15 - SER "EU"
A limousine branca do Sheik estaciona bem em frente ao pórtico de entrada do Al Qasr Hotel onde Juliah estava hospedada. Ela queria ter desmarcado esse passeio, mais Jenna insistiu tanto que só para não ter a amiga falando mais em sua cabeça resolveu ir.
Quando Juliah passa pela porta de entrada do hotel o Príncipe Hamdan a esperava de pé ao lado da limosine com seu chofer logo atrás.
Diferente da ceia ele estava vestido "normal", com uma camisa preta com mangas dobradas até o cotovelo, justa ao corpo o que fez Juliah perceber alguns músculos torneados em seus braços. Com as vestes tradicionais na festa não tinha reparado que ele tem tão boa forma física. Uma calça social e sapatos também pretos completava look. Os cabelos bem negros levemente ondulados penteado para trás em conjunto com a barba por fazer deixava mais charmoso ainda.
Aqueles olhos verde-claros fixos nela a perturba demais... dá a impressão que ele consegue ver além dela.
_ Ya amar... - Ham diz assim que Juliah se aproxima colocando uma mão em seu próprio peito curvando levemente numa reverência.
_ Oi...o que significa?
_ A mais bonita. - seu sorriso perfeito e olhar penetrante faz Juliah ficar totalmente sem jeito.
Ela sorri olhando para baixo colocando uma pequena mecha de seus cabelos atrás da orelha. Juliah estava com uma bata preta toda bordada em fios de prata, bem comprida até o joelho, acinturada mas não tão justa ao corpo. Uma meia calça grossa e preta com seu All Star no pé. Ela colocou um scarf (lenço) da mesma cor e bordado da bata, mais apenas jogou em cima da cabeça, uma parte de seus cabelos ainda estavam a mostra. Ela quis vestir respeitando a cultura do país.
Julian entra na limousine e ele logo em seguida, assim que o porteiro do hotel fecha a porta, o veículo entra em movimento.
A garota realmente não estava muito para conversa depois de ter visto as fotos de Mau com a ruiva de manhã e Ham percebe isso.
_ Será que posso arriscar que você está...triste?
_ Desculpe Ham...não sei se serei uma boa companhia hoje.
_ Isso parece que tem a ver com...namorado. - Ham encara a garota muito curioso querendo saber informações.
_ Ex... - Juliah corrige melancólica virando sua cabeça para olhar pela janela, não era uma assunto que queria tocar.
_ Foi recente?
_ Sim...ele terminou comigo no dia que sai de férias.
_ Mais você era a prometida dele?
Julian agora vira o rosto em direção ao rapaz. - _ Como?
_ Hummm...acho que não tem isso na sua cultura. Ser prometida em casamento pelos pais.
_ Ownnn...nãoooo...nós nos escolhemos sozinhos...por amor.
_ Amor... - Ham continua com seu olhar penetrante na garota. - _ Eu gostaria de viver essa experiência, deve ser tão... - ele para se falar pensativo procurando a palavra certa. - _ ... libertador!
_ Você nunca...se apaixonou??
_ Isso é algo bem raro de acontecer nos acordos. - o rapaz dá de ombros com uma voz chateada.
_ Acordos?
_ Na nossa cultura, quando ainda somos crianças, os nossos pais escolhem nossas prometidas. Quando tinha oito anos eu fui acordado para uma menina chamada Aisha, quando ela completar 21 anos iremos nos casar. - Ham explica.
_ Ela é sua noiva?
_ Acho que essa não é a palavra certa, porque eu nem a conheço, é mais uma troca de benefícios para o cargo que ocuparei, porém se encontrar outra pessoa especial que vale a pena lutar, esse acordo pode ser renegociado, não é algo obrigatório...mas se até chegar na idade isso não acontecer, aí ficamos com as nossas prometidas mesmo. - Ham explica com um certa tristeza na voz.
_ Você ainda não encontrou alguém certo para se apaixonar? - Juliah ficou curiosa.
_ É bem difícil no cargo que ocupo, não me deixam com tempo livre para quase nada. - Ham suspira pesado sentindo um certo desconforto na resposta que deu.
_ Eu já estudei sobre essa cultura...me desculpe falar e não veja como uma forma de desrespeito às suas tradições...mas particularmente acho muito triste isso.
_ Eu também acho...no meu governo quero abolir essa cultura tão retrógrada. - Ham agora vira seu olhar para a janela bem pensativo.
Logo a limousine estaciona próximo a um heliponto, e eles embarcam num helicóptero que os aguardavam, sobrevoam por um tempo a fazenda de camelos, é uma propriedade gigantesca.
Depois de algum tempo, pousam na sede da fazenda e Juliah visita alguns setores, armazenamento e as necessidades de nutrientes específicos para os animais dependendo das suas finalidades. A garota se surpreendeu com o comércio tão ativo desse animal que para ela é tão exótico...eles consomem a carne, a pele, o leite, fazem queijos.
Uma cultura muito diferente, conheceu os animais de perto e até arriscou a andar em cima de um, com um cuidador segurando a correia guia lógico.
Juliah ficou muito empolgada quando descobriu que 30% dos lucros eram destinados às obras sociais diversas de meio ambiente, pegou muitas informações e mal via a hora de trabalhar com isso.
Quando a visita acaba, voltam de novo de helicóptero e a mesma limousine os esperavam, no caminho de volta ao hotel conversam animadamente, principalmente da destinação de verbas.
_ Era exatamente esse projeto que eu tenho em mente seguir...eu tenho tantos objetivos a alcançar. - Julian explica.
_ É inspirador essa sua paixão...sempre pensou assim.
Juliah fica séria na mesma hora. - _ Para falar a verdade... não...meio que foi meu ex que abriu meus olhos...hummm...me fez ver mais além do que eu conseguia enxergar numa época bem conturbada da minha vida... - Juliah desvia o olhar sentindo um nó se formar na garganta...mas estava decidida a não chorar, não na frente do príncipe pelo menos...só não garantiria essa decisão quando estivesse sozinha em seu quarto.
_ Kalil...pare o carro agora. - Hamdan ordena e o motorista obedece imediatamente.
_ O que houve. - Juliah olha pela janela e ainda não tinha chego no hotel.
_ Se você me permitir trocar totalmente de planos...aceita tomar um sorvete comigo?
_ Sorvete? - a garota franziu as sobrancelhas sorrindo do convite inusitado e meio inocente.
_ Sim...ou café, chá, água ou qualquer coisa...desde que seja agora.
_ Tudo bem...eu acho. - Juliah responde mais automaticamente do que pensando em alguma coisa.
Eles saem do carro com muitos olhares curiosos no príncipe, todos cumprimentam, alguns mais idosos reverenciam, entram numa charmosa cafeteria em estilo marroquino finamente decorado da cultura local, sempre ricos nos detalhes.
_ É tudo tão lindo. - Juliah está encantada olhando para todos os lados. - _ A arquitetura e decoração de vocês são únicas.
Ham pede alguma coisa para os funcionários do local na sua língua que Juliah não entendeu nada e depois indica uma pequena mesa quadrada que estava encostada numa grande janela de vidro de blindex com a bela visão do calçadão, sentam um de frente para o outro.
_ Esses serão seus últimos dias em Dubai, e não quero que fique triste aqui, quero que leve apenas boas lembranças. Desculpe pelo convite tão atípico, não pensei muito na verdade...só queria fazer alguma coisa comum em um lugar comum. Talvez não faça muito sentido para você, mas é muito complicado para mim fazer coisas simples às vezes. - Ham tenta explicar.
_ Você se engana...eu sei exatamente o que você sente...não é fácil ser "eu" às vezes. - Juliah diz meio sem jeito.
_ Isso... é essa a definição: não é fácil ser "eu" também. - Ham diz impressionado com a compreensão.
Logo chega uma grande barca com muitas bolas de sorvetes coloridos, e alguns enfeites e caldas.
_ Pedi apenas frutas do nosso país, quero que você experimente um pouco dos nossos sabores.
_ Ainda bem que você pediu apenas uma barca para nós dois...isso aqui é demais. - Juliah pega uma colher animada.
_ Comece com esse. - Ham joga um pouco de uma calda escura numa bola de sorvete verde, pega uma colherada do doce e leva para dar na boca da garota. - _ Pistache com calda de tâmara.
Juliah prova, mas faz uma leve careta fechando os olhos apertados. - _ E bem forte!!!
O príncipe ri da reação da garota. - _ Desculpe, deveria ter começado pelo de figo.
Eles passam um bom tempo conversando descontraídos entre os sorvetes, um pouco de negócios, piadas e muitas risadas...a garota se surpreendeu como Ham é uma pessoa divertida.
_ Você me lembra uma pessoa muito especial... determinada de espírito livre ao mesmo tempo espontânea sem perder suas convicções. - Ham diz de repente quase como um desabafo.
_ E que não é a sua prometida. - Juliah se surpreende com essa observação tão detalhista e fica curiosa sobre a pessoa.
_ Não...o nome dela é Zahra. - ele para um momento dando um leve sorriso bobo. - _ Uma...amiga da faculdade.
Juliah percebeu na mesma hora a mudança de tom na voz dele ao falar o nome da garota...num tom de carinho o que faz ela abrir um sorriso animada, pois achou muito triste ele ser "obrigado" a ter um casamento de conveniência. - _ Ham! Mas você está gostando dela!!!
O príncipe fica bem sem jeito diante dessa observação e desvia o olhar. - _ Eu não posso! O meu cargo não me permite ser um aventureiro.
_ Amar não é uma aventura. - Juliah para de falar pensando um momento antes de revirar os olhos corrigindo o que disse. - _ Está bem é um aventura muito louca, mas não é por isso que deve negá-lo até porque você não irá conseguir esconder isso para sempre, falo por experiência própria. - agora a garota se referia ao esforço que o Mau fazia tentando esconder seus sentimentos mas não conseguiu, igual ao que Ham está tentando fazer.
O rapaz mantém sério com seu olhar penetrante fixo na garota, porém perdido. - _ Não é fácil para alguém estar ao meu lado, exige uma responsabilidade que não sei se Zahra gostaria de viver.
Juliah estranhamente lembrou da sua última conversa com Mau no celular e viu os mesmos medos descritos por ele na sua frente espelhados em Ham só que "do outro lado da moeda" e esse "lado" também era o dela...ele estava preocupado com os sentimentos de Zahra em conviver num ambiente tão diferente do que ela está acostumada...só que Juliah não teve esse mesma atenção nos medos de Mau, tudo bem que ela não sabia pois ele escondia isso o tempo todo, mas mesmo assim sentiu-se incomodada por talvez não perceber e tê-lo sub-estimando por achar Mau tão forte a ponto dele não precisar de nenhum apoio emocional nesse processo...a falta de diálogo culminou nesse triste fim deles.
Juliah suspira pesado e com o coração apertado, não podia deixar Ham cometer o mesmo erro.
_ E como você irá saber sem perguntar isso a ela? Ham você é uma pessoa muito especial não deixe que os outros ditem o que você tem que fazer, é possível vocês seguirem o caminho que precisa ser trilhado sem perderem suas essências. Seria muito triste vocês dois descobrirem tarde demais que poderiam ter feito tudo diferente.
_ Eu acho que compreendo... - o príncipe fica pensativo por um momento antes de abrir um radiante sorriso. - _ Gostei muito de conhecer você Juliah, há muito tempo não conseguia ter uma conversa assim tão franca...nem sabia que isso me fazia falta. - Ham estava muito feliz de enfim ter alguém que o compreendesse tanto.
_ Sempre faz falta...aprendi que nem sempre podemos guardar tudo para nós. - Juliah explica.
_ Como você lida com as multidões que só o fazem sentir-se solitário? - Ham olha meio perdido para a garota
_ Se permitindo mudar isso.
_ Permitir? - Ham tenta entender.
_ Sim...se permita que cheguem até você.
_ Como?
_ Se não conseguir com palavras...um simples gesto como um abraço por exemplo é capaz de mudar tudo. - Juliah explica.
_ Não nos abraçamos sem motivos na nossa cultura como vocês ocidentais.
Juliah pensa por um momento e estende sua mão pela mesa. - _ Um pequeno toque também é um simples gesto, às vezes você tem que ser o primeiro a quebrar a barreira.
Ham hesita por um momento, mas logo estende também a sua mão pegando firmemente a da garota e sorri com seu olhar penetrante nela e ela retribui o sorriso. - _ Eu acho que posso fazer isso...obrigado Juliah.
Totalmente alheios ao que acontecia, lá fora alguns paparazzis registravam com suas câmeras esse momento íntimo tão raro do filho do Sheik.
Juliah e Ham se identificaram com suas vidas e levou a uma aproximação natural.
Um dia bem diferente para os dois com direito a troca de conselhos, faz surgir uma cumplicidade única deles.
Enquanto isso os paparazzis se divertem.
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