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Aos poucos o meu corpo despertava e a luz do dia iluminava todo o meu quarto, me fazendo sentir bem. Para fim de outono e começo de inverno, as temperaturas estavam agradáveis e ainda despertavam o meu interesse em sair de casa e apanhar um pouco de ar fresco. Rolei novamente pela cama ainda sem ter muita vontade de levantar. Estava exausta e sentia a exaustão em cada parte do meu corpo, os últimos dias foram intensos e não conseguia acreditar no passo que dei em direção a Taehyung.
Em minha mente tudo poderia acabar em sofrimento e eu não queria passar por isto novamente. A presença de Taehyung em minha vida poderia ser apenas um sonho, que o meu inconsciente insistia em manter vivo. O relógio marcava quase duas horas da tarde. O tempo passava por mim e dele, eu pouco sentia falta. Muitas pessoas desejam parar o tempo, eu, desejo que ele passe rápido e que me leve ao fim com cuidado, e sem arrependimentos. É assim, que pessoas vazias passam o tempo, sem olhar ao tempo.
Após algum tempo procurando motivos para levantar, assim o fiz. Não podia avançar um dia e a quantidade de trabalho em minha mesa, também não diminuiria se continuasse deitada. O dia estava perfeito, ainda possuía tantas coisas para fazer e tantos trabalhos para revisar que nem sabia por onde começar. Para o dia começar de vez, precisaria tomar um banho e fazer um café bem reforçado, isso ajudaria a manter o meu corpo aquecido e me faria acordar de vez.
Me levantei da cama e fui em direção ao meu banheiro, indo diretamente para a ducha. Abri a mesma e retirando o meu pijama, entrei em baixo da água. Fechei os meus olhos e deixei a água morna tocar cada parte do meu corpo, acordando cada músculo, fibras e partículas em mim. A sensação de paz consumiu cada parte do meu ser e me envolveu em uma mistura de sentimentos que não poderia controlar no momento. Por dentro, o meu fraco coração apenas pedia por soluções.
Por mais que acreditasse na pureza de Taehyung, não podia magoar o meu coração para conseguir a minha felicidade instantânea e também não podia piorar a sua dor no processo. Sempre que lembro do meu passado, tento não pensar que ele ainda pode me machucar. Que a qualquer momento, eu serei apenas mais uma alma vagando por este mundo sem destino. Pensar em morte pode ser reconfortante, compreendo o encanto de Taehyung, mesmo não desejando o mesmo.
Desliguei a ducha e sai do banho, eu não sabia quanto tempo havia passado ali, mas me sentia bem. Enrolando uma toalha em volta do meu corpo, fui em direção ao meu guarda-roupas. As marcas dos meus pés molhados ficavam por todo o chão. Abri a porta do lado direito e peguei um pijama horrível, mas muito confortável. Ele era desenhado para ser sexy e atraente, mas ao vesti-lo, me sentia uma vaca, pelo menos no design. As suas bolinhas pretas em uma estampa branca formavam a imagem perfeita de uma vaca. — Sorri de canto ao perceber o quão boba eu estava sendo. Sequei o meu corpo e coloquei o pijama, o dia seria relaxante, então, eu não precisava me arrumar.
Em seguida, passei uma escova por meus cabelos e os sequei com uma toalha. Os deixaria assim, para que secassem naturalmente e me dessem aquele look de leão que tanto gosto. Antes de sair do quarto, sequei a água do chão e organizei o meu banheiro. As minhas pernas não respondiam aos meus comandos e eu poderia cair no meu próprio erro, então, era melhor limpar tudo. Antes de sair, peguei o meu telefone que estava desligado e o liguei, indo em direção a cozinha.
Coloquei o aparelho em cima do balcão e comecei a preparar um café. Em todo o momento, imaginei o que faria com Taehyung, se deveria me permitir ou me afastar. Se ele ficar, preciso arranjar uma forma de não o magoar. Não quero magoar alguém que me fez sorrir de uma forma tão genuína, também não quero que ele coloque a sua vida em perigo por causa da sua tristeza. Neste momento, eu não sabia o que fazer e tinha medo de dar passos ao seu encontro. A minha atenção foi roubada e me assustei ao ouvir o meu telefone tocar, respirei fundo e fui em sua direção.
Taehyung era diferente de todas as pessoas que conhecia, não conhecera muitas pessoas como ele. Os seus gestos despertavam em mim, sentimentos que não presenciei antes, nem mesmo quando tive o meu coração partido em dois. Ele demostrava ser um jovem diferente do tempo que vivia e os seus atos de carinho eram sinceros. Por vezes, gostaria de perguntar se ele pensava o mesmo de mim. Se aos seus olhos, eu sou tão boa quanto ele aos meus.
Enquanto processava toda as informações que pairavam sobre minha cabeça, ouvi a campainha tocar. — Opa! Isso era algo raro por aqui, alguém batendo na minha porta. O meu espanto não durou muito, a única pessoa que tocava a minha campainha era o carteiro. Normalmente, ele trazia consigo cartas importantes do meu trabalho que precisavam de uma assinatura. Se ganhasse tanto quanto às árvores que são mortas para que este trabalho seja feito, eu provavelmente, seria milionária.
Isso tudo podia ser evitado, se assim como o resto do mundo, eles aprendessem a usar o e-mail para mandar documentos importantes. Me aproximei da porta e sem pensar duas vezes, a abri. Os meus olhos não conseguiram acreditar no que estava vendo. Taehyung!
Taehyung estava em minha frente e sorria, um sorriso enorme como aqueles que as crianças dão ao receber um doce ou um presente. Estava elegante como sempre. No fundo, Taehyung parecia alguém famoso, os seus trejeitos demonstravam que ele era muito educado para assim o ser. Mas não queria tocar no assunto. Famosos costumam se esconder do mundo, procurando lugares como um parque, à noite. Talvez fosse esse o público que o levou ao limite, causando dor ao seu coração. Esse poderia ser o motivo da sua despedida e o que ao mesmo tempo, o impede de ser feliz. Porém, a sua perfeição era invejável, e me concentraria nisso.
— O que você ... – limpei a garganta. — Taehyung! – exclamei.
— Oi, John. – respondeu sorrindo.
— O que está fazendo aqui? – questionei olhando para os lados.
Taehyung fez o mesmo, e seguiu o meu olhar pelos corredores. Ele me olhou sem entender o que estava acontecendo e pude ver confusão em seu rosto. Respirei fundo e esperei por uma resposta, ele colocou as suas mãos nos bolsos e também respirou fundo.
— Eu fiquei preocupado. – respondeu calmamente. — Queria ter a certeza de que você está bem e que não está me ignorando. – Taehyung se encostou na parede e mordeu o seu lábio inferior. — Não me convida para entrar? – não podia acreditar que ele estava ali.
— Um minuto. – disse rapidamente.
Sem que ele pudesse falar alguma coisa, fechei a porta o mais rápido possível. Eu estava uma bagunça, olhei em volta e procurei sinais de desordem. Naquele momento, tudo parecia estar mal-organizado. Corri para a sala e peguei todas as roupas que estavam jogadas no chão e no sofá, abri a porta do closet do corredor e as joguei lá dentro. Os pacotes de comida vazios em cima da mesa da sala eram nojentos, como eu podia viver assim? Rapidamente, os joguei fora no lixo da cozinha que também estava uma bagunça.
Não tinha tempo para arrumar tudo, olhei em volta novamente e aceitei o meu destino, e a vergonha que passaria assim que ele entrasse pela porta. Lentamente caminhei em direção ao meu inevitável destino, girei a maçaneta ainda com esperança de ser um sonho e respirei fundo. Não era, ele realmente estava ali e me sorria com muito carinho.
— Entre. – disse, me afastando para que ele o fizesse.
Taehyung entrou com algum receio, mas os seus olhos percorreram todo o pequeno espaço e no canto dos seus lábios pude ver um sorriso. O seu olhar curioso despertou nervosismo em mim, o meu estômago se mexia involuntariamente e as borboletas tomavam conta do meu ser. Será que ele via a bagunça do mesmo jeito ou estava sendo paranoica? Desviei o meu olhar e evitei olhar para a bagunça que ainda era nítida, talvez ele não percebesse isso.
— O seu cantinho é lindo. – comentou, voltando o seu olhar para mim. — Bem a sua cara. – isso era um elogio? — Diferente. – isso não podia ser um elogio.
— Obrigada. – agradeci, engolindo o nervosismo. — Deseja tomar algo? – ofereci.
— Água, por favor. – respondeu docemente.
Sorri de canto e fui em direção a cozinha, pude sentir o seu olhar me seguir a cada passo dado. A curiosidade era explicita, mesmo ele não falando nada. Me sentia mal por recebê-lo assim, eu não estava preparada para receber visitas. O que estava fazendo da minha vida? Tinha de mudar os meus hábitos ou ninguém gostaria de estar em minha presença.
— Como sabia o andar? – indaguei pegando um copo com água. — Não me lembro de falar sobre isso. – não podia soar rude.
— O seu nome está na porta. – respondeu sarcasticamente. — Não foi difícil achar o seu apartamento, mas confesso que estive em todos os andares até encontrar a porta certa. – ele sorria.
Não era uma boa ideia ter o meu nome na porta, mas para facilitar a entrega de documentos do meu trabalho, era o melhor que podia fazer. Pensei várias em vezes em remover, mas por comodidade, nunca o fiz.
— Verdade. – murmurei. — Não pensei nisso.
Voltei para a sala levando o seu copo com água, os seus olhos me seguiram até o momento em que entreguei o copo em suas mãos. O seu olhar me devorou viva e assim que ele pegou o copo em suas mãos, pude ver a sua língua molhar metade dos seus lábios. Por qual motivo eu me sentia assim?
— O que foi? – indaguei sem entender.
— É um belo pijama. – murmurou levando o copo à boca.
Por um momento, senti as minhas pernas tremerem e o meu coração parou ao ouvir, tinha me esquecido deste pormenor. Sem falar nada, sai correndo em direção ao meu quarto e não calculando os meus passos, tropecei nos cabos do abajur da sala e cai no chão. Senti o meu corpo embater de encontro ao chão duro e um gemido de dor saiu de mim, que cena lastimável. Tentei me desenroscar dos cabos e com muita dificuldade, corri para o quarto.
— Alice, está tudo bem? – questionou, tentando vir em minha direção.
— Estou bem! – respondi, correndo.
Entrei em meu quarto o mais rápido que pude, o meu coração estava acelerado e a qualquer momento poderia sair pela boca. Me sentei na cama e tentei recuperar o fôlego que me faltava. Por qual motivo me sentia assim? A minha roupa era curta, mas não era o fim do mundo. Certo? E nem era um pijama bonito, era a reencarnação de uma vaca e não tinha nada de atraente nisso. Os meus joelhos estavam vermelhos e o meu rosto queimava, isso não podia estar acontecendo.
Olhei para o espelho no canto do quarto e vi o meu semblante, como conviveria com a humilhação e vergonha que causei a mim mesma? O que ele pensaria de mim agora? Respirei fundo e fui em direção ao guarda-roupas, procurando algo decente para vestir. Não podia ficar confinada no quarto, assim como também tinha de enfrentar esta situação de cabeça erguida, não podia me abalar assim. Era apenas o Taehyung!
Assim que coloquei uma roupa decente, engoli a minha vergonha e sai do quarto. Me sentia muito envergonhada, mas infelizmente não podia mudar nada. Taehyung estava sentado no sofá e ainda segurava o copo em suas mãos, olhando para o nada e assim que notou a minha presença, ele se ergueu e sorriu para mim. Caminhei em sua direção com calma, não podia cair novamente. O meu coração ainda estava acelerado e eu queria enfiar a minha cabeça em um buraco.
— Está tudo bem? – questionou ao me ver.
— Sim. – sorri de canto. — Desculpe, não estou acostumada a receber visitas. – por mais que doesse assumir.
— Percebi isso. – respondeu ironicamente. — Não se preocupe, você é perfeita. Até mesmo fantasiada de vaca. – sorri de canto ao ouvir. — Vamos fingir que isso nunca aconteceu, se te faz sentir melhor. – sim, era uma boa ideia.
— Boa ideia. – assumi sorrindo de canto.
Não sabia o que esperar da sua visita, e ele não havia compartilhado os reais motivos de estar ali. Após algum tempo compartilhando o mesmo olhar, ele colocou o copo que segurava em cima da mesa de centro, e sorriu. Sorri de volta e observei os seus movimentos, em seguida, ele se voltou para mim e estendeu as suas mãos. Não entendi, mas fui em sua direção, as segurando. Taehyung as apertou e eu senti um arrepio tomar conta de mim.
— Posso pedir algo? – murmurou pesadamente.
— Sim. – aceitei.
Em silêncio, ele me sentou no sofá e se sentou ao meu lado. Não entendi o que ele queria, mas não questionaria. Os seus olhos fitaram os meus e a sua respiração oscilou ao se aproximar de mim. Senti o meu rosto corar, mas me mantive firme. O seu perfume invadiu os meus sentidos e notei a anestesia tomar conta de mim. Taehyung segurava as minhas mãos com carinho e a sua pele macia fez com que outro arrepio percorresse todo o meu corpo.
— Me abraça? – pediu baixinho.
O meu coração oscilou ao ouvir, mas sem proferir nada, o abracei. Ele respirou fundo, fazendo o seu peito se mover contra o meu. Pude sentir o seu coração bater aceleradamente, assim como a sua respiração oscilava sempre que ele batia. As mãos de Taehyung se fizeram presentes em minhas costas e a sua boca, ia de encontro ao meu ouvido.
— Precisava te ver. – sussurrou em meu ouvido. — O teu abraço me faz tão bem, o teu sorriso e o teu cheiro são inevitáveis. – tentei conter os meus sentimentos. — Eu sei que posso estar ultrapassando um limite, mas precisava disso.
Permaneci petrificada, enquanto, ele me soltava. Sorrindo de canto, os seus olhos percorreram o meu rosto e procuraram por alguma reação. Lutei contra todos os sentimentos que invadiram o meu corpo e me mantive forte. Pude ver a sinceridade do momento em seus olhos, mas não consegui proferir algo ou agir. Em minha mente tudo isso ainda não passava de uma ilusão e em breve, acabaria. Respirei fundo e procurei por forças, precisava deixar as minhas intenções claras, assim como os sentimentos que não podíamos sentir um pelo outro.
— Taehyung. – disse com dificuldade.
— Não fala nada. – pediu pesadamente.
Sem conseguir responder, ele pousou os seus dedos sobre os meus lábios e os apertou, me impossibilitando de prosseguir.
— Não precisa falar nada. – murmurou.
Senti outro arrepio me percorrer, os seus dedos quentes apertavam os meus lábios com delicadeza e o seu olhar era cruel. Senti o meu coração bater mais forte e a minha respiração descompassou, fazendo com que eu deixasse um gemido aflito sair. Confiava no homem em minha frente, mesmo sem o conhecer, queria estar ao seu lado. Taehyung moveu os seus dedos e os passou por meus lábios, os acariciando. Não soube explicar a fonte destes sentimentos, mas no momento os sentia com muita força. Talvez por não saber o que era, me sentia assim e ansiava por mais.
— Por qual motivo, deposito tanta confiança em você? – questionei baixinho contra os seus dedos.
Taehyung sorriu e retirou os dedos dos meus lábios.
— Acredita em amor à primeira vista agora? – sussurrou.
— Não.
Outro sorriso de canto o invadiu, mas ele nada disse. A sua força de vontade era louvável, ele queria que eu acreditasse em algo e com isso, queria que eu sentisse algo. No fundo, também começava a sentir, no entanto, o meu passado não me deixava prosseguir e eu não podia amar novamente. Ele respirou fundo, mas manteve o seu olhar no meu, analisando o meu rosto.
— Ei, Alice? – indagou, me arrancando dos meus pensamentos. — Você já me ama, sabe disso? – disse, se recostando no sofá. — Não sabe?
Que absurdo, isso era demais. Certo que nossa ligação era incomum e inexplicável, mas amar? Taehyung não estava bem e isso era nítido em suas palavras. Como ele podia esperar isso de uma estranha? Alguém que não conhece e não sabe o quanto pode magoar os seus sentimentos, que já se encontram feridos.
— Você bebeu? – retruquei arqueando uma sobrancelha.
— Ainda não sabe, mas sente isso. – murmurou, me piscando em seguida. — Posso ver em seus olhos, acredite em mim.
A sua resposta foi tão ridícula que me fez sorrir.
— O que faremos hoje? Já que me obrigou a vir aqui. – não entendi o que ele queria dizer.
— Como te obriguei a vir aqui? – retruquei. — Você veio aqui com as suas próprias pernas e não por convite.
— Como não? – rebateu. — Ignorar alguém é algo normal para você? Sabe o quão preocupado eu fiquei? Isso não se faz. – ele era surreal.
Era inacreditável, quem ele pensa que é?
— Olha, não quero começar a nossa relação discutindo, então, vamos aproveitar o tempo que temos nos divertindo. – continuou. — O que faremos hoje? – que audácia!
Pensei se discutir nos levaria a algum lugar, provavelmente ele ainda estava maluco por causa da sua dor. Talvez fosse melhor ignorá-lo e não pensar nisso. Em seu rosto havia diversão e ele parecia sério, o que me causou um certo desconforto e ilusão. Isso não podia ser normal ou muito menos, real.
— Não sei, pretendo trabalhar e você? – será que ele entenderia a deixa? — Não tem nada para fazer em casa? – tentei.
— Ah sim e com o que trabalharemos exatamente? – retrucou me olhando com carinho.
— Eu tenho o meu trabalho e não preciso de ajuda para concluir. – disse rispidamente. — Mas talvez você tenha algo para fazer em casa, na sua casa. – prossegui.
— Tá bom, espero você terminar e podemos fazer algo. – ele afirmava as suas palavras com certeza e ignorava o que dizia. — Tenho bastante tempo.
Estava indignada, mas não discutiria com alguém louco. Liguei a televisão para que ele se concentrasse em alguma coisa e me levantando, fui em direção a cozinha. Taehyung me acompanhou com um sorriso de canto que insinuava muitas coisas e uma das insinuações, eram nítidas. Ele estava feliz ao ver que por um breve momento me tirou do sério. Respirei fundo e tentei não brigar com ele, não era o momento certo para fazer isso.
— Pretende ficar por muito tempo? – questionei organizando a cozinha.
— Bom, hoje é o primeiro dia. – respondeu se levantando. — Então acredito que ficarei o suficiente para você me conhecer melhor, mas confesso que em breve, pretendo ficar para sempre. – concluiu ficando em minha frente. — Não há como você fugir disso.
Senti o meu coração acelerar, assim que as suas palavras ecoaram. O seu sorriso não deixou o seu rosto e o seu olhar ficou intenso, me obrigando a desviar o meu, não podia aceitar estes momentos.
— Sim. – murmurei. — Você é louco.
— A loucura sempre fez parte de mim, confesso. – disse. — Quer me dizer algo?
— Não! – exclamei rapidamente. — Fica para o almoço? – perguntei, mudando de assunto.
Ele franziu e enrugou o seu rosto, mas logo em seguida voltou a sorrir. Não entendi como pude responder assim, o que esse "sim" significa Alice? Está louca? Precisava manter as minhas intenções claras e genuínas, ou teríamos um problema a qual não precisávamos no momento.
— Lembrando que a hora do almoço já passou e em breve será noite. – respondeu com calma. — Sim, eu aceito jantar contigo.
— Está bem. – murmurei indo em direção a geladeira. — Então vamos preparar o jantar, para que você volte para casa antes do anoitecer e não corra riscos nas ruas de Seoul. – pude ouvir o seu sorriso.
Abri a geladeira e retirei tudo o que precisava, estava com vontade de comer legumes e carne. Quanto mais rápido tudo acontecesse, mais rápido ele iria embora e eu poderia digerir todas as suas palavras. Ouvi um suspiro e em seguida a sua voz voltou a se fazer presente.
— Ei, Alice? – questionou. — Há quanto tempo mora em Seoul?
— Pouco tempo. – respondi.
— Posso saber o motivo? – continuou. — Seoul?
Ao ver que eu começaria a cortar os legumes, ele se aproximou e retirou o seu casaco, vindo em minha direção. Permaneci em silêncio, tudo em Taehyung era gracioso e muito atraente. Ele se aproximou e retirou a faca das minhas mãos, cortando os legumes. Me permitir observar a sua graciosidade, não sabia como era ter alguém assim em minha vida e muito menos sabia, como me comportar perante alguém assim.
— Então? – indagou.
— Me mudei por causa do meu trabalho. – respondi me afastando dele.
— Quem partiu o seu coração? – entendi a sua pergunta, mas não entregaria o jogo. — Ninguém se muda apenas por causa de um trabalho, normalmente, usamos isso como desculpa para esquecer alguém ou algo. – concluiu.
Passei anos escondida em minha dor, procurando motivos para não desistir. Uma das coisas que me ajudou, foi não falar ou lembrar de tudo o que vivi. Por mais que as memórias tentassem se fazer presente, me mantive forte, procurando depositar a minha força em outro lugar. Isso me deu forças para continuar sem os fantasmas que me perseguiam durante à noite. Porém, do nada, ali estava ele. Um estranho, querendo saber o motivo da minha dor. Como ele sabia disso? Como podia confiar que ele não usaria a minha dor contra mim, e assim como ele, procuraria o alívio nos encantos da morte?
— Ninguém. – me manteria firme.
— Não poderia trabalhar na sua cidade? – continuou com o seu interrogatório. — Se trabalha em casa, poderia fazer isso em qualquer lugar, não?
Era um ponto de vista interessante e pertinente, mas não entregaria as minhas intenções.
— Sim, mas a sede da empresa é aqui. – respondi. — Fica mais fácil e eu precisava sair de lá, queria conhecer outros lugares e explorar mais o país. – mentir era feio e eu o fazia no momento.
— Então alguém partiu o seu coração. – murmurou, me olhando nos olhos. — Me conte o que aconteceu. – pediu.
— O que você faz da vida, além de perseguir mulheres no parque? – indaguei, mudando de assunto.
Não falaríamos sobre mim, não podia me permitir isso. Não queria sofrer novamente, nem mesmo na frente de alguém assim, que parecia gostar de mim e me passava confiança.
— Também gosto de invadir as suas casas e cozinhar para elas. – respondeu ironicamente. — Eu estudo e trabalho, na verdade, mais trabalho do que estudo. Entretanto, falávamos de você e não de mim. – sorriu. — Não tente virar o jogo.
— Taehyung. – murmurei.
— Alice. – retrucou, me arrancando um sorriso de canto.
— Me fale sobre você. – pedi.
— Você bebe? – indagou me causando confusão. — Precisaremos de álcool para falar de mim. Digamos que a minha vida é confusa e a história é longa, com álcool você entenderá melhor. – sorri de canto ao ouvir. — E eu sinto falta de beber com alguém agradável.
— Não bebo. – murmurei. — Mas ofereço um suco!? – era retórico e ele entendeu.
Sorri e fui em direção a geladeira, o dia ficava mais interessante e eu estava curiosa. Não sabia nada sobre ele ou sobre a sua vida, será que ele se abriria comigo, para que no futuro eu me abrisse com ele?
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