A internet age rápido para viralizar o vídeo batizado de "Adrian Bertrand é um merda", alguém transformou o áudio de Pedro num remix, e as pessoas estão dublando por diversão, de modo que o chefe de cozinha resolve romper o silêncio e revidar a ofensiva. Em entrevista para o Good Morning America, ele diz:

— Essa garota, Julie, é uma pistoleira. Ela não queria ser garçonete, estava atrás de fama e dinheiro. Pensou que conseguiria comigo, mas graças a deus sou um homem muito bem casado. — Bertrand exibe a aliança de ouro para a câmera com um sorriso grosseiramente falso entre a barba. — Mas não desistiu. Ficava se oferecendo para os clientes, eu recebia reclamações o tempo todo.

— E o que você acha das declarações que Pedro Loth fez sobre o assunto?

— Não posso dizer muito. Não conheço o trabalho dele. Mas sabe como os garotos dessa idade pensam com a cabeça de baixo. Pelo visto a Julie conseguiu o que queria: um otário famoso para colocá-la nos holofotes.

— Ele chamou o Pedro de "garoto"? — Sarah indaga, escutando o vídeo sem olhar a tela, porque os olhos estão grudados no próprio celular. O corpo esticado no sofá com os pés em minha direção, o cabelo preso num nó.

— E de "otário" também — acrescento.

— Então, tipo, um homem de 21 anos é só um "garoto burro", mas você, com 19, é uma mulher esperta com poder de manipulação?

— Boys will be boys, é o que dizem, né? — Dou risada, sem achar graça.

Bertrand conclui a entrevista dizendo:

— Claro que eu vou levar isso até o final. Eu não estou com medo. Alguém tem que acabar com o esquema dessa pistoleira.

Eu solto uma lufada de ar, inflando as bochechas e abaixo a tela do notebook. Preciso pensar por alguns instantes antes de proferir minha opinião em voz alta.

— Como o desgraçado consegue mentir e ainda ser tão convincente?

— É o que os mentirosos fazem. Você viu essa publicação do Reddit? — Minha amiga estende o celular, e eu espio a tela sem pegá-lo em mãos. — Tem fotos da gente se pegando no Holi. E também algumas evidências do seu relacionamento com Thomas.

— Inferno! Onde eles arrumam essas coisas?

Sarah ergue os ombros e puxa o celular de volta. Uma fresta de luz solar penetra pela janela, deixando sua pele negra mais luminosa.

— Eu não sei, mas pelo visto a internet acha que isso prova alguma coisa sobre o seu caráter.

Eu derrubo a cabeça no encosto do sofá e solto um grunhido de cansaço.

— Vai ver o Pedro tinha razão. Eu não devia me expor tanto assim.

— Ele falou isso!? — Ela arqueia a sobrancelha bem delineada, bastante surpresa. Eu balanço a cabeça, assentindo. — Que babaca... como se não fosse ele quem te expôs para o mundo inteiro em primeiro lugar.

— É. A gente teve essa discussão. Aparentemente quando o Pedro me expõe é um elogio. — Rio baixo. — Mas não é ele sendo ameaçado por garotas de 15 anos obcecadas.

— E recebendo todo o hate do fandom da Lily Adams — Sarah acrescenta.

— Acho que o reality vai ajudar nesse ponto — penso em voz alta. — Mas até lá a internet já vai ter escavado outros mil motivos para me odiar. Ser uma sub-celebridade é mais cansativo do que parece.

Minha amiga ri.

— Eu imagino. Mas você largaria tudo pra ser só uma estudante de jornalismo comum e sem grana outra vez?

Reflito sobre a pergunta como se fosse uma questão existencial, tentando elencar os prós e os contras da fama que eu não planejei conquistar. Se por um lado recebo muitas curtidas e mensagens de carinho, por outro a internet está recheada de haters e pessoas cruéis. E mesmo off-line sempre aparecem os "abutres" tentando caçar manchetes com suas câmeras grandes.

— Sei lá — concluo com um suspiro depois de pensar demais.

— Escuta só... — Minha amiga recolhe as pernas e inclina o corpo em minha direção, com um ânimo repentino. — Vai rolar uma festa de Halloween na sexta. Noite das garotas? Bebida, perucas, fantasias... de repente, você relembra a sensação de ser só uma universitária comum e vê o que acha. Claro... se não estiver ocupada demais transando com seu namorado.

Faço uma careta, franzindo o nariz.

— Só pra saber, a gente faz outras coisas além de transar, tá?

— Eu sei: Brigar. — Ela ri de novo. Eu viro os olhos de um jeito exagerado, me recusando a dar o braço a torcer. — Então tá. Qual a última coisa legal que vocês fizeram usando roupas?

— O Pocket Show no Staples Center.

— Antes disso. — Sarah ergue as sobrancelhas.

Eu entreabro os lábios com plena convicção, mas dessa vez a resposta não está na ponta da língua, então eu fecho devagar, fazendo um peixinho com a boca.

— Talvez você tenha um ponto.

— Eu tenho.

— Mas é difícil ter um encontro decente quando tem sempre um abutre cercando a gente. — De repente sou acometida por um lampejo e estalo o dedo. — Espera! Isso é perfeito!

— O quê?

Salto do sofá, saindo em busca do celular que deixei no quarto.

— A festa de Halloween! — falo alto enquanto digito uma mensagem de texto, e volto para a sala com os olhos presos na tela. — Eu e o Pedro podemos sair juntos e curtir a noite, sem ninguém nos reconhecer.

— Infiltrar seu namorado famoso numa festa universitária não era bem o que eu tinha em mente quando disse "noite das garotas".

Suspiro, cedendo os ombros.

— Tá, eu sei que não é o que você queria, mas pode ser legal... né? — Meu tom vem carregado de uma expectativa que, por algum motivo, parece convencê-la a ceder.

— Se é o que você quer, então que seja. É uma festa aberta. Eu não vou te impedir de arrastar o seu namorado! — Comemoro com um saltinho, cerrando os punhos. — Só tenta não se tornar uma dessas pessoas que abandona os amigos quando começa a namorar.

— Prometo que a próxima noite vai ser das meninas. — Cruzo os dedos diante da boca para selar a promessa.

— Pode ter certeza que eu vou cobrar — minha amiga declama.

Eu rio e volto a olhar a tela do aparelho, pressionando o botão de enviar.

Festa de halloween no campus sexta
fantasias on, abutres off
deixo vc escolher a fantasia
topa?

♥

Me conta uma coisa, vocês estão torcendo pelo namoro ou contra? 

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