» 12 «
***
Sempre pensei ter vivido o suficiente e com todas as experiências que juntei durante a minha vida, acreditei saber como lidar com todos os tipos de situações que pudessem colocar a minha vida em risco. No entanto, me encontrava presa em um looping de emoções ao lado de alguém que não conhecia. Procurei dentro de mim, todos os ensinamentos, com a falsa ilusão de saber como mudar o meu destino. Nada parecia fazer sentido, além do sorriso que os seus lábios insistiam em usar para me causar confusão.
Taehyung parecia estar em outra dimensão, à medida que me ajudava a preparar o jantar. Os seus cabelos caiam sobre o seu rosto, e o seu perfil mostrava uma beleza indiscritível. Ele se movimentava com delicadeza e usava cada momento com sabedoria. Em pouco tempo, ele terminou de preparar várias coisas e a sua habilidade na cozinha, de fato parecia ser muito boa. Não conseguia parar de contemplar o seu jeito, e o meu coração batia com calma por tê-lo presente.
Tomei um pouco do suco de laranja que preparei e voltei a minha concentração para ele, e toda a sua perfeição. Os meus olhos não conseguiam parar de admirar tudo em si, os seus cabelos loiros eram perfeitos e caiam sobre o seu rosto como um véu. Escondendo e ao mesmo tempo, revelando a perfeição do seu verdadeiro "eu". Será que ele sabia disso? Que ser como era, despertava felicidade em outras pessoas? A mulher que conseguisse o seu coração, era de fato, feliz. Alguém tão belo merecia a beleza do mundo e toda a felicidade que se pode desejar.
— Me deixa ajudar? – pedi novamente, tentando desviar a minha atenção.
A probabilidade de ouvir um não era enorme, já que fizera a mesma pergunta várias vezes seguidas e em todas elas, ele recusou. Taehyung se movimentava em minha cozinha, como se estivesse em casa, como se ali fosse o seu lugar desde sempre. Em pouco tempo, ele já sabia aonde encontrar os utensílios necessários e isso me fez sorrir, era curioso, mas interessante.
— Sente-se, eu cuido de tudo. – respondeu sorrindo. — Gosto de cozinhar, mas quase não tenho motivos para o fazer.
Sorri de canto, o seu gesto era fofo. Após alguns segundos em silêncio, ele finalmente voltou a sua atenção para mim e um sorriso doce invadiu os seus lábios. Precisava controlar os meus sentimentos ou as emoções tomariam conta de mim, não podíamos permitir que os sentimentos nos invadissem antes de nos conhecermos melhor.
— Nasci em uma família humilde. – começou me derretendo com a sua voz. — Nasci em Busan e fui criado em uma fazenda por meus avós. Hoje, eu entendo a importância da minha infância. O valor que dou ao campo e aos que lá ficaram para que nós, pudéssemos ter uma boa vida na cidade grande. – ele falava com calma.
— Por qual motivo saiu de lá? – questionei, tomando um pouco do suco.
— Para estudar e para trabalhar, principalmente para trabalhar. – respondeu, também tomando um pouco do seu suco. — Sabe, sempre quis ser independente e ajudar a minha família. Para garotos, a vida parece ser mais fácil, no entanto, o momento mais difícil foi de fato me aventurar em Seoul. – ele fez uma pausa. — Estar em Seoul sozinho me ensinou coisas que os campos de Busan não conseguiriam fazer, mas que ao mesmo tempo eu agradeço. Não sei se você entende o que eu quero dizer, mas quero dizer que, Seoul me trouxe gratidão, a que eu não senti quando morava em casa dos meus avós.
— E com o que você trabalha? – lembro de ter feito esta pergunta antes, mas não obtive uma resposta concreta. — De onde vem toda essa gratidão?
— Eu vivo o meu sonho e o odeio, estranho né? – não entendi se a sua pergunta era retórica, entretanto optei por não responder. — Sou conhecido mundialmente e no momento, odeio isso. Sou grato por ser bom, feliz e saudável, mas o preço que pago é muito alto para alguém da minha idade. – eu podia sentir dor em suas palavras. — O mundo não se importa muito com isso, você precisa continuar fazendo o que as pessoas esperam e tudo ficará bem. Acho que é por isso, que Busan me faz falta.
As suas palavras carregavam um peso, a sua dor era nítida e o seu olhar era vazio. À medida que o seu olhar vagava, ele mudou a sua postura e a tristeza o consumiu por fora. Engoli as perguntas que pairavam no ar e respeitei o seu momento. Se por fora, ele estava um caos, podia imaginar como ele estava por dentro. Senti que tinha razão, ele era famoso, mas não me importava muito. Nada do que ele fosse, mudaria o que estava acontecendo entre nós e a forma com que cada momento nos tocou. Taehyung era o exemplo de muitas pessoas, ele tinha o seu sonho e a solidão. Infelizmente, o sonho nunca é completo e o que falta, é sempre entregue pela solidão.
— Tudo bem. – murmurei, chamando a sua atenção para mim. — Espero que saiba cozinhar, o meu paladar é muito sensível e não gosto de gororoba. – conclui apontando para o que ele fazia.
Um sorriso brotou em seu rosto e ele voltou o seu olhar para mim. Não faria perguntas sobre assuntos que ele não estava preparado para falar, deixaria o tempo nos guiar, assim como tem feito durante todo este tempo.
— Meu amor, você amará cada momento ao meu lado. – respondeu. — Acho que o difícil será não se apaixonar por mim, e por tudo o que tenho para oferecer. – concluiu piscando para mim.
Senti o meu coração bater forte e precisei limpar a minha garganta, não estava preparada para ouvir algo assim. O mistério que ele carregava consigo, aumentava a minha curiosidade. Queria saber mais sobre, necessitava saber mais sobre o homem que se encontrava em minha frente, mas não podia o obrigar a nada, não era justo. As feridas de Taehyung ainda eram recentes e por isso, ele sangraria por mais um tempo até conseguir se abrir de verdade.
— Me fale de você. – pediu, quebrando o silêncio. — Agora que já sabe um pouco sobre mim.
— Também nasci em uma cidade pequena. – respondi. — O famoso "onde Judas perdeu as botas", conhece? – ele soltou uma gargalhada e esperou. — Porém, após terminar os meus estudos, ela ficou pequena demais e eu precisei sair, conhecer lugares novos. – murmurei. — Nunca gostei de cidades grandes e Seoul me pareceu um bicho de sete cabeças, que eu aos poucos, aprendi a conhecer e a amar. Não me vejo vivendo em outro lugar, se não aqui.
— Onde nasceu? – indagou.
— Daegu. – respondi.
Taehyung arregalou os seus olhos, mas não disse nada. Será que ele tinha algo para dizer e optou por ignorar?
— Os seus pais ainda ... – ele limpou a garganta. — Eles ainda vivem?
— Ó céus! – exclamei. — Sim, mas são contra tudo o que eu faço. Na verdade, a minha mãe é contra e o meu pai, meio que não questiona. Em sua mente, deveria permanecer ao seu lado, casar, ter filhos e cuidar deles por lá mesmo. Não é o que eu quero para mim, por isso, não pude ficar. – senti o meu peito doer ao me lembrar. — Daegu se tornou um lugar ruim para se imaginar qualquer futuro.
— Sei como é. – sussurrou. — Estar preso em um mundo perfeito para todos, enquanto você sangra por dentro. – ele respirou fundo e sorriu de canto.
As suas palavras se encaixavam em tudo o que eu sentia, me sentia assim. Assim como eu, Taehyung precisava de companhia. Alguém que pudesse ouvir e apoiar as suas decisões, cuidar do seu coração. Eventualmente a falta disso, o levou a colocar a sua vida em risco. Precisei de anos para me recompor como pessoa, aconteceria o mesmo com ele. Eventualmente, a sua dor seria apenas mais uma lembrança, deixando todas as conquistas serem relevantes.
— Não me importo. – respondi, quebrando o silêncio. — Olhe para mim, estou em meu apartamento. O dia está lindo, tenho um desconhecido em minha cozinha e estou bem. – ele sorriu de canto. — Não tem como ficar melhor, somente pior, caso você me mate ao fim do dia. – pisquei para ele, que docemente sorriu como resposta.
— Sim, isso combina muito com a parte em que sou um maníaco. – retrucou piscando de volta, me fazendo sorrir. — Apesar de tudo, ainda tem contato com os seus pais? – questionou.
— Sim. – murmurei. — Quis me afastar da minha mãe, mas não consegui. As minhas responsabilidades como filha gritam e eu não consigo. Sei que quando alguém te machuca, o certo é esquecer essa pessoa. Mas não consigo, a minha mãe é minha mãe e as tradições ainda estão fincadas em mim. – ele me olhava com carinho. — Seria ingrato tratá-la mal e a nossa sociedade não aceitaria isso, então, tento ser a melhor filha que posso, o mais longe possível.
— Entendo. – sussurrou.
Sorri de canto, estar ao seu lado era bom. Me sentia bem ao seu lado, como se nos conhecêssemos há muito tempo, as nossas almas se sentiam bem na companhia uma da outra. Senti que poderia conversar com ele por horas e mesmo assim, não seria o suficiente para me enjoar. Taehyung me passava confiança, a mesma que precisei tatuar em mim, já que ninguém o faria.
A sua personalidade e o seu gesto de carinho, eram reconfortantes. À medida que ele terminava o almoço, não pude deixar de observar os seus gestos. Tudo perfeitamente calculado para me envolver mais, ele colocou delicadeza e empenho em tudo, e isso me causou paz. Bani todas as pessoas da minha vida, recomecei com a intenção de morrer sozinha e hoje ao vê-lo ali, senti que queria mudar e não queria morrer sem conhecer o máximo de si. Assim como ele, se morresse, gostaria de deixar alguém que me conhecia para trás. Gostaria de ser lembrada por alguém que mesmo por pouco tempo, gostou de mim.
— Não pense muito. – murmurou, me chamando a atenção. — Faz mal para a pele.
— Hã? – retruquei confusa.
— Você. – continuou em murmuro. — Está pensando demais, não faz bem. – sorriu.
— Tem razão, prepararei a mesa. – disse sorrindo, me levantando em seguida.
Fui em direção aos pratos, talheres e guardanapos. Organizei tudo sobre a mesa da cozinha e voltei para a geladeira, para pegar o suco de laranja. Taehyung voltou a sua concentração para a comida e eu voltei o meu olhar para ele, observando os seus detalhes. As suas mãos delicadas trabalhavam com vontade e um arrepio percorreu o meu corpo ao lembrar que ele me tocou com o mesmo carinho que depositava na comida que fazia.
— Prontinho. – comentou ele, me assustando.
Me virei e o vi, ele vinha em minha direção com uma travessa decorada com legumes e carne, acompanhados de salada e arroz. Era impressionante, a quantidade de coisas que ele conseguiu fazer em tão pouco tempo. Ainda bem que não aceitou a minha ajuda, se tivesse de cozinhar, ele não comeria tão bem. Sorri de canto, evitando a vergonha que passaria se ele soubesse disso.
— Uau! – exclamei. — Está lindo e muito apetitoso.
— Obrigado. – agradeceu piscando.
Me sentei e esperei por ele, Taehyung delicadamente decorou os nossos pratos com a comida e me entregou. O cheiro era anestesiante e muito agradável, mal podia esperar para provar. A partir deste momento, desejaria morrer sua amiga, pelo menos teria alguém que soubesse cozinhar algo além de macarrão instantâneo. Realmente precisa parar de pedir comida e aprender a cozinhar melhor, não vivia de uma forma saudável.
— Espero que goste. – comentou, se sentando.
— Já gostei. – respondi sorrindo.
Levei uma garfada à boca e senti o gosto maravilhoso do seu tempero. O meu paladar se deliciou com sua comida e em nenhum momento me arrependi de ter deixado tudo em suas mãos. Comíamos em silêncio, por vezes senti o seu olhar sobre mim, mas ele nada disse. Também optei por não falar nada, não queria estragar o momento. Estava tudo perfeito, que qualquer gesto mal-intencionado, poderia estragar a sinceridade dos nossos atos.
— Vamos fazer um brinde? – pediu, quebrando o silêncio.
A sua voz soou como um poema, entonado apenas para mim.
— Ao quê? – indaguei.
— Bom, são tantas coisas. – sorri ao ouvir. — Primeiro, a você, a mim, a este momento e ao seu sorriso. – sorri de novo. — E um brinde especial para a vida que recuperei ao te encontrar. – o meu corpo deixou de reagir ao ouvir as suas palavras. — Agradeço por isso várias vezes ao dia, e quando posso te ver, agradeço mais ainda. Se morresse agora, a felicidade seria a única lembrança que teria. – as lágrimas inundaram os meus olhos, mas me controlei.
Sorri entre os dentes, senti o meu rosto queimar e eu estava desconcertada. Ergui a minha taça e fiz um brinde com ele, Taehyung era tão delicado e sempre que começava a falar, deixava o meu coração apertado, como se ele estivesse esmagado dentro do meu peito. Pude ver que ele sentia o mesmo, mas não falava.
— Me sinto cheia. – disse, tentando amenizar o meu desconforto.
— Eu também, mas estava muito bom. – disse, organizando os pratos para os limpar.
— Ei, espere! – exclamei me levantando. — Me deixe ajudar, você cozinhou e eu limpo.
Tomei os pratos da sua mão e os coloquei na máquina de lavar louça, ele sorriu e limpou a mesa. Organizando tudo, sorri ao observar a sua seriedade ao fazer tudo isso. A sua concentração estava voltada para a tarefa que ele fazia no momento, e em nenhum momento, ele me viu babando por seus gestos. Após colocar a travessa no forno, ele parou e me olhou, me roubando um suspiro. Sorri e fui em sua direção, passando direto e indo para a sala. Não queria ficar em lugares onde não pudesse correr, se necessário, então ir para a sala pareceu uma boa ideia.
Sem falar nada, ele me seguiu e juntos caímos no sofá. A minha barriga estava cheia, mas estava satisfeita. Não comera algo tão bom desde que deixei a casa dos meus pais, a minha mãe era uma chata e possessiva, mas a senhora sabia cozinhar. Fazia tanto tempo desde a minha última companhia, que não sabia como reagir.
— Taehyung? – chamei baixinho.
Ele virou o seu rosto para mim e sorriu de canto, me roubando outro suspiro.
— Obrigada pelo almoço, estava maravilhoso. – agradeci sorrindo. — Você pode vir cozinhar mais vezes, eu agradeceria.
Sem falar nada, ele se aproximou e fez com que o meu coração começasse a bater mais forte. A sua presença aos poucos me deixava louca, porém, ele não parou e continuou vindo em minha direção com um sorriso de canto nos lábios. Senti o seu rosto bem próximo ao meu e ainda em silêncio, ele encostou a sua boca em minha bochecha, onde deixou um beijo e subiu para o meu ouvido. Me contorci, segurando todos os sentimentos que me percorriam. Não podia sentir nada disso, não podia me permitir.
— De nada. – sussurrou, me causando um arrepio. — Eu que agradeço por me deixar estar aqui.
A sua voz e os seus suspiros me causaram mais arrepios, que fizeram o meu corpo tremer em baixo do seu. O seu cheiro forte e ao mesmo tempo delicado, anestesiou tudo em mim e em um ato de impulsividade, virei o meu rosto e deixei os meus lábios encontrarem os seus.
O que está fazendo Alice?
***
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro