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••• uma semana depois •••
𝔗𝔞𝔢𝔥𝔶𝔲𝔫𝔤
Existem vários motivos para alguém desistir da vida, no entanto, os meus motivos são maiores do que qualquer outra coisa, pois, preciso acreditar que eu sou a pessoa mais pobre do mundo e esse sentimento não mudará se continuar vivo. Se pensasse demais, eu desistiria dos meus planos e acabaria por não dar fim a minha vida. Aos poucos tudo acabava comigo, tudo matava um pouco de mim e os momentos me comiam de dentro para fora. Após ponderar todas as opções, decidi que queria e que precisava fazer. Viver não fazia sentido e eu não conseguiria continuar mais um dia nesta confusão.
Acabar com a minha vida era o meu destino, precisava acabar com as minhas dores. Preparei tudo do jeito certo e fiz as despedidas que achei necessário, os meus amigos e os meus pais ficariam tristes, mas o tempo traria alívio. As pessoas precisariam de uma desculpa para me deixar ir ou usariam isso como motivos para se manterem vivos, fazendo algo que o Taehyung gostasse. Os meus amigos veriam o fim várias vezes sempre que acordassem e não me vissem, mas o tempo voltaria para eles e finalmente eu seria esquecido. Aos meus fãs, o arrependimento de não ter sido algo mais.
— Ei. – ouvi a voz de Jungkook e engoli as minhas lágrimas. — Me desculpe, eu ando exagerando na forma que trato você e por isso, sinto muito.
— Tudo bem. – aceitei.
— Você está bem? – indagou se aproximando. — Sinto que estamos distantes e você só aceita a companhia de Jimin, eu fiz algo? – não meu amigo, o problema sou eu.
— Não. – murmurei. — Eu preciso tomar um ar fresco. – disse me erguendo.
— Posso ir junto? – indagou ao me ver fechando o casaco que acabara de vestir. — Podemos conversar mais um pouco.
— Não. – disse firmemente. — Gostaria de ir sozinho, mas eu volto em breve. – menti.
Não voltaria e isso era uma decisão, não havia nada a ser feito.
— Taehyung. – disse segurando o meu braço antes de sair. — Me deixa te fazer companhia. – vi lágrimas em seus olhos.
— Por favor, fique aqui e ajude o Jimin com os figurinos. – não precisava de alguém que me impedisse.
Jungkook respirou fundo e me soltou, ele sabia que não podia me impedir. A sua lealdade era forte demais para estragar os meus planos, então, ele por fim aceitaria as minhas decisões. No fundo, ele sabia quais eram as minhas intenções e desejos, mas não tinha coragem de proferir todas as palavras que nos tornavam culpados. Em seus olhos havia dor e eu sabia que a culpa era minha, e essa culpa não seria menor se ficasse ao seu lado ou se mudasse de ideias.
— Está bem. – aceitou por fim. — Eu te amo, Taehyung. – disse me abraçando.
Senti o seu toque e engoli as minhas lágrimas, não podia fraquejar. Morrer não era um desejo único, todos desejávamos de alguma forma. Estávamos presos em um mundo escolhido por nós, gerido por pessoas que nos comandam e decidem a nossa vida. À medida que caminhava em direção a rua, a adrenalina me percorria em alta velocidade. Uma bela tarde de outono, cheia de pessoas contemplando a beleza do momento. Os meus passos eram calmos e decididos, sabia para onde ir e o que fazer, chegar era questão de tempo.
O outono sempre foi uma das estações mais belas do ano, era a única estação que me conectava com o meu ser. Podia ver a beleza e a delicadeza das cores morrerem de acordo com a profundidade da escuridão envolta no outono. Saber admirar e apreciar estes pequenos momentos também é louvável. Imagino se o outono ajudará no processo, se morrerei mais rápido após o meu corpo congelar. Não sei exatamente por onde começar e os meus pensamentos me envolvem na falsa ilusão de paz. Não tenho experiência com a morte, mas a desejo muito. Este desejo começou a pouco tempo e me envolveu com doçura, prometendo coisas que o meu coração anseia.
Os remédios que encomendei ilegalmente também prometem paz, a minha dor cessará em poucos minutos e tudo não passará de um momento. A minha dor física estaria longe e esperava que a minha alma encontrasse o mesmo tipo de paz. Parei em frente ao parque Hangang e respirei fundo, tudo continuava do mesmo jeito e a paz que sentia ali ainda era sentida. Entrei no parque e dei passos lentos em direção a imensidão da noite que aos poucos caia sobre nós. As pessoas saiam do parque e a quantidade de felicidade que emanava no ar, era dolorosa. Me sentei em um banco e olhei em minha volta, me sentia em casa aqui. Precisava de um lugar calmo e discreto, onde pudesse descansar em paz.
Provavelmente durante toda a minha vida eu estive sozinho, não queria estar sozinho. Será que faria sentido se conhecesse alguém antes de ir? Quem eu pretendo enganar, o mundo me conhece e acha que por isso podem decidir a minha vida. Me levantei novamente e continuei a minha caminhada, procurando decidir como acabar com tudo de uma vez por todas. Parei ao me aproximar do pequeno lago, do outro lado havia um banco habitado. A mulher estava de olhos fechados, as suas pernas balançavam com vento e os seus cabelos dançavam em sua liberdade. Sorri de canto e a desejei mais momentos felizes como este que vivia agora.
Ela aproveitava o momento e me passava segurança, será que ela se importaria se morresse ao seu lado? Caminhei em sua direção com calma, não queria assustá-la, queria companhia se ela permitisse. A moça não notou a minha presença e ao me aproximar pude ver que ela era mais bonita do que imaginava.
— Posso? – indaguei tomando coragem.
— Pode. – disse por fim.
A sua resposta veio sem contato visual, a sua cabeça tomou lugar perto do seu peito e eu pude sentir o nervosismo tomar conta do ar. Ao me sentar ao seu lado pude sentir o cheiro doce que emanavam os seus cabelos, sorri de canto ao me sentir anestesiado com o momento.
— A noite vista daqui é tão linda, não acha? – murmurei tentando puxar assunto.
Gostaria de olhar em seus olhos, mas ela não encontrava os meus.
— Sim, é reconfortante. – respondeu baixinho.
— Costumava vir aqui todas as noites quando era mais novo. Era o meu refúgio. – a minha voz oscilou. — Me esconder por este parque, fingir que estava tudo bem. – respirei fundo antes de continuar. — Às vezes, gostaria de poder voltar no tempo e reviver tudo de novo.
Falava de mim, mas ela não estava interessada. No entanto, eu precisava me abrir ou morreria sufocado nos significados que precisavam de sentidos.
— Sim. – murmurou fazendo o meu nervosismo aumentar.
— Você deve me achar um louco. – sussurrei. —Alguém que se senta aleatoriamente ao lado de desconhecidos e começa a falar sobre a sua vida. – precisava fazer isso e por fim, morrer em paz.
Será que tomava as decisões certas? Arrastando uma estranha para a minha vida cheia de confusões? Não me parecia justo, mas o fazia mesmo assim.
— Só espero que você não seja um maníaco do parque. – murmurou. — Não é assim que desejo morrer.
Sorri de canto ao ouvir, ela tentou esconder o nervosismo em sua voz, mas foi em vão. A moça estranha me fez sorrir com sinceridade, algo que não pensei conseguir de novo.
— De todas as coisas que sou, maníaco não é uma delas. – disse. — O meu nome é Kim e o seu?
Enquanto esperava a sua resposta pude ver o seu corpo tremer ao meu lado, e em um ato de agilidade ela se levantou e foi embora. Calmamente ela se afastou e me deixou sozinho, sorri de canto ao ver. A minha mente procurava entender se ela me deixou sozinho por saber quem sou ou se realmente ela não se importa comigo ou com a minha presença. A moça ao meu lado não quis saber quem eu era e isso também era reconfortante. Alguém conseguiu demonstrar que eu não era importante, que a minha vida não era importante. No entanto, a importância que não tive veio em forma de sorrisos.
Respirei fundo e deixei o meu corpo pesar, me acomodando no banco. A minha cabeça me mataria aos poucos, eu não sabia mais o que fazer. Do nada, a minha vontade de morrer escapou por minhas mãos e me deixou sozinho, apreciando o nada. Em meus lábios havia um sorriso confuso e meio prazeroso, me fazendo desejar algo diferente. Não sabia como mudar o que acontecia em mim, não sabia quem era a mulher que me deixou assim, confuso.
— Aqui está você! – ouvi a voz de Jungkook e respirei fundo. — Ainda bem que te encontrei.
— O que está fazendo aqui? – indaguei ao vê-lo se sentar ao meu lado.
— Não sei. – murmurou. — Necessitava saber que estava tudo bem e que você voltaria em segurança. – sorri de canto ao ouvir.
— Você tinha alguma dúvida? – ele respirou fundo ao ouvir.
— Sim. – senti dor em suas palavras. — Eu não queria me despedir de você daquela forma, eu precisava impedir qualquer coisa antes que fosse tarde demais. – se houvesse me matado, ele não poderia impedir.
— Pode parecer mentira, mas me sinto bem. – respondi. — Sinto que recebi uma segunda chance.
••• uma semana depois •••
***
As pessoas costumam se iludir com a ideia de que momentos programados pelo destino acontecem sem você dizer que sim. Tudo o que acontece, programado ou não, ainda precisa da sua autorização para acontecer. Era isso o que decidia neste exato momento, decidia mudar o meu destino cheio de dores por algo mais agradável e sincero. Os dias seguintes após o meu suicídio me levaram de volta ao parque, a minha mente me chamava de louco e o meu coração me achava estúpido por estar nesta situação. No entanto, eu necessitava revê-la e precisava pedir desculpas pela má impressão que deixei, mas ela não voltou.
Os dias se prolongaram e a moça não voltou, o seu banco permaneceu vazio e ninguém se sentou ali. Durante os dias que se passaram tudo o que fiz foi observar. Observei cada momento, cada pessoa e cada ato. As várias imagens em minha mente me mostravam felicidades que eu gostaria de pintar em uma tela branca. Respirei fundo e contemplei o mundo em minha volta, tudo era visto de outra forma e a dor que sentia em mim, aos poucos abandonava a minha alma, me deixando viver melhor.
Provavelmente não veria a moça de novo e isso não foi programado pelo destino, mas sim por meus atos errôneos. No entanto, se estivesse em outra fase, não a teria conhecido do jeito que conheci. Não podia esperar para sempre e não queria parecer um alucinado vagando por um parque escuro. Respirei fundo novamente e me levantei do café onde estava sentado, voltando o meu olhar para o banco mais uma vez e para o meu espanto, havia alguém sentado lá. Seria ela? Era a primeira vez que alguém se sentava ali, só podia ser ela. Rapidamente organizei o meu semblante e ponderei como agir, não podia parecer desesperado, mesmo estando. Não podia assustá-la novamente e os meus passos precisavam ser cuidadosos.
A observei por alguns minutos e o sorriso em meus lábios era inevitável, eu me sentia bem ao vê-la. Ela tinha as suas pernas esticadas, cruzadas uma sobre a outra e as balançava com a leve brisa que também tocava o seu rosto, a sua doçura era contagiante e me fazia desejar mais. Os seus longos cabelos estavam soltos e voavam de acordo com a intensidade do vento, me dei o luxo de contemplar a sua beleza por mais tempo do que deveria. A sua beleza me arrancou suspiros e pela primeira vez em muito tempo, me senti bem por estar vivo e por poder presenciar este momento. Sem pensar mais, caminhei em sua direção, precisava concluir os meus pensamentos. Necessitava soar o mais educado possível e tudo correria bem.
— Você demorou para voltar. – murmurei controlando a minha voz.
Ela se assustou e abaixou a sua cabeça, será que partiria novamente?
— Me esperou por todo este tempo? – indagou.
— Sim, queria me desculpar por ter lhe assustando, porém, você não voltou. – respondi dando um longo suspiro. — E eu esperei, quando estava desistindo da loucura de esperar, te avistei novamente. – me senti orgulhoso, afinal de contas ainda estava vivo por sua causa.
Para a minha surpresa, a moça sorriu de canto e isso aqueceu o meu coração. Ela era mais linda do que podia imaginar, será que sabia da sua perfeição através de outros olhos?
— Sou o Kim e você? – repeti estendendo uma de minhas mãos em sua direção.
— Prazer. – respondeu apertando a pele da minha mão contra a sua.
Ao olhar em meus olhos pude contemplar algo inesperado, a beleza que pensei conhecer era maior do que o inesperado. O seu rosto era delicado, feito em linhas de pureza que encontravam cada sentido os tornando perfeitos, pude sentir um sorriso brotar em meus lábios. Os seus olhos pequenos, negros como a noite e delicados me lembraram que mesmo não vendo, existia perfeição no mundo e eu me encontrava diante dela.
— Realmente pensei que você se levantaria e fosse embora novamente. – comentei sorrindo de canto. — Não te assustei desta vez?
Ela respirou fundo antes de me responder.
— Deveria, mas não irei. – respondeu retribuindo o sorriso. — E não, não me assustou. – senti que ela mentia, mas não questionaria.
— Pensei que não te veria novamente. – disse me sentando ao seu lado.
— Estive ocupada e não sabia que você estava acampado aqui desde a semana passada. Se soubesse do protesto, teria vindo antes. – soltei uma gargalhada ao ouvir.
O seu humor arrancava sorrisos de mim e eu gostava disso.
— Isso seria estranho, não? – rebati. — Se bem que sou estranho, verá isso com o tempo. – precisava acreditar que nos veríamos de novo.
— Bom, depende do que é entendido por estranho. Isso que estamos fazendo é bem estranho, pelo menos para mim. – murmurou.
— Acredito que conversar com estranhos não é estranho. – ela sorriu de canto ao ouvir. — Se pensarmos bem, todas as pessoas que conhecemos, são estranhos.
— Como? – questionou com certa confusão.
Sorri e me virei para ela, notei o seu afastamento, mas isso não me impediria de tentar.
— Quando você conhece alguém que não é conhecido. – ela franziu o sobrolho. — Esse alguém é estranho, certo? Então, para conhecer essa pessoa você precisa se abrir e no fim, todas as pessoas que você conhece, no fim, eram estranhos. – o seu semblante era confuso e isso me despertou outro sorriso de canto.
— Por acaso você está tentando me confundir? – questionou me arrancando outro sorriso.
— Claro que não! – exclamei gesticulando com as mãos. — Mas nunca conhecerá alguém novo se não quiser se relacionar com estranhos. – era isso que tentava dizer.
— E o que você sugere? – indagou olhando em meus olhos.
Desviei o meu olhar e mordi o canto do meu lábio inferior, respirei fundo e ponderei em uma resposta.
— Que você não sinta a necessidade de se defender. – respondi. — Que pare com esse preconceito contra estranhos. – ela sorriu. — Somos pessoas legais.
— Eu nunca disse que não eram. – murmurou.
— Não disse. – retruquei. — Mas julgou, e você também é uma estranha. Acontece que eu não me importo com isso e não vou julgar você, quero ser seu amigo. – pude ver um certo desconforto da sua parte ao ouvir as minhas palavras.
— Por acaso você está sob o efeito de alguma droga ilícita? – não me contive e soltei outra gargalhada.
— Parece? – retruquei ainda sorrindo.
— Muito. – sussurrou.
Não podia acreditar que este momento era real, eu conhecia uma estranha e adorava todos os momentos ao seu lado. Por algum motivo eu me sentia bem ali e não queria perder os sentimentos que ela trazia consigo e gentilmente partilhava comigo.
— Não desejo tomar mais o seu tempo. – disse a arrancando dos seus pensamentos. — Só queria me desculpar.
— Obrigada por pensar em mim, mas não era necessário. – murmurou.
— Quem decide o que é necessário? – indaguei. — Nunca sabemos se algum comportamento é necessário, mas agir de acordo com o seu coração nunca é ruim. – tentei controlar os meus sentimentos ao me expressar.
— Justo. – concordou. — Mas você não deveria se empenhar tanto por um estranho, não é necessário neste quesito. – tentou visando consertar as suas palavras.
— Foi bom te rever. – disse sorrindo.
Sem esperar a sua resposta, me levantei do banco e sai da sua presença. A moça permaneceu sentada e pude ver por cima dos meus ombros que ela me seguiu com os seus olhos. Faria com ela o mesmo que ela fez comigo e talvez assim conseguisse despertar um pouco de curiosidade, assim como ela despertou em mim e me deixou louco por sua companhia.
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