13_ Enfim, a hipocrisia.
Ok, eu acabei acreditando que eu teria que me acostumar com a ideia de que Josh tinha uma facilidade enorme de me fazer sentir envergonhada.
- Digo... você parece ser uma pessoa legal. Mostrou ser divertida, por isso... por isso me aproximei de você. - Ele falou de um modo meio atrapalhado e logo em seguida mordeu o lábio inferior de um jeito nervoso.
- Ah... entendi. - Dei uma pequena risada. - Eu não sou divertida, eu só... passo muita vergonha. Por isso faço as pessoas rirem. Costumo até dizer que eu e a vergonha somos melhores amigas. - Dei de ombros com um sorriso e logo vieram nos atender.
Eu pedi o meu prato favorito, que era bolo de carne, e Josh pediu macarrão com queijo.
- Por que veio pra Nova Iorque, Thalia? - O mesmo perguntou bebendo um pouco de seu copo d'água.
- Pra começar minha vida. - Respondi me ajeitando na cadeira. - Eu sempre vivi sob as asas dos meus pais e nunca tive nada na minha cabeça. Não sabia o que fazer da minha vida e me via num lugar onde ninguém acreditava em mim. Então... decidi vir para Nova Iorque, onde todos os sonhos se realizam. - Falei a famosa frase clichê e Josh deu uma leve risada. - Eu sei que parece idiotice. - Ri junto dele. - Mas eu acreditava, e acredito, que aqui eu vou descobrir o meu rumo. Descobrir o que fazer da minha vida e provar para todos que eu não sou apenas uma cabeça de vento que só passa vergonha.
- Uau. - Ele sorriu ladino. - Então, você é uma pessoa de atitude? Isso é bom. Na verdade... poucas pessoas teriam coragem de sair da zona de conforto para encarar algo totalmente novo.
- Eu costumo dizer que se eu não arriscar... nunca vou saber o que poderia ter acontecido. Acho que sou o tipo de pessoa que prefere se arrepender de ter feito algo, do que de não ter feito.
- Entendo perfeitamente. - Ele sorriu e logo trouxeram nossos pratos.
- E você, Josh? Sempre morou aqui em Nova Iorque? - Perguntei e olhei para meu prato que cheirava muito bem.
- Sim, minha vida toda. - Ele respondeu também encarando seu prato.
- Sério? - Olhei pra ele.
- Sim. - Ele riu. - Nasci aqui, meus pais se divorciaram e meu pai foi morar no Alabama. Eu tive que decidir com quem ficaria e escolhi a minha mãe. Morei com ela até me formar. Hoje moro sozinho e dedico minha vida a dança. Algo que... algo que eu sempre sonhei.
- Você é muito bom nisso. - Dei uma garfada em minha comida.
- Eu gosto. A dança... a dança é algo natural em mim. Quando eu vejo... a música já me levou. - Olhei para o mesmo. Era exatamente aquilo que eu sentia com relação a dança, mas preferi não dizer nada.
- Deve ser legal ser bom em algo que gosta. Eu até gosto, mas não levo jeito algum. - Respondi.
- Veremos isso ainda. - Josh sorriu com um olhar de quem iria aprontar e logo piscou seu olho direito.
- Veremos nada não! - Neguei imediatamente fazendo o mesmo gargalhar, coisa que atraiu o olhar de algumas pessoas no restaurante.
Eu não sei. A sensação de não ser a pessoa que estava causando a vergonha era diferente pra mim. E o melhor... Josh não ligava para as pessoas que olhavam para nós.
Depois de uns segundos, ele parou de rir e tomou um pouco de sua água.
Eu não sei o que foi tão engraçado no que eu disse. Josh até ficou vermelho.
Ta, talvez tenha sido meu jeito de falar. As vezes eu não pareço uma pessoa normal falando.
- Josh? - Chamei a atenção do mesmo depois que um silêncio pairou entre nós dois. Obviamente, porque estávamos comendo. - Você apenas estuda dança lá no BDC?
- Não. - Ele balançou a cabeça e achegou o corpo pra trás tocando às costas na cadeira. - Eu faço aula de hip hop avançado, mas também dou aula pra uma turma infantil e sou coreógrafo.
- Sério? Você dá aula pra crianças? - Acabei deixando uma pequena risada escapar e Josh arqueou uma sobrancelha e me olhou com um sorriso.
- Que foi? - Ele perguntou me fazendo rir de novo. - Acha que eu não levo jeito pra lidar com crianças?
- Eu? Eu não disse nada. - Sorri convencida e ele riu.
- Mas pensou. - Ele assentiu com um sorriso.
Eu e Josh seguimos nosso almoço enquanto conversávamos e riamos muito, coisa que continuava atraindo o olhar das pessoas no restaurante, mas Josh realmente parecia não ligar nenhum pouco.
Quando acabamos, eu cheguei até a pegar minha carteira, mas Josh não me deixou pagar. Ele pagou a conta completamente sozinho e ignorou todas as vezes que eu disse que não precisava.
Nós dois saímos do restaurantes e começamos a andar na direção do estúdio.
- Minha mãe sempre dizia que não via a hora de eu sair de casa porque eu fazia muita bagunça, mas agora que moro sozinho, vive dizendo que eu abandonei ela. Enfim, a hipocrisia. - Josh falou me fazendo gargalhar no meio das pessoas que passavam por nós.
Nós dois entramos no prédio atraindo a atenção de algumas pessoas que estavam ali.
Havia um grupo de mais ou menos cinco meninas perto da porta. Eu podia notar que eram bailarinas devido a estarem todas de meia calça rosa e coques nos cabelos.
As cinco olharam para nós assim que entramos e todas acenaram para Josh com um sorriso.
Eu achei aquilo fofo por terem sido educadas, porém quando EU olhei para elas, elas fecharam a cara pra mim.
- Euem. - Murmurei e Josh olhou pra mim.
- O que disse?
- Nada. - Sorri sem mostrar os dentes e segui andando junto dele.
- Bem, eu preciso seguir para minha sala agora, tenho quatro coreografias para terminar. - Josh sorriu pra mim. - Eu gostei de ter almoçado e passado esse tempo contigo, Thalia. Nos esbarramos por aí! - Ele acenou e saiu andando.
- Não esteja com café, por favor! - Respondi e o mesmo gargalhou antes de virar um corredor.
Sorri com aquilo e olhei para trás vendo aquelas mesmas meninas. Elas continuavam a me olhar com a cara fechada. Umas até me olharam dos pés a cabeça e reviraram os olhos.
- Ok. - Respirei fundo voltando a olhar pra frente. - Nem Jesus agradou todo mundo. Pessoas assim vão ter em todo lugar. - Coloquei um sorriso no rosto e segui para fazer o meu trabalho.
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Continua...
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