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A luz do dia procurava iluminar todo o meu quarto através das cortinas que ainda estavam fechadas, me sentia obrigada a acordar. Procurei me mexer, mas senti um peso sobre o meu corpo e sorri de canto ao lembrar de quem era. A noite anterior havia deixado memórias maravilhosas, ele havia adormecido sobre o meu corpo e ali ficamos. O meu corpo estava dolorido, assim como sentia os meus cabelos presos embaixo do seu corpo. A sua respiração pesada tocava a minha pele e me causava arrepios, sorri de canto ao sentir. Taehyung tinha metade do seu corpo sobre o meu e a outra metade jogada pela cama, ele parecia uma contorcionista chinesa e isso me arrancou outro sorriso.
Taehyung era um sonho e eu não queria acordar, adoraria permanecer assim para sempre. Busquei me esquivar dele, mas foi em vão. Ponderei qual seria a melhor forma de o fazer sem que ele acordasse. Após algum tempo consegui me esquivar e me levantei da cama deixando metade dos meus cabelos embaixo do seu corpo. Respirei fundo ao vê-lo deitado em paz, toda a sua beleza me reconfortou e fez o meu coração se sentir bem. Eu me senti bem ao seu lado e por um momento desejei um longo futuro ao seu lado, longe de todas as dores e sofrimentos que poderiam nos encontrar.
Afastei os meus pensamentos e fui em direção ao banheiro, não queria pensar em mais nada no momento. Somente os momentos ao lado de Taehyung eram importantes para mim, estava disposta a cuidar dele assim como ele cuidou do meu coração. Faria algo para comermos e se ele pudesse ficar, passaríamos o dia juntos, fazendo algo que ambos gostamos. Lavei o meu rosto e escovei os meus dentes, precisava acordar para estar bem ao seu lado. Respirei fundo e passei alguns cremes em meu rosto, deixando a minha pele mais fresca. Abri uma das gavetas do armário do banheiro e tomei uma pílula do dia seguinte, era a segunda vez que havíamos feito sexo sem preservativo e isso podia acabar de um jeito indesejado. Ao sentir que estava pronta, saí do banheiro e voltei para o quarto.
Lancei o meu olhar para a cama e sorri ao vê-lo, como alguém podia ser tão belo? Mesmo sabendo que a minha vida era uma confusão e que muitos problemas ainda estavam por vir, ele queria ficar ao meu lado. Ele gostava de mim e estava disposto a lutar pelo nosso relacionamento do mesmo jeito que eu estava disposta a lutar por ele. Não queria deixar a oportunidade de ser feliz escapar e perder o seu amor não era uma opção, isso não seria justo para nenhum dos dois. Afastei os meus pensamentos e fui em direção ao meu guarda-roupas, vesti algo confortável, mas bonito para quando saíssemos de casa.
Assim que ele acordasse pediria para sairmos um pouco, precisávamos voltar ao parque onde tudo havia começado para celebrar o nosso namoro. Fui em direção a cama e ajeitei o cobertor cobrindo o seu corpo, ele precisava descansar. Enquanto cuidava dele, ouvi a campainha tocar. Quem seria? Me despedi dele com um beijo na testa e olhei para o calendário. Era quarta-feira e normalmente neste dia costumava receber trabalhos novos. Antes de sair do quarto um receio voltou a me consumir, podia ser James e isso também poderia ser fatal. Respirei fundo e saí do quarto indo em direção a porta, pensaria positivo e seria apenas o correio me trazendo mais trabalho.
Me assustei ao ver que a minha sala e cozinha estavam organizadas, Taehyung se tornava cada minuto mais apaixonante e o meu coração se alegrava por tê-lo ao meu lado. Abri a porta e me assustei ao ver o que os meus olhos encontraram.
— Mãe? – exclamei sem entender. — O quê. – tentei.
— Filha. – disse me abraçando. — Que saudades de você. – isso não podia ser real.
Não compreendi o que estava acontecendo, o que ela estava fazendo ali? A minha cabeça girava em várias direções possíveis, tentei controlar os meus sentimentos para não surtar em sua frente. A minha mãe cheirava a cigarro e as minhas memórias retornaram, me lembrando do cheiro que ela deixava em casa sempre que terminava de fumar. Não gostava da sua presença e ainda não entendia o que ela fazia em minha frente, tínhamos um acordo e não esperava vê-la tão cedo.
— O que está fazendo aqui? – indaguei me soltando dos seus braços.
— É assim que você recebe a sua mãe? – retrucou fechando a sua cara. — Pensei que o tempo longe de casa fosse o suficiente para te ensinar bons modos. – pude sentir o ódio me invadir.
— Não é isso. – tentei. — Não esperava a sua visita e nem sabia que você estava em Seoul. Me desculpe, mas o que você faz aqui? – eu precisava saber. — Tínhamos um acordo e você não é suposto estar aqui, o que está acontecendo?
A minha mãe me olhou com desprezo e isso era normal, a nossa relação era baseada nestes sentimentos que sentíamos uma pela outra. Pude sentir que ela queria brigar comigo, mas nada aconteceu. Respirei fundo e procurei manter a minha calma, não queria brigar com ela, mas eu não queria a sua presença em minha vida.
— Estamos de férias. – disse após respirar fundo. — Estávamos com saudades de você. – isso só podia ser verdade por parte do meu pai. — Queríamos fazer uma surpresa e James fez o favor de nos trazer até o seu encontro. – senti um calafrio me invadir.
— Você sabe o que eu penso sobre isso. – disse contendo a minha raiva. — Você sabe que eu não quero contato com James, ele não pode estar em minha vida. – a minha voz estava alterada. — Vocês não podem invadir a minha vida com ele e achar que isso é algo normal.
— Você deveria se envergonhar do que está dizendo. – a sua defesa estava ativada. — O rapaz sofreu por sua causa e mesmo assim está procurando se redimir por algo que ele não teve culpa. – não podia acreditar em suas palavras. — Procure ser uma mulher e assumir os danos que você fez em sua vida.
— O quê? – retruquei controlando as minhas lágrimas. — Está se ouvindo agora? James acabou com a minha vida, não se lembra disso? – não podia ser verdade.
— Parece que você não mudou. – a sua voz continha deboche. — Olha como se veste e espera que os homens não te desejem? – a minha mãe não tinha mudado. — James fez o que qualquer homem faria se tivesse a oportunidade, você pediu por seus atos.
Segurei a minha raiva em mim e respirei fundo, a minha vontade era de colocá-la para fora e impedir a sua participação em minha vida, no entanto, pensar na reação do meu pai fez com que os meus pensamentos parassem.
— Por qual motivo você está aqui? – indaguei mantendo a minha calma. — Você me odeia, não deveria estar aqui.
A minha mãe respirou fundo e pareceu contar até três.
— Eu não te odeio minha filha, mas não acredito em você. – senti o meu peito doer. — Você sempre foi muito engenhosa com as suas histórias e não se tornou uma escritora de meia tigela atoa. – as lágrimas que procurava segurar desceram por meu rosto. — Entenda uma coisa, somos os seus pais e você nos deve respeito. Mesmo se mudando para uma cidade grande, nada mudou e isso continuará assim até morrermos. – eu estava em dor.
— O que você deseja? – retruquei limpando as minhas lágrimas. — Brincar de casinha com James?
— Eu gostaria de passar um dia agradável ao seu lado. – disse com calma. — Ao lado do seu pai e do nosso amigo, é possível? Não ficaremos muito tempo, então faça isso por seu pai que está muito feliz por estar aqui.
Respirei fundo e controlei a minha raiva, estava nervosa e queria muito expulsar a minha mãe da minha casa. Ela sabia como me atacar e todas as suas palavras me magoariam por algum tempo. James era calculista e tinha a minha mãe do seu lado que além de ser calculista, era manipuladora e sabia como usar o meu pai contra mim.
— Onde está o meu pai? – indaguei mudando de assunto.
— O seu pai foi comprar flores para você. – respondeu me olhando com frieza. — Ele se preocupa com você, mesmo você não se importando com ele.
O meu coração batia forte e eu podia sentir o meu peito doer, me sentia bem ao saber que Taehyung ainda estava dormindo. Se ela o visse ali a confusão seria muito maior, uma mulher solteira recebendo um homem em casa era algo inaceitável em nossa cultura. Pior, uma mulher solteira tendo relações sexuais com um homem sem compromisso sério, ela não perdoaria isso e tornaria a minha vida em um pesadelo evidente. Se James soubesse da minha relação com Taehyung tudo poderia piorar e a sua ira poderia cair sobre ele, o magoando também. Antes de conseguir prosseguir com a nossa discussão, o meu pai apareceu do nada segurando um buquê de flores.
— Filha! – exclamou ao me ver.
— Pai. – murmurei sorrindo.
Senti os seus braços me envolverem e as minhas lágrimas voltaram a descer por meu rosto. Me sentia bem em seus braços e não queria vê-lo sofrer por nada, será que ele um dia compreenderia o medo que vivia para que ele vivesse feliz ao meu lado? O meu pai não sabia, mas as minhas lágrimas eram de desespero.
— Trouxe flores para a minha flor. – disse me soltando. — Você está cada dia mais bonita e não deve chorar. – sorri de canto.
— Obrigada, pai. – sussurrei aceitando as flores. — Estou feliz em te ver, só isso.
Ao fundo pude ver o semblante de James, ele sorria para nós e a minha mãe sorria para ele. O meu estômago revirou ao ver a cena, como uma mulher podia fazer isso com a sua própria filha?
— Seoul é enorme, e tão lindo. – comentou o meu pai quebrando o silêncio.
— Sim. – murmurei.
— Eu tomei a liberdade de contar aos seus pais que você adoraria vê-los. – comentou James. — E que Seoul seria um ótimo lugar para passar as poucas férias que eles ainda possuem.
Ignorei o seu comentário e a sua presença, não cederia e não me aproximaria dele apenas para agradar a mulher que chamava de mãe. James sabia como agir e as suas ações foram calculadas, ele veio saber o que eu fazia da minha vida para contar a ela. Ao notar que eu poderia estar me envolvendo com outra pessoa, ele usou a ajuda da minha mãe para me manter por perto. Ele sabia que a minha mãe ficaria ao seu lado e que cuidaria de tudo para que ele passasse tempo comigo. Todo o tempo que passei com medo, pensando em como fugir foi em vão. James estava em Daegu pensando em como iludir os meus pais para estarmos neste exato momento.
O silêncio foi quebrado por um barulho que ecoou por toda a casa, todos olharam em direção ao meu quarto e eu pude sentir as minhas pernas tremerem. A porta ainda estava aberta e eu não podia permitir que Taehyung fosse visto, senti o meu coração acelerar e o medo voltou a tomar conta de mim. Se Taehyung saísse do meu quarto teríamos grandes problemas, as minhas pernas começaram a tremer e eu senti que cairia a qualquer momento.
— Tem mais alguém aqui? – questionou a minha mãe indo em direção ao meu quarto.
— Não. – disse parando em sua frente. — Provavelmente o vento derrubou algo lá dentro. – ela me olhou com descaso. — Está com fome pai? Eu conheço um bom restaurante.
— Claro! – exclamou sorridente.
— Vou buscar o meu casaco, por favor esperem aqui. – disse saindo da sala.
Sem demonstrar nervosismo, caminhei em direção ao meu quarto e fechei a porta. Virei a chave na maçaneta para garantir que a minha mãe não me seguisse e procurei por Taehyung. A cama estava vazia e as suas roupas também não estavam sobre a cadeira. Caminhei em direção ao banheiro e sorri de canto ao ver que ele estava deitado na banheira de olhos fechados. O seu semblante transmitia paz e muita serenidade, não queria deixar a sua companhia e eu gostaria de passar o dia ao seu lado. Me aproximei devagar e me ajoelhei ao seu lado, tocando seu braço de leve.
— Entre matar a sua mãe ou o seu ex, optei por um banho de banheira. – sussurrou de olhos fechados. — E como você me impedirá de fazer algo, eu prefiro esperar.
— Me perdoe. – pedi.
— Eu ouvi tudo. – respondeu fazendo o meu coração doer. — E a culpa não é sua, a sua mãe não te ama e não quer o teu bem. – eu sabia disso. — Se você não colocar limites no seu sofrimento, o seu próximo passo será voltar para James. – me senti mal ao ouvir.
— Você não compreende. – disse fazendo com que ele abrisse os seus olhos.
— Não? – retrucou. — Acha que ver o seu sofrimento e a sua dor, não é uma forma de compreensão?
— Taehyung. – tentei.
— Não! – disse seriamente. — Não me faça falar o que eu penso, não aceito ver você sair daqui e fingir que nada aconteceu.
— Eu sei. – murmurei contendo as minhas lágrimas. — Mas eu preciso que você confie em mim.
— E eu tenho outra escolha? – retrucou desviando o seu olhar.
— Farei o meu melhor e tudo dará certo. – afirmei. — Por favor, não me pressione.
— Não estou. – disse com certa frieza. — Mas você precisa agir rápido, não ficarei a sua espera para sempre. – eu sabia disso.
— Vou tirá-los daqui. – disse me levantando. — Aproveita e descansa mais um pouco.
— Ei, Alice? – tremi ao ouvir. — Me dá um beijo?
Sorri de canto e me aproximei dele, me inclinando sobre si. Me apoiei nas bordas da banheira e lhe dei um beijo nos lábios, a sua boca quente me invadiu e me fez bem. Adoraria tirar a minha roupa e entrar na banheira, ficar com ele e cuidar dele. Não queria sair dos seus braços para ir ao encontro do sofrimento, mas ele tinha razão e essa história precisava de um fim.
— Espero não precisar conhecer os seus pais. – disse soltando os meus lábios.
— Eu também. – murmurei.
Taehyung sorriu de canto e voltou a fechar os olhos, o meu maior medo se realizava. Era possível que ele nunca conhecesse os meus pais, a minha mãe jamais aceitaria a sua presença em minha vida e o meu pai não se meteria em problemas. James tentaria acabar conosco e no fim, talvez não fiquemos juntos. Se fosse acabar sozinha, precisava colocar tudo em pratos limpos e tirar a minha família da minha vida de uma vez por todas, Taehyung merecia isso. A questão era, como me livraria de James sem colocar a vida de Taehyung em risco?
O meu destino era inevitável.
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