Capítulo Doze
A jovem passou o resto do dia trancada no dormitório, sem ânimo para nada e sentindo seu coração partido. Queria apenas naquele momento ficar debaixo de suas cobertas e quem sabe dali mesmo viajar para Nárnia e fugir daquele mundo.
— Emma, me dói te ver assim nessa fossa. — comenta Steph, a observando naquele estado. — Não fica assim, tenha fé. Ethan pode retornar daqui há um ano.
— E se ele optar por não voltar mais e preferir ficar lá em Tonga? Em um ano muita coisa pode mudar, Steph. A mente dele pode mudar e talvez nem queira mais voltar.
— Bem, isso aí só o tempo dirá. Mas se anima! — ela sacode Emma por um dos braços.—Mais tarde terá um boliche com o pessoal, Dylan que propôs, vai ser divertido.
— É, que legal. — diz, totalmente desanimada e pouco se importando.
— Sabe do que você precisa? — questiona Steph, pensativa.
— Do quê?
— De um corte novo de cabelo!
— Um corte de cabelo? Ethan vai embora para tão tão distante e você acha que um corte de cabelo irá mudar tudo?
— Mudar tudo não, mas um novo visual irá lhe dar um pouco mais de auto estima.
— Sei não, sempre usei cabelo longo e gosto dele assim. — ela observa e toca suas madeixas. — E também tem uma coisa, onde que eu iria cortar? Não tem salões de beleza aqui perto.
— E quem disse que você precisa ir num salão? — Steph abre uma das gavetas de sua mesinha de cabeceira e retira uma tesoura grande. — Eu sou o seu salão de beleza particular.
— Não confio em você com essa tesoura! — Emma ri. — Vai me deixar careca.
— Não vou não, sou eu mesma que corto meu cabelo, e olha só como ele está bonito e certinho. — ela balança os cabelos loiros de um lado para o outro. — Deixa, por favor!
— Está bem, mas se me deixar esquisita, eu vou fazer a mesma coisa no seu.
— Claro que não, vou te deixar fabulosa! — ela se anima, pegando uma cadeira e mandando Emma sentar-se.
Para a surpresa dela, Steph sabia cortar cabelo muito bem. Ela cortou os cabelos de Emma até os ombros, e só aquilo já deu um outro ar para a jovem.
— E então, gostou?
Emma analisa a sua nova aparência no espelho e decide arriscar.
— Corta mais, deixa no pescoço. — diz, decidida.
— Tem certeza?
— Absoluta.
O resultado final agradou a Emma, e o cabelo curto lhe caiu muito bem e combinou com seu rosto e lhe deu um ar mais jovial.
— Você está linda. — elogia Steph, observando o seu trabalho.
— Obrigada, eu gostei muito. — ela passa a mão nos fios agora curtos, testando outras posições para usar o cabelo. — Desculpa ter duvidado de você no começo.
— Acontece, está perdoada. — ela dá de ombros e começa a recolher os cabelos de Emma do chão.
— O mais triste será ter que jogar toda essa enorme quantidade de cabelo fora.
— Não se preocupe, já tenho um destino para eles. No prédio de medicina eles estão aceitando doações de cabelos, para fazerem perucas para as mulheres com câncer, vou juntar e por num saquinho, para doar. — explica.
Pela noite, as duas foram encontrar-se com os amigos no boliche, que era perto dali. O novo visual de Emma foi elogiado por todos. Por fim, tiveram uma noite animada e divertida jogando boliche, o que até fez ela esquecer um pouco sobre a partida de Ethan. Na hora de retornarem, todos se despedem um do outro, exceto Tom, que queria conversar com ela em particular.
Os dois caminhavam pelo campus.
— E então, Tom? O que queria falar comigo? — pergunta a jovem, curiosa.
— Bem, Emma. Já tem um tempo que nos conhecemos e somos amigos. — ele começa dizendo, de forma tímida. — E sem querer dar muitos rodeios, quero te confessar que sou apaixonado por você.
Ela fica sem graça e sem saber o que dizer diante do rapaz. Tom era uma boa pessoa, era um rapaz estudioso e cristão, porém aquela revelação a pegou em cheio, ainda mais agora que descobriu estar apaixonada por Ethan.
— Não precisa dizer nada. — diz ele, após ver que Emma ficou sem reação. — Eu por muito tempo guardei isso comigo, e orei muito para saber o momento certo de falar, e sei que hoje era o dia certo para eu me abrir e lhe expor meus sentimentos. Gosto muito de você, Emma. Te acho uma moça de bom caráter, bom coração e muito doce. Você aceitaria orar comigo?
Emma pedia ao Senhor uma forma de dizer um não sem machucar os sentimentos de amigo e sem destruir a amizade entre eles.
— Tom, eu também te acho um bom rapaz, um ótimo cristão, porém me desculpa, só o vejo como um bom amigo. — ela suspira ao dizer aquelas coisas. — Perdoe-me, mas infelizmente esse sentimento não é recíproco, e eu não quero lhe dar falsas expectativas.
O semblante dele fica triste, o que parte o coração de Emma.
— Você gosta dele,não é? — pergunta.
— Do que está falando?
— Gosta do Ethan?
Ela engole em seco, iria negar, mas optou por dizer à verdade.
— É, eu estou apaixonada por ele. Mas ele foi embora.
— Eu cheguei a pensar nisso, mas pensei que talvez estivesse vendo tudo errado. — diz, pondo as mãos nos bolsos, constrangido.
— Me desculpa, Tom. Não fica chateado.
— Não estou chateado, porém agora me preocupo com você. — ele a olha bem sério.—Acha que vale a pena amar alguém que foi embora e não sabe se irá voltar?
— Bem, eu...
— Não precisa responder, apenas pensa nisso. Pensa se vale a pena se apaixonar por alguém assim. — ele lhe dá as costas e vai embora.
Chegando no dormitório, Emma e Steph dividiam um pote pequeno de sorvete enquanto ela contava tudo o que houve.
— Nossa, achei que o Tom foi bem rude com você no final. Não precisava dizer aquelas coisas só porque levou um fora.
— Eu fiz o melhor que pude para soar calma e não magoá-lo, mas tudo bem, ele ficou com as expectativas feridas, agiu sem pensar.
— Mesmo assim, achei desnecessária e grosseira a forma com que lhe tratou antes de ir. Você merece um pedido de desculpas. — Steph diz, indignada e tomando o finalzinho do sorvete.
— Vou dormir, uma boa noite de sono me fará bem. E aliás, amanhã retorna tudo.
— Nem fala, que chato! — ela suspira e joga o pote vazio no lixo, deitando-se em seguida.
Na manhã seguinte, elas se aprontaram para o primeiro dia de aula. Quando cada uma foi na direção de suas aulas, Emma encontrou-se com Tom logo no caminho para a primeira aula.
— Oi, Emma. — ele parecia envergonhado e sem saber o que dizer. — Que bom te ver logo agora, porque queria te pedir desculpas por ontem à noite.
— Certo, está desculpado.
— Estamos começando um novo semestre, não quero perder sua amizade e estragar tudo. Ainda somos amigos?
— Claro que sim, amigos. — apertam as mãos e sorriem.
Era hora de seguir em frente e amadurecer, e quem sabe, esquecer Ethan Banks e guardar o seu coração no Senhor, para não sofrer mais nenhuma dor.
Os dias foram passando, e com isso, os meses também se passaram e quando Emma foi se dar conta, fez-se quatro meses que Ethan fora embora para Tonga. O coração da jovem ainda sentia saudades dele e sempre se perguntava se um dia teriam dado certo juntos. Já perto do final de mais um semestre e entrando no mês de Dezembro, ela agora apenas aguardava o momento de terminar todas as provas finais e saber seus resultados, para poder ir para casa e curtir o fim de ano na companhia da família.
Numa certa tarde nevada que ela estudava no quarto, seu notebook apitou com um barulhinho de chamada de vídeo. Abrindo-a, recebe uma grande surpresa, era Ethan. Ele estava diferente e parecia mais mudado, a começar por ter cortado os cabelos e tirado a barba.
— Emma! — ele sorri, a observando pela webcam. — Que saudades! Estou na capital, portanto aproveitei para te ligar por aqui e falar com você. Como está? Como vão as coisas na universidade?
— Está tudo bem, Ethan. Também senti sua falta. — confessa, envergonhada. — Fiquei preocupada por não dar notícias.
— Estes últimos meses eu fiquei numa aldeia nativa com os missionários, e bem, lá não pega internet e nem muito menos sinal de celular. — ele dá uma risadinha. — E também não tem energia elétrica e água encanada.
— Nossa, você é corajoso. — ela sorri. — Acho que eu não sobreviveria sem ter nem que seja água encanada.
— Bem, eu já até me acostumei. Agora estou na capital e me sinto confortável novamente. Percebi que também resolveu mudar o visual. — diz, a encarando pela câmera.
— É, foi ideia da Steph. — Emma passa a mão nos cabelos curtos, tímida.
— Ficou linda. — elogia ele, sem que ela esperasse.
— Obrigada, Ethan. — ela morde o lábio inferior, corando. — Mas me conta da missão, como tem sido?
Ele lhe conta sobre os desafios que estavam sendo pregar para os nativos e enfrentar algumas perseguições que surgiram contra o grupo missionário. Alguns aldeões se oporam ao trabalho deles.
— Foi difícil, mas não impossível. Enfrentamos oposições, mas o evangelho genuíno de Cristo venceu no final. — conta ele, feliz. — Agora faremos um trabalho de evangelismo por aqui na capital, e depois de um tempo iremos para outros lugares remotos também.
— Fico feliz por estarem conseguindo, mesmo com as oposições surgindo. Isso só mostra que Cristo está com vocês.
— Assim eu creio. — sorri. — Ainda tenho mais alguns meses por aqui, e sei que muitas surpresas me aguardam até lá.
— Você pretende voltar? — pergunta, incerta.
— Eu estava querendo há algum tempo retornar para à América, mas a cada dia que se passa eu sinto que o Senhor me quer aqui. Então, isso é algo que cabe à Ele me responder.
— Entendo. — ela esconde a decepção. — Seja feliz, Ethan. Não importa onde.
— Também lhe desejo o mesmo, Emma. — a voz dele sai num fio de tristeza. — Estou com saudades de você e do pessoal também.
Conversaram por mais algum tempo até a hora de Ethan precisar sair. Quando se despediram, o coração de Emma estava em pedaços. Queria tanto que ele voltasse, queria tanto poder dizer à ele o que sentia, o que a incomodava. Mas agora ela entendia que nada poderia ser feito da forma que ela queria, e sim apenas com a vontade de Deus.
— Senhor. — ela começa orando, de cabeça baixa e lágrimas rolando. — Se não for da tua vontade esse sentimento, tira do meu coração. Mas se for do teu querer que aconteça, que assim seja. Estou pronta para cumprir a tua vontade.
E assim, com a certeza daquela oração, Emma confiou e descansou seu coração no Senhor.
Quando o ano letivo finalmente acabou,todos foram para casa passar o fim de ano com a família. Emma ficou feliz com a possibilidade de rever seus pais, seu irmão e cunhada, e até mesmo o cachorro,Malhado.
— Agora sim a família Collins está completa, nossa caçulinha chegou! — anunciou seu pai, logo que Emma estacionou com o carro na frente de casa.
Após todos terem se abraçado, eles entram para o conforto quentinho do lar, pois nevava muito lá fora. Até mesmo o cachorro também foi colocado para dentro de casa por causa da imensa onda de nevasca.
— Como está, filha? — sua mãe pergunta, enquanto a ajuda a desfazer as malas.
— Estou bem, mãe. — se limita a falar pouco.
— Daqui a pouco é hora do jantar, descansa e depois desce pra comer com a gente. —sorri para a filha e sai.
O jantar foi animado e bem divertido. Sempre na época de natal e ano novo todos ficavam reunidos até a virada de ano, era quase como uma tradição. Sua mãe fazia aqueles suéteres natalinos, seu pai costumava gostar de decorar a casa e Josh montava a árvore com a esposa.
— Como foi o semestre, filha?— seu pai pergunta, enquanto jantavam.
— Foi bem, pai. Deu tudo certo.
— E aquele seu professor? Ele está bem? — Josh pergunta, curioso.
— Sim. Ele foi embora para ser um missionário em Tonga. — conta, sentindo seu coração doer por dentro.
— Uau, que mudança! Deus realmente operou milagres na vida dele, fico alegre por isso.
Emma também ficou feliz por Ethan ter mudado de verdade, mas a distância e a forma com que foi embora, a deixou desolada.
Depois do jantar, ela e a cunhada lavaram a louça e terminaram de arrumar a cozinha. Quando todos já haviam subido para ir dormir, Emma ficou na sala, observando a neve cair pela janela e tendo a companhia de Malhado aos seus pés.
— Não vai dormir, Emma? — sua mãe surge na sala, vestida num roupão de dormir, com uma xícara de chá em mãos.
— Vou daqui a pouco, mãe. Estou sem sono ainda.
— Está mesmo tudo bem?
— Claro, está sim.
— Olha, eu te conheço bem, sou sua mãe. Conversa comigo.
Emma a olha com um jeito sôfrego, não queria mais tocar naquele assunto, ainda mais agora que queria descansar no Senhor, mas uma companhia feminina e ainda mais a de sua mãe, ajudaria sim.
— Mãe, eu me apaixonei.
Depois de ter aberto seu coração para sua mãe, ela recebe um abraço reconfortante dela e muitos conselhos.
— Eu sempre fiquei me perguntando quando que esse dia chegaria. — sua mãe sorriu, afagando os cabelos de Emma.— E agora ele chegou e estou aqui, pronta para lhe aconselhar.
— E o que aconselha para uma jovem que se apaixonou pelo professor que implicava com ela? — pergunta, dando uma risadinha.
— Olha, se verdadeiramente o Ethan mudou e agora está buscando uma nova vida com Jesus, cabe à você esperar e deixar com que o Senhor guie o seu coração. Muitas vezes o nosso coração se precipita, mas também pode ser que seja da vontade de Deus que vocês fiquem juntos, mas não nesse tempo.
— Como saberei se é da vontade do Senhor?
— Simples, fale com Ele. Ore ao seu Deus, minha filha. Se através de você o Ethan voltou para Jesus, talvez também seja com você que ele recomeçará uma nova vida. Mas agora tenha calma, deixa ele lá em Tonga, fazendo o seu trabalho missionário, sendo moldado pelo Espírito Santo e virando um novo homem. Quando é de Deus, tudo conspira para dar certo. — e após dizer isso, abraça a filha com carinho.
Aquela conversa com a mãe foi como um bálsamo para o coração inquieto da jovem. Deitando-se em sua cama e tendo ainda a companhia do cachorro, ela fecha seus olhos e ora, pedindo ao Senhor para ter confiança e paciência.
Depois da oração, ela levantou o olhar e encarou a janela, que estava sem a cortina e dava para ver o céu estrelado. Naquele momento ela se perguntou se talvez lá em Tonga estaria de noite ou de dia.
Era melhor não pensar muito nisso, só o tempo diria o que seria dela e de Ethan.
É, gente, as coisas complicaram um tiquinho pra Emma. Ao que tudo indica, parece que Ethan não vai voltar nem tão cedo, mas será que alguma coisa pode acontecer e mudar todos os planos? Próximo capítulo saberemos melhor...
Uma notícia triste para quem acompanha, só falta uns cinco ou seis capítulos pra acabar :(
Acreditem, também não estou preparada para me despedir deles. Mas fiquem aqui comigo que muitas surpresas podem acontecer ainda...
O que acharam em saber que Tom tem sentimentos pela Emma? Será que ele vai deixar pra lá?
Aguardem por mais babados...
Como diria na minha terrinha, um cheiro!
Fui-me!
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