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••• um dia depois •••

— Alice. – sussurrou uma voz. — Alice.

Respirei fundo e abri os meus olhos, a minha visão estava turva e os meus olhos doíam muito. Senti como se houvesse chorado muito, mas não conseguia me lembrar se isso tinha acontecido. Pisquei os meus olhos por alguns segundos e ao sentir a minha visão ficar nítida, eu abri os meus olhos por completo e avistei o semblante do meu pai. Ele passava as suas mãos por meu rosto e parecia preocupado, uma reação que eu também não compreendia.

— Pai. – tentei sem forças.

— Ei, minha flor. – continuou baixinho. — Você está bem?

Respirei fundo e contei até três procurando me lembrar o que tinha acontecido comigo ou pelo menos o motivo de me sentir assim, cansada e dolorida.

— O que aconteceu? – indaguei tentando me concentrar.

A dor que sentia no momento não era apenas física, ela era emocional. Os meus pensamentos estavam confusos e a sensação era de ter um caminhão em cima de mim, apertando todos os meus órgãos internos em uma só direção. Tudo em mim estava dolorido, principalmente a minha intimidade e as minhas pernas que eu mal conseguia mexer. Os olhos do meu pai analisaram o meu rosto e procuraram por algo, algo que eu não sabia o que era.

— Você não tem estado bem. – comentou. — Tem dormido bastante e passou um dia inteiro desacordada. Está se sentindo melhor agora?

— Do que o senhor está falando? – sussurrei. — Eu não me lembro de nada, o que aconteceu?

— Está sentindo alguma coisa? – ele ignorou a minha pergunta. — Onde você está sentindo dor?

— A minha cabeça doe e eu me sinto tonta. – respondi baixinho. — Pai, o que aconteceu comigo?

Procurei apoiar o meu corpo para me sentar na cama, mas foi em vão. Perdi o controle e cai novamente, o meu pai rapidamente me ajudou e equilibrou o meu corpo com os seus braços. Ele me sentou na cama e ajeitou os cobertores para que eu não sentisse frio, a minha cabeça procurava se lembrar de tudo, mas nada funcionava. Tudo o que conseguia me lembrar era dos momentos ao lado de Taehyung e seus amigos, onde eu já estava passando mal. Em seguida consegui me lembrar do restaurante onde estive com os meus pais e James, a minha cabeça doía tanto.

— Você está assim desde que voltamos do restaurante. – continuou ele. — Melhor dizendo, desde que voltou da casa do seu namorado.

— Não entendo. – murmurei. — Não consigo me lembrar de nada.

A minha respiração oscilou e eu senti o meu coração bater mais forte ao me lembrar do semblante sofrido de Taehyung. Será que havia sonhado com a sua presença ou realmente ele esteve ali? Precisava falar com ele, necessitava da sua ajuda e a minha confiança era só dele. Tentei me levantar mais uma vez, mas a fraqueza não me permitiu. O que estava acontecendo comigo?

— Cuidado minha filha. – disse o meu pai me ajudando. — Você precisa recuperar as suas forças primeiro.

— Pai, eu preciso me levantar. – murmurei. — Por favor, me ajude. – as lágrimas tomavam conta de mim.

— Vamos com calma. – pediu tentando me acalmar. — Primeiro você precisa se recuperar.

Antes de conseguir organizar os meus pensamentos e compreender as palavras do meu pai, as minhas forças tomaram conta de mim juntamente com a adrenalina. Senti o meu estômago embrulhar e em um ato de proteção, me levantei e corri para o banheiro. Me joguei no chão e me agarrei ao sanitário vomitando tudo o que o meu corpo já não queria para si. Todo o líquido saía do meu corpo com força e eu sentia muitas dores no processo.

— Filha, você está bem? – senti as mãos do meu pai em meus cabelos. — O que você está sentindo? – eu não sabia o que estava acontecendo.

Não tinha como responder, o meu corpo estava cansado e emitia sinais de perigo. Porém, eu não sabia o que tinha e nem sabia como me cuidar, no fundo, eu só sentia medo. Não saber o que está acontecendo com o seu corpo é apavorante, após alguns minutos o meu pai me pegou no colo e me levou até a pia, me colocando no chão de novo. Lavei o meu rosto e escovei os meus dentes, ainda me apoiando em seu corpo, ele me levou para o meu quarto e procurou por uma roupa para mim.

Eu estava vestida, mas não sabia como. O meu pai me ajudou em todo o processo e eu me senti uma criança novamente. Ele me ajudou a tirar a roupa que vestia e cuidadosamente me ajudou a vestir um pijama fresco, o seu rosto estava sério e ele parecia preocupado comigo. Me sentia doente e em minha mente eu pedia aos céus para não ser algo grave.

— Vou preparar algo para você comer. – disse o meu pai me ajeitando na cama. — E um chá bem forte, você precisa de forças.

Não respondi, não sabia o que responder. Ele rapidamente saiu do meu quarto e fechou a porta atrás de si, forcei a minha mente a se lembrar de novo. Precisava saber de tudo o que havia acontecido e como havia acontecido, respirei fundo e com certa dificuldade saí da cama. Me apoiei e procurei não fazer esforço, algo impossível no momento. Caminhei em direção a minha roupa que estava em cima de uma cadeira, era a mesma roupa que usei no restaurante. Procurei por meu telefone em todos os bolsos, mas não havia sinais dele. Tinha a certeza de que ele estava no bolso do casaco, eu não me esqueceria dele. Será que havia esquecido o meu telefone no restaurante?

Respirei fundo e tentei juntar as peças do puzzle em minha mente, passeei por Seoul juntamente com os meus pais e James, depois fomos para um restaurante e isso era tudo o que conseguia me lembrar. Me lembrava de me sentir mal, franzi o meu rosto obrigando o meu cérebro a se lembrar de alguma coisa, no entanto os meus esforços eram em vão.

— Filha! – exclamou o meu pai me assustando. — Você precisa descansar.

Me apoiei nos móveis e voltei para a minha cama, ainda precisava organizar os meus pensamentos.

— Eu fiz um chá para você. – continuou vindo em minha direção.

— O que aconteceu no restaurante? – questionei pegando o recipiente com o chá. — Não consigo me lembrar de nada.

— Não sei ao certo. – respondeu colocando a bandeja com a sopa em minha frente. — Quando chegamos do restaurante você se sentia muito mal, me disse que precisava descansar e veio diretamente para o seu quarto. E desde então, você tem dormido como um bebê. – respirei fundo ao ouvir. — A sua mãe esteve aqui e disse que o sono era profundo, por isso, resolvi cuidar de você. – ele respirou fundo antes de continuar. — A sua mãe nunca teve paciência para cuidar de você e sabendo que vocês não se dão bem, eu prefiro estar aqui. – sorri de canto ao ouvir enquanto ele ajeitava os lençóis.

— Eu não me lembro de nada. – sussurrei tomando um pouco de chá.

— Não parece, mas estamos muito preocupados contigo. A sua mãe saiu com James para fazer compras. – continuou. — Ela disse que talvez uma comida caseira seja o que você precise para se recuperar mais rápido. – o meu pai era tão inocente.

— O senhor viu o meu telefone? – indaguei deixando o chá de lado.

— Não. – respondeu olhando em volta. — Mas posso procurar por você, enquanto isso por favor descanse.

— Obrigada pai. – murmurei.

Não tinha forças para procurar sozinha e eu ainda me sentia muito confusa, a melhor coisa a ser feito seria de fato descansar. A minha mente me acusava de alguma coisa e o meu coração doía sempre que me lembrava de Taehyung. Será que ele realmente esteve ali? Será que ficava louca aos poucos e a minha consciência brincava com os meus sentimentos? Afastei os meus pensamentos e me deitei, cobrindo o meu corpo. Antes de continuar, eu precisava das minhas forças e somente assim, eu conseguiria entender o que havia acontecido comigo. 

***


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