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Passar o meu tempo sozinha se tornou rotina, neste momento eu me encontrava sozinha. Me sentia muito mal e o meu coração dizia que ninguém queria saber como eu me sentia, o meu pai cuidava de mim, mas ele também precisava cuidar dele. Me sentia mal por causar tanto trabalho, ele não merecia cuidar de mim em suas férias. Todavia, ele tinha razão e os seus cuidados seriam feitos com carinho, ao contrário da minha mãe. Se ela cuidasse de mim, eu teria de me explicar e provavelmente ouviria provocações até não aguentar mais e discutir com ela. A minha mãe tinha alguns dons especiais e um deles era colocar a culpa do meu sofrimento sobre mim mesma, ela faria o mesmo com a minha indisposição.
Eu me sentia melhor após passar todo o dia deitada, o meu estômago se acalmou e os vômitos diminuíram. Não sabia os motivos de me sentir assim, mas algumas opções se faziam presentes em minha mente. Pela manhã eu iria até ao médico, precisava saber o que eu tinha. Respirei fundo e me apoiei na cama, eu estava com sede e sentia alguma fome. Precisava tomar algo ou não conseguiria continuar descansando. Ainda sentada, procurei olhar em volta para ver se encontrava o meu telefone.
Necessitava sair da cama e falar com Taehyung, ele provavelmente estaria preocupado comigo. As minhas costas começavam a doer e o meu corpo precisava se mexer um pouco. Me levantei da cama e organizei as minhas roupas, calcei as minhas pantufas e caminhei em direção a saída do meu quarto. O meu semblante era desprezível e a minha realidade não parecia ser minha, as minhas pernas tremiam e o caminho até a cozinha parecia imenso. Caminhei devagar para não correr o risco de cair, parei no corredor ao avistar a minha família.
Os meus pais estavam na cozinha e James estava sentado no sofá, ele assistia televisão e em suas mãos havia uma garrafa de cerveja. Por quanto tempo eu havia adormecido? Essa cena não era normal, era um sonho ou ele realmente estava confortável demais em minha casa? Ignorei o momento e continuei o meu caminho até a cozinha, onde os meus pais estavam.
— Alice! – exclamou o meu pai ao me ver. — Está tudo bem com você?
Ao ouvir, James se levantou e veio em minha direção, dei um passo para trás e quase perdi o meu equilíbrio. Ele rapidamente me agarrou pela cintura e me equilibrou, não consegui reagir ao momento. Em silêncio, ele me guiou até a bancada da cozinha onde me apoiei com cuidado, me soltando dos seus braços.
— Estou bem, obrigada. – disse me soltando de James. — Só preciso beber água.
James se afastou de mim e voltou para a sala, tomando o seu lugar no sofá. Os meus pais acompanharam os meus movimentos e o sorriso no rosto do meu pai me fez bem, ele prontamente se posicionou do meu lado e me ajudou a manter o equilíbrio.
— Está tudo bem mesmo? – indagou. — Você não precisava ter se levantado, eu poderia levar o que você precisa.
— Estou bem, pai. – sussurrei. — Precisava me mexer um pouco.
— Você vomitou de novo? – questionou baixinho.
— Não. – sussurrei. — Já passou.
— Como assim? – retrucou a minha mãe se intrometendo. — Você vomitou?
Ela parecia surpresa e o meu pai desconcertado.
— Não quis preocupar você. – disse o meu pai com calma. — Mas ela já está melhor, não está filha?
— Isso é mais sério do que pensei. – disse me olhando com preocupação. — James, vamos levar a Alice ao médico.
James olhou para nós e se levantou, a minha cabeça doía tanto e eu estava sem paciência para a minha mãe.
— Estou bem. – afirmei pegando um pouco de água. — Amanhã eu irei ao médico sozinha, não se preocupem comigo.
— Isso pode ser algo grave. – continuou ela.
— E se for? – retruquei tomando um pouco de água. — Não aja como se a minha vida fosse importante para você.
— O que você está falando agora? – pude ver a ira em seus olhos.
— Você já pode parar com o papel de mãe preocupada, para de fingir que se importa comigo o que me ama. – disse. — Sabemos que isso não é verdade, estar viva ou morta não deve significar muito para você. – conclui deixando o copo de lado.
— Filha, por favor. – pediu o meu pai.
— Está vendo como ela é? – a minha mãe estava com muita raiva. — A sua filha é ingrata.
Eu estava disposta a brigar e discutir com ela, mas ao notar que o clima ficaria pesado pude ver o semblante de James se aproximar de mim. Ele calmamente me pegou pela cintura e me guiou para fora da cozinha, não lutei contra o seu gesto de carinho. Não queria me sentir mal de novo, ele cuidadosamente me levou para a sala e me sentou no sofá. Respirei fundo e tentei conter o nojo ao estar do seu lado, isso não mudava o fato de não confiar em seus gestos.
— James? – murmurei chamando a sua atenção para mim.
— Você precisa evitar discussões desnecessárias com a sua mãe. – começou do nada. — Sabemos que você não gosta de me ver aqui e muito menos está conformada com o apoio que ela me dá, mas não precisa se indispor por minha causa. – franzi o sobrolho ao ouvir. — A sua mãe compreenderá a nossa situação em breve.
— O que quer dizer com isso? – indaguei.
— Evite jogar um ódio desnecessário em seus pais, o seu problema é comigo. – respondeu calmamente. — Se estiver com raiva, por favor, discuta comigo.
— Você sabe o que aconteceu comigo? – me atrevi a perguntar.
James respirou fundo e me olhou nos olhos, ele procurava ler as minhas expressões faciais.
— Não sei. – murmurou. — Você passou mal no restaurante e quando chegamos aqui, você foi dormir e desde então está no seu quarto. No restaurante você fez uma aposta com o seu pai e do nada, vocês começaram a beber. – eu não me lembrava de nada. — Pensamos que a sua indisposição era resultado da bebedeira, mas se ainda não melhorou e está com enjoos, precisa ir ao médico. – não reconhecia o homem em minha frente.
— Eu estou bem. – respondi. — Provavelmente a bebida não me fez mal.
— Sabe que não pode comer aquele refogado e mesmo assim, o fez. – ele me dava um sermão. — A sua indisposição começou depois daquele almoço, não foi? – acenei afirmativamente. — Não seja tola da próxima vez.
— Você viu o meu telefone? – indaguei mudando de assunto.
James me conhecia por conviver tantos anos comigo, ele sabia exatamente o que acontecia com o meu corpo se comesse certos tipos de alimentos. Não queria reviver nada ao seu lado, logo, não podíamos prolongar o assunto.
— Não. – respondeu tomando um pouco de cerveja. — Mas posso te ajudar a procurar.
— Obrigada.
Necessitava encontrar o meu telefone, talvez ele estivesse no restaurante. Ligaria para lá e perguntaria, mas ao mesmo tempo eu precisava revirar a minha casa até encontrar. O meu telefone era o único meio de comunicação com Taehyung, algo em mim dizia que ele estava sofrendo e que precisava de mim. No entanto, tendo em conta a minha situação atual, isso podia ser tudo fruto de um delírio.
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