50
A tempestade está cada vez mais forte sobre as nossas cabeças. O que começou como um beijo quente na chuva, começa a se parecer com um afogamento. Um trovão alto demais me arranca um gritinho tosco de susto. Pedro dá risada.
— É melhor a gente voltar agora.
Salto do capô e deslizo as mãos pela saia, recobrando a dignidade que se perdeu em algum lugar entre a língua entrando na minha boca e os dedos entrando em lugares bem mais impróprios.
— Você dirige? — pergunta.
— O quê?
— Leva o carro. — Ele atira a chave para mim, dando a volta para entrar pelo lado do carona. — Não estou em condição de dirigir agora.
Não que eu esteja em melhor condição, penso, mas me acomodo no banco de couro assim mesmo, porque não é todo dia que alguém me deixa dirigir um carro de luxo.
A água escorre das nossas roupas e cabelos direto para o banco, mas Pedro não parece se importar. Eu avanço pela estrada com cuidado, a visibilidade está muito baixa. Agora que a adrenalina do beijo passou, a realidade do que estávamos fazendo me atinge com um golpe de vergonha. De repente eu mal consigo encarar o Pedro ou meu próprio reflexo no espelho retrovisor.
— Não é melhor parar e esperar a chuva? — ele pergunta.
Eu faço que não. Sei bem como isso vai acabar se eu ficar confinada num ambiente tão pequeno com ele.
— Dá pra ir.
— Você está muito molhada.
Sinto um frio percorrer a espinha. Levando em conta o coquetel de hormônios que está percorrendo a minha corrente sanguínea agora, eu espero que ele esteja falando das roupas.
— Deve estar com frio. Deixa eu... — Ele aperta qualquer coisa na tela que liga o aquecedor. — Melhor agora?
— Ã-hã — concordo. — Obrigada.
Mas melhor mesmo eu estava quando ainda estávamos nos beijando, porque com a língua dele na minha boca, não sobrava espaço na cabeça para pensar se eu estava bem com o que aconteceu ou arrependida.
O álbum de Pedro ainda está nos autofalantes. Deixo a mão cair do volante para o console, e não posso dizer que fiz isso sem saber que os dedos dele rapidamente se enganchariam aos meus.
Pedro pega um cigarro no porta-luvas. A neblina de tabaco que contamina o carro tem o sabor gostoso da boca dele. Não é o mesmo cigarro barato que costumava fumar naquele ônibus.
— Que cigarro é esse? — pergunto.
— É importado da Inglaterra. Prova...
Pedro se estica para colocar o cigarro em meus lábios. Eu não deveria, mas puxo um trago curto só para me assegurar de que o gosto não é tão bom assim quando não está impregnado na língua dele.
— E aí?
— É razoável — resumo. — Então até o seu cigarro é de luxo agora?
Pedro sacode os ombros.
— Pelo menos não virei um daqueles manés que fuma pen-drive.
Eu dou risada.
— Dizem que é mais saudável e menos prejudicial ao meio ambiente.
— Se eu estivesse me fodendo pro que é saudável, eu não enfiava dois maços desse no corpo por dia, tiete. — Pedro ri e puxa outro trago. — Mas, é, até tentei dar uma chance pra esse negócio de cigarro elétrico que o Kye usa, mas acaba com meu estilo.
Típico do ego dele, penso. Se preocupar com o próprio "estilo", mas não a própria saúde.
— E a sua voz? — pergunto. — Aposto que a fumaça não faz bem pra ela.
— Eu canto rouco por um motivo.
Mordo o lábio. A rouquidão na voz de canto dele é não somente a sua marca registrada, mas o meu som favorito do planeta.
— Tá, você venceu. Nunca mais vou te dizer para parar de fumar.
— Não que tivesse alguma chance de me convencer, mas ainda era fofo te ver tentar. — Pedro ri e aperta a minha mão, puxando outro trago.
Eu viro os olhos.
— Já que eu vou respirar a fumaça de qualquer jeito, me dá mais um trago.
Pedro se debruça para perto, encaixa o cigarro nos meus lábios de novo. Está perto demais, mas isso já não incomoda. Eu puxo o trago, ele afasta o cigarro e, no instante em que sopro a fumaça, Pedro a capta, selando a minha boca com um beijo.
Meus olhos fecham por instinto, e eu piso no freio. Uma mão continua no volante, a outra engancha a nuca dele. O sabor do cigarro se mistura em nossos paladares do melhor jeito possível.
Eu sou inteira sensações, mas outro carro passa ao nosso lado buzinando ruidosamente porque eu invadi a pista contrária. Pedro se afasta devagar e sorri.
— Se beijar, não dirija — brinca.
Eu rio baixo e empurro seu peito de volta para o lugar.
— Se dirigir, não beije — rebato, e então volto a acelerar o motor e me concentrar na estrada. Quer dizer, tanto quanto posso me concentrar quando meus lábios ainda latejam de vontade de beijar os dele.
Esse capítulo está curtinho mas está tão 🛐🛐🛐🛐, então não esqueçam de votarrr!!!
Eee, gentê, não o Thomas não sumiu, isso não é um furo do roteiro, ele e a Julie estão brigados, só isso, calma q na hora certa ele aparece. Quem já leu a versão anterior do livro que o diga.
Boa Páscoa pra vcs, comam chocolate 💖💖💖💖💖
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