Capítulo 3
Winney estava certa. Todo o lado interno do prédio está lotado, parece que meio mundo está aqui. As pessoas se aglomeram aos montes, fazendo um grande tumulto. Mas apesar dá grande quantidade de pessoas, o clima é melhor do que o do lado de fora.
À medida em que avançamos, o espaço vai ficando maior. Não damos três passos sem que a Winney pare para cumprimentar alguém. Às vezes me pergunto, porque ela só anda comigo sendo que conhece praticamente quase todo mundo do colégio.
Tem vezes que eu acho que é por obrigação, por eu e meu pai ter ajudado ela e sua mãe, outras vezes acho que ela só quer alguém com quem se abrir, alguém que não queria só sair para festas e curtição. Pensar nisso me causa insegurança.
Temos quinze minutos até o sinal tocar. Winney e eu subimos as escadas e chegamos no andar em que fica nossos armários.
— Você fez o trabalho? – pergunto enquanto tiro alguns livros do armário.
O da Winney era pra ser no final do corredor, mas depois de uma longa briga com o diretor ela conseguiu transferir para o lado do meu. Esse dia foi tão engraçado, ele só disponibilizou o armário porque não aguentava mais a Winney gritando e berrando. Ela é meio persistente.
— Aham, com certeza – zomba ela.- Logo eu, Winney Marlin.
Nós duas rimos.
— O que seria de você sem mim – falo brincando, mas me arrependo na hora.
Falar isso é como jogar na cara dela tudo o que fiz e faço por ela. Ela sempre diz que quer fazer mais por mim, mas não pode. Eu digo que não precisa, que a amizade já é o bastante, mas ela insiste e sempre diz que um dia vai me surpreender.
Winney respira mais devagar e encara algum ponto dentro do armário dela. Ela olha para mim e sorri, com um sorriso forçado e sem graça.
— Não vai me dizer que fez o trabalho pra mim? – ela pergunta.
— Fiz sim, achei que você não faria e... – tiro o trabalho da mochila e entrego para ela.
Ela ler rapidamente o papel.
— Vou falar sobre Morfeu? Bem a minha cara mesmo, vivo com sono – diz com uma risada mais sincera enquanto guarda o trabalho.
— Bom, na verdade ele é Deus do sonho e não do sono – digo enquanto fecho o armário.
— Ah, você me entendeu. Colabora né – caio na gargalhada.
Enquanto caminhamos pelo corredor, escutamos várias pessoas falando do estranho amanhecer, todos tem alguma teoria, científica ou religiosa.
Começo a pensar no meu pai, eu não devia ter brigado com ele, talvez ele tenha alguma motivo. Ele pode está magoado com alguma coisa. Mas o que pode ser tão importante pra ele não falar comigo?
Sentamos no topo da escada. Winney parece incomodada com alguma coisa, parece que quer me perguntar alguma coisa.
— Aquilo ainda aconteceu? – Ela pergunta depois de um tempo, falando rapidamente e baixo como se não quisesse perguntar.
Eu sei do que ela tá falando, mas me finjo de desentendida. Não querendo puxar assunto sobre isso.
— Aquilo o que? – pergunto fingindo não saber.
— Ah, você sabe, aquele negócio de olhos escuros e você sussurrando palavras estranhas. Aquilo me deu muito medo.
— Ah, não... – minto. – Foi só aquela vez mesmo, ainda não sei o que causou aquilo.
Tive mais uma visão depois da do Estacionamento, mas não quero que ela sabia. Tenho medo dela acha que é loucura ou algo mais sobrenatural e me abandonar. Esqueci de fazer isso ontem, mas quando eu chegar em casa hoje, irei pesquisar sobre essas visões na internet.
Ela parece não acreditar, mas também não fala nada. Quer me deixar com meus próprios segredos.
— E sobre esse amanhecer repentino, o que você acha? – pergunto mudando de assunto.
— Só me incomoda o calor, mas tanto faz. Aposto como é um daqueles fenômenos que ocorrem de tempos em tempos e blá blá blá – responde revirando os olhos.
Impressionante como ela trata isso na maior naturalidade. Mas e se ela estiver certa? E se isso for comum de tempos em tempos? Tipo o eclipse. Depois de tudo que vem acontecendo, aceito qualquer teoria.
Winney me mostra algumas fotos que tirou com o Marcos. Ela sem querer clica em uma foto em que ele aparece só de cueca.
— Winney, pra que isso? – pergunto surpresa.
— Eu ia apagar – responde ela fingindo estar preocupada.
— Safada – rimos juntas.
Ela olha o relógio e ver que faltam 3 minutos para o sinal tocar.
— Preciso ir ao banheiro – ela se levanta. – Te vejo na Sala.
E sai apressadamente.
O sinal toca e eu sigo para a sala, agora com dificuldade. As pessoas descem e sobem as escadas em grupos rapidamente, tampando o corredor. Depois de vários cutucões e empurra-empurra, chego na sala.
Sento no mesmo lugar de sempre, perto da janela. Eu amo sentar aqui, a vista dá para a área florestada do pátio. Nós momentos de tédio, gosto de observar as árvores, o movimento que o vento faz sobre elas e as formas que as nuvens fazem. Isso me acalma.
Aos montes os alunos chegam e ocupam seus lugares, mas o da Winney à frente do meu está vazio. Ninguém ousa sentar no lugar dela, ela fica com raiva quando alguém faz isso. Ano passado, um calouro sentou no lugar dela e não queria sair, a Winney deu um soco na cara dele e quebrou um dente do garoto.
Aproveito para ficar olhando pela janela. O pátio arborizado fica lindo à essa hora, as folhas das árvores voam suavemente com o vento. Os raios solares tocam aos pingos no chão, interrompidos pelo topo das grandes árvores.
Enquanto admiro um pequeno canteiro de flores azuis, percebo algo na árvore ao lado. Um pontinho preto em um galho, concentro-me mais e o vejo. O corvo.
Ele está parado me encarando. Eu esfrego os olhos para ter certeza de que é real, e ele continua lá. Suas garras afiadas gravadas no galho e seu olhar penetrando meus olhos. Quero desviar a atenção, mas não consigo, por alguns instantes, ficamos nos encarando, somente eu e ele naquele mundinho estranho.
— Vocês viram isso? Está de dia, desde ontem a noite – escuto alguém falando, viro me e vejo o professor entrando na sala tendo um ataque.
Viro me novamente para a janela e olho para a árvore, mas o corvo não está mais lá, apenas o galho. Mas há marcas de garras cravadas, ele realmente esteve aqui, não estou louca. Não por completo.
— Teorias, teorias e mais teorias, o que é isso? – continua o professor inquieto. – Não há confirmação de que isso já aconteceu nenhuma outra vez.
Todos começam a rir. Imagino que essa era pra ser a reação do meu pai, estar a beira de um ataque de nervos.
— Não dormi nada essa noite – continua. – Preciso desocupar minha mente e não tem nada melhor do que dar nota baixas para alunos, comecem as apresentações.
O primeiro a apresentar é Lucas, ele fica na primeira cadeira da minha fileira. Enquanto ele apresenta, eu fico olhando pela janela. Ouço vislumbres do que ele fala, percebo por exemplo que ele fala sobre Hades, mas não dou atenção.
O que fez a noite sumir? Porque meu pai ficou tão estranho? O que são aquelas visões? Perguntas começam a pairar na minha mente, mas não me dou o mínimo de trabalho para ao menos tentar responde-las.
— Bem legal seu trabalho, demorou muito para copiar da internet? – diz o professor, algumas pessoas riem, para bajular ele. – Nota 2 pelo seu empenho, mas a apresentação foi um fracasso. Pode ir se sentar.
Ele está pegando pesado, ainda bem que sei interpretar bem. Reviso na mente tudo que sei sobre a Hemera; Deusa do dia, filha de Nix e Érebo, uma deusa muito importante. Meu pai me falava pouco sobre ela, sempre que começava desviava a conversa para poder falar sobre a Nix.
Nunca entendi seu fascínio por ela. Durante a minha infância, eu sonhava muito com essas coisas da mitologia grega, mas nunca sonhei com Nix. Percebo que sei mais coisas sobre ela do que Hemera e que posso apresentar melhor falando sobre Nix.
Milena está terminando de apresentar, poucas vezes falei com ela, ela é muito gente boa, percebo que tenta de aproximar de mim para conversar, apesar de não forçar nada. Milena se senta na cadeira à frente da Winney, que senta na minha frente, mas Winney não voltou do banheiro ainda, então eu sou a próxima a apresentar.
— Sara, onde está Winney? – todos desviam seu olhar para mim esperando que eu responda. – Não vai me dizer que ela fugiu por causa do trabalho. – o professor começa a rir sozinho.
— Eu Não sei – digo. – ela disse que iria no banheiro e até agora não voltou.
— Então você que irá apresentar agora – diz ele recuperando-se da risada. – me surpreenda.
Hesito por um instante e levanto-me da cadeira. Enquanto caminho para a frente da sala, desejo que a Winney apareça para ela ser a próxima a se apresentar. Sei que eu teria que me apresentar de qualquer jeito, mas quero adiar o inevitável.
Chego na frente e encaro todos me olhando. Eles quase não prestam atenção nas apresentações, mas na minha vez eles o fazem. Sinto uma agonia passando pelo meu corpo. Meu estômago começa a revirar e as pernas a fraquejar. Fecho os olhos e respiro devagar.
— M-Meu trabalho é sobre N-Nix – digo gaguejando, começo a suar e sinto um pingo de suor descendo pelo meu rosto. – A grande D-Deusa da noite, considerada uma das Deusas primordiais, foi a primeira deusa a emergir do caos – Respiro mais devagar a fim de evitar gaguejar, mantenho o olhar na parede do fundo tentando lembrar-me de tudo que sei.
Enquanto falo, sinto me no passado. Nas tarde frias que eu e meu pai sentávamos na sala e ficávamos horas e horas brincando. Lembrar disso torna minha fala mais natural e animada. Consigo lembrar de tudo que ele contava em forma de brincadeira.
— Segundo lendas antigas, Nix, Zeus e Hades prenderam Érebo, o irmão gêmeo de Nix no tártaro, pois ele queria libertar os Titãs – prossigo. – E Nix desde então tem se tornado um tipo de Rainha do Submundo, o que causa Grande ódio e inveja em Hades.
Lembro me dessa história como se fosse ontem, no dia em que meu pai a contou, sonhei com Hades e Zeus lutando com Érebo, mas não vi Nix.
— Lendas diziam que Nix possuía também uma maldição que transformava Deuses em humanos e uma vez pego pela maldição, eles não se lembram de sua verdadeira identidade e... E... – sinto minha garganta fechar, as palavras não saem.
Começo a ficar sem ar e minhas pernas fraquejar. Minha cabeça pesa e fica comprimida. Meu coração bate acelerado, sinto meu corpo ficando frio. Não consigo focar o rosto de ninguém. Minha visão fica embaçada e tudo parece se perder no ar.
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“ O chão é frio e duro. Fico desesperada e procuro logo se há algemas nos meus braços ou pernas, mas felizmente não encontro. Paredes começam a brotar do chão, formando longos e altos corredores.
O ar é denso e úmido. Levanto me apoiando na parede, a roupa que estou usando é uma vestido branco e sujo que vai até a altura do joelho de um tecido confortável. Caminho sem senso de direção, não sei para que lado ir.
Caminho devagar sempre prestando atenção por onde ando, tento aprender os corredores e para onde eles dão, mas me perco a cada curva. Nenhuma porta aparece no meu campo de visão. Paro rapidamente quando escuto passos vindo de algum lugar e um calafrio atravessa meu corpo quando escuto uma voz conhecida.
Meu pai.
Corro na direção da voz, mas a cada passo que dou pareço ficar mais distante. As paredes parecem as mesmas em cada corredor. Escuto novamente os passos e sua voz, mas não consigo entender o que ele diz.
Parece vim do andar de baixo mas não consigo achar nenhuma escada. Corro feito uma louca e acabo tropeçando nos meus próprios pés, quando meu corpo atinge o chão, que quebra em mil pedaços. A poeira cobre tudo e Caio na escuridão.
Atinjo algo duro. Minha cabeça dói com o impacto, sangue sai pelo meu nariz. Um zunido agudo e irritante ficam no meu ouvido, viro a cabeça para o teto e não vejo nenhum buraco, não parece que eu abri um buraco no andar de cima. Escuto ao meio do zunido a voz do meu pai mais próxima, viro a cabeça e me deparo com uma porta grande.
Tento me levantar mas minha coluna dói, meu corpo todo dói. Então deito me de bruços e tento me rastejar para dentro da sala. De longe consigo vê-lo. Grito o seu nome mas ele não escuta, parece está conversando com alguém. Rastejo-me e a cada centímetro, sinto como se me dessem uma martelada na cabeça e na coluna.
Tudo acontece muito rápido, não tenho noção de nada. Ele se afasta um pouco para a esquerda e eu vejo que ele está conversando com a mulher de capuz. Ela está olhando para ele, que parece esta brigando por causa de alguma coisa.
A mulher então estende a mão e ele não toca na mão da mulher, no instante seguinte ela se vira e sai por uma porta. Tinha me esquecido de como ela é bela, mesmo só com metade do seu rosto à mostra. Meu pai fica ali parado, olhando para a porta, não consigo ver seu rosto. Eu grito mas a minha voz se perde no ar, começo a rastejar-me tentando ignorar a dor insuportável.
Não consigo rastejar mais nenhum milímetro quando chego na porta que da para o salão, como se algo invisível me impedisse de entrar ali. Ainda no chão, bato com toda minha força na barreira mas só o que fica no ar é meu sangue.
O ato seguinte me deixa horrorizada. Um homem alto e forte entra no salão, seus olhos são negros e há garras em seus dedos, ele veste uma roupa cinza, com detalhes estranhos e em seu braço há várias pulseiras com símbolos que não sei o que significam. Não consigo reparar bem nos detalhes, minha visão começa fraquejar.
Ele chega perto do meu pai e põe a mão na sua cabeça, espero que meu pai reaja mas ele não faz nada, no mesmo instante a cabeça dele explode. Sangue e vestígios do seu cérebro e do crânio se espalham pelo ar.
Eu grito e fico sem reação. A cena mais chocante que já vi em toda minha vida. O corpo do meu pai cai no chão e o homem estranho sai pela mesma porta que saiu a mulher de capuz. Crio força e bato na barreira tentando entrar. Minha mão sangra mais com as batidas. Tento entrar de qualquer jeito, ignoro a dor. Lágrimas e mais lágrimas saem dos meus olhos. Não sei o que fazer.
Meu pai não morreu. Não morreu.
Com a respiração acelerada apenas fecho os olhos e me jogo no chão, que parece me envolver em escuridão.”
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Abro os olhos rapidamente, o ar começa a entrar devagar nos meus pulmões. Não sinto a dor no corpo de antes, mas ainda sinto seus vestígios, e sinto a morte do meu pai. Sei agora que não foi real, mas doeu. Nunca imaginei vê-lo morrer, ainda mais daquele jeito.
Eu estou ajoelhada olhando para as minhas coxas, sinto o ar pesado e escuto alguém chorando. Lembro-me que estou na sala de aula. Levanto a cabeça e vejo uma cena de destruição.
As cadeiras estão quebradas e jogadas pela sala, cacos de vidro das lâmpadas e das janelas estão no chão, parece que um furacão passou por aqui. As lâmpadas oscilam e pedaços da parede estão quebrados, suponho que por causa das cadeiras jogadas.
O que mais me assusta são as expressões das pessoas, todas de medo e pavor. Milena chora no ombro de um Rapaz, sua perna está contorcida de um modo estranho, claramente quebrada. O garoto tenta acalma-la ao mesmo tempo em que me observa, todos me observam assustados.
O que eu aconteceu?
— Sara!? Mas o quê... – Diz o professor Wilbert.
Viro-me em sua direção e vejo ele hesitando em me tocar, como se eu fosse feita de fogo. Ele está como todo mundo, me olhando com olhos arregalados e a boca semiaberta.
— Bruxa. – exclama alguém.
— Obra do demônio. – grita alguém.
— O que você é? – berra outra pessoa.
O que eu fiz?
As acusações veem de todos os lados. O medo começa a dar lugar para a raiva.
Levanto-me rapidamente com lágrimas nos olhos e corro em direção a porta. Tobias, um menino que senta atrás de mim tenta me impedir. Ele segura o meu braço forte. Não sei o que acontece comigo, mas uma força surge dentro de mim.
— Me solta – grito.
No mesmo instante ele sai voando contra uma parede, como se alguém o tivesse jogado. Eu nem toquei nele.
Saio correndo para o corredor e enquanto desço as escadas, esbarro em alguém. Minha visão está borrada por conta das lágrimas e não vejo quem é, continuo correndo e só ouço os gritos da pessoa me chamando, logo reconheço a voz. Winney.
Corro chorando e tropeçando nos meus próprios passos. Não estou entendendo nada. O que eu fiz? Que droga aconteceu naquela sala? Quando saio do Colégio, sou atingida com uma claridade imensa.
Chego no meu carro e abro as janelas e ligo o ar condicionado e espero do lado de fora pra esfriar um pouco.
— Para onde você vai? - viro-me e vejo a Winney chegando perto de mim, ela analisa meu rosto com lágrimas. – O que aconteceu?
— Eu... Eu não sei – minha voz sai trêmula. – Eu não realmente não fiz nada, acredita em mim.
— Eu acredito – ela me abraça forte. – Não sei o que está acontecendo mas irei te ajudar.
— Agora eu só preciso de paz, preciso de tempo para descobrir o que está acontecendo – digo parando de chorar. – O boatos vão se espalhar logo e você vai ficar sabendo.
Saio do aconchego de seu abraço e entro no carro.
— Qualquer coisa, eu estou aqui – diz ela com um sorriso sincero.
Entro no carro e saio. Tudo a minha volta parece estranho, parece que todos me olham. Milena, eu sou a culpada de sua perna quebrada?
Porque estavam com medo de mim? As perguntas e as cenas invadem minha mente, tomando lugar de tudo, e com elas chegam as lágrimas novamente. Até dirigir começa a perder o sentindo. Só quero respostas.
Entre as lágrimas vejo um borrão na pista, uma pessoa. Só então me dou conta do meu erro, já estou perto demais. Tudo acontece tão rápido. Não sinto quando o carro atinge a pessoa, mas sinto a minha morte quando tento desviar o carro de forma brusca e ele capota.
Tudo começa a girar. Estilhaços de vidro me atingem com força e pedaços de metal me perfuram. Tudo fica comprimido e só o cinto de segurança me mantém no banco, senão já teria sido jogada para longe. Meu corpo dói com os vários impactos.
Meu choro é substituído por gritos de ajuda. Ainda sinto o carro girando quando minha cabeça bate com força no chão e uma dor imensa me consome, assim como a escuridão.
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