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» 80 «

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Nos encontrávamos no meu lugar preferido, o parque que mudou toda a minha vida. Estar aqui me lembrava de Taehyung e de tudo o que ele me fazia sentir de bom. Aqui, eu vivi um dos melhores momentos da minha vida. Neste mesmo parque duas almas se encontraram e juntas se curaram de dores irreparáveis, as tornando em um amor forte. Respirei fundo e senti a brisa tocar a minha pele, o dia estava maravilhoso e eu me sentia bem. Junto com Namjoon, caminhei por todo o parque e durante os nossos passos, ele contou um pouco sobre si. Em muitos destes momentos, eu não sabia o que ele queria de mim, mas o ouvi atentamente. Após notar que eu teria um ataque cardíaco se caminhasse mais, ele me levou para tomar um chá e seguimos para o meu banco preferido.

— Está tão quieto. – murmurei quebrando o silêncio. — Nem parece que estamos em uma capital.

— O dia está lindo, não acha? – respondeu ignorando. — Me sinto bem aqui.

— Concordo, obrigada por me tirar de casa. – ele voltou o seu olhar para mim. — Acho que estava precisando desse momento. – manteria essa memória em mim.

— Fiz isso por ambos. – ele tinha dor em sua voz. — Precisava tomar coragem e fazer isso.

— Do que você está falando? – questionei baixinho.

— Alice, você é feliz? – tremi ao ouvir.

Não sabia a intenção por trás do seu questionamento e não sabia se ele queria ouvir uma resposta sincera.

— Por qual razão você me pergunta isso? – retruquei tentando ganhar algum tempo.

— Sei que você está infeliz por causa dos acontecimentos recentes, mas você é feliz quando não pensa nestes momentos? – eu sentia o meu peito apertar.

— Você, não é? – não queria falar de mim.

— Não sei. – sussurrou. — Acho que não mereço ser feliz e por isso me sinto assim.

— Namjoon, o que você quer me contar? – isso era nítido. — Sobre o que você quer conversar? – reformulei a minha pergunta o olhando nos olhos.

— O amor é tão difícil. – respondeu baixinho. — Não entendo os motivos que me fazem sofrer tanto, não é suposto ser feliz ao amar alguém?

— Você está apaixonado? – senti que não deveria perguntar isso.

— Perdidamente. – murmurou. — Nunca deixei de amar. – tremi ao ouvir.

— E o que te impede de ser feliz? – prossegui.

— Ela. – respondeu desviando o seu olhar. — Ela me impede de ser feliz.

As suas palavras continham dor e a tristeza tomou conta de si, Namjoon estava apaixonado e completamente perdido em sentimentos com significados maiores do que ambos podíamos compreender.

— O que ela fez? – indaguei querendo saber mais. — Para te fazer sofrer assim?

— Ela morreu. – senti o meu coração doer ao ouvir. — Mas do nada, ela apareceu nos braços de outra pessoa. – pude ver lágrimas em seus olhos. — Essa outra pessoa não sou eu, ver o seu rosto em outro alguém e a sua felicidade em outro sorriso me mata aos poucos. – me emocionei e contive as lágrimas que queriam descer.

— Ela morreu ou está viva? – murmurei. — Não entendo.

— Ela morreu e, ao mesmo tempo, ainda vive. – ele não estava me ajudando na compreensão.

— Eu sinto muito. – murmurei respirando fundo.

— Eu sei que não se pode colocar a culpa em alguém se a pessoa não sabe de nada. – continuou. — Mas eu não sei esquecer isso e sempre a culpo por minha dor. – a sua dor era cruel.

— Você não merece sofrer. – tentei. — Por qual motivo não se arrisca?

— O que me adianta essa coragem? – retrucou. — Jamais terei o amor que desejo.

Não sabia o que responder, então optei pelo silêncio. Um longo silêncio se fez e eu não sabia o que dizer, mas entendia o seu sofrimento. No fundo, todos já estivemos nesta posição por causa do amor oferecido por alguém que não teve a intenção de nos amar.

— O amor é uma droga, e causa tanta dor. – murmurei. — Seria bom passar por essa vida sem saber o que é amar alguém.

— A idealização do amor causa dor, o que se espera dele também é doloroso. – retrucou. — O amor em si não é, mas não entendemos isso. Deixar esse amor ir, será como enterrar a mesma pessoa duas vezes seguidas. Por isso, não quero me declarar, é tudo o que me sobrou. – ele estava tão triste.

Não sabia qual era a sensação de enterrar alguém importante, mas Taehyung saberia disso em pouco tempo e imaginar a sua dor, partiu o meu coração.

— Aproveite o seu amor e o viva. – disse. — Aproveite a vida que cresce em você, ela merece saber o que é o amor de verdade.

— Sim. – aceitei, não queria discutir com ele.

Ele respirou fundo e limpou as suas lágrimas, me sentia mal por ele, mas não sabia como ajudar.

— Sair de casa foi uma boa ideia. – disse mudando de assunto.

— Saberemos se foi mesmo mais tarde. A minha idade não me permite andar tanto. – ele sorriu e isso voltou a me passar confiança.

— Já pensou se ficará com o bebê? – senti o meu coração bater forte ao ouvir.

— Não sei. – e realmente não sabia. — Provavelmente não.

— Não importa. – retrucou. — Estarei ao seu lado quando tomar a sua decisão. Quero estar do seu lado quando o momento certo chegar. – sorri de canto ao ouvir.

— Namjoon? – indaguei.

— Sim, meu anjo. – tremi de novo.

— O que continha nas cartas? – eu precisava saber.

Ao ouvir as minhas palavras, o seu rosto ficou sério e a sua pele ficou pálida. Respirei fundo e compreendi que o assunto era sério, no entanto, eu queria saber o que estava acontecendo e queria saber o que ele tanto escondia de mim. Se Namjoon não acabasse com a minha curiosidade, eu jamais conseguiria esquecer as suas palavras, assim como o seu pedido para mantermos isso em segredo.

— Alice. – sussurrou pesadamente.

— Antes de prosseguirmos com esse assunto, me conte o real motivo de estarmos aqui. – pedi antes que ele pudesse continuar. — Por qual motivo você não viajou com os meninos?

— A minha presença não era necessária, eu não menti. – murmurou. — Preciso resolver algumas coisas em Jeju e eu também queria conversar com você, então, aproveitei o momento. – ele me olhava nos olhos.

— Conversar sobre o quê? – indaguei rapidamente.

— Eu me sinto culpado por algumas coisas e quero compartilhar com você. – não entendi.

— Por favor. – disse.

— Antes de tudo, eu quero te pedir perdão e entendo se depois de tudo isso você decidir se afastar de mim. – eu senti um arrepio me percorrer, isso não era bom. — Essa conversa precisa acontecer agora.

— O que você fez? – não conseguia perguntar mais nada. — Por qual razão você me pede perdão?

— Por tudo. – murmurou.

Namjoon respirou fundo e prosseguiu com calma, sempre me olhando nos olhos. Ele queria saber a minha reação diante das suas confissões e isso me assustou, saber que alguém de confiança poderia me magoar de novo.

— Nunca me importei muito com os problemas dos meninos, sempre acreditei que eles ficariam bem se os apoiassem em tudo. Vivemos um sonho e gostamos disso, fazemos tudo com carinho, mesmo com tantas dificuldades. – ele falava com calma. — Sempre procuro diminuir a correria e procuro incentivar a criatividade de todos eles. Você me perguntou se eu sabia das escolhas de Taehyung e eu nunca cheguei aos detalhes dessa resposta. – ouvia atentamente. — Taehyung sempre foi fascinado por morte, quando a puberdade acabou, ele se acalmou e eu sabia que isso não voltaria, mas estava errado. Eu faço tudo por eles, mas não acredito que o impediria de tirar a sua própria vida. – me senti mal ao ouvir.

As suas palavras me causaram medo e isso afirmava o que Jungkook disse, somente ele estava preocupado com o Taehyung quando ele saiu de casa para acabar com a sua vida aqui neste parque.

— Depois que você apareceu, a sua felicidade aumentou. Não o reconhecíamos e ninguém sabia o motivo da sua felicidade. – prosseguiu. — Me chame de cruel se o desejar, mas não compreendia. E então, ele nos apresentou e eu compreendi tudo. – eu não entendia nada. — A felicidade de Taehyung, tinha o gosto da felicidade que eu enterrei.

— Não entendo. – murmurei. — Eu não te conhecia, não era bom vê-lo feliz comigo?

— Sim. – respondeu. — É bom, mas não é bom para mim. – a minha mente girava em todas as direções possíveis.

— Namjoon. – tentei, mas ele me impediu.

— Espere, me deixa continuar ou perderei a coragem. – pediu. — Quando eu te vi, você me trouxe o passado que eu tanto quero esquecer. – ele fez uma pausa e respirou fundo. — Há uns anos, eu me apaixonei por uma mulher muito linda e ela me conquistou de todas as formas possíveis. Do nada, o amor fluiu em mim e me curou de dentro para fora. – a sua dor era tão nítida. — Todavia, ela morreu e levou consigo todo o amor que eu tinha.

Estava confusa e ainda não sabia se ela estava realmente morta.

— Sinto muito. – murmurei.

— Então, você apareceu. – continuou. — Você é a cópia da pessoa que eu perdi, a cópia do meu amor e isso me causou ódio. – o meu coração gelou ao ouvir.

— Ódio? – isso era tão pesado.

— Sim. – murmurou. — Alice, eu te amo.

O meu coração bateu forte e eu não entendia. Namjoon desviou o seu olhar e eu entendi o que estávamos fazendo ali. Todo o seu ódio por mim agora fazia sentido, ele sempre me tratou mal por algum motivo e chegou a insinuar que estava fazendo algo de errado. Seria esse o seu motivo? Um amor que eu não conhecia e não tinha culpa?

— Você não sabe do que está falando. – disse mantendo a minha calma. — Esse não é você.

— Infelizmente, é verdade. – continuou voltando o seu olhar para mim. — Sei o peso das minhas palavras, mas antes de me odiar, por favor me escute.

— Continue. – pedi procurando manter a raiva.

Ele respirou fundo e me olhou nos olhos.

— Conviver com você me lembrou dela. Por um momento, eu jurei que você era ela e simplesmente estava fingindo não me conhecer. – eu nunca faria isso. — A primeira vez que entrei no seu quarto foi para mim, a parte mais dolorosa, até mesmo a decoração do seu quarto é igual a dela. – lembro de ver a mesma decoração em seu quarto.

— Sinto muito por parecer alguém que você ama. – comentei o interrompendo. — Eu não fiz nada para que você gostasse de mim, a minha intenção nunca foi te induzir ao erro.

— Eu sei e a culpa é minha. – respondeu. — Você não entenderia, pois, não sabe como é amar alguém e perder. No meu caso, perder para a morte. – não sabia, isso era verdade.

— Me faça entender. – pedi baixinho.

— Quanto mais eu convivo com você, mas parecida com ela você fica. – prosseguiu. — Isso me faz te amar e te odiar ao mesmo tempo, isso me dói. – aos poucos eu me sentia mal.

— Isso está me fazendo mal. – sussurrei.

Por um lado, era bom saber o motivo do seu ódio. No entanto, por outro lado, não sabia como a nossa relação seria afetada após essa conversa.

— Eu ainda não terminei. – senti o meu corpo tremer. — Por favor, me escute.

— Não sei se quero. – disse me afastando dele.

— Por favor, eu preciso. – pediu segurando as suas lágrimas.

— Seja rápido. – murmurei.

— Antes de você ir para a minha casa e se aproximar de nós, eu queria te confrontar para ter a certeza de que não era ela. – quanto mais ele falava, pior eu me sentia. — Mas ao chegar no seu prédio, eu conheci o James. – gelei ao ouvir.

— Namjoon. – sussurrei sentindo a primeira lágrima cair.

— Quando ele me viu falando com o porteiro sobre você, ele se aproximou e me enganou. Ele disse que você era a mulher que eu amava, que estava me enganando e se vingando de mim por não estar lá na operação dela. No fim, ele descobriu quase tudo através de mim. – não queria acreditar no que estava ouvindo. — Sem saber, eu lhe dei tudo o que ele precisava para te magoar.

— Você não pode estar falando sério. – eu não queria acreditar.

— Alice, eu juro que não fiz por mal. – disse se ajoelhando aos meus pés. — Ele mentiu e disse ser o seu marido, que você havia cometido um crime e ele como policial estava aqui para te levar de volta. – quanto mais ele falava, mais o meu coração doía. — Ele disse que você mudou de nome várias vezes e fingiu a sua morte.

— Isso não é verdade. – disse me alterando. — Eu nunca fiz nada contra James ou contra qualquer pessoa.

— Eu sei disso, agora eu sei disso. – somente agora? — No momento em que ele me contou, pensei que você estava mentindo para Taehyung e que mentia para mim também, fingindo não me conhecer. – ele queria chorar, mas se controlava. — Eu queria proteger o meu amigo e me proteger, pois, o meu coração pedia você ao meu lado.

— E conseguiu fazer isso vendo o meu sofrimento? – retruquei me levantando.

— Eu não sabia de nada. – disse se levantando. — Não sabia das suas crueldades, ele me manipulou e eu acreditei. Deveria saber que a minha Je-in não faria isso comigo.

— Você não tinha o direito. – eu não queria chorar. — Você tem noção das coisas que ele fez comigo? Você mesmo ouviu o que ele fez comigo, os abusos que sofri sem saber. – as lágrimas desciam por seu rosto e ele não as escondeu.

— Eu sei disso. – murmurou. — As suas palavras soaram como corretas, quando eu as ouvi não havia motivo para questionar.

— James fez tudo isso por sua causa? – retruquei. — É isso que quer dizer?

— Eu juro que não sabia de nada. – disse procurando se aproximar. — Não sabia de nada e quando o vi na sua casa, eu juntei os pontos e fiquei louco.

— Do que está falando agora? – eu precisava me controlar.

— No dia em que fui até a sua casa, eu o vi e entendi que havia cometido um erro. – respondeu. — Eu conversei com Taehyung e ele me contou um pouco do seu passado, eu senti o medo emanado nas palavras sem saber ao certo o que estava acontecendo. – Namjoon articulava com as suas mãos e parecia sincero. — Então, eu voltei, mas era tarde demais. Eu estava procurando informações sobre James e quando o telefone tocou, e eu recebi as notícias ruins através de Taehyung.

— Informações sobre James? – eu já não entendia nada.

— Sim, eu estava atrás de provas contra ele e por isso, me afastei. Fui até Daegu procurar por informações sobre ele. – explicou. — Quando vi você com medo me pedindo ajuda, senti que tinha de fazer algo. – ele me olhava com medo. — Eu não podia permitir que a sua dor fosse maior, eu fui usado e não queria que as minhas decisões se voltassem contra você.

Permaneci em silêncio, precisava entender as suas palavras. Confiei em Namjoon e em sua bondade, acreditei em seu caráter e no momento, ele me mostrava outra coisa. Ele não tinha o direito de me magoar desta forma. Acreditando que eu era o seu amor, era assim que ele a trataria? Não me esqueceria da sua ajuda, mas isso era cruel. O meu coração doía e eu me sentia traída, muito traída.

— Por favor, fala alguma coisa. – murmurou após alguns minutos.

— Não sei o que dizer. – eu estava triste. — Não sei o que pensar.

— Eu entendo você me odiar. – respondeu. — Pode me bater, xingar, faça o que quiser, mas tente acreditar em mim.

— Por isso você me ignorava e me tratava mal? – eu queria saber.

— Não. – murmurou. — No começo eu pensava que você era ela e por isso, eu te tratava com indiferença.

— Quanto aos abusos e toda a sua crueldade, você não sabia e não teve nada a ver com isso? – queria olhar em seus olhos, necessitava ver a sua verdade.

— Isso. – respondeu firme. — Não sabia de nada, nem participei de nada. Jamais participaria de algo assim, não machucaria você dessa forma.

O meu corpo pesou e a minha cabeça doía novamente, me sentei no banco e olhei para o horizonte. Eu estava cansada, queria odiá-lo, mas não conseguia. Ele não tinha culpa das atrocidades de James e assim como os meus pais, ele foi usado para me magoar.

— E as cartas? – indaguei após um tempo.

— Cartas? – retrucou confuso.

— Não foi por isso que começamos esse assunto? – eu não queria chorar.

— Eram declarações de amor, acreditei que se você as lesse tudo voltaria ao normal. – respondeu. — Mas mudei de ideias, por isso, as pedi de volta.

— Como ela morreu? – eu queria saber mais.

— O seu coração parou, mas não sei ao certo. – ele soava sincero. — Não estive presente.

— Sinto muito. – sussurrei.

— Me perdoa, Alice. – pediu se sentando ao meu lado. — Por favor.

— Tudo bem, diretamente você não me afetou. – eu precisava de tempo. — Não tem o que perdoar.

Namjoon se aproximou de mim e me puxou para si, me acolhendo em seus braços. Não queria o seu toque, mas não queria magoar mais os seus sentimentos, ele já estava magoado e eu não queria piorar isso.

— Mais alguém sabe dos seus sentimentos por mim? – o meu peito doía.

— Suga. – respondeu me soltando. — Eu contei para ele e após ouvir o seu conselho, resolvi te contar tudo.

— Esse é o motivo da sua estranheza comigo? – tudo fazia sentido.

— Não sei. – murmurou. — Você cativou todo mundo, estamos todos rendidos aos seus pés. – isso não era bom.

— Me leva para casa? – pedi me levantando.

— Você me odeia, não é? – não odiava.

— Não, só estou confusa. – murmurei. — Me dê um tempo.

Namjoon respirou fundo e abaixou a sua cabeça, respirei fundo e apressei os meus passos em direção a saída do parque. A sua presença ao meu lado se fez presente e eu senti um pouco de conforto. Permaneci em silêncio, a minha mente processava todas as informações e declarações feitas por ele. Não queria sentir coisas ruins por ele e também não queria perder a sua amizade. Mas me questionava o que Taehyung diria sobre isso quando soubesse. 

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