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3

Pouco mais de uma hora depois, estamos parados diante do edifício de tijolos vermelhos, onde fica o alojamento da universidade.

Enquanto Thomas descarrega as malas do sedan prateado, eu observo os arredores, me habituando ao lugar que eu devo começar a chamar de casa. O amplo jardim ao redor do prédio está tomado de jovens enérgicos e exala um tipo único de energia.

Uma garota negra distribui panfletos perto dali, um grupo de rapazes com jaquetas de time conversa animado, vejo alguns jovens gravando um tipo de vlog, entrevistando outros universitários. Do outro lado do jardim, uma garota de traços orientais desembarca de um táxi branco. Os cabelos pretos de pontas rosas sacodem com o vento enquanto ela bate a porta. Tem um bebê de uns 2 anos de idade em seu colo.

—Espera! — Eu estreito os olhos. — Aquela é a Yumi Sakai?

Thomas sobe o olhar, deparando-se com a mesma cena que eu: a garota japonesa com uma criança de colo adentrado o alojamento da USC. Os olhos estreitos cruzam com os meus, e acho que ela me reconhece também porque desvia o olhar e acelera o passo.

— É. É ela sim. — Thomas ajeita o boné na cabeça.

— Pensei que ela estivesse fazendo faculdade em Nova Iorque.

— Foi o que o pai dela disse pro meu. — Meu namorado bate o porta-malas. — Mas acho que ele esqueceu de mencionar o bebê.

Quando foi embora de Santa Barbara, os rumores diziam que Yumi estava grávida. Ela fez todo mundo acreditar que houvesse tirado o bebê, mas talvez essa não fosse a verdade absoluta. Yumi sempre foi muito orgulhosa, afinal, jamais deixaria as pessoas da cidade ficarem sabendo se achasse que estava numa pior.

— Acha que ela mora aqui?

— E inventou uma vida inteira em Nova Iorque? — Thomas levanta uma sobrancelha. — Pouco provável. Acho que ela veio visitar alguém.

— Quem?

A pergunta se responde sozinha no instante em que outra figura conhecida atravessa o jardim rumo ao alojamento. O rei de todos os caras babacas: senhor Henrique Malost.

— O pai do filho dela.

Isso me causa uma sensação desconfortável. Sei que a nossa amizade foi rompida de uma maneira traumática, éramos novas demais, brigando por causa de homem, mas — sabendo o que eu sei sobre Ricky e sobre o que ele fez com a Yumi — a última coisa que eu consigo sentir dela é raiva.

— A gente devia descobrir o que tá rolando. — Puxo meu namorado pelo pulso, mas ele não se move.

— Tenho que ir pro aeroporto, tampinha. — Ele pressiona os lábios.

— Já?

— O trânsito em Los Angeles é uma doideira, não quero arriscar perder o voo. — Faça um beicinho e Thomas me puxa para dentro dos seus braços. — Vou sentir sua falta todos os dias.

— Eu também vou. — Me afundo em seu peito, inspirando o aroma fresco e cítrico do perfume em sua camiseta. — Te ligo amanhã de manhã?

Thommy assente.

— E vê se liga também pro seu pai — ordena. Eu faço uma careta, me esticando na pontinha dos pés para alcançar a boca dele. Tom me puxa pela cintura, mas não se rende tão facilmente. — Promete?

— Não.

Ele ri e me aperta um pouquinho.

— Promete logo! — Exige. Eu reviro os olhos.

— Tá bom, tá bom! — Acabo cedendo. — Eu mando uma mensagem. E isso é o melhor que posso fazer.

Thomas sorri, satisfeito com o acordo. Nossas bocas se unem uma última vez, um beijo com sabor de chiclete de menta e despedidas. E chega a doer fisicamente no instante em que elas se separam.

— Posso te pedir uma última coisa? — Falo, ainda enganchada em sua nuca, a mão dele pousada no meu quadril.

— O quê?

— Um chiclete.

— Um chiclete? — Thommy franze o cenho, mas enfia a mão no bolso para sacar o pacotinho que sempre carrega consigo. — Pode pegar, mas por quê?

— Vou guardar para uma emergência. — Arranco de sua mão pra guardar em meu bolso. — Pra quando eu precisar me lembrar do sabor do seu beijo.

Um grande sorriso rasga o seu rosto de orelha a orelha.

— Se eu te beijar outra vez, acho que vou desistir de pegar aquele voo.

Eu aperto seu nariz em provocação e me afasto, negando meu próprio instinto de puxá-lo para mim outra vez, porque sei que não podemos nos dar ao luxo de abandonar todos os planos.

— Acho que é melhor você ir então.

Sem tirar os olhos de mim, Thomas contorna o carro para abrir a porta do motorista.

— Não pensa que eu esqueci seu presente — ele fala alto.

Eu arregalo os olhos, lembrando desse detalhe.

— Cadê?

— Já disse, tampinha, vai ter que esperar. Mas eu prometo que vale a pena!

E então acelera o carro. Parada na guia, com o meu par de malas enormes, assisto o Sedan prateado se afastar do campus, e aceno um "adeus" com a mão, até que Thomas Reynders some de vista. Observo o anel do infinito em meu dedo, fazendo-o girar ao redor do dedo anelar, e penso justamente no oposto — a finitude das coisas.

A vida é feita de começos, e de recomeços, ela nunca para. Viver é como montar um touro mecânico, lutando pra ficar o maior tempo possível por cima, mas sempre chega uma hora que você cai. A linha do tempo não é uma reta, é uma curva, aliás, várias delas, cheia de altos e baixos, bons e maus momentos, porque a vida, como a lua, é feita de fases. Eu estou pronta pra recomeçar, mesmo assim, sinto lágrimas agridoces escorrendo em minha face, pois não estou pronta pra deixar a fase anterior acabar.

Pensaram que a encrenqueira não ia dar as caras nessa temporada? Kkk

conta pra mim... vocês odeiam a Yumi ou gostam dela? 👀

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