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Acordei sentindo o meu corpo doer, abri os meus olhos com certa dificuldade e vi que a luz do dia invadia o meu quarto. Eu me sentia estranha e a minha cabeça doía, os últimos acontecimentos me causaram mais danos do que esperava. Me encontrava em minha cama e eu estava completamente sozinha, respirei fundo e me dei a liberdade de me sentir bem por não ter a presença de Taehyung ali. Era a primeira noite sem abusos e eu ainda precisava terminar algo que tinha começado, precisava colocar um fim em minha vida. Passei anos acreditando na ideia de que nada pode ser maior do que uma família e no momento, presenciava o contrário. No entanto, o mundo não te prepara para descobrir que isso não é verdade.
Me levantei com uma certa dificuldade e fui em direção ao espelho, a minha barriga era nítida e eu não queria isso. Passei a minha mão por minha pele e senti o inchaço, ali dentro havia uma alma inocente que não tinha culpa dos abusos de James. Todos os momentos ao lado de Taehyung me trouxeram até este momento. As noites ao seu lado e todos os dias que fizemos amor fez com que essa criança fosse concebida. A minha mente estava pesada e eu não sabia o que fazer com os desejos em mim, eu queria acabar com a minha vida, mas não sabia se queria acabar com a vida de um bebê inocente no processo.
Após algum tempo me olhando no espelho, procurei alguma motivação para continuar. Precisava seguir com a minha vida até o meu pai voltar para casa, depois disso, eu tiraria a minha vida como planejado. Todo esse sofrimento precisava ter um fim e isso só aconteceria se eu não estivesse mais ali. Afastei os meus pensamentos e fui em direção ao banheiro, precisava lavar o meu rosto e me higienizar. Lavei o meu rosto e escovei os meus dentes, em seguida, passei uma escova por meus cabelos e respirei fundo. Tudo estava tão calmo que me assustava, voltei para o quarto e peguei os meus medicamentos, saindo do quarto em seguida.
Assim que saí do quarto pude ver o meu pai e Taehyung na sala, eles conversavam sobre algo e sorriam. Dizem que mulheres procuram parceiros que as lembram de seus pais. Nunca acreditei nisso, mas ao vê-los juntos pude sentir que era verdade. Taehyung era muito parecido com o meu pai e a compreensão deles era calmante. Respirei fundo mais uma vez e me aproximei com cuidado.
— Bom dia. – murmurei.
— Alice. – o meu pai sempre sorria ao me ver. — Meu bem, como você está?
Sorri de canto e me aproximei mais, lhe dando um beijo no rosto. Taehyung me olhou com ternura, mas não disse nada. Nesse momento não havia mais nada a ser dito entre nós, voltamos a estaca zero e no momento éramos apenas bons amigos que poderiam se tornar desconhecidos antes mesmo de conseguir acabar com a minha vida.
— Estou bem. – não era verdade. — E o senhor, como tem aguentado? – ele não parecia bem.
— Organizei as coisas da sua mãe, você poderia fazer o mesmo com as coisas de James? – ele ignorou a minha pergunta. — Não quero correr o risco de encontrar mais motivos para o matar, eu pretendo devolver tudo hoje mesmo.
— Ele ainda tem bens pessoais aqui? – questionei sem entender.
— Sim, o cretino nunca foi para um hotel. – senti o meu corpo tremer. — Ele passou o tempo todo aqui com o apoio da sua mãe. – senti um aperto no peito ao ouvir.
— E o senhor vai embora? – não queria isso agora.
— Sim, já causamos muitos danos. – me sentia tão mal por tudo. — Os avisei que voltaria para casa e que nos veríamos lá, levo tudo comigo para entregar.
Respirei fundo e engoli as lágrimas.
— Está bem. – murmurei.
Sem falar mais nada e sem olhar para Taehyung, caminhei em direção a cozinha. Peguei um pouco de água e tomei os remédios receitados pela médica, não podia me esquecer deles. Em seguida caminhei em direção ao quarto dos hóspedes onde provavelmente as coisas de James estavam, provavelmente escondidas por minha mãe. Também estava com medo de encontrar algo que me machucasse mais, entrei no quarto e pude avistar as suas coisas no chão. Tudo ali dentro tinha o cheiro de James e eu jamais usaria esse quarto de novo, antes de conseguir prosseguir, pude sentir uma presença atrás de mim e Taehyung se posicionou ao meu lado.
— Posso te ajudar com algo? – perguntou baixinho.
— Não deve ser muita coisa. – respondi indo em direção a mala.
Juntei todas as coisas que estavam no chão sem me preocupar muito em organizar as suas roupas. As suas roupas couberam sem esforço, James não carregava muito consigo. Peguei o seu casaco e não calculando a forma como o segurei, senti algo pesar e logo em seguida um objeto caiu no chão.
— O meu telefone. – murmurei ao vê-lo no chão.
— Seu? – retrucou Taehyung.
— Sim. – sussurrei pegando o mesmo.
— O que ele está fazendo aqui? – disse se aproximando.
— Não sei. – continuei sem força. — Pensei que havia perdido, mas pelos vistos não.
— Isso reafirma você não ter mandado mensagens para mim. – comentou chamando a minha atenção. — Então, ele realmente armou tudo.
— Você tinha dúvidas? – ele me olhou sem entender. — Pensou que eu estava mentindo?
Taehyung não respondeu, eu também não disse nada. A verdade foi aceite somente por ter visto o telefone, isso significava que ele não acreditava em mim. Até o momento, havia a possibilidade de eu estar mentindo e isso doeu. Optei por não falar mais nada, não queria discutir com ele. Ele tinha todo o direito de não acreditar, não podia mudar isso.
— Você está bem? – perguntou ao notar a minha indiferença.
— Não. – respondi baixinho. — James calculou tudo, antes mesmo de eu saber. Sou mais inteligente que isso, mas me distrai ao te conhecer. – as minhas palavras doeriam. — Queria tanto ser feliz que acabei esquecendo que não posso.
— Não fala assim. – pediu se aproximando.
Me afastei dele e respirei fundo.
— No dia em que te apresentei para os meus pais, ele me ameaçou e eu deveria ter acreditado. – ele me olhava com muita seriedade.
— Ele não se aproximará de novo. – insistiu se aproximando mais. — Eu prometo.
— Eu não acredito nisso. – murmurei. — E tenho nojo de mim mesma.
Segurei as minhas lágrimas e o vi se aproximar mais, Taehyung procurou me abraçar, mas eu não permiti. Não queria sentir o seu toque em mim, não agora. Não era o momento certo para fazer isso, eu não o merecia.
— Eu estou aqui. – disse parando ao ver a minha reação. — Não te deixarei ir.
Não respondi, apenas fechei a mala de James e me certifiquei que não havia nenhum bem pessoal dele ou da minha mãe por ali. Respirei fundo e caminhei em direção a sala, Taehyung não disse nada apenas me seguiu em silêncio.
— Obrigada filha. – disse o meu pai ao me ver com a mala em minhas mãos. — Prometo voltar quando resolver tudo com James.
Ele se aproximou e me envolveu em seus braços, seria a última vez que o abraçaria assim.
— Eu que agradeço por tudo. – respondi devolvendo o abraço. — Obrigada por colocar um fim neste pesadelo e por me amar tanto.
Não podia chorar e não queria continuar demonstrando dor, ele não podia se lembrar de mim assim.
— Eu te amo meu amor. – senti o seu beijo em meu rosto e tremi. — Foi um prazer, Kim Taehyung.
— O prazer é todo meu. – respondeu vindo em nossa direção. — Espero vê-lo novamente. – continuou lhe dando um abraço.
— Cuide bem da minha filha. – pediu. — E cuide bem do seu bebê. – avisou.
— Sim senhor. – Taehyung sorria com sinceridade.
O meu pai pegou a sua mala e a mala de James, indo em direção a porta. O seguimos em silêncio e procurei colocar um sorriso em meus lábios, ele merecia isso. Antes de sair por completo ele sorriu e me mandou um beijo, em seus olhos havia tristeza, mas ele não queria demonstrar isso. Assim que o meu pai se afastou, eu fechei a porta e respirei fundo. Calmamente caminhei em direção a cozinha e evitei pensar na dor que sentia e na dor que causaria ao meu pai.
— Você está bem? – ouvi a voz de Taehyung e me virei para ele.
— Não. – respirei fundo.
— Eu sinto muito por tudo isso. – continuou vindo em minha direção. — Não sei o que te falar.
— Também sinto muito. – respondi me afastando. — Mas tudo ficará bem. – menti.
— Se você permitir, eu gostaria de cuidar de você. – não permitiria.
— Não quero. – murmurei. — Não quero assumir todas as responsabilidades que pairam no ar, não teremos um futuro juntos.
Os seus olhos dobraram de tamanho e o medo tomou conta do seu rosto.
— Do que você está falando? – questionou cruzando os braços. — O que isso quer dizer?
— Não quero ser mãe, nunca quis. Esse bebê aconteceu por motivos maiores, não foi um descuido nosso. – precisava ser direta com ele. — Não quero continuar com o nosso relacionamento, quero terminar e prosseguir com o destino que escolhi para o bebê.
— Você está louca? – ele estava perplexo. — Você está falando de um filho meu, tem noção disso?
— Agora você acredita que é seu? – não queria brigar, mas o meu sangue fervia.
— Alice, eu sempre acreditei em você. – respondeu tentando se aproximar. — Mas eu ainda estou em choque e tenho esse direito, não acha?
— Você está em choque? – retruquei. — Quer saber como me sinto?
— Alice. – tentou se aproximando.
— Não se aproxime de mim. – pedi me afastando. — Acha que tudo isso não foi um choque para mim? Ouvir tudo o que aconteceu aqui e saber que estava sendo envenenada e abusada por James. Acha que isso não me chocou? Ninguém sabe o que ele fez comigo e você é o único que merece estar em choque? – ele tinha lágrimas nos olhos. — Essa criança pode ser dele, mesmo eu sabendo que é sua. Eu não quero ser mãe e não será você quem mudará o rumo das coisas.
— Nada justifica as minhas palavras e comportamento, não posso imaginar a sua dor. – murmurou. — Mas não permito que pense assim, estamos falando de uma alma que não tem culpa de nada. Essa vida pode ser minha também e eu quero vê-la crescer, por qual motivo você me privaria disso?
— Não seremos bons pais. – retruquei. — Não seremos felizes, não posso colocar esse bebê no mundo sabendo que não haverá felicidade para ele. – ele não entendia.
— Não sei se seremos bons pais, mas você nem sequer quer tentar. – ele estava firme. — Se continuarmos juntos, tudo é possível. Esqueceu do amor que sentimos um pelo outro?
Respirei fundo e me sentei em uma cadeira, estava sem forças para ficar de pé. Taehyung não disse mais nada, apenas saiu da cozinha e me deixou sozinha. A minha cabeça começava a doer e as suas palavras me assombravam, eu estava com receio de tudo até mesmo de mim mesma. Há alguns dias eu faria de tudo por ele e lhe dar um filho poderia ser uma escolha certa, no entanto a crueldade de James era recente e eu não conseguiria esquecer os seus atos e seguir com a minha vida como se nada tivesse acontecido, essa criança não podia nascer agora. Neste momento eu não tinha amor para oferecer.
Olhei para a minha barriga e voltei a respirar fundo. O pequeno coração dentro de mim não tinha culpa do que estava acontecendo, mas pagaria por nossos erros. Afastei os meus pensamentos e retirei o meu telefone do bolso, precisava saber o que James fazia com ele. Havia mensagens novas, e-mails do meu trabalho e a conversa que ele teve com Taehyung. Ele nem sequer se deu ao trabalho de esconder as suas ações, ele tinha a certeza de que daria certo e eu provavelmente não descobriria. Desviei o meu olhar para Taehyung e me senti mal, ele não tinha culpa, mas por decisões minhas, pagaria por tudo.
— Quer um chá? – disse ao notar que olhava para ele.
— Não. – murmurei ao vê-lo vir em minha direção.
— Talvez seja melhor morarmos juntos. – continuou andando de um lado para o outro. — Você não quer morar com os meninos, então, eu posso me mudar para cá ou podemos comprar uma casa nova. – ele falava como se nada tivesse acontecido. — O que acha?
— Eu acho que você não me entendeu. – sussurrei. — E está passando por cima das minhas decisões, o que me deixa triste.
— Eu não vim até aqui para te perder. – respondeu parando em minha frente. — Não curei o meu coração com o seu amor para ouvir você dizer que é o fim, se há alguma esperança, eu lutarei por ela. – pude ver as lágrimas voltarem. — Eu respeito toda a sua dor, te acolho, mas não aceito te perder e eu não aceitarei ver que você desistiu da nossa família sem ao menos tentar.
Desviei o meu olhar ao ouvir, tê-lo ao meu lado não me passava nenhuma confiança. Entretanto, até descobrir o que faria da minha vida, seria melhor não falar nada. Não queria me arrepender de atos contra ele, não podia correr o risco de o magoar antes de morrer. Ele não merecia isso, não faria isso conosco de novo.
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