que você achou? - Ale pergunta segurando a risada.
_ É....eu acho que você entendeu... - Mau diz coçando a nuca.
Ale não se contém e solta um boa risada. - _ Eu não narrei nada seu viajão!!! Eu nem li ainda e você nem percebeu. Quem é que não presta atenção aqui?
Mau fica vermelho. - _ Eu...só me distrai um pouco e...
Mau para de falar seguindo com os olhos Juliah e Jenna, que levantaram da mesa e saem da biblioteca. Quando a porta se fecha, Mau volta a olhar o amigo que agora estava quieto o observando com a mão no queixo.
_ Que foi???
_ E bem mais sério do que pensei. - Ale diz.
_ Eu não sei do que você está falando.
_ Cara eu te conheço a tantos anos que até perdi as contas, nunca te vi assim por nenhuma garota. Desde a primeira vez que você viu a Juliah se comporta feito um bocó... você está apaixonado!!!!
Mau volta a ficar vermelho. - _ Eu não estou apaixonado!!!
_ Ah... está cara, e não é pouco não, é muito, mas muito apaixonado mesmo! Só não sei o porquê você ainda não resolveu isso. Você não é de enrolar e nem tem paciência para isso, quando você gosta de alguém já chega direto sem rodeios. Do que você tem medo?
O rapaz pensa no que o amigo disse e era isso mesmo: nunca gostou de enrolar, então quando tinha interesse em alguém, gostava de falar logo de cara, pois queria saber se a pessoa também estava a fim e se não tivesse ele já pulava fora na mesma hora, nunca teve paciência de alimentar paixões não correspondida.
Por isso que quando viu Juliah na barraca do beijo foi direto sem rodeios e se perdeu completamente de jeito que até agora não conseguiu achar seu rumo. Sua coerência foi embora e se sente de mãos atadas, ele não sabe o que fazer... não sabe como falar...não sabe o que pensar...não sabe como agir perto da garota. - "O que ela tem que me prende desse jeito?"
_ Não é nada disso... é que... é que...eu pedi desculpas da festa e ela ficou meio diferente comigo e...isso está me incomodando... porque era algo especial que eu queria ter de volta...e...ah deixa pra lá, é complicado explicar. - Mau emburrado começa a folhear o livro.
_ Convida ela para sair.
_ O que???
_ Convida ela para sair Mau, ela deu a você o número dela!!! Ninguém aqui nessa escola tem o número dela...tirando a Jenna lógico.
_ Não foi para isso que ela me deu o seu número!!! Ela já recebe um monte de xaveco pessoalmente desses bandos de fúteis que só querem ela como troféu, você acha que eu vou usar o único meio que ela confiou em mim para isso também? Não vou me igualar a eles!
_ Hum, você tem razão! - Ale fala pensativo. - _ Como você pretende então falar isso para ela.
_ Falar o que??
_ Que você está a fim dela!!!
_ Você está louco??? - Mau contorce o rosto. - _ Eu jamais vou falar isso para ela.
_ Ué...Porque não??
_ Cara olha para mim!!! - Mau diz apontando para ele mesmo.
_ O que tem você?
_ Como o que tem eu?? Tem tudo!!! Aliás não tenho nada...o que é que eu tenho a oferecer para uma garota como a Juliah?
_ Ah não Mau...não acredito que você vai usar essa desculpa idiota de classes sociais nisso também?
_ Não é desculpa... é a realidade...ela pertence a outro mundo no qual eu nunca vou conseguir chegar nem perto. Eu não tenho nada a altura dela para oferecer. Nunca vou ser digno de namorar ela...
_ Namorar??? - Ale franze as sobrancelhas, ele estava pensado numa solução mais simples deles ficarem sem compromisso, mas agora ele percebe a situação crítica do amigo, namoro sério realmente é algo muito mais complexo. - _ Agora sei quem foi a "namorada" que te distraiu no jogo de basquete.
_ Mas que droga!!!! - Mau pragueja empurrando o livro. - _ Eu nem sei porque te falei isso... esquece... eu já falei que não estou aqui para isso. Eu já me coloquei no meu devido e insignificante lugar.
_ Só acho que tudo isso é uma bobagem da sua cabeça.
Mau olha para o amigo sem entender.
_ Esse "obstáculo" que você mesmo criou Mau...você por si só já colocou um ponto final nisso tudo sozinho, sem perguntar a outra parte se ela pensa igual...para mim o único "preconceituoso" nessa relação está sendo você.
Mau pensa por um instante, não é um simples "obstáculo", isso é real e o amigo não entendeu nada: ele realmente é um ninguém.
_ Mas que droga!!! - pragueja em voz baixa cruzando os braços, desviando o olhar para a mesa vazia a frente.
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