23 - Um mergulho
— Erik, você é perfeito! — Amber Johnson disse ao pegar o frasco. — Onde arrumou.
O garoto descruzou os braços e suspirou entre um sorriso que lhe escapou premeditadamente.
— Com minha irmã — ele avisou. — Ela é médica, sempre faz plantões e, de vez em quando ou quase sempre, toma cinco ou mais gotas para dormir. É um calmante de ação rápida, Amber. O suficiente para deixar qualquer um vulnerável.
Ela sorriu de si mesma, seu último plano para ter Austin Moore em seus braços era uma jogada antecipadamente estudada.
— Eu não quero deixá-lo dormir, apenas... apenas vulnerável.
— Sabe que é arriscado, certo?
Amber suspirou.
— Se o que diz é verdade, Austin e Nicholas estão juntos — ela mordeu o lábio inferior. — Porém, vou dar aquele desgraçado o presente perfeito no dia da festa dele. Um presente que ele vai se lembrar pro resto da vida.
Erik encurtou o pequeno espaço que os separavam.
— E ele te convidou para a festa?
— Nicholas Ramsey pode evitar eu, mas meu sobrenome, não — ela foi até a estante e pegou o convite, estendendo a Erik. — Robert Ramsey convidou a família Johnson.
Erik coçou a nuca.
— Ele não vai gostar de te ver lá.
— Sei disso, por isso vai comigo.
— Eu?
— É, Erik, você! — ela tocou-lhe o rosto. — É bem mais bonito e muito mais homem que aqueles dois juntos. É determinado, possessivo, ambicioso, qualidades que admiro.
Erik ergueu o pescoço e abriu um sorriso.
— Um casal, então?
— Chame do que quiser, meu bem. Vai comigo?
Erik correu os dedos pela cabeleira castanho claro no segundo seguinte.
— É claro que eu vou. Passo aqui mais tarde.
Ele deixou um selinho nos lábios dela, mas antes que saísse, a voz de Amber Johnson o fez parar.
— Tem visto a Maíra?
— Não. Pensei que fossem amigas!
— Aquela víbora me traiu. Eu vou arrancar cada fio ruivo daquela cabeça de bruxa — Amber parecia transtornada. — Maíra Robinson vai se arrepender de ter terminado nossa amizade.
Erik apertou os olhos.
— O que fará com ela?
— Saberá no tempo certo!, agora vá, meu bem.
— Vai ficar linda, meu amor! — disparou Chloe, sorridente. — O lilás cai perfeito em você. Tão crescida, tão exuberante, meu doce de goiaba.
Anne Maya abriu um sorriso, encarou mais uma vez no espelho.
— Obrigada, mãe. Não quer mesmo ir? O Nich mandou o convite para nossa família — a mulher balançou a cabeça em negação. — Puxa, nem papai?
— Seu pai tem compromissos, mas o Gabriel vai.
— O Gabriel? — perguntou ela, toda surpresa. — Ele nem sai de casa.
— Ele decidiu que vai. Seu irmão ainda está abalado com o rompimento do namoro, ele é bonito, jovem, pode se divertir ainda, não é? — Anne concordou. — Só fica de olho para ele não beber e dirigir o carro.
Anne balançou a cabeça em veemência.
— Tire o vestido, filha. Ainda é cedo, são nove da manhã. Vamos tomar café.
Anne desceu de um pequeno banco estofado e com a ajuda de Chloe, sua mãe, retirou o vestido. Era perfeito, quando ela estivesse pronta, iria parecer uma deusa. Depois disso, encaminhou-se para a cozinha, ela ficava no primeiro andar da casa, onde Everaldo e Gabriel já serviam-se de pães, bolo e doce. O único irmão de Anne era um cara voluptuoso, de vinte e três anos, pele bronzeada, rosto bonito, algumas tatuagens, lábios puramente carnudos e um sorriso desestabilizador. As veias de sua mão e braços saltavam para fora de seu corpo, um ato selvagem que beirava a perfeição.
Anne sentou ao lado dele lançando-lhe um sorriso de cumplicidade enquanto Everaldo elogiava o quão bela Chloe estava.
— Eu e sua mãe ficaremos em casa — ele falou momentos depois. — Comportem-se, viu? Eu conheço a família Ramsey de alguns boatos, são pessoas ricas, podem ser esnobes.
— Nicholas não é esnobe, pai. Ele é um amor de pessoa — Anne o cortou educadamente. — Porém, tem razão, o ambiente em si não é favorável, mas ficaremos sempre nas sombras, evitando sermos vistos.
Gabriel terminou de comer o pão. Esfregou as mãos e tomou um gole do suco.
— E bonito, esqueceu de mencionar isso.
— Mudou de time, filho? — Everaldo brincou.
— Não, né pai! Mas todos nós vimos como aquele cara é diferente — Gabriel fixou os olhos cor de âmbar na irmã. — Anne pode confirmar, é amiga dele.
A garota balançou a cabeça.
— O Gabriel tem razão, pai. O Nich é diferente de todos os meninos daquela escola. Ele é simpático, está sempre preocupado com os amigos, comigo... ele é tão... cavalheiro.
Everaldo ergueu uma sobrancelha.
— Não vai me dizer que se apaixonou por ele?
— É claro que não, ele está feliz com a escolha dele.
— Que bom! Então ninguém daquela escola conseguiu roubar o coração da minha filha?
Anne sorriu ao lembrar de Alec, da conversa que tiveram na biblioteca e no tanto que aquela troca de palavras mexeu significativamente com ela.
— Tem alguém, na verdade. É um carinha, o melhor amigo do Nicholas. Ele é... generoso, pai. Os olhos dele transmitem uma paz corriqueira, o sorriso dele é como um ímã e os cabelos, pai... ah, são exuberantes.
— Parece que temos uma apaixonada. Tem alguma foto do bad boy? — Gabriel perguntou, curioso.
Anne pegou o celular e abriu o Instagram pesquisando o nome do garoto e logo dezenas de fotos apareceram. Ela escolheu uma qualquer, Alec era perfeito em todos os ângulos, e entregou o aparelho ao irmão.
— Uau! Ele é um gato.
— Posso ver, filha? — Everaldo questionou.
Gabriel estendeu o celular ao pai. Ele pôs os óculos para melhor ver e arqueou uma sobrancelha.
— É um bom partido.
Chloe espremeu-se para olhar a foto, abriu um sorriso de cumplicidade antes de entregar o aparelho de volta a Gabriel rolou mais para baixo, encontrando uma foto de Alec abraçado a uma garota extremamente bonita.
— Quem é ela? — ele virou o aparelho para a irmã que desfez o sorriso.
Na foto, estava Alec sendo beijado no rosto por uma garota de pele alva e bonita, pareciam íntimos.
— Não sei.
— Filha...
— Eu só disse que tinha um cara na escola, pai... não que eu ia amar ele.
Gabriel rolou mais um pouco. Encontrou outra foto, dessa vez, era um cara mais velho que Alec, o que supôs ser o irmão dele pela semelhança física.
— E ele?
— Este é Liam Clark, irmão mais velho do Alec. Ele mora no Canadá.
Gabriel devolveu o aparelho para a irmã que tivera o sorriso arrancado do rosto. Ela desligou o celular e respirou fundo, abandonando o café.
Era quase meio-dia quando Nicholas, por fim, despertou. Ele revirou sobre as colchas da cama ainda sentindo o cheiro de Austin impregnado nelas. Fuçou o nariz, e momentos marcantes de sua primeira noite vieram à tona fazendo-o sorrir do quanto Austin foi gentil. Ele suspirou e ergueu-se da cama. Tudo parecia estar nos eixos e resolvido. A conversa que tivera com sua mãe e irmãos o deixou mais feliz, o sorriso irradiava de seus lábios.
Ele apanhou uma toalha e caminhou para o banheiro, tomou um banho relaxado, fez sua higiene matinal e voltou ao quarto onde mudou de roupa, optando por um short cargo branco e uma camiseta preta. Os cabelos estavam crescidos e bagunçados, porém não ligou para isso, desceu correndo os degraus da escada e encaminhando-se para a cozinha onde seus amigos estavam finalizando o café da manhã.
Beijou o rosto de cada um deles e sentou. Estava eufórico, animando o grupo.
— Bom dia, bom dia, bom dia. Amo vocês.
— Nossa, bom dia! Encontrou finalmente ouro no final do arco-íris? — Davide perguntou.
— Mais que isso, meu amigo — ele fez uma breve pausa. — Encontrei minha paz.
— Isso é bom! — Eleanor afirmou. — Estamos felizes por você, Nich, de verdade. Finalmente parece completo.
Nicholas precisou concordar.
— E como foi com a sua mãe? — Matteo quis saber.
Nicholas serviu-se de suco e torradas.
— Acredito que apagamos o passado escrito a lápis e dobramos a página à espera de criarmos uma nova história.
— Por que é sempre poético? — Davide lhe perguntou.
— Poesia é vida, meu amigo.
— Hum... sei... tem mais personagem nessa história — Davide comentou. — É o carinha de quarta-feira, não é? O Austin?
Nicholas revirou os olhos.
— Somos amigos há muitos anos que ainda esqueço que Davide Calabria é observador — Nicholas disse, por fim. — Mas sim, tem personagens novos e o Austin é um dos principais.
— O príncipe encantado prestes a salvar o mocinho ou o vilão mascarado de inocente? — Matteo sabia como desestabilizar Nicholas. — Não acho que eles são pessoas boas. O Alec, o Austin, tudo muito próximo, farinha embalada no mesmo saco.
Nicholas mordeu os lábios, pois as palavras de Matteo tinham uma fração de verdade.
— Bom, o Nicholas tem dezoito anos, sabe o melhor pra vida dele — Eleanor garantiu. — Apesar que temos de partir na segunda, então estou ansiosa para o tempo passar lentamente.
A loira engoliu o choro.
— Bom, que tal um pulo na piscina? — Matteo perguntou.
Eles aceitaram a ideia de imediato.
Eleanor dirigiu-se ao quarto para pegar um traje de banho. Por coincidência e vontade do destino, o dia estava ensolarado e sem nuvens, segundo a previsão do tempo, chuva só a partir da meia-noite, fraca, mas isolada e intensa em algumas áreas.
O quintal da mansão Ramsey estava todo decorado com arranjos, lustres, luzes neon, e com dezenas de mesas espalhadas ao longo do jardim. A piscina era enorme, espaçosa, um apreço que Nicholas mal gozava por não ter com quem conversar durante o banho. Davide Calabria tirou os chinelos, a bermuda e entrou de sunga na água, gritando com o contato do cloro com seu corpo, pois estava fria.
Davide era ruivo, descendia de uma importante família dona de vinhais na Itália, seu pai um famoso comerciante de vinhos caríssimos para a Europa, em especial, França. Sua mãe é uma escocesa de cabelos semelhantes ao fogo, herdados por Davide. A pele branca deixava visível os sinais, assim como algumas sardas ao longo do tronco, ombros e rosto, Nicholas dizia que aquilo era um presente dos anjos. Os cabelos de Davide eram ruivos, cachos bonitos, sedosos, agora molhados. Os lábios pareciam brasas, vermelhos, intensos, assim como os olhos verdes, tão vivos quanto os de Alec.
Ele tinha dezenove anos, um corpo bonito, mais baixo que ele, uns sete centímetros. Ao contrário de Davide, Matteo Savic era o oposto. Os cabelos eram negros como o véu da noite, pele pálida e lábios rosados, alto, com poucos músculos, mais bonito. Savic tinha dupla cidadania; seu pai era um ucraniano e sua mãe uma turca, o que resultou no esplendor chamado Matteo Tarjei Savic.
Eleanor era a mais bonita do grupo. Eleanor MacLan não era a Eleanor Thomas, a precursora de Gustavo Mackenzie. A loira de corpo moldado e curvas perfeitas, era russa, radicada em Gales. A pele branca e a beleza europeia eram apenas um charme a parte, sua índole sempre esteve acima da estética. Seus dezenove anos eram de pura simpatia, uma romântica assídua por livros com finais felizes, ainda que sua vida amorosa estivesse tão parada quanto o trânsito na Quinta Avenida.
Eles estavam sentados na borda da piscina, os pés dentro da água, sorriam, pareciam finalmente terem conseguido congelar o tempo e tudo no entorno. Não havia dores, era como se estivessem noutra dimensão, onde fome, mágoa, doença e ódio fossem impedidos de entrar. Uma redoma criada, construída em longos anos de amizades mesmo com todos os eventos trágicos que o circundaram e os levaram até ali. Depois, o que viria seria algo traumatizante, peças de tabuleiros movendo-se, a redoma quebrando, as desgraças acontecendo. Nicholas piscou algumas vezes para dissipar aquela sensação de angústia.
Ele mergulhou nas águas, fechou os olhos e viu os flashes como se tivesse tendo uma visão desesperadora de sua vida no futuro próximo. Voltou à superfície. Os amigos ainda estavam ali, sorrindo, o entorno parecendo mais confuso, pessoas zanzando de um lado para outro na intenção de lhe proporcionar o melhor espetáculo, a melhor festa, então respirou fundo e, então, voltou a mergulhar.
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