36
Na manhã seguinte, Sarah acorda com um bom-humor surpreendente. Cantarolando "bom dia" em um tom alto demais, ela abre a cortina para que o sol invada a pequena escotilha de vidro.
Escondo o rosto sob o edredom e resmungo baixo.
— É um belo e ensolarado dia no meio do mar — ela cantarola de um jeito rídiculo, puxando minha coberta. — Vamos acordar!
Meu raciocínio ainda está preguiçoso e lento, mas acho que entendi o que está acontecendo. Eu não vi minha amiga voltar para o quarto ontem à noite, então começo a suspeitar de que ela não passou a noite aqui. Esse não é o bom humor de quem teve uma maravilhosa noite de sono, sendo ninada pelo balanço suave do barco. Não. É o bom humor de quem teve uma noite daquelas.
— Vocês transaram? — adivinho.
— A noite toda — ela responde satisfeita e se atira no lençol ao meu lado. — Como coelhinhos no cio. Se bem que não tem nada de "inho" naquele homem não, viu?
Rio baixo.
— Então cala a boca e dorme um pouco — reclamo, virando de costas.
— Pra quem veio pra cama tão cedo, você tá bem cansadinha, né Julie? Não vai dizer que você e o Pedro...?
— NÃO! — De repente estou com os olhos bem abertos. — Óbvio que não.
Sarah dá um risinho e me empurra fraco.
— Fala como se você não estivesse caidinha pelo Pedro.
— Eu não estou caidinha por ele.
— Então não se incomodaria se eu ficasse com ele, né?
— Eu, é... ãh... — Gaguejo. — Só pra lembrar: Ele é um homem comprometido.
— Com você?
— Com a Lily Adams! — Eu a corrijo. — E que história é essa de você ficar com o Pedro?
— Relaxa! É brincadeirinha! Só queria ver a sua reação. E sabe como você reagiu? — Não respondo, apenas mexo a sobrancelha. — Como uma namoradinha enciumada. Ou acha que ninguém percebeu o jeito que você saiu toda nervosinha da sala ontem? Se vai fazer jogo duro, Julie, é melhor disfarçar seus sentimentos um pouco mais.
Reviro os olhos.
— Não tem sentimentos pra disfarçar. A não ser os seus pelo Kyle. Você é que tá toda caidinha por ele.
Sei que estou revidando, desviando do assunto propositalmente, mas Sarah não sabe.
— O Kyle é legal — ela admite. — Mas quem gosta de se assentar é poeira! Tem muitos peixes nesse marzão pra pescar. Eu não tô em busca de compromisso, Juliezinha.
— Só pra esclarecer, o peixe ruivo já é meu — Beatrice grunhe com a voz abafada pelo travesseiro, sendo acordada pela nossa conversa. — Pode ir tirando os olhos dele.
— Relaxa. Eu prefiro os morenos sarcásticos. — Eu franzo o cenho, ofendida com a insinuação. Sarah ri. — Relaxa. Eu tô brincando de novo. Tá vendo? Você nem consegue disfarçar que fica cheia de ciúme com qualquer menção ao Pedro.
— Tá, olha... — admito com um suspiro alto. — Talvez ele ainda mexa um pouco comigo, mas isso não muda o fato de que ele tem uma namorada, e eu tenho um namorado também. Então não vamos ter essa conversa.
— Ah, mas a gente vai ter essa conversa sim! — Minha amiga insiste. — Pode ir tratando de desembuchar.
— Só se você desembuchar sobre o Kyle primeiro.
— O que você quer saber? — Ela vira os olhos.
— Tudo. Detalhes.
— Não tem detalhes. A gente transou, foi bom e, honestamente, com o meu histórico, valorizo um cara que respeita o consentimento. Não tô dizendo que eu disse "não" só pra testar a reação dele, mas se eu tivesse feito esse teste...
— Você fez esse teste.
— É. Eu fiz! — admite. — E ele já estava todo animado, mas super respeitou o momento.
— E agora você gosta dele.
— Não. Eu não gosto. Pra ser sincera, eu não acho que sou humanamente capaz de me apaixonar por alguém. Já ouviu falar no espectro aro? — Faço que não com a cabeça. — Basicamente é um termo guarda-chuva pra todas as orientações arromânticas. Tipo, eu me atraio sexualmente pelas pessoas indiferente ao gênero, mas não consigo sentir atração romântica por ninguém.
— Quem me dera não me apaixonar por ninguém — brinco. Sarah ri. — Acho que somos os opostos que se atraem. Eu sou romântica demais, tipo... sei que estamos brigados, mas eu amo o meu namorado, e daí o Pedro aparece, e... talvez eu ainda seja um pouquinho apaixonada por ele, e me odeio por isso.
— Vocês vão ficar falando pra sempre? — Beatrice reclama, sonolenta.
Eu ataco uma almofada em sua direção.
— Por que é que você ainda tá dormindo afinal? — Dou risada.
— Você não tinha que estar lá fora dando um trato no seu ruivo guitarrista? — Sarah completa. — Pensei que fosse passar a noite com ele.
Beatrice grunhe, abrindo os olhos contra a vontade.
— Bom... ele me chamou... mas...
— Você dispensou aquele peixão? — Sarah soa chocada.
— Não! É que eu... não quis... sou mais ou menos... meio que... nunca transei.
— Espera! Você é virgem?
— Mais ou menos.
— Não existe mais ou menos.
— Até existe um mais ou menos — eu me intrometo. — Depende se ela...
— Tá, já chega. — Beatrice interrompe. — Não vou entrar em detalhes. É que, com meu ex, a gente fazia uma coisa ou outra, mas nunca chegamos nos finalmentes. Não é que eu esteja esperando o casamento ou algo do tipo, é só que aquele insight de que estava pronta nunca aconteceu comigo.
— Não aconteceu na minha primeira também, mas não vou falar sobre esse assunto. — Sarah desconversa. O que ela contou pra mim, não está pronta para revelar para Beatrice e eu respeito isso.
— Aconteceu com você, Julie?
Instintivamente, eu sou obrigada a lembrar da minha primeira vez. Estávamos no meu quarto, os dedos desabotoando a camisa do meu uniforme, minhas mãos deslizando pelas tatuagens na pele quente, a velha cama rangia no assoalho, Pedro me perguntou "está tudo bem?". Não foi como um insight, foi diferente. A certeza se alastrou por mim aos poucos, queimando na pele como um incêndio.
— Aconteceu — resumo e um arrepio sobe pela espinha. É melhor eu pensar em outra coisa. — Mas vamos subir? Ainda não são nove da manhã e vocês duas já estão pensando em sexo.
— Eu não estou pensando em sexo — Bea protesta. — Vocês duas estão pensando em sexo. É diferente.
Eu dou risada.
— Ok. Todas nós pensamos em sexo, satisfeita?
Entre a Sarah e a Beatrice vocês tem uma preferida??!!!
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