CAPÍTULO 15
Da última carta de Vívian só restou um papel encharcado de lágrimas. Não era para menos. As palavras de Vívian eram mesmo de doer.
Meu amor, só o que me mantém viva são as lembranças dos poucos momentos que passamos juntos. O resto é puro sofrimento.
Você não imagina como este lugar é horrível. Até mesmo as detentas me olham com medo, afinal sou uma das poucas que paga pena por homicídio.
Um guarda chegou a me contar que todos na cidade tem nojo de mim. Ele próprio me mostrou uma caricatura minha, impressa no jornal, a qual sou meio mulher, meio monstro. Assim tenho até medo da liberdade, medo da forma que me olhem, medo da forma que me tratem.
Aqui porém, não posso mais continuar. As outras detentas me provocam. Tento evitar, mas as vezes é impossível. Já chegaram até a corromper um guarda, pagando para que este me mantivesse presa por um dia em uma sala escura, juntamente com uma cobra. Quando conto aos outros guardas, ninguém acredita em mim.
O sofrimento que passei naquela cela foi inimaginável. A cobra se arrastava pelo meu pé e eu ficava ali, imóvel, suando frio. Pelo menos me foram piedosas ao mandarem uma cobra não venenosa, o que, em nada aliviava meu nojo.
Se eu tivesse matado a cobra, meu sofrimento seria menor. Mas ela era só um ser vivo nojento e inofensivo, se arrastando pelas minhas pernas. Me dava pena a ideia de ter que executá-la, e não o fiz.
Meu maior medo é que estas brigas continuem, e um dia eu chegue a perder o bebê. Prefiro porém, não pensar na possibilidade, mesmo sabendo que as ameaças jamais pararão. Já até me ameaçaram de morte, e não duvido que cumpram com a palavra.
Sei que com esta carta lhe causarei uma grande preocupação. Mas eu precisava te escrever, pois afinal, depois de tanto sofrimento, sempre sobra espaço para que eu te lembre mais uma vez que te amo.
Jonas se desesperou. Sem mais saber o que fazer, correu para o hotel onde se encontrava Edson. Precisava muito falar com ele.
Este foi pego de surpresa por um Jonas enfurecido que tentava manter a calma. Então perguntou a Jonas:
-O que você quer comigo?
-Saber a verdade.
-Se era só isso, pode dar meia voltar e ir embora. Isto quem deve lhe contar é Vívian.
-Ela jamais me contará, e como eu sei que além dela, só quem sabe a verdade é você...
-Pois bem, a verdade é aquela contada no tribunal.
-Não é.
-E se não for, você não deve saber. Vívian me disse que vocês têm um trato, no qual é sua parte não querer saber a respeito do passado dela.
-Realmente fizemos um trato. Mas os fatos ainda não haviam chegado a esse ponto. Agora é importante que a verdade seja contada.
-E por que lhe interessa tanto saber?
-Pelo simples fato de saber que Vívian é inocente.
Edson respirou fundo. Nunca havia parado para pensar na hipótese de Vívian ser inocente. Curioso, perguntou:
-Inocente? Que prova você tem disso?
-Nenhuma. O fato que me fez chegar a esta conclusão é tão pequeno que ninguém além de mim jamais levaria em conta. Em uma carta que Vívian enviou para mim, ela revela que várias detentas corromperam um guarda para que este a trancasse por um dia em uma sala escura junto a uma cobra não venenosa. O fato é que por um dia, ela não matou a cobra, e conviveu com ela por mera pena. Agora, você acha que alguém incapaz sequer de matar uma cobra, mataria o grande amor de sua vida?
Edson percebeu que Jonas tinha razão. Era um detalhe tão pequeno, porém tão intrigante. Porque então Vívian teria dito a todos que era assassina? Querendo chegar a estas respostas, Jonas continuou:
-Vívian não pode mais continuar naquele lugar horrível. Precisa ser libertada imediatamente, cada dia a mais é um grande risco de perder o bebê.
Novamente, a surpresa havia tomado conta de Edson. Ele ainda não sabia que sua ex esposa esperava um filho de outro. A cada nova palavra de Jonas, ele percebia não estar tão bem informado assim:
-Vívian não pode perder o bebê, como também, na pior das hipóteses, perder sua própria vida. No entanto, para que a verdade seja esclarecida, você precisa revelar a parte que não conheço. Só então poderemos juntos salvar Vívian.
-Não. Sinto muito mas eu não posso lhe ajudar.
-O quê?
-Isso mesmo. Nem Vívian gostaria de pagar tamanho preço pela liberdade.
-Você não está entendendo. Não se trata mais de liberdade, e sim da própria vida.
-Então que se corra o risco.
-Tente me entender, apenas desta vez. -disse Jonas, indignado com a reação de Edson, sempre tão frio.
-Não, você tente entender. Entre estar viva com seu segredo revelado, ou morta junta ao passado, Vívian preferiria a segunda opção. Você não imagina tudo o que ela passaria diante dos olhos dos outros.
-Se for repugnância, ela já está passando. Não é possível que este segredo seja mais forte que a morte. Mesmo assim, eu lhe imploro pela última vez.
-Não, e é a minha última palavra.
-Tudo bem.- ao falar isto, Jonas correu para o topo do hotel. Edson o seguiu, e perguntou:
-O que você vai fazer aqui em cima?
-Mas é claro! O que mais eu poderia esperar de você? Você não vai me contar nunca. Não é para guardar o segredo de Vívian que você fica calado. É porque esta é a sua maior oportunidade de vingança. Para você é melhor ver Vívian presa, do que livre com outro homem e com um filho que não é seu. O que você sente não é rancor, é ciúmes. Você ainda a ama muito, mas tenta odiá-la. É a única forma que encontra para apagar este amor. Não é isso?
-E se for? Não lhe interessa o que sinto. Só não lhe conto nada e pronto. É a minha última palavra.
-Se você vai deixar Vívian morrer, então me deixe morrer também. Me deixe morrer agora.
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