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A minha cabeça doía e o meu coração estava apertado, não entendia por qual motivo ele estava fazendo isso comigo. Parei por um instante e procurei respirar fundo por alguns momentos, eu necessitava manter a minha calma. Taehyung não podia fazer isso comigo, sumir por tanto tempo sem dar sinal de vida. Estava preocupada com ele e isso não era justo, não era justo me deixar assim. O meu coração estava acelerado, como se quisesse sair do meu peito e gritar por socorro. Já passava da meia-noite e eu não sabia o que fazer, não sabia se acionava a polícia ou se esperava mais um pouco.
No fundo, eu estava com medo, muito medo de ouvir uma notícia ruim. Não sei se conseguiria sobreviver sem ele, não queria. Enquanto andava de um lado para o outro tentando não enlouquecer pensei se não seria melhor ligar para os seus pais, novamente. Porém, não tínhamos muito contato e não havíamos nos conhecido pessoalmente. Se ligasse de novo para perguntar sobre Taehyung, eles ficariam preocupados, assim como eu estava. A sua mãe desconfiou da minha primeira ligação e afirmou que ele não estava, tinha saído algumas horas antes de eu ligar.
A questão era, eu não sabia onde ele estava e nem como o achar. O seu telefone estava desligado e eu já não sabia mais o que fazer. Passei o dia esperando para vê-lo entrar, sorrindo e correndo em minha direção, mas isso não aconteceu. Céus, o que eu deveria fazer? Só queria o meu Taehyung de volta, só precisava do seu carinho em meus braços.
— Eu vou chamar a polícia. – disse a mim mesma indo em direção ao telefone.
Peguei o telefone em minhas mãos e digitei o número da polícia, no entanto, antes de conseguir continuar, pude ouvir um barulho. A maçaneta se mexeu e a porta se abriu. O semblante cansado de Taehyung entrou pela porta e eu senti medo, o seu rosto e as suas roupas estavam cobertos de sangue. Senti o meu coração acelerar mais e as minhas pernas tremeram, por um momento, senti o meu mundo desabar. Ele parecia muito cansado e o seu corpo cambaleou para dentro do apartamento sem muito esforço, me fazendo perder o controle das minhas emoções.
— Ta .. Ta .. Tae. – as palavras não queriam sair.
Taehyung fechou a porta e deixou o seu corpo pesado cair no chão, ficando de joelhos contra a porta. Os seus olhos lacrimejavam e o seu corpo tremia como se ele estivesse com frio, engoli a seco e controlando o tremor em minhas pernas, caminhei em sua direção. Me ajoelhei em sua frente e procurei entender o que estava acontecendo, não queria imaginar o que estava se passando em sua mente. O seu peito se mexia com pouca força e a sua respiração não tinha nenhum poder, senti as lágrimas inundarem o meu rosto e as limpei rapidamente. Não podia fraquejar agora, um de nós precisava manter a firmeza para entender o que tinha acontecido. Engoli a seco e respirei fundo, tudo ficaria bem.
— O que aconteceu? – indaguei trêmula.
O seu olhar estava distante e vago, ele não me olhou nos olhos e manteve a sua cabeça baixa durante todo o tempo.
— Nada. – respondeu após algum tempo com o seu olhar distante.
— O que te aconteceu? – continuei. — Não pode ter sido nada, você está ferido? – o seu rosto estava machucado e doía vê-lo assim. — O que aconteceu? – repeti.
— Não é meu. – murmurou.
— O quê? – eu estava confusa.
— O sangue não é meu. – ele deixou uma lágrima cair e olhou para as suas roupas, confirmando o que disse. — Não é meu. – repetiu chorando.
— De quem é? – eu já sabia a resposta. — Taehyung, o que aconteceu?
— Você me ama? – indagou respirando fundo.
— De quem é o sangue, Taehyung? – questionei novamente ignorando a sua pergunta.
— Você confia em mim? – pude sentir a dor em suas palavras. — Por favor, diz que me ama e que confia em mim. – antes de conseguir responder, ele prosseguiu. — Acredita em mim? – ele levantou o seu rosto molhado por lágrimas e sangue e me fitou.
Acenei afirmativamente com a cabeça, os meus olhos estavam embaçados por causa das lágrimas que eu segurava para não deixar cair. O que estava acontecendo com ele? Céus, o que estava acontecendo? Não podia desabar, mas queria ouvir o que ele diria, precisava ouvir. Taehyung estava me dizendo nas entrelinhas que tinha cometido um erro e eu sabia as consequências disso.
— Alice, me abraça. – as suas palavras saíram com tanta dor que eu as senti.
Me aproximei e o envolvi em meus braços, posicionando a sua cabeça em meus ombros.
— Eu te amo. – sussurrou ele.
Não disse mais nada e nem questionei o que havia acontecido. Ele sentia uma dor que eu não conseguia entender, mas não era física. Taehyung parecia um vaso quebrado, decepcionado. Enquanto a sua respiração calma tocava a minha pele, lembrei das suas palavras. "Eu faço qualquer coisa por vocês." Senti o meu corpo se arrepiar e o medo voltou a fazer parte de mim, como se nunca houvesse deixado o meu corpo.
— Vem comigo. – pedi me levantando.
Taehyung se apoiou em mim e me deixou carregá-lo, senti o seu peso sobre o meu corpo e tremi. Não pensei que conseguiria carregá-lo assim, mas faria qualquer coisa para o ver bem de novo. Entramos no quarto e caminhamos até o banheiro, o colocando sentado perto da banheira. Ele estava um caos, um banho lhe faria bem e o acalmaria para me contar o que estava acontecendo com ele e com os seus sentimentos. As suas lágrimas não haviam cessado e o seu olhar ainda estava distante, perdido em algum lugar.
Liguei a água e deixei a banheira encher, em breve sofreríamos juntos e isso deixou o meu coração em prantos. Taehyung olhava para o chão e as suas lágrimas pingavam o piso, eu me sentia tão triste. Assim que a banheira encheu, eu o ajudei a tirar a sua roupa e o coloquei na banheira. Ele se sentou e esperou por mim, calmamente joguei a água sobre o seu corpo e passei as minhas mãos com muita delicadeza por sua pele. A água caía sobre os seus machucados e procurei limpar as feridas, ele não se mexeu e permaneceu parado como uma estátua.
Os seus olhos expulsavam as suas lágrimas e a sua respiração estava tão calma que por vezes não via o seu peito se mexer. Passei as minhas mãos por seu corpo procurando sinais de ferimentos maiores, mas não achei nada além de hematomas. Todo o sangue contaminava a água e fazia o meu estômago revirar com o cheiro forte, os ferimentos de Taehyung eram na alma e isso era fácil de perceber.
Ele respirou fundo.
Me levantei e fui em direção ao armário da pia, onde havia uma caixa de primeiros socorros. Voltei para ele e calmamente desinfetei os seus ferimentos no rosto, fazendo um curativo. As marcas eram de briga, tudo indicava isso. Queria saber exatamente como aconteceu e em que estado se encontrava James, pois, isso só podia ser relacionado a ele. Após algum tempo, o ajudei a se levantar e sequei o seu corpo. Taehyung me ajudou e me seguiu para o quarto, se sentando na cama.
Passei as minhas mãos por seu corpo, a sua pele era tão macia e sofria tanto no momento. Antes de procurar uma roupa leve para ele vestir, tinha de conferir se ele não estava ferido em outro lugar. Todo o seu corpo parecia em ordem, me levantei, mas senti a sua mão em meu pulso, me segurando. Virei o meu rosto para ele e esperei.
— Não me deixa. – pediu me puxando para baixo.
Ajoelhei aos seus pés e o fitei. Ele passou as suas mãos por meus cabelos e por meu rosto, terminando em meus lábios. O seu olhar doía tanto, não queria vê-lo assim. Sofrendo, sofrendo por algo que eu não sabia o que era, mas desejava ouvir. Lembro de imaginar estes acontecimentos, no entanto, dentro do meu peito eu queria acreditar que não. Sentia um desejo bobo que tudo ficaria bem e que seriamos felizes para sempre.
— Eu te amo. – sussurrou me olhando.
— Eu também te amo. – respondi lhe passando verdade.
— Eu o matei.
O meu coração desceu para os pés ao ouvir as suas palavras, as lágrimas de Taehyung voltaram a cair, lhe causando dor. O meu corpo não reagia aos meus comandos e eu acabei por me sentar no chão, os meus olhos rapidamente se embaçaram e em um suspiro de dor também deixei as minhas lágrimas caírem. Eu sabia que isso aconteceria, que este momento chegaria e que seria o nosso fim. Pois, aqui estávamos nós, assumindo a responsabilidade de um crime causado por mim, apenas.
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