Prólogo
Ela quer ir para casa, mas ninguém está em casa
É onde ela deita, machucada por dentro
Sem nenhum lugar para ir, nenhum lugar para ir
Para secar seus olhos, machucada por dentro
-Avril Lavigne (Nobody's Home)
O cabelo castanho de Ana Clara desceu em cascatas por suas costas até chegar à alça de sua bolsa, que ela apressadamente jogava sobre os ombros enquanto desfazia o coque e, como uma ninja, arrancava as sapatilhas de balé, jogando-as no canto da sala de aula.
-Tchau pessoal, torçam por mim!- disse às alunas, dando saltinhos porta afora e encontrou-se com o marido.
O suor que lhe descia pelo canto do rosto já não importava mais, a mulher- agora agarrada ao braço de Bernardo - só estava interessada em uma coisa: Chegar logo ao carro e partir ao encontro do que achava significar um recomeço.
Ele, observando a esposa, tinha um sorriso abobado no rosto, de felicidade completa e absoluta.
-Eu nem acredito que foi tão rápido, meu amor! - Ele falou, lembrando-se da ligação que recebera em seu escritório mais cedo naquele dia.
A senhora do outro lado da linha disse algo breve sobre a história da garotinha que atendia os requisitos estabelecidos por eles e Bernardo não pensou duas vezes antes de aceitar conhece-la em nome de ambos.
-Tem certeza que sabe o caminho? - Clara perguntou, logo que entrou no carro.
-Deixe com o GPS. - A encarou, dando batidinhas no aparelho. -Se acalme, tá?
-Não dá! Nós vamos...conhecê-la! - disse, dando soquinhos no ar.
Um sorriu para o outro e ela ligou o rádio, tentando conter a euforia enquanto o carro arrancava.
>>>
Depois de vinte minutos viajando pela estrada esburacada, chegaram ao orfanato.
Na frente do enorme prédio uma placa estampava as palavras "Legião Da Guarda - Lar De Menores". A pintura branca estava intacta, sem qualquer marca do tempo.
O casal admirou a grandeza do lugar, impressionados com todo o cuidado que a faixada parecia receber. Não era nem de longe o lugar triste e melancólico que haviam imaginado.
A porta foi aberta, pegando-os de surpresa. Uma mulher de idade vestida de freira colocou a cabeça para fora e sorriu para eles:
-Um minuto, por favor.
Ela fechou-a novamente e barulhos de trancas sendo abertas puderam se fizeram ouvir. Então saiu, alisando a barra da batina. Era baixa e roliça, de olhos azuis e pele enrugada.
-Vocês devem ser Ana Clara e Bernardo, certo? Chegaram rápido!
Eles riram nervosamente e cumprimentaram a senhora. Ele com um aperto de mãos, ela com um abraço apertado.
-Pode me chamar só de Clara. - O sorriso da morena ia de orelha à orelha.
Sorridente, a senhora pediu que entrassem. Reconhecia pessoas boas quando as via, e tinha certeza que aquela era a família certa para a pequena mocinha que aguardava ansiosamente na sala de estar.
-Sou Natália, eu quem entrei em contato com vocês por telefone. Aqui, sentem-se. - Indicou uma cadeira na grande mesa retangular da cozinha, cujas paredes eram pintadas de lilás claro. - Eu fiquei muito feliz que aceitassem conhecer Sakura, ela é uma ótima menina.
-Nós quem ficamos felizes de receber uma resposta tão rápida. Soubemos de casais que ficaram anos na fila de espera.
-É verdade. Acho que depende da vontade de Deus, afinal. - Entregou-lhes duas canecas de café e sentou de frente para os dois.
Conversaram sobre o tempo, bebericaram os cafés, Natália falou da história do orfanato e eles sobre seus trabalhos. Interiormente, nenhum dos três aguentava mais esperar, ansiando pelo momento em que o casal conheceria a pequenina.
-Bem, acho que é hora de falarmos sobre assuntos sérios, infelizmente. - A freira recolheu as canecas vazias e levou-as até a pia, pondo-se a lava-las. -A mãe de Sakura morreu no parto, então ela estava sob a guarda do pai antes de chegar aqui. Infelizmente existe ainda muito pecado nesse mundo, e ele abusou da própria filha. Uma tragédia que já não é tão rara nos dias de hoje. Ela foi encontrada dentro da casa da família, que pegava fogo. O pai havia se matado com um tiro na cabeça, o que foi presenciado por ela.
Os olhos de Clara se arregalaram e Bernardo apertou sua mão por debaixo da mesa.
-Além disso, devo dizer que ela toma alguns remédios para depressão infantil. Quando chegou aqui, era isolada e não queria brincar com as outras crianças, além da falta de apetite. Mas hoje, depois de bastante tratamento, ela é saudável e ativa. Não se percebe quase nenhum resquício do que aconteceu no passado. - Observou-os antes de continuar. - São pontos que a gente precisa ressaltar antes de qualquer outra coisa. Mas ela é um amor, vão adorá-la.
>>>
Alguns cômodos depois dali, sentada sobre as pernas no tapete macio da sala de estar, Sakura tentava ouvir o que dizia a freira - Tia Lia, como ela gostava de chamar - ao casal que ela vira chegar num carro bonito.
Já não se aguentava de ansiedade. Desde que Natália dissera que um casal viria conhecê-la estava inquieta, batendo os pezinhos no chão e roendo as unhas.
Talvez houvesse chegado a sua vez, finalmente. Talvez ela pegasse suas malas e partisse dali, deixando todo aquele passado ruim para trás. Enfim poderia recomeçar e esquecer a dor, o medo e as chamas.
Seria difícil despedir-se de alguns amigos e de Tia Lia, mas se esse fosse o preço a pagar por sua nova vida - com uma família feliz -, ela o faria sem nem hesitar.
De repente, tudo ficou silencioso e ela demorou a começar a ouvir passos, lentos e distantes.
Levantou, ajeitou o vestido preto e repassou o que havia ensaiado para dizer a eles, parte por parte. Estava determinada a sair dali naquele carro bonito, com um sorriso no rosto e pais que lhe dessem atenção quando contasse sobre o seu dia.
- Vai ficar tudo bem - repetiu para si mesma quase no instante em que a porta se abriu.
>>>
Quem diria que sua missão seria bem sucedida. Que, naquela terça-feira à noite a família - porque era isso que haviam se tornado - voltaria para a casa conversando sobre o que queriam comer no jantar.
>>>
O
i pessoas lindas. Vocês gostaram do prólogo? Eu espero que sim. Deixem as opiniões e críticas construtivas. 😍
Espero que estejam empolgados para conhecer a Sakura porque ela é um amor, como disse a tia Lia.
Capítulo que vem vocês vão ter mais o ponto de vista dela da história e poderão tirar as próprias conclusões.
Acho que mereço as estrelinhas de vocês só por causa dessa imagem linda no fim do capítulo. u.u
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro