001 • "preciso entrar"
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Olho para onde uma linda constelação me encara do céu, lembrando pela milésima vez o que fui fazer ali.
A Constelação de Raios podia ser vista do mundo inteiro, em absolutamente qualquer lugar. Era a única constelação grande e brilhante o suficiente para ser capaz disso. Todas as outras eram ofuscadas e se tornavam obsoletas ao seu lado.
Desvio o olhar do céu para a movimentação à minha frente. O porto está movimentado nesta noite, o que é uma surpresa. Escondida atrás de três caixotes empilhados e usando um capuz preto masculino que me camuflava e me confundiria facilmente com um homem, eu observava o movimento dos três grandes marinheiros que estavam rindo sem parar enquanto carregavam um dos grandes barcos atracados no porto. Eu estava seguindo-os pela cidade e estudando seus passos desde cedo, tentando ouvir qualquer coisa que pudesse vir a se tornar o meu passaporte para aquele navio.
O Usurpador. Nome ridículo para o navio de um pirata, eu sei, mas juro que o capitão se orgulhava dele. Não era à toa, afinal este navio com seis velas vermelhas se tornou incrivelmente popular ao longo dos anos por ninguém menos que Lionel Scarwider, pupilo do capitão James Marshall, altamente conhecido nos sete mares como o único homem que conseguiu atravessar o Grande Mar e retornar vivo. E o melhor: trouxe uma prova de que o Reino do Mar realmente existe.
Mas, é claro, isso tudo na teoria.
Até onde sei, ninguém nunca chegou a colocar os olhos nesse "achado" do capitão. Mas apenas o pronunciamento de seu nome era capaz de provocar um burburinho que não cessaria por longas horas.
A popularidade dele alcançou patamares incríveis após seu retorno à Ilha Caramar, com um garoto franzino a tiracolo que aparentemente salvara de um ataque dos Monstros do Mar. É claro que a história amoleceu o coração de todos a respeito de James, que era conhecido como o Capitão Sem Coração. A história de que adotara um garoto de nove anos percorreu o mundo, até chegar em mim. Isso ou o tão cruel capitão havia tido um filho escondido por aí e o ensinou todas as suas terríveis habilidades, decidindo mostrá-lo ao mundo apenas quando passasse no seu teste.
E essas habilidades são: matar, mentir e destruir.
Não é um trio que eu goste muito, mas foram motivos suficientes para que eu estivesse aqui agora.
Porque o capitão James Marshall assassinou a minha irmã, e eu tenho quase certeza que o atual capitão dO Usurpador tem algo a ver com isso.
Deve estar pensando que eu não tenho motivos suficientes e provas concretas que correspondam a isso, não é? Mas eu tenho. Porque o vi saindo de minha casa quando voltei de minha ida à cidade. Nunca vou esquecer do vislumbre daqueles olhos dourados que me encararam na rua e do frio que senti subir pelo meu corpo. Nunca vou esquecer o ligeiro susto que vi em seu rosto ao me encarar e também nunca vou esquecer a forma como senti um cheiro bem característico emanando de seu corpo.
O sangue de minha irmã manchava suas mãos. Eu as vi antes que ele as escondesse nas dobras do capuz que lhe envolvia quase o rosto inteiro.
Lionel devia ter uns quinze anos na época. Eu, onze. Ainda me lembro da mistura de medo e fúria que senti ao decolar para casa, correndo tão rápido que tudo passava como um borrão. E, ao chegar na porta, vi o sangue de minha irmã escorrendo pela calçada, manchando a minha vida para sempre.
Depois desse dia, a cidade inteira — maldição, o mundo inteiro — ficou sabendo quando Lionel ganhou o navio de presente de seu tão amado professor. James virou um herói em nossa terra, mas um herói cruel e maligno que poucos conheciam.
Eu estava mais do que disposta a desmascará-lo.
Tive muitos anos para me preparar. A vingança queimava cada dia mais forte em meu coração, como fogo sendo jogado na brasa. Era inevitável. Minha irmã era tudo o que me restava, e foi tirada de mim com tanta crueldade que eu nem conseguia colocar em palavras.
Tiro o capuz rapidamente quando vejo os homens que estive observando saírem do navio depois de carregarem mais algumas caixas. Dois retornam dessa vez, não os três que vi anteriormente. Eles ainda estão rindo e parecem um pouco cambaleantes. Sorrio. Exatamente o que eu queria.
Me movendo por trás das caixas, puxo uma das garrafas de vidro cheia de bebida e derramo um pouco dela na grama. Assumo uma expressão bêbada e tento andar a passos tropeçantes, saindo de meu esconderijo. Então, rindo sozinha como se estivesse me divertindo por absolutamente nada, me ponho no caminho deles. Imediatamente percebo sua atenção sobre mim. Tento deixar meu rosto o mais visível possível.
— Olá, rapazes — cantarolo, abanando a mão para eles e seguindo para o outro lado, esperando que ao menos um deles venha até mim.
Quando sinto uma mão grande e pesada em meu cotovelo, contenho um sorrisinho de vitória. Ao me virar, encontro não apenas um, mas os dois que fazem parte da tripulação do navio. Eles têm sorrisos bobos estampados no rosto, e eu mentiria se não dissesse que essa aparência combina com eles. O que me tocou, um tão alto que se erguia sobre mim mesmo que eu não fosse tão pequena, tinha longos cabelos pretos que chegavam quase na cintura. Sua pele dourada brilhava sob a luz de um poste, e eu podia ver o brilho branco de seus dentes quando alarga o sorriso.
— Bem, olá, beleza. O que está fazendo sozinha na rua a esta hora?
Em resposta à péssima cantada, ao invés de lhe chamar de completo idiota, abro um sorrisinho e arrasto uma unha por seu peito largo.
— Procurando companhia. E vocês? O que estão fazendo?
Não é o cara moreno que responde, mas sim o negro muito atraente um pouco mais atrás dele. Esse, com a pele escura brilhando de suor pelo esforço passado, está sem camisa e sorri largamente para mim, mostrando um dente de ouro na lateral da boca. Ele está com os cabelos em dreads preso para trás com um pedaço de couro.
— Nós também procurávamos companhia, querida — responde, passando os olhos de cima a baixo em meu corpo e franzindo um pouco as sobrancelhas quando vê o capuz grande demais. — Gostaria de se juntar a nós?
Uma ligeira onda de náusea sobe sobre mim quando ele se aproxima e arrasta a grande mão sobre minhas costas até pousar em minha bunda.
Não grite e não bata nele. Você precisa entrar naquele navio.
Respirando fundo contra a vontade de esbofetear aqueles dois idiotas, sorrio maliciosamente e colo o corpo ao loiro que se moveu para trás de mim.
— Vocês, rapazes, não estavam carregando o navio? — pergunto, bebendo um gole da garrafa que está na minha mão. Sinto os olhares dos dois no movimento e, em seguida, o olhar de interesse se transforma em desconfiança.
— Estávamos. E tenho certeza que isto pertence ao capitão de nosso navio, não a você — responde o moreno atrás de mim, sua voz perigosamente baixa.
Finjo que não ouvi seu tom que gritava "Perigo! Perigo!" e dou uma cambaleada para o lado, abrindo um sorriso quando o negro estende os braços para me amparar pela cintura.
— Você não se importa, não é? A caixa estava aberta, e eu queria um pouco de diversão. — Dou bastante ênfase à última palavra, e pela expressão exultante que vejo no rosto dos dois homens, eles pegaram muito bem a dica.
Agora me levem ao navio.
— E quanta diversão você quer? — O moreno atrás de mim pergunta, o hálito quente com cheiro de bebida me alcançando em um segundo. Luto para segurar a repulsa quando ele se esfrega em mim. — Mas antes de partirmos para a diversão, gostaria de saber o seu nome.
— Hmm, porquê?
Ele ri baixinho na minha orelha, um de seus braços serpenteando por minha cintura e grudando ainda mais meu corpo ao seu.
Merda, não tinha como ignorar a ereção maciça pressionada contra a parte baixa das minhas costas, e os dois eram extremamente bonitos para não sentir nem um pouco de atração. Mas eu estava mais preocupada com o fato de que eles poderiam vomitar em cima de mim do que transar agora.
— Você é uma procurada que não pode nos dizer o seu nome, por acaso?
Na verdade, sou.
— É claro que não.
— Então nos diga seu nome. — Pede o negro, se aproximando da minha frente e tocando meus quadris onde as mãos do outro não cobriram.
Respiro fundo.
— Meu nome é Stormy.
— Stormy — ronrona ele, as mãos grandes acariciando devagar a pele de meus quadris. — É um prazer. Eu sou Reil. O idiota atrás de você é Kellan.
Sorri um pouco e empurrei delicadamente a mão negra que tentava se embrenhar para dentro da minha camisa.
— Bem, bem. Apresentações feitas, podemos pular para a melhor parte? — Coloco no tom algo sedutor, e alargo o sorriso para os dois.
Sinto a cabeça de Kellan encostada à minha quando ele assente, e percebo que ele parece menos bêbado que Reil.
— Eu vi uma instalação na rua de trás. Podemos...
Balanço a cabeça freneticamente e viro para Kellan, ficando na ponta dos pés e colocando um dedo sobre seus lábios. Ele se cala na mesma hora, os olhos cheios de calor presos aos meus, pidões.
— Mas eu quero ir no navio — digo com o maior tom pidão e sedutor que consigo, arranhando levemente as unhas por seu peito exposto pela camisa aberta. — Eu estava assistindo vocês dois levando as caixas para dentro e fiquei curiosa. Por que não me mostra como é lá dentro?
— Não temos permissão para isso — Reil responde, segurando minha cintura e me virando para ele. — Nosso capitão não ficaria nada feliz com isso.
— Ah, mas seria tão divertido. — Faço um beicinho, algo que normalmente considero ridículo, mas estou apelando agora. Estou prestes a bater o pé no chão como uma criança se eles se negarem novamente. — Quem é o seu capitão, afinal? Talvez ele queira se juntar a nós.
Manobra perigosa, Stormy. Muito, muito perigosa. Imagine só se eles aceitam essa loucura?
Para fugir da resposta deles e do constrangimento que me tomou por inteiro, me desvencilho dos braços dos dois e cambaleio para longe, ignorando os protestos que soam atrás de mim.
— Ei, ei... melhor não continuar, boneca. O capitão vai nos matar se levarmos você ao navio — Reil diz, e um segundo depois, sinto sua mão segurando meu braço. O puxo fora de seu alcance com um safanão, revirando os olhos. Kellan está logo atrás dele, uma carranca no rosto bonito.
— Tudo bem, meninos. Aproveitem a noite com seu capitão ranzinza. Eu e minha tequila ficaremos sozinhos. Mais uma vez.
Faço uma reverência exagerada para os dois, e quando me viro para ir embora — implorando mentalmente que pelo menos um deles interfira —, vejo um borrão dourado com o canto do olho e a mão dura de Kellan se fechando em meu pulso. Ele me para com suavidade, e vejo seu sorriso bobo quando me viro. Armo uma falsa expressão brava, e ele sorri ainda mais.
— Nós não negamos nada, meu bem. Só acho que seria uma péssima ideia e um perigo para você se fosse vista no navio.
Bebo mais um gole da garrafa que ainda está na minha mão, sentindo o álcool descer queimando. Esses dois precisam se resolver logo antes que eu fique realmente bêbada, o que seria um problema. Limpo a boca com as costas das mãos e sorrio de volta para Kellan, balançando os quadris e fingindo que estou ouvindo uma música imaginária.
— Quem não adora um perigo? — ronrono, colando meu peito ao dele, e vendo seu olhar baixar para meu decote. Não dá para ver muito, já que minha camisa está fechada, mas tenho certeza que consegue sentir a maciez de meus seios pressionados contra o peito dele. — Para mim, o sexo é muito melhor quando há um risco de sermos descobertos. Ora, vamos lá, meninos. Vão mesmo me dizer que nunca fizeram isso?
— Hum... nunca no navio — Reil responde, coçando a cabeça e olhando para o navio por um segundo.
— Acho que você está brincando com fogo, Stormy — Kellan diz, mas está sorrindo ao dizer.
— E isso está prestes a se tornar um incêndio, querido. Vamos nos queimar juntos!
Reil geme e balança a cabeça atrás do amigo.
— Se formos vistos, o capitão vai nos matar.
Reviro os olhos dramaticamente.
— Se ainda está pensando assim, você precisa de apenas mais uma coisa.
Ele me olha desconfiado.
— O quê?
Ergo a garrafa de tequila.
— Bebida!
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Faço uma careta antes mesmo de acordar completamente.
Sinto uma luz forte demais brilhando através de meus olhos fechados, então os abro em fendas, recuando ligeiramente com a dor que explode em minha cabeça. Então percebo que meu rosto está meio coberto por alguma coisa. Mas que diabos...
Dou um pulo de um metro no ar quando meu travesseiro aparentemente humano se mexe, e viro a cabeça para encontrar Kellan movendo a cabeça de um lado para o outro e soltando resmungos irritados. Ao lado dele, Reil geme e agarra a cabeça, enquanto eu os encaro embasbacada.
Passo a mão atropeladamente pelo meu corpo, comprovando que todas as roupas ainda estão cobrindo-o, e me pergunto como diabos parei ali e por que caralhos eu não me lembro de nada.
Olho para o quartinho em que me encontro, vendo que se trata de uma despensa bem mal organizada, que possui mais roupas masculinas do que comida armazenada. Acredito que o conceito de organização dos homens deste navio seja diferente do meu. Empurro o grande vestido que devia ter pertencido a uma mulher muito rechonchuda para longe e fico de pé com cuidado, acidentalmente pisando na mão de Kellan quando a tontura me faz cambalear. Ele abre os olhos, confuso.
— Ei... quem fez...
Seus olhos se esbugalham de susto quando param e focam em mim, parada ao seu lado e o encarando com igual choque. Ele pula de pé e imediatamente estremece, segurando a cabeça com as duas mãos e gemendo.
— Por todos os demônios, não me lembro de ter bebido tanto desde muitos anos. — Ele olha ao redor, ainda tentando se situar. — Estamos no navio?
Justo quando a pergunta sai de seus lábios, uma guinada para a direita é sentida, e eu quase caio em cima de um Reil ainda adormecido que ronca mais alto que o som de um trovão. É com esse movimento que Kellan parece ter se dado conta do que ele mesmo acabou de falar e parece a ponto de desmaiar.
— Porra, estamos no navio! Reil! — Ele grita tão alto que as paredes parecem estremecer. Reil sacode com o susto e arregala os olhos.
— O quê? O quê?
— Estamos no navio!
A expressão confusa no rosto do seu amigo quase me fez rir.
— Muito observador — retruca, esfregando as têmporas delicadamente como se fosse uma lady. Mas então respira fundo e olha para mim, vendo minha expressão chocada e ao mesmo tempo exultante. — Ela também está no navio.
Kellan olha bem para ele como se ele fosse um idiota.
— Reil, pode repetir essa frase?
— Ela ainda está no navio, droga. O que quer que... — Reil, de repente, parece realmente compreender o significado de suas palavras e solta um grito ao se levantar, me encarando como se eu fosse o próprio demônio. — Pelas Tetas da Sereia, Kellan, ela está no navio!
— EU. SEI. PORRA! — O amigo grita de volta, olhando ao redor em busca de alguma coisa. Já suspeito o que seja. Ergo as mãos em defesa.
— Ei, eu sou a inocente aqui, pessoal. Não faço ideia de como vim parar aqui.
Dois pares de olhos me olham chocados.
— Como assim, não sabe como veio parar aqui? Nós que te trouxemos depois que você nos hipnotizou com esses olhos de sereia, maldição. — Reil exclama alto demais.
Kellan fecha os olhos com um gemido.
— Sim, nós a trouxemos. Será que pode parar de gritar agora?
— Você que começou — Reil retruca como uma criança.
Fico olhando meio fascinada e meio assustada como os dois reclamam um com o outro enquanto reviram o quartinho em busca do que suspeito ser um maço de cordas. Olho para o chão, onde encontro a garrafa de tequila estilhaçada. Mas está vazia. E a pior parte é que nem me lembro de ter bebido tudo o que havia nela, mas a dor de cabeça martelando agora é prova mais do que suficiente.
Ah, mas eu lembrava do momento em que eles concordaram com meu plano e me levaram ao navio. Lembrava muito bem da minha empolgação, a vontade de escancarar todas as portas fechadas do navio em busca do escritório do capitão. Não tive a chance de encontra-lo, porém, pois fui empurrada para dentro dessa sala assim que um homem grande e assustador saiu do que presumo ser seu quarto diretamente na nossa frente. Sorte que estava de costas, então nem notou quando Kellan me empurrou e acabamos vindo parar aqui.
O movimento no convés estava bem parado na noite, mas eu sabia que eles estavam se preparando para zarpar. Havia escutado de algumas pessoas na cidade que o capitão já tinha tudo o que precisava e que ele nunca passava mais tempo do que necessário em qualquer lugar. Dessa forma, minha chance havia sido única. E bem-sucedida. Não fui vista, os dois homens que me acompanhavam estavam exalando cheiro de bebida pelos poros e meu plano pôde finalmente dar o ponto de partida.
— O que diabos nós vamos fazer, Reil? — Kellan pergunta, meio desesperado e ainda olhando ao redor, pegando caixas das prateleiras e espalhando o conteúdo no chão enquanto o amigo revirava tudo. — Já devemos estar em alto mar. Lembra que Lionel disse que sairíamos quando o sol começasse a nascer?
— Vagamente — Reil resmunga. — Que horas são?
O carma é uma merda, penso quando escuto batidas impacientes na porta assim que a pergunta sai da boca de Reil.
— Vamos, seus dois preguiçosos! Já é quase meio-dia! O que estão fazendo aí dentro? — Ouço a voz grave e risonha do outro lado. O homem dá mais duas fortes batidas na porta. — Estão vivos ou morreram afogados na bebida?
— Vivos, mas com uma ressaca de merda. Se não quiser que eu te mate, melhor ir embora. Achei! — Kellan grita de volta para o homem ao mesmo tempo que puxa um rolo de cordas de uma prateleira mais alta. Não sei como aquela coisa foi parar ali.
Recuo um pouco.
— Ei, você não vai tentar me amarrar com isso, não é?
Ele me olha como quem dissesse "jura que está perguntando isso?" e começa a desenrolar a corda.
— Melhor calar a boca e ficar quieta, Stormy. Não queremos nenhum problema com o capitão, então é melhor levarmos logo você até lá antes que ele descubra sozinho que trouxemos uma mulher para o navio.
— Está tentando me culpar? Eu não fiz nada!
— Estou ouvindo voz de mulher? Mas que porra é essa, Kellan? — A voz do outro lado da porta dispara, e as batidas recomeçam. — Abra essa porta agora!
Reil esfrega os olhos com tanta força que não sei como não os arranca.
— Nós vamos morrer — ele geme para si mesmo várias vezes. Eu riria da cena se não estivesse cantando o hino da vitória na cabeça.
Estamos em alto mar, e a não ser que eles sejam o tipo de piratas que jogariam uma mulher no mar pela prancha, acho que estou a salvo por enquanto e eles não têm como se livrar de mim.
Quando Kellan se aproxima com a corda, porém, minha alegria vai embora. Estendo as mãos com um revirar de olhos.
— Isso é mesmo necessário?
— Ok, isso é definitivamente voz de mulher. Eu ainda estava com esperanças que Reil tinha aprendido um sotaque novo. O que diabos uma mulher está fazendo no navio, pessoal?
Reil franze a testa e destranca a porta, revelando um homem de meia idade, barrigudo e com cabelos ruivos ralos. Ele tem o cenho franzido e faz uma careta ainda pior quando me vê.
— Vocês dois estão mortos — diz apenas.
Kellan termina de amarrar minhas mãos e se vira para ele.
— Vamos explicar tudo ao capitão.
E que explicação, exatamente, ele pretendia dar? Acho que não conseguiria pensar em algo que realmente o fizesse se safar.
— Ah, explicar que vocês estavam tão bêbados que não perceberam que trouxeram uma completa estranha para dentro do nosso navio?
— Essa é a pergunta que estou me fazendo agora.
Diante da voz grave e ameaçadora, todos no cômodo apertado de repente ficam tensos como a corda que me prende. Até eu. E me inclino ligeiramente para a frente, olhando para o corredor onde uma figura grande e musculosa nos olha com ódio.
Capitão Lionel.
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