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As minhas pernas tremiam e a roupa que vestia, não me protegia do frio que sentia no momento. Carregava comigo as minhas compras e as roupas que comprei, não sabia que podia carregar tanto peso. Entrei no elevador quase morrendo de frio. Respirei fundo e coloquei os sacos no chão apertando os botões que me levariam para o meu andar. Esfreguei as minhas mãos com a intenção de as aquecer, assim que chegasse em casa, tomaria um banho quente e tudo ficaria bem. A medida que o elevador subia, eu pegava os meus sacos de compra novamente. O elevador parou em frente ao meu andar e eu esperei para que as portas se abrissem.
Assim que as portas se abriram, pude ver o semblante de alguém sentado no corredor. Senti o meu corpo tremer e o meu coração acelerou, será que ele estava ali? Não era possível, ele não sabia onde morava e eu havia tomado todas as precauções para que ele não me encontrasse. Eu deveria sair dali, talvez esperar até não ter ninguém no corredor. Já havia se passado tanto tempo, como ele me encontrou? Sai do elevador e caminhei em passos lentos, tentando ver quem era a pessoa sentada no corredor. Pela forma que estava sentado, pude deduzir que era um homem e ele estava coberto com várias roupas grossas e um cobertor.
Ao me aproximar, o homem virou o seu rosto para o lado e eu soltei um suspiro de alívio. Taehyung estava tão concentrado que não notou a minha presença, poderia matá-lo por me causar tanto medo. Sorri de canto ao ver a sua imagem de perfil, ele era tão perfeito. Me senti confusa, ele estava envolto em tantas roupas, cachecóis e uma bota. Não entendi o que estava acontecendo, será que ele estava doente? Ou havia viajado para a Sibéria? Taehyung não era normal.
— O que está fazendo aqui? – perguntei chamando a sua atenção.
— Inverno! – gritou. — Você voltou, estava preocupado. – continuou ao se levantar. — Que demora!
— Por qual motivo você está vestido assim? – questionei. — E está preocupado com o quê? – não entendi. — Por qual razão você está me esperando?
— Ah, isso. – murmurou. — Eu fiquei com medo, você mudou as temperaturas e é perigoso andar sem proteção. – ele soava sincero. — Tenho medo de morrer congelado, por isso me preveni. Gostou do meu look? Parece os seus, bem sem estilo. – eu queria matar o homem em minha frente.
— Você não é engraçado. – disse dando de ombros. — Não seja ridículo e pare de me perseguir.
Eu tinha algumas perguntas, porém, no fim eu estava com medo de ouvir as suas respostas. Acredito que neste momento ambos estávamos tão envoltos nesta relação que nada conseguiria mudar essa pequena dependência.
— Ui, banho de loja? – disse olhando para os sacos que tinha em minhas mãos. — Comprou alguma coisa para mim?
— Não. – respondi. — Por qual motivo você se interessa por isso? Não é da sua conta o que eu compro ou deixo de comprar com o meu dinheiro.
— Ouch! – disse. — São tantas facadas que eu nem sei como me curar novamente. – tentei controlar o meu sorriso ao ouvir.
Sem falar nada, peguei as chaves que estavam dentro da minha bolsa e abri a porta do meu apartamento. Taehyung permaneceu em silêncio, esperando por mim. Assim que a porta se abriu, entrei e rapidamente guardei os sacos, deixando as compras na cozinha e em seguida colocando as roupas no meu quarto. Taehyung não entrou em meu apartamento e quando voltei para a sala, ainda avistei o seu semblante na porta, sorrindo para mim. Ele parecia inocente, como se não houvesse feito nada de errado. Será que eu deveria agir da mesma forma? Como se nada tivesse acontecido? Isso provavelmente diminuiria o clima estranho entre nós e nos daria uma segunda chance para começar de novo.
— Não vai entrar? – questionei.
— Você não me convidou para entrar. – respondeu fazendo biquinho. — Então não posso entrar sem a sua permissão.
— Você pode entrar Taehyung. – murmurei. — Ou deseja um tapete vermelho?
— Você tem algum? – retrucou entrando e fechando a porta.
Optei por não responder, seria melhor assim. Taehyung entrou e se sentou no sofá, esperando por mim. Fui em direção a cozinha e guardei as compras na geladeira, ele não disse nada apenas observou os meus passos. Também não tinha nada para falar, eu queria que ele contasse o que estava sentindo e os motivos que o levaram a ir embora. Porém, eu não sabia como organizar isso em minha mente e não queria soar inconveniente ao perguntar algo que não era da minha conta. Respirei fundo e voltei para a sala, olhando para ele que docemente sorriu para mim.
— Ficará assim para sempre? – questionei.
— Não sei, não posso ficar doente. – respondeu seriamente. — Com toda essa frieza, é melhor ficar assim mesmo.
Como era possível gostar e odiar tanto uma pessoa ao mesmo tempo? O que Taehyung fazia comigo?
— Tudo bem. – murmurei.
Taehyung me olhava como uma criança, ignorei os seus olhares e voltei para a cozinha. Me sentia faminta, talvez comer uma fruta ajudasse. Não havia comido nada durante todo o dia e na verdade, nem pensei sobre isso. O seu olhar curioso percorreu o meu rosto e eu não sabia o que responder. Após algum tempo, ele se levantou e veio em minha direção. Peguei uma banana e comecei a comer um pouco da fruta, tentando preencher um pouco do vazio em meu estômago. Taehyung caminhou em zig-zag, brincando até chegar a cozinha.
— Ei, Evereste? – Taehyung era ridículo!
Respirei fundo e sem falar nada, joguei a casca da banana no lixo. Ele me olhava e esperava por mim, não falaria nada, ele provavelmente faria alguma piada. A única coisa que ele realmente era devoto, às suas piadas sem graça.
— Ainda está zangada comigo? – perguntou baixinho. — O que eu posso fazer para você ver o meu arrependimento?
— Deveria estar zangada contigo? – retruquei pegando um copo com água.
— O que eu fiz não foi legal. – disse. — Sei disso, também sei que se você estiver zangada, eu não posso fazer com que você deixe de estar. Porém, eu gostaria muito que você me perdoasse por meu erro. – as suas palavras eram calmas.
— Tudo bem. – murmurei. — Você já explicou os seus motivos, não há nada a ser feito.
Eu não estava zangada, toda a raiva que senti pela manhã acabou sendo transformada em tristeza. Por causa do acontecimento, eu tomei coragem para sair de casa e fazer algumas tarefas, assim como sai da minha zona de conforto ao pensar nele. Por um lado, eu me sentia grata e por outra feliz. O meu horizonte encontrou o seu e tê-lo em minha frente era um bom sinal. Sem falar nada, ele se aproximou de mim e colocando as suas mãos em minha cintura, me puxou para si.
Taehyung aproximou o seu rosto do meu e me deu um beijo delicado, molhando os meus lábios com o seu sabor. Não lutei contra os seus toques apenas me rendi ao momento. O seu beijo veio como aquele banho quente, me envolvendo com carinho e um certo desejo, gostava disso. Por vezes, desejo que estes momentos não venham a acabar, mas para a minha decepção, ele terminou o nosso beijo com selinhos e me soltou.
— Precisei ajudar um amigo. – murmurou passando uma de suas mãos por meu rosto. — E precisei ir a um compromisso de trabalho.
— O que aconteceu com o seu amigo? – indaguei baixinho.
— Ele está sofrendo e pensando nas mesmas coisas que pensei antes de te conhecer. – respondeu. — Assim como você me curou, eu gostaria que ele se mantivesse positivo. Não é o fim e ainda podemos mudar o rumo das coisas. – o meu coração apertou ao ouvir. — Não quero perder o meu amigo e somente agora, sei o que ele sentiu quando me despedi dele naquela noite.
— Sinto muito. – sussurrei.
— Quando você está sofrendo parece que o mundo jamais entenderá a sua dor e a melhor solução é deixar o mundo. – continuou. — Hoje, sei o quão ruim eu fui para os meus amigos e o quanto eles precisaram sofrer até entender o que eu estava sentindo. O meu amigo se sente assim, ele sente como eu me senti. Eu gostaria de te apresentar o meu amigo. – tremi ao sentir os seus dedos percorrem os meus lábios. — Com certeza, você é uma boa companhia para alguém como ele.
— Acha que é uma boa ideia? – questionei. — Me envolver na vida do seu amigo? Não sei se conseguirei ser amiga dele, já que sou antissocial.
— Sim. – respondeu. — Acredito que você o mostrará aquilo que eu vejo, que ainda há esperanças neste mundo. Não pense que estou usando você, mas acho que você pode tocar a alma dele assim como tocou a minha. – as suas palavras eram doces, mas assustadoras. — Não custa nada tentar, certo?
— Eu não prometo, mas posso pensar sobre. – disse sorrindo de canto.
Taehyung sorriu e fez com que o meu coração errasse algumas batidas, respirei fundo e tentei me controlar. Ele sabia como me deixar sem palavras!
— Se importa se passar a noite aqui? – pediu fazendo biquinho.
— Não sei. – respondi. — Pode não ser uma boa ideia. – conclui me soltando dos seus braços.
— E não era você que não estava zangada? – disse com descaso. — Está vendo a neve caindo lá fora Alasca?
— Você é insuportável, sabe disso? – disse indo em direção a sala. — Está bem, você pode dormir no sofá. Vou buscar alguns cobertores para você, espere aqui. – prossegui indo em direção ao meu quarto.
Com muita calma me direcionei até o meu quarto, onde fui até o meu guarda-roupas e peguei alguns cobertores e almofadas frescas. Logo em seguida, voltei para a sala e posicionei tudo sobre o sofá. Taehyung veio em minha direção e observou os meus passos, sem falar nada, sorri de canto e me despedi dele.
— Boa noite. – disse. — Espero que durma bem.
— Boa noite, Sibéria. – respondeu sorrindo de canto.
Revirei os olhos e fui em direção ao meu quarto. Como alguém conseguia ser tão chato? Não queria ser fria, mas precisávamos ir com calma. Daríamos passos curtos até chegarmos ao objetivo que ele mesmo propôs, me conquistar. Não seria um caminho fácil e os meus monstros não me permitiriam ser completamente sua, mas estava disposta a tentar. Agora, nada poderia mudar o fato de que estávamos criando memórias e perdê-las também nos causaria dor.
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