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Não mais do que cinco minutos depois, o sino ressoa e a porta do elevador abre outra vez, revelando uma loira atraente de maquiagem, vestido justo e saltos Loubution afiados como um par de facas.
— Não dirija a palavra a mim, Pedro. — A modelo apenas ergue a mão exigindo silêncio, e sua ordem é acatada com força de lei.
Lily tem o semblante de uma mulher poderosa e decidida, que jamais gaguejaria ou perderia as palavras quando um cara ousa dizer que ela "não beija mal". Das outras vezes que a vi, Pedro estava ao seu lado e isso parece ter ofuscado essa energia intensa que emana dela.
Olhando-a atravessar a recepção em passos de passarela, eu sou incapaz de decidir se queria ser ela, a melhor amiga dela, ou beijar ela. Não me movo na intenção de impedir, e ela invade a sala de Ian Thorne como um furacão irritado. Lily Adams é uma força da natureza.
— Acho que a gente termina essa conversa depois... — O tom de Pedro mudou um pouco. Ele está tenso. É óbvio que também se afeta na presença da falsa namorada. Ele está acostumado com o tipo de mulher que cai aos seus pés. — Se eu sobreviver.
— Tomara que não sobreviva — rebato.
Meu ex ri, deixando os ombros cederem um pouco, o efeito "Lily" dissipando no ar. Várias peças se encaixam na minha cabeça. Não é que Lily não seja o tipo de Pedro fisicamente — basta dar uma olhada —, mas ela é poderosa e bem resolvida, o faz parecer pequeno e inadequado.
E eu ainda sou a mesma tiete que o fez sentir-se valioso pela primeira vez aos 17. Um acessório, como um pingente para decorar seu enorme ego. Não sei como me sinto a respeito disso.
— Continua fazendo.
— O quê?
— Dizendo o contrário do que quer dizer.
E então entra na reunião e fecha a porta.
Não fico ouvindo a conversa de propósito, mas a minha mesa fica perto demais da sala de Ian, e o que posso fazer? Sou uma pessoa naturalmente curiosa. Também preciso descobrir se o meu nome vai ser mencionado já que eu — por bem ou por mal — caí de paraquedas bem no meio dessa confusão.
Descubro que Lily Adams foi arrastada para esse acordo sob a promessa de que o Power Couple elevaria a carreira de ambos a níveis estratosféricos. Ao que parece, Pedro faria algumas aparições no reality show que acompanha a vida de Lily. A mulher é uma estrategista inteligente, disposta a jogar sujo pelo marketing, respeito isso.
Dizem por aí que Hollywood nunca desperdiça uma crise, e eu começo a entender o ditado porque, depois de muita discussão, todas as partes decidem fazer dos limões uma limonada.
A gravadora vai confirmar os boatos de traição. Isso pode sujar um pouco a imagem do Pedro, mas ainda vai deixar o seu nome em evidência para o anúncio do álbum novo da French 75. Já Lily, sai do acordo com a garantia de ainda mais drama para promover a nova temporada do seu reality, e a confirmação de que Pedro ainda irá aparecer nas gravações combinadas.
Quando a modelo deixa o escritório estalando os saltos caros no chão de porcelanato, eu a encaro com os olhos brilhosos de uma admiradora ou, como Pedro prefere dizer, tiete. Os olhos de um azul intenso me flagram.
— Era você? — A pergunta vem breve e inesperada, como um tiro.
Não escutei Pedro ou Ian insinuarem meu nome, então sou pega desprevenida.
— O quê? — Gaguejo.
— Não confunda loira por burra — a modelo diz com um sorriso condescendente. — Sou uma excelente fisionomista. Era você no restaurante Paris, era você no Hotel Four Seasons, e era você nas fotos do terraço do Pedro.
— Eu...
Ela tira um cartão da bolsinha Chanel rosa-choque e me entrega.
— Se quiser seus cinco minutos de fama, entra em contato. A traição vai ser uma ótima adição ao programa. — Então o elevador chega e a modelo vai embora, me deixando somente com o cartão de visita e a proposta mais inusitada que eu já recebi.
Ela acha mesmo que eu vou vender a minha alma e a minha honra pra acrescentar "drama" no Reality Show dela? Sem chance. A minha vida já tem drama o suficiente sem isso.
— E não é que eu sobrevivi? — Pedro sai do escritório, rindo. — Acho que a gente tem uma conversa para terminar. Onde foi que paramos?
— Na parte que você ia embora.
— Não, tenho certeza que era algo a ver com você não beijar mal. — Ele pisca.
— Sério? — Levanto as sobrancelhas. — Você acabou de passar uma hora resolvendo as consequências do último beijo. Tem certeza que quer insistir nesse tema?
— Tenho. — A resposta é curta e direta, dispensando explicações. — Vai fazer alguma coisa depois daqui?
— Faculdade.
— Ótimo! — ele diz. — Eu te levo.
—Ainda falta... — Encaro o relógio. — Vinte minutos para o fim do expediente. Eu posso pegar um ônibus, obrigada.
—Vai encarar o transporte público de Los Angeles só pra não ficar num carro comigo? — Provoca.
— Não. Eu vou encarar o transporte público de Los Angeles porque ainda faltam vinte minutos para o fim do expediente.
— Não por isso. — Pedro sorri, cheio de intenções. — Preciso mesmo dar uma passada ali no estúdio. Volto aqui pra te pegar na hora certa.
Eu solto um suspiro longo, incapaz de fugir dessas garras.
Gente... e a Lily Adams? Socorro! Será que a Julie vai entrar nessa proposta?
Pra quem já leu a história antes, vocês podem notar que daqui em diante tem alguns plots diferente do original.
Votem e comentem bastante que eu volto na sexta-feira com mais tretas.
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