Capítulo Um
Descendo do carro e pegando a última mala que levaria consigo naquela jornada longa que seria a faculdade, Emma Collins teve que conter o choro e fingir normalidade ao ver que a partir dali já teria que se despedir dos pais e aos poucos cortar o cordão umbilical invisível que a ligava até eles.
— Bem, é isso. — seu pai, Thomas Collins, um homem de quarenta e cinco anos e de cabelos grisalhos lhe diz, também tentando segurar a emoção ao ver a filha caçula ingressando na vida adulta. — Vou ajudá-la a levar as malas até seu dormitório.
— Não precisa, pai. Eu levo.— diz ela, na tentativa de não prolongar mais aquela despedida.
— Por favor, nos deixe levar as malas até seu dormitório, filhinha. — agora era sua mãe, Martha,que interferia na conversa,enxugando discretamente o canto dos olhos.
Cedendo aos apelos dos pais, Emma deixa com que os dois levem um pouco da sua bagagem. Seriam quatro longos anos longe de casa, do seu quarto, da comida quentinha e gostosa da mãe e longe dos abraços calorosos do pai. Sentiria saudades até das provocações do irmão Josh e de como sentia-se protegida perto do mais velho. Parece que foi ontem quando ela se formou no ensino médio, fez dezoito anos e achava que crescer era legal.
— Bem, é aqui. — ela para em frente a uma porta cor de rosa com a pintura um pouco desgastada. —Vou bater, parece que já tem alguém aqui dentro.
Emma dá duas batidas firmes na porta, imaginando mil e uma formas de como seria a sua colega de quarto que passaria a maioria dos anos. Infelizmente era exatamente o que não imaginava. A porta se abre e ela se depara com uma garota loira e com o cabelo pintado de rosa nas pontas, batom escuro e piercing no nariz. As roupas dela eram curtas e remetiam a bandas de rock.
— Ah, oi. Eu sou a Emma Collins, sua colega de quarto. — ela sorri, procurando ficar calma e tentando ser simpática.
— Claro, entra aí. — a garota sorri de volta, dando espaço para Emma e os pais entrarem com as malas.
O quarto era pequeno, porém bem arrumado. O lado da garota possuía pôsteres de bandas na parede e papéis com letras de músicas. Os pais de Emma olham ao redor sem esboçar qualquer reação sobre o que acharam a respeito da colega de quarto da filha.
— Eu sou Stephanie Clark. — a loira de cabelo rosa estende à mão para Emma, a cumprimentando num firme aperto de mãos. — Mas todos me chamam de Steph.
— Certo, Steph, pode me chamar de Emm. — ela sorri, mais segura.
— Filha, nós já vamos. Pode vir lá fora com a gente um instante? — pede seu pai, a chamando.
Emma acompanha seus pais até a saída, já perto de onde deixaram o carro, ela recebe conselhos de seus progenitores.
— Filha, sei que não devemos julgar ninguém para não sermos julgados, porém tome cuidado com a sua colega de quarto, confie desconfiando.— aconselha sua mãe.
— Foque no que veio fazer aqui, filha, que é estudar. Não aceite convites de estranhos para ir à festas, boates ou o que quer que seja, esteja atenta à tudo. Lembre-se de quem você é, uma serva do Senhor. Não se corrompa e nem perca os seus valores.
Emma apenas assentia acatando tudo em seu coração. Sempre obedeceu seus pais e não seria agora que os desobedeceriam.
— Procure pessoas como você, filha. Que professam a mesma fé e sejam cristãos.
— Será que por aqui tem cristãos? — ela pergunta, olhando em volta.
— Sempre tem, Deus cuida dos seus. — sua mãe sorri meigamente. — Seja como Daniel foi na Babilônia, não se contamine com os manjares do rei.
— E antes de irmos, só mais uma coisinha. — o pai a olha nos olhos. — Não faça nada que vá se arrepender depois.
— Certo, pai. Eu vou obedecer sim. — ela os abraça, sentindo uma imensa vontade de chorar.
Após a despedida triste e dolorida dos pais, Emma respira fundo e enxuga as lágrimas, era hora de ser forte e corajosa para a vida adulta.
Retornando ao dormitório, ela encontra a colega, Steph, deitada na cama com fones de ouvido e mexendo no celular ao mesmo tempo. Resolve não perturbar o silêncio da garota e desfaz suas malas em silêncio, procurando ocupar sua mente com algo. Porém logo após tirar sua bíblia da bolsa e por em cima de sua mesinha de cabeceira, ouve a voz da amiga um pouco alta por conta dos fones.
— Você é cristã? — Steph pergunta, apontando para o objeto em questão, que era a bíblia.
— Sou sim. — Emma responde com certo receio.
— Nada contra sua religião, só não tenta me converter, certo? — Emma assente em afirmação. — Eu tive uma colega de quarto que era maluquinha, parecia mais uma fanática.
— E o que houve com ela?
— Trancou o curso. Disse que esse lugar era a verdadeira Babilônia. Não sei o que ela quis dizer com isso. — responde, enquanto mexe no cabelo, enrolando uma mecha rosa.
Emma se limita apenas a sorrir e a concordar, voltando a desfazer suas malas no silêncio de antes. Não seriam nada fáceis aqueles quatro anos.
Depois de por fim ter arrumado tudo, ela se deita em sua cama, pensativa no que fazer. Steph agora estava sentada na cama lixando e pintando as unhas dos pés de vermelho.
— Tem alguma lanchonete ou cafeteria por aqui? — Emma pergunta, sentindo a barriga roncar de fome após aquela arrumação.
— Tem sim, porém como as aulas só começam semana que vem, estão fechadas. Mas tem umas máquinas de refrigerante e salgadinhos espalhadas aí pelo campus, pode matar a fome em alguma delas, é só ter dinheiro.
— Certo, vou em busca de alguma dessas máquinas e vou aproveitar para conhecer um pouco mais do campus. — ela se levanta da cama, pegando apenas a carteira e o celular.—Volto logo.
— Tá bom. — ela responde, ainda concentrada em pintar as unhas do pé direito.
Ethan havia ficado satisfeito em conhecer e saber como funcionava a faculdade em que ele lecionaria. Por meses passou adiando essa tentativa de recomeço, porém precisava tentar. Não podia permanecer de luto para sempre por causa da morte de Laura e o pequeno Cody.
— Ali ficam as fraternidades. — o reitor, senhor Gordon, aponta. — E a parte dos alojamentos fica para lá, mas creio que talvez isso não seja tão relevante para o senhor.
— Claro que é, gosto de me inteirar bem no ambiente. — Ethan dá um meio sorriso e passa a mão nos cabelos negros, que batiam nos ombros e ele já não cortava há tempos.
— Bem, creio que já lhe mostrei tudo. Tem uma parte que cedemos para os professores morar aqui caso não possuam residência fixa, porém como já me foi informado que tem seu próprio apartamento, isso não será necessário. Vamos até minha sala para finalizarmos sua contratação.
No caminho até o prédio da reitoria, Ethan avista um pequeno grupo de jovens reunidos perto do gramado. Eles cantavam músicas cristãs e tocavam violão, imediatamente aquilo o incomodou e ele logo reclamou com o senhor Gordon.
— O que aqueles estudantes estão fazendo? O campus universitário não deveria ser laico?
— Bem, nós deixamos que aqui todos expressem a sua identidade e religião, e as cantorias deles não incomodam, nunca tivemos problemas ou reclamações.
— Eu creio que numa universidade de tão grande renome como essa não deveria existir isso.
— São apenas jovens artistas, senhor Banks. Não se aborreça por conta disso, eles não fazem mal à ninguém. — o reitor encerra a conversa, deixando Ethan mais que aborrecido por dentro.
Logo ele já estava assinando o contrato e pegando seu material e grade das aulas e turmas que ministraria a sua disciplina. Ethan era considerado um jovem gênio desde criança e dotado de grandes habilidades em matemática, cálculos complexos e física. Aos dezesseis ele já estava na faculdade e cursando sua primeira graduação em matemática, terminando ela ainda jovem e apenas aos vinte anos e agora voltando a lecionar, em seus vinte e sete. Ocupar sua mente em sua atividade que mais gostava lhe faria bem, e logo ele também arrumaria um jeito de diminuir aquelas cantorias religiosas pela universidade.
Caminhando pelos corredores vazios e sem alunos ainda, ele procurava pela saída que o levaria até o estacionamento. Quando por fim a avistou, viu uma cena um tanto quanto curiosa e engraçada, uma jovem de estatura mediana, cabelos longos e de um castanho escuro, brigava com uma daquelas máquinas de refrigerantes e salgadinhos. Parecia que a máquina não queria lhe dar o que ela pediu e havia empacado.
— Anda, me dá logo minha Pepsi e meu Doritos, sua máquina idiota! — a garota batia e chutava ela de lado, mas nada.
Ethan se aproxima dela a fim de ajudá-la, e assim que vê melhor como era o rosto da garota, fica perplexo. Ela lhe fazia lembrar um pouco a Laura, possuía o mesmo formato de olhos e o rosto pequeno e delicado. Por um momento ele sentiu sua esposa ao seu lado por um instante.
— Com licença, eu posso te ajudar? — ele se aproxima, chamando a atenção da moça, que ficou calada também ao olhar em seu rosto.
— Claro. — ela se afasta um pouco tímida, evitando o encarar nos olhos.
Num só chute na parte traseira da máquina, Ethan faz com ela funcione e entregue os itens que a garota havia selecionado.
— Nossa, muito obrigada. — ela pega o refrigerante e o Doritos, sorrindo com timidez. — E eu aqui agindo que nem uma maluca e chutando ela.
— Acontece, muitas delas são cheias de truques. — responde, num sorriso contido, sem conseguir parar de encarar os olhos dela. — Bem, tenho que ir.
Ele sai apressadamente, deixando Emma confusa sobre quem seria aquele estranho tão bonito que a ajudou em seu primeiro dia.
E aconteceu o primeiro encontro entre nossos protagonistas!
Só digo uma coisa do segundo capítulo, vai ser babado! Já começo assim, com muitas tretas rsrsrs
Se gostaram do primeiro capítulo, cliquem na estrelinha e digam o que acharam nos comentários...
As postagens dos capítulos serão três vezes na semana, mais especificamente na Segunda, Quarta e Sexta.
Tá aí um meme que resume todo o livro kkkkk
Fui-me, abraços e beijinhos!
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