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— Que merda aconteceu com a sua cara? — Kyle chama atenção no instante em que Pedro pisa para dentro do camarim, fazendo todos os garotos virarem para olhar.

— Longa história. Esbarrei num babaca a caminho daqui. Dá tempo de passar na maquiagem?

A resposta vem na forma de uma assistente do programa que surge na porta, dando duas batidas. Ela é ruiva e usa um terninho social.

— Chegaram todos? Excelente. O Corey já vai anunciar vocês.

Depois tudo acontece muito rápido. Um outro assistente surge para levar os meninos até o palco, um pequeno tumulto se forma no corredor do Backstage.

— Você é acompanhante? — A ruiva me leva para longe do Pedro. — Vem, vou arrumar um lugar para você lá na frente. Precisa de uma água? Alguma coisa?

— Obrigada.

Antes que perceba, estou sentada na primeira fileira, e Corey Franco está no palco, sendo recebido com aplausos da plateia. Ele parece mais baixo pessoalmente, com o corpo redondo e os óculos grandes no rosto.

— Diretamente de Los Angeles, podem entrar os convidados de hoje Pedro Loth, Kyle Molina, Erick Hall e Luke Walsh, essa é a French 75! — Ele anuncia num tom animado e uma música inédita da banda começa a tocar no fundo. É The Muse.

Os aplausos ficam mais altos quando os meninos entram em fila, acenando para o público. Pedro está visivelmente tenso no palco, esfregando a boca como se precisasse desesperadamente de um cigarro e seus olhos me procuram no meio da plateia. Parece um pouco aliviado ao me encontrar.

— UAU! — O apresentador exclama quando o som diminui, se dirigindo à plateia. — Vocês gostaram? Essa foi uma palinha exclusiva direto do álbum novo da French 75 "Fora de Órbita" que lança oficialmente amanhã em todas as plataformas de streaming. — Então se vira para os meninos, sentados no sofá. Pedro está na ponta esquerda, mais próximo de Corey, na sequência estão Kyle, Luke e Erick. — Pedro, você realmente escavou pelos detalhes nessa composição. Eu vou ter que te perguntar porque você compôs cada canção desse álbum, quem é "a musa"?

— Minha namorada inspirou cada música que eu escrevi, Corey. Ela é a voz na minha cabeça, a razão pela qual eu continuo cantando. — O esboço de um sorriso travesso rouba a expressão do meu namorado quando me encara.

O sorriso em meu rosto é bem maior quando eu meneio a cabeça. Não acredito que ele fez isso. Não acredito que ele citou Camp Rock numa entrevista ao vivo por minha causa. Estou ruborizando de um jeito bom.

— É ela? Ela está na plateia? — A câmera vira para me filmar, eu faço um aceno meio constrangido. — Com todo respeito, ela é mesmo muito bonita. O tipo de garota por quem você entra numa briga. Foi o que aconteceu aí?

Pedro umedece o lábio e passa o polegar pelo machucado, fechando o sorriso ao lembrar da briga.

— É o tipo por quem você compra uma guerra.

— Que bom que você tocou nesse assunto! — Corey continua usando um tom de entusiasmo exagerado, que não combina em nada com o humor que Pedro demonstra. — Outro dia chegando no estúdio, imagina a minha surpresa quando vi você entre um grupo de manifestantes na calçada. Temos foto disso, produção? — Rapidamente, as evidências aparecem no telão. — Então agora você é um feminista?

Pedro de mantém sério.

— Eu acho que quando um cara desrespeita uma mulher, ele é um desgraçado. Fodam-se os rótulos. Se ele desrespeitar minha mulher e aparecer na minha frente, eu vou quebrar a cara dele.

A plateia puxa mais um coro de aplausos.

— E vocês, rapazes, o que pensam de tudo isso?

— Ele disse o que ele disse! — Kyle fala, erguendo as mãos.

— A gente tá com o Pedro — Erick acrescenta. — Sabe, o processo criativo desse álbum foi muito peculiar justamente por causa disso. Depois da última turnê, todos nós estávamos ansiosos pela próxima fase, então o Pedro chamou a gente pra uma reunião, e ele estava efervescendo com todas essas ideias na cabeça. Ele disse "eu quero anunciar esse álbum no Holi. É doideira da minha cabeça?". Faltavam tipo, duas semanas pro Holi, era um tempo muito apertado, mas eu lembro que a gente disse...

— Cara, a gente tá com você — Luke completa.

Todos os meninos dão risada, suavizando a tensão da conversa. Pelo resto da entrevista, Corey se concentra em perguntar sobre as músicas e o lançamento, mas Pedro se mantém mais calado que os outros.

— Então, Pedro — Corey chama a atenção. — Com esse novo álbum vindo aí, podemos esperar também uma nova turnê?

— O que eu posso dizer? — Ele sorri para os membros da banda. — A gente adora cair na estrada e criar momentos com os nossos fãs. O que você acha Kyle?

— A gente acabou de voltar de uma turnê, mas você sabe... se a maior rádio americana chamasse a gente para viajar o país na turnê de fim de ano deles, eu não diria "não". E você?

— Com certeza não.

— Devemos contar pra eles? — Erick provoca.

A plateia grita antecipando o anúncio e Kyle gesticula pedindo gritos ainda mais altos. Divido meus olhos entre prestar atenção nele, e checar as notificações do Twitter. A internet está alvoroçada com as suposições sobre o que teria acontecido nos bastidores, porque está na cara que o machucado no rosto dele é recente. Ao menos a polêmica aumenta a audiência do programa e agora todo mundo está comentando também sobre a possível turnê.

— Tudo bem, vocês venceram — Erick diz. — Nós estamos muito animados de anunciar que vamos estar em turnê com o Jingle Ball pela primeira vez no próximo mês.

O público aplaude ruidosamente. Pedro espera os aplausos silenciarem para retomar a palavra.

— Sabe? Essa nunca foi uma época de celebração pra mim, então essa vai ser uma experiência inédita. É isso, minha primeira festa de natal vai ser com vocês, na estrada.

Os fãs aplaudem.

Quando a entrevista termina, Corey convida os meninos para tocar algo do álbum novo. Um homem careca e alto da produção entra com os instrumentos, Erick fica na bateria, Luke na guitarra, Kyle no teclado e Pedro ganha um microfone com pedestal.

— Um, dois... — Ele conta baixo. — Um, dois, três, vai!

Então a batida contagiante de The Muse invade o ambiente outra vez.

Sei que públicos pequenos o deixam nervoso, então provavelmente não queria estar cantando aqui, mas seus olhos fixam em mim durante boa parte da canção. Quando chega no refrão, ele faz um sinal com a mão, me chamando para subir no palco. Não me movo, nem conseguiria se tentasse, não estava esperando por isso.

Ele tira o microfone do pedestal, sem parar de cantar, desce até onde estou e me estende a mão. Antes que eu perceba, estou no meio do palco do Corey Franco. Não sei se são as luzes fortes, as câmeras, ou o fato de que Pedro me faz dar um pequeno giro dentro do seu braço, mas me sinto um pouco tonta.

Quando a música termina, ele beija a minha boca em rede nacional com a mesma energia que faz quando estamos entre quatro paredes, e os aplausos altos vem acompanhados de gritos de aprovação. Nossos lábios ainda estão colados quando eu sorrio, sendo arrebatada por um calor intenso no peito. A mão de Pedro está no meu rosto, a minha, enganchada na sua nuca.

— Você citou Camp Rock? — falo.

— Você tá destruindo minha reputação.

Eu sorrio e as câmeras captam o movimento dos meus lábios quando as três palavras escapam involuntariamente:

— Eu amo você.

Então Kyle Molina o chama, seus olhos se desprendem dos meus.

— Reunião do grupo — ele avisa dos bastidores. — O Ian tá convocando. Em trinta minutos na gravadora.

Pedro me olha com certo pesar. Conheço a regra: nada de namoradas no trabalho, mas meio que esperava que ele mandasse todo mundo pro inferno e escolhesse a mim. Invés disso, ele tira a chave da Lamborghini do bolso e coloca na minha mão.

— Leva o meu carro — diz. — Eu pego carona com o Kyle.




Bem-vindos de volta a esse caos de sentimentos que eu chamo de Pedrulie. Cês tão sobrevivendo à montanha-russa?

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