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Assim que o meu pai saiu do quarto as minhas pernas começaram a tremer. O pavor me engolia e eu não sabia o que fazer para evitar a situação em que nos encontrávamos, eu não sabia como o fazer e se deveria fazer. Taehyung me envolveu em seus braços e me pegou no colo, a minha cabeça vagava por todos os atos da minha mãe e por todas as palavras do meu pai. Ver a sua fúria me causou medo e apesar de tudo, eu gostaria de manter a calma por todos nós. Sentia que o meu corpo estava fraco e qualquer movimento brusco poderia acabar com a vida do bebê dentro de mim, necessitava passar uma imagem sem sofrimento, mesmo sofrendo muito.
Isso era tudo o que eu temia, estar nessa situação era o que eu não queria e por isso, procurei manter a paz em todos os lados. As minhas ações foram em vão e no momento, todo mundo brigava por minha causa. Os gritos ecoavam e a minha cabeça doía ao ouvir a voz fraca do meu pai que também estava sem forças para continuar.
— Você está bem? – murmurou Taehyung me deitando na cama.
— Sim. – sussurrei me sentando. — Preciso impedir que o meu pai faça uma besteira, isso precisa ter um fim.
— Por qual motivo a sua mãe te bateu? – retrucou me ignorando. — O que aconteceu aqui dentro?
— Não sei. – menti. — Ela se exaltou por você estar aqui comigo, mas não sei se esse foi o motivo da sua agressão. – e realmente não sabia.
A minha mãe não tinha direitos sobre mim, mas isso não a impediu de me odiar mais e de levantar a sua mão para mim. Durante toda a minha vida, eu me acostumei a viver com a sua indiferença, mas nunca a vi erguer as suas mãos para me ferir. Ela simplesmente nunca o havia feito, então, eu também não compreendia os seus motivos. Respirei fundo e me levantei, precisava impedir o meu pai.
— A sua mãe é louca, e isso não é uma ofensa, mas sim uma realidade. – comentou. — Ela não pode continuar em sua vida, Alice, ela está te matando aos poucos. Não vê isso? – eu sabia disso. — Vamos embora, lá em casa você terá paz.
À medida que Taehyung falava, eu conseguia ouvir os gritos ecoarem pela casa. Ao notar a minha reação de desespero, Taehyung me abraçou e me apertou contra o seu peito. Ele queria me proteger de todas as formas possíveis, mas não conseguiria. Eu previ isso em algum momento, era inevitável e a culpa era minha, somente minha. Precisava colocar um fim em tudo ou sofreríamos mais, isso não podia continuar assim.
— Você está louca? – gritou o meu pai. — Como pôde levantar a mão para a nossa filha?
— Não me faça começar. – retrucou a minha mãe também em gritos. — Você não tem ideia do que a sua filha faz, não pode defendê-la sem saber.
— Eu não me importo com o que ela fez. – ele estava muito furioso. — Nada te dá o direito de interferir na vida dela, ela é maior de idade e merece ser feliz.
— Eu sou a mãe dela, tenho todos os direitos sobre ela. – toda a gritaria me assustava.
— Cala a boca! – gritou ele. — Você perdeu qualquer direito sobre ela quando começou a tomar decisões que a magoam tanto. Em que pontos chegamos? Você agrediu a nossa filha! – isso também era novidade para ele.
Ao ouvir as suas palavras, o meu coração pesou. Não conseguiria ouvir estes gritos sem fazer nada, me afastei dos braços de Taehyung e cambaleando corri para a sala. Necessitava acabar com essa confusão, não podia permitir que isso continuasse. O meu pai não merecia ser magoado, ele não merecia sofrer como eu. Taehyung não me impediu, mas se posicionou ao meu lado procurando me ajudar durante todo o processo. Parei no meio do caminho e respirei fundo, tentando me recompor. A calma precisava habitar o meu corpo e eu não podia piorar o que estava acontecendo entre eles.
— Por favor, parem com isso. – pedi calmamente.
A minha mãe me olhou com desprezo e eu optei por ignorar. A prioridade era acalmar o meu pai e impedir que ele tivesse um ataque cardíaco por causa dela, somente a sua saúde me importava. Me aproximei dele com a ajuda de Taehyung e procurei confortar o homem que tanto amava, ao fundo pude ver a figura de James e em silêncio ele pegou a minha mãe pelo braço. Assim como o meu pai, ele parecia estar furioso com ela.
— Não tinha o direito de bater nela. – disse James para a minha mãe. — O que você estava pensando?
— Estou fazendo isso por você. – retrucou ela. — Não vê isso?
— Não pedi para você fazer isso, está louca? – ela parecia estar com medo dele. — Falamos sobre isso depois.
— Pai. – murmurei ignorando a cena aterrorizante. — Por favor, se acalme.
— Isso foi longe demais. – disse chorando. — Fechei os meus olhos para muitas coisas, mas isso foi longe demais. – a sua reação me assustou. — Não posso mais aceitar isso.
— Não acredito que você está do lado dela! – os gritos da minha mãe eram irritantes. — Mesmo ela estando errada, ela é sempre a coitadinha.
— Por qual razão a nossa filha está errada? – gritou o meu pai me assustando. — A nossa filha está amando alguém que cuida e merece o amor dela, é errado viver assim?
Eu não estava errada, mas a minha mãe não assumiria isso.
— James sempre cuidou dela, fez tudo por ela. – ela realmente acreditava nisso. — E olha o que ela fez com ele, em breve ela fará o mesmo com este aí. – Taehyung a olhou com nojo.
— James? – retrucou o meu pai. — Esse James? – continuou apontando para ele. — Sempre fingi não ver, mas sei que ele magoou a nossa filha. Ele pode ser um ótimo amigo para nós dois, mas foi um péssimo homem para a nossa filha. – o meu pai tremia de raiva. — Você perdeu todo o juízo que tinha, só pode ser isso.
— O amor e a dor andam juntos. – respondeu dando de costas para o meu pai.
— O quê? – retrucou Taehyung do nada. — O amor e a dor andam juntos? Você sabe que a sua filha foi abusada por ele e que ainda continua sendo abusada por ele até hoje? – o meu pai nos olhou incrédulo. — A sua filha está sendo envenenada e está sendo usada como um brinquedo por esse cretino. – senti o meu mundo desabar.
A confusão ficou maior ainda e eu conseguia ver o meu pai e Taehyung pulando no pescoço de James, isso fez o meu coração doer.
— Isso não é verdade! – gritou a minha mãe. — A Alice adora inventar essas coisas para magoar o James. – o que ela estava falando?
— Abuso? – intrometeu o meu pai. — Que abuso? Do que está falando? – pude ver a artéria em seu pescoço ficar nítida.
— Isso mesmo. – continuou Taehyung. — Este infeliz tem violado a sua filha todas as noites, a drogando e usando isso a seu favor.
O meu pai parecia não acreditar nas palavras de Taehyung, ele começou a andar de um lado para o outro tentando digerir o que ouviu.
— Eu nem durmo aqui. – disse James. — Como é possível ter feito isso?
— Está vendo? – retrucou a minha mãe. — É tudo mentira dessa dissimulada.
— Então vocês passam o fim de noite vendo filmes e sempre que você volta para o quarto, supostamente James foi embora. – comentou o meu pai. — No entanto, eu nunca o vi ir embora e sempre que acordo, ele já está aqui e na noite que voltamos do restaurante, ele estava no quarto da Alice alegando estar preocupado com ela. – eu não sabia disso.
— Você não precisa ver tudo. – rebateu ela. — E ele foi até ao quarto dela a pedido meu.
Imaginei que ele não dormiu no hotel, ele não conseguiria fazer isso e abusar de mim em simultâneo. O meu estômago embrulhou, mas contive os meus sentimentos e eu não podia demonstrar nada ou ela usaria isso contra mim. Sem esperar, pude observar o meu pai correr em direção a minha mãe e sem falar nada, ele a encostou brutalmente contra a parede. Ela sentiu a dor e a sua expressão era nítida, ele apertava o seu pescoço e os seus gritos voltaram a ecoar.
— Você perdeu a noção da vida? – gritou apertando o pescoço dela.
Ela estava com medo, mas permaneceu firme.
— Não faça isso. – pediu James se envolvendo. — Vamos conversar, é a melhor saída.
— Cala a boca! – gritou de novo lhe desferindo um soco na boca. — Seu cretino.
Era oficial, tudo o que eu não queria estava acontecendo. O meu pai batia em James e ao ver, Taehyung foi em sua direção e o segurou. Não consegui reagir, apenas observei o que acontecia em silêncio, as lágrimas desciam por meu rosto e eu procurava conter a dor em mim. A minha vida passava diante dos meus olhos e o resultado era cruel, James não retribuiu a violência e em todos os momentos ele permaneceu em silêncio. A minha mãe se escondeu atrás dele assim que Taehyung os separou, em seus olhos pude ver lágrimas, mas ela as engoliria. Era o meu fim, sentia isso.
— Se acalme. – pediu James de novo.
— Não me dirija a palavra. – gritou o meu pai em prantos. — Você abusou da minha filha, cretino. Acha que a minha menina nasceu para passar por isso? – a dor em meu peito se intensificava. — Sabe quanto tempo eu passei criando a minha filha para ser uma pessoa boa, para que você chegue e abuse dela? Eu vou acabar com você!
Taehyung permaneceu ao seu lado e o segurou, no momento seguinte o meu corpo caiu. Caí no chão e o dobrei os meus joelhos contra o meu peito, procurava segurar um pouco da dor que sentia. As lágrimas molhavam o meu rosto e eu sentia que poderia desmaiar a qualquer momento, procurei segurar os soluços, mas era em vão.
— A sua filha gostou. – provocou James. — Tudo o que fiz com ela, ela amou.
Taehyung tremeu de ódio, mas conteve a sua ira para si. Não podia acreditar no que estava ouvindo, isso não podia ser real.
— Não só gostou como está grávida de James. – todos os olhares se voltaram para mim. — Não foi isso o que você me disse no quarto? – isso não era verdade.
— Grávida? – a vou de Taehyung e James ecoaram juntas.
— Está grávida dele? – indagou Taehyung vindo em minha direção. — Isso é verdade?
Procurei me levantar, mas não consegui. As minhas pernas tremiam muito e eu mal conseguia respirar, o meu peito doía e o olhar de Taehyung me matou por dentro. Ele estava decepcionado comigo, era nítido e eu sabia que ele não acreditaria em mim.
— Não. – murmurei sem forças. — Não, não é dele.
Taehyung tinha lágrimas nos olhos e James também estava perplexo. Isso não o impediu de se aproximar, mas ao ver os olhares furiosos de Taehyung, ele se afastou.
— Diga a verdade, todos saberão que é verdade em breve. – provocou a minha mãe, ela queria causar discórdia. — Você diz que ele tem abusado de você e o olha o resultado, um bebê e você gostou. Não é isso? Você mesma me disse que está radiante. – ela mentia com tanta facilidade. — Foi por isso que bati nela, pois, ela queria que o Taehyung assumisse o filho de James. – isso não era verdade.
— Não. – murmurei sem forças. — Esse bebê é seu Taehyung. – o meu grito não ecoou, não tinha forças.
Os passos do meu pai em minha direção eram apressados e em seu rosto havia muito preocupação. Em silêncio ele colocou as suas mãos em minha cintura e me ajudou a ficar de pé, me sentia fraca e a minha visão ficou turva. Em algum momento, eu perderia o controle de mim e cairia novamente.
— Me perdoa filha. – sussurrou o meu pai. — Me perdoa por nunca ver isso.
— Esse bebê é seu, Taehyung. – ele me olhava com muita confusão.
Em seus olhos havia uma mistura de confusão e dor, no momento eu não conseguia ver nenhum sinal de amor. Ele não acreditou em mim e estava tudo bem, não viveria por muito tempo para tentar me redimir.
— Esse bebê é meu? – não senti firmeza em suas palavras.
— Sim. – sussurrei. — Estou grávida de quatro semanas e ele não está aqui por tanto tempo. Namjoon esteve comigo e pode confirmar, não é verdade.
— Já chega! – gritou o meu pai me assustando. — Saíam daqui!
— Eu não vou embora! – retrucou a minha mãe também em gritos.
O meu pai fez sinal para Taehyung que veio em minha direção e me segurou, senti o seu toque, mas o seu olhar não encontrou o meu. Ele estava magoado e provavelmente não acreditou em minhas palavras, mas como eu poderia julgar? Se estivesse em sua posição também pensaria o mesmo e sentiria o mesmo, no entanto, nada era importante, eu morreria em breve.
— Saía daqui! – gritou o meu pai indo em direção a minha mãe. — Agora, os dois. – ele empurrava a minha mãe e James para a porta.
— Vamos. – disse James puxando a minha mãe.
Ambos me lançaram um olhar de ódio, senti medo e sabia que isso não havia acabado. James voltaria pela criança, então, eu precisava acabar com a minha vida o mais rápido possível.
— Se esse bebê for meu, eu o quero. – ameaçou James. — Ele será meu, não se esqueça disso.
Não consegui responder, pois, o meu pai bateu a porta na cara deles. Assim que eles se foram, senti o meu corpo pesar e não tentei, não queria lutar. Taehyung me segurava com força, mas não conversou comigo, o meu corpo não conseguia ficar em pé.
— Alice. – sussurrou ele me pegando no colo. — Está tudo bem? Você está sentindo algo?
Não tinha forças para responder, ele calmamente me levou para o sofá e me deitou. Não conseguia reagir e o meu corpo também não, nada mudaria o fato dele não acreditar em mim. O meu pai rapidamente veio em minha direção e se ajoelhou no chão, as suas lágrimas desciam por seu rosto e ele procurava me passar um pouco de calma ao segurar as minhas mãos. As minhas lágrimas também caiam e eu me sentia em um looping de dor, não estava bem.
— Pai. – sussurrei entre lágrimas.
— Me perdoa. – pediu chorando. — Não protegi você, eu falhei como seu pai. Falhei muito, me perdoa meu amor. – o meu coração doía tanto.
— Você não tem culpa. – murmurei. — Eu causei tudo isso, a culpa é minha.
— Não. – rebateu. — Eu permiti que a sua mãe fizesse isso, sabia que tinha algo errado, mas optei por pensar que ela não seria capaz de te magoar. Na minha cabeça, ela não seria capaz. – somente a minha morte aliviaria isso. — Eu tinha de proteger você e falhei nisso.
— Não diz isso, por favor. – pedi soluçando.
— Você precisa cuidar da minha filha. – pediu olhando para Taehyung. — Por favor, cuida dela que eu cuidarei do resto.
Taehyung estava em choque, mas ele aceitou o pedido do meu pai e não disse nada.
— E você. – continuou pousando a mão sobre a minha barriga. — Eu não sabia da sua existência, mas prometo que você virá ao mundo saudável e com muito amor. – a nossa morte acabaria com ele. — Seja bem-vindo(a) meu amor.
— Você está grávida de um filho meu? – indagou Taehyung se aproximando.
— Sim. – murmurei.
— Estou confuso. – respondeu respirando fundo. — Não sei o que fazer ou em quem acreditar.
— Não precisa acreditar em mim. – a minha voz não queria sair. — Não teremos essa criança.
O seu olhar encontrou o meu e pude ver o seu desespero, mas tomei a minha decisão e não mudaria de ideias agora.
— Do que está falando? – retrucou.
— Não quero essa criança. – respondi firme. — Decidi que não quero ser mãe, independente de quem possa ser o pai.
— Mesmo a criança sendo minha? – os seus olhos continham dor.
— E você acredita que é seu? – ele respirou fundo e desviou o seu olhar.
— Claro que é seu. – intrometeu o meu pai. — Se ela está dizendo, é verdade. Acha mesmo que a minha filha mentiria para você? – ele parecia zangado.
— Pai. – sussurrei.
— Não se preocupe, eu cuidarei de James. – ouvir isso me causou muito medo. — Prometo que ele não voltará a se aproximar.
Respirei fundo ao ouvir, o meu pai acabava de declarar guerra contra a minha mãe e James. Ele provavelmente prosseguiria com um divórcio e ele faria de tudo para que James fosse preso. O meu pai merecia alguém bom do seu lado, mas James faria de tudo para me magoar. Não podia continuar assim, se não morresse, essa crueldade nunca teria fim.
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