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Na segunda-feira, vou para gravadora dirigindo a Land Rover, com a qual — depois da viagem para Vegas — já até criei alguns laços emocionais. Ainda estou meio de ressaca, então chego atrasada e vou direto para a máquina de café.
Em um ritmo lento, ligo o computador, e vou me habituando à claridade da tela. Tenho alguns e-mails por responder, coisas por fazer, mas logo me vejo dispersa, indo checar o canal de fofocas de celebridade.
Claro que alguém fotografou Pedro deixando o alojamento da USC na manhã de sábado. Ele está com um cigarro na boca e parece irritado ao entrar no táxi; isso abre brecha para centenas de comentários e teorias, mas, ao menos, ninguém ainda conseguiu ligar o meu nome ao dele.
Penso em mandar uma mensagem, porque eu preciso devolver o carro, mas ele não me mandou nada desde aquele dia, e o meu orgulho não vai me deixar ceder e ser a primeira a fazer contato, então resolvo pensar em qualquer coisa que não seja Pedro.
Resolvo responder alguns e-mails, agendar algumas reuniões pendentes, mas não demora e estou vidrada no canal de fofocas de novo. Rolar pelos comentários é um vício que não tem fim. Alguém alegou ter visto duas garotas no campus dirigindo um carro idêntico ao dele. Culpada, penso. Mas outra pessoa jurou que essas garotas estavam sendo sustentadas por ele, e isso é uma grande e ridícula mentira! Nós só fizemos umas comprinhas inofensivas no cartão dele.
Ian chega depois do almoço acompanhado de Gigi e, só para variar, não me cumprimenta. Ele passa reto direto para o escritório, a ruiva, por sua vez, vem se empoleirar no meu balcão.
— Ele ainda tá brigado com a Lana? — Arqueio uma sobrancelha.
— Antes fosse. Não. Advinha quem ligou pra ele essa manhã pedindo uma centena de mudanças de última hora no álbum novo que tá pra ser anunciado logo?
— O Pedro — adivinho.
— Capa, título, lead single... Ele quer tudo diferente, e vai chegar aí a qualquer momento. Menina... por que é que eu tenho a impressão de que você está metida nisso?
Ergo as mãos em inocência.
— Não tenho nada a ver com isso.
— É melhor estar falando a verdade! — Ela suspira. — Agora deixa eu ir lá antes que o nosso chefinho exploda de nervos.
Então os saltos finos estalam pelo chão de porcelanato rumo ao escritório.
Pedro não demora a aparecer, mas a sua chegada é apenas tão fria e indiferente quanto a de Ian. Ele não me olha. Não deseja "boa tarde". Não me chama de "tiete". Não lança aquele sorriso torto que me derrete inteira.
Eu aperto o botão do interfone, e aviso a Gigi que Pedro está entrando. Mas sou um mero cone do qual ele desvia para entrar, e isso deixa o meu sangue fervendo.
Engraçado, ele estava todo açúcar antes de me levar para cama. Aposto que é a única coisa que ele queria . Não porque eu seja algum tipo de mulher matadora e irresistível, passo muito longe disso, mas seu ego inflado de superestrela fazia questão de provar que nenhuma garota no mundo resistiria ao seu charme, nem mesmo eu.
Talvez eu tenha sido só um desafio intrigante, mas quem Pedro pensa que é para me tratar desse jeito? Eu mordo a língua. Não quero falar. Não quero que ele saiba que isso me irrita, me fere, me atinge, mas não consigo. Várias horas depois, quando Pedro finalmente deixa a sala do Ian após de muita discussão sobre detalhes do álbum, a raiva simplesmente extravasa de mim desse jeito:
— Então é assim? Você dorme com a garota e depois finge que nem sequer a conhece?
Ele está de costas para mim, caminhando para o elevador.
— Desculpa — diz com um risinho sarcástico. — Não estou com saco pra Julie "santa do pau oco" hoje.
— Vai se foder, Pedro!
Em minha mente, se passam todos os xingamentos que ele poderia usar pra me ofender em seguida e eu planejo uma resposta diferente pra cada possibilidade. Nenhuma delas é a resposta certa, entretanto, porque ele não me ofende de volta.
— Com prazer. — Ele aperta o botão do elevador.
Agora meu sangue está borbulhando nas veias.
Se ele quer agir como se eu fosse o problema, como se eu tivesse sido a pessoa que fez promessas e não cumpriu, que traiu e mentiu, ele vai jogar esse jogo sozinho. Eu não vou deixá-lo manipular os fatos desse jeito.
— Você não tá no direito de ficar bravo comigo!
— PORRA, JULIE! PRESTA ATENÇÃO! — ele grita e enfia um soco barulhento na porta do elevador. Eu engulo seco, levando um susto com a reação exagerada. — Você quer o que? Que eu seja a merda do amante que você esconde no armário toda vez que seu namorado aparecer?
Um riso decepcionado me escapa dos lábios. É isso que ele pensa de mim? Que eu faria com Thomas o que o meu pai fez com a minha mãe? O que ele próprio fez comigo? Eu não sou assim, mas eu errei. Pedro sabe que eu errei, e agora quer jogar isso na minha cara como se eu fosse a vaca traidora?
Perceber que ele me enxerga desse jeito faz meus olhos se enxerem de lágrimas. Lágrimas de raiva.
Eu não vou chorar! Não aqui. Não na frente dele. Não porque ele se sente no direito de me tratar como se eu fosse lixo. A escória da raça humana.
Ele já sabe o quanto sua presença me abala fisicamente. Já sabe a maneira com que o meu corpo, inevitavelmente, responde ao dele. Não precisa saber que o meu coração reage também. Não precisa saber que, tantos anos depois de partir o meu coração, consegue parti-lo de novo com simples palavras.
— Não quero que seja merda de amante algum — garanto. — Pega o seu carro chique! — Atiro a chave com força no peito dele. — E essa porcaria de cartão sem limite... — Atiro em seguida. — E vê se desaparece da minha vida pra sempre. E... ah! A gente pode ter gastado um pouquinho da sua grana no cassino... mas... você sabe... reparação histórica. Foi mal!
— Você tem duas caras, Julie — ele diz pegando os pertences que caíram no chão e entra no elevador. — Honestamente, eu não sei se alguma delas é verdadeira ou sabe o que quer da vida.
— Se eu tiver duas caras, então as duas te odeiam agora, Pedro. E se eu tivesse vinte e duas, todas elas ainda concordariam que ficar com você foi um erro. O maior dos erros. Todas elas te odiariam tanto quanto eu odeio você agora.
— É melhor então colocar o seu anel idiota de volta no dedo, Saturno — seu tom vem carregado de deboche. — Se é isso que você quer.
— Talvez seja isso que eu queira mesmo — rebato, movida de raiva. — Porque você é Plutão, Pedro, e você nunca vai ser o meu planeta.
Então a porta do elevador se fecha, e eu soco o metal de raiva, e meus olhos estão transbordando. Meu planeta favorito, ninguém me fere tanto quanto você faz comigo.
Gente, eu tô ouvindo o choro desesperado das Thomulies tá? Mas o Thomas n saiu da história pra sempre não. Lembrando que tem mais livro pela frente também.
A esse ponto vocês torcendo por quem?
Não esqueçam de votar !!!!
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