Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

➤ Capítulo II ⚜ Sabrina 🚬

      O entardecer iniciou-se com preguiça sobre a cidade de Auburn, as nuvens amareladas dissipam-se no céu rosado enquanto observava atentamente no banco da pracinha as aves sobrevoarem as cabeças dos milhões de habitantes.

Ao horizonte, o poente se despedia, tristemente, de mais um dia que se esvaía diante de nossos olhos despretensiosos, enquanto que desejava boas-vindas ao anoitecer tranquilo do Alabama, ao sudeste dos Estados Unidos.

Essa região se limitava com Tennessee ao norte; no sul tem o Golfo do México junto da Flórida, ao leste vem a Geórgia e, finalmente, mas não menos importante, a oeste está Mississipi.

— Alô? – Sussurrei retirando o maço de cigarro dos lábios. — Danilo? O quê? Fala mais devagar! – Resmunguei.

São os pesadelos de novo, Sabrina! Tem que voltar aqui, precisa me ajudar! – Falou ele com desespero na voz.

Suspirei exalando toda aquela fumaça acumulada dentro daquele objeto viciante e pequeno pela boca afora.

Como algo tão, visivelmente, pequeno e sem graça poderia ser uma máquina de prazer instantâneo? Encontrava meu nirvana facilmente quando o sugava, parecia até um ímã que me prendia contra todos os meus esforços de jogá-lo fora.

— São só pesadelos, Danilo, vão passar quando você acordar. Não precisa de uma babá como eu por perto, aliás, você já não é criança a muito tempo, coroa. – Digo sorrindo no final, ele bufou pela minha petulância e desligou na minha cara.

— Idiota… – Murmurei visualizando seu contato com corações em meu celular. —… mas o coroa sabe o que faz na cama. – Sorrio mordendo a capinha do aparelho o desculpando.

— Hey, moça! – Dissera um cara próximo a loja de conveniência, local onde havia saído a pouco tempo. — Esqueceu o troco.

— Oh, obrigada. Nossa, ando tão distraída… – Falei esboçando um sorriso constrangido.

Ele acompanhou sorrindo minimamente enquanto me entregava os trocados em moedas. Seus olhos são tão escuros quanto o anoitecer que viria a seguir, mas seus cabelos loiros faziam daquela imagem paradisíaca a minha frente bem mais exótica.

— Você… tem algum compromisso depois de seu expediente? – Perguntei fingindo desinteresse.

Ele sorriu como quem já entende o recado implícito e gesticulou um "não" com a cabeça. Em seu crachá dizia-se Rodrigo Blackwood, um atendente que jogava carisma a qualquer outro cliente – seja ele quem for – enquanto era responsável pelo caixa da loja.

— Não, na verdade, depois daqui pensei em voltar para minha cama quentinha. – Disse ele fechando os olhos e se imaginando em sua casa.

— Não é uma má ideia para mim… – Sorrio dizendo-lhe com ambiguidade.

Ele não só aproveitou daquele momento para se aproximar de mim, como também roçou seus dedos, vagamente tortos, por cima de minha pele alva. Sua mão deslizou de meu queixo arredondado até a têmpora onde seu polegar formava círculos e mais círculos me deixando numa zona de tranquilidade imutável.

Como ele era bom com os dedos!

— Preciso ir… meu chefe vai ficar furioso se me ver longe do balcão por muito tempo. – Sorriu ele convencido de me ver a mercê de seus encantos, soltei muxoxos baixinhos e assenti.

Quando foi que virei uma cadelinha tão obediente?

— Então, eu já vou. – Digo fechando a feição numa carranca.

Ouço sua risada por trás de mim, parecia se divertir com minha frustração de uma possível foda, e estava prestes a jogar meu skate na rua quando ele segurou o meu cotovelo e puxou-me ao seu corpo.

— Mas isso não quer dizer que a gente não se veja na minha casa mais tarde. – Diz com malícia, os cantos de seus lábios finos entregavam um sorriso presunçoso.

— Só que eu não faço a mínima ideia de onde ela seja, baby. – Ri arqueando a sobrancelha.

— Não é problema, meu turno já está no fim. – Sussurrou ele atiçando-me desde que seus talentosos dedos fizeram um belo trabalho em mim.

Se ele já é bom assim, imagine em outros lugares…

— Ok, eu te espero até lá. – Sorrio me sentando na pracinha.

Ele retribuiu dando-me uma piscadela.

Tolinho… mais um pato que adorarei depenar.


◥◤◢◤◢◣◥◣⚜◥◤◢◤◢◣◥◣


Ele tinha jeito com a boca, mas não sabia usá-la corretamente. Rodrigo tinha uma lábia muito rara nos dias atuais, no entanto, isso não valia de nada se não consegue persuadir uma garota para sua cama.

— Dormiu… porra Rodrigo, você dormiu cara! – Digo enfurecida. Visto-me rapidamente com as roupas que joguei sobre o chão, minha lingerie de renda parecia só um enfeite que não serviu de nada.

Droga! Ele dormiu justamente quando as cosias estavam esquentando!

— Bem, pelo menos não vou precisar transar com você para conseguir pegar suas coisas. – Sorrio conversando comigo mesma. —  Então, obrigada meu caro Blackwood.

Ponho-me de pé quando o ouço roncar. Ele mantinha um sono sereno, seus braços estavam enlaçados ao travesseiro da cama de casal e suas pernas totalmente abertas ocupavam todo o móvel como uma criança ambiciosa por mais espaço.

Suspirei com frustração, pois me lembrava da vez em que visitei Washington e conheci Owen Meddley em Seattle. O maldito era mais liso do que eu poderia ser no início da minha "carreira".

Tínhamos nos encontrado num bar próximo ao bairro rico, ficamos conversando sobre amenidades quando um dos caras que se serviam de cerveja se dispôs a nos importunar. Quando percebi ambos estavam grudados aos socos e chutes, Owen estraçalhou o rosto do outro homem enquanto que este conseguira só quebrar a perna dele.

Depois do hospital resolvi que devia-lhe um presente de consolação pelo feito estupidamente heróico, transamos como dois coelhos em seu apartamento de quinta categoria e dormimos totalmente exaustos. Ao amanhecer, notei que o cara não era nenhum pouco diferente do outro que havia sido levado ao pronto socorro pelas múltiplas fraturas musculares.

Era mesquinho, troglodita, e pão-duro; e posso dizer-lhes tudo isso porque antes mesmo de capotar na cama o homem se mostrava tão arrogante e presunçoso quanto o cara que vimos antes de ser levado as pressas pela ambulância.

Ninguém realmente teve coragem de ligar para a delegacia local, porque mesmo que tudo estivesse caindo aos pedaços e desabando diante de seus olhos, todos sabiam que os únicos que podiam dar um jeito naquilo não era aqueles fardados que só enxergavam suas próprias verdades.

O que é a polícia no meio de golpistas afinal? Um monte de vítimas fáceis de enganar, isso sim.

— Pelo menos você tem dinheiro, né baby? – Falei me encaminhando à sua escrivaninha com euforia. Lá, encontro não só sua carteira cheia de cédulas, como também alguns documentos que não perco tempo somente em deslumbrá-los e ponho-os por escrito num papel no bolso.

Coitadinho, queria uma noite prazerosa, mas quando acordar não terá nada menos que um quarto vazio e, por um fetiche incomum de minha parte, sem uma de suas camisas.

Adorava uma roupa masculina, ainda mais com as pessoas as quais me diverti; detalhe, disse "pessoas" e não somente "homens".

Minha lista de vítimas não se limitava ao gênero, então, não me calava ou interrompia minhas ideias de arrancar dinheiro só porque tal pessoa fosse do mesmo sexo.

Tudo acabava sendo ainda mais divertido.

— Não é como o outro, graças a Deus! O pobre Owen… tive que pegar só sua camisa porque o maldito não tinha um tostão no bolso e em nenhum lugar do apartamento! – Disse eu com irritação ao relembrar daquele momento.

Em Las Vegas, onde conheci Danilo Chávez, meu coroa favorito, meus dias se tornaram bem mais coloridos e sofisticados do que aqueles na qual tive de conviver em minha terra natal, uma total miséria. Lá, não só nos conhecemos…intimamente, como também fizemos um acordo de cumplicidade caso um de nós saísse dos eixos dos negócios ou precisasse de ajuda.

O pobre Rodrigo fazia parte dessa lista de eliminação. Antes do Sr. Chávez se tornar um grande milionário houvera muitas desavenças em seu passado que Auburn nunca esqueceria e, no final, sobrava para mim resolver esses problemas. Entretanto, nos últimos dias nós nos afastamos por motivos nas quais não queria me dizer, mas já suspeitava, passei boa parte de minha vida peregrinando de cidade a cidade procurando alvos fáceis para sobreviver até aquela ligação bizarra de Danilo me ferrar novamente.

Por que, simplesmente, o velhote não me esquecia?

Suspirava pela milésima vez repassando em mente tudo que devia fazer como um mantra que dirijo desde que decidi trabalhar por mim mesma. Sairia de fininho por aquela casa e nunca voltaria a pisar aqui novamente, senão, teria um expediente nada agradável numa cadeia, invés de uma cama macia.

— Até que foi divertido conversar com você, Rodrigo, apesar de não termos nos divertido realmente. – Digo bufando profundamente. Alisei seus cabelos loiros e beijei o topo de sua cabeça me despedindo assim, sem choro ou implicações.

Ou então ameaças.

Peguei meus pertences jogados no chão e pus-me a pô-los rapidamente, retoquei a maquiagem no banheiro e guardei meus presentinhos na mochila que carregava nas costas.

Ele não devia se lembrar de mim pela manhã, talvez até se esqueça…será o melhor a todos.

— Se recomponha, mulher. – Falei a mim mesma esfregando as mãos sobre o rosto. — Você já está bem grandinha para saber que ninguém se prende a ninguém por tanto tempo.

Ninguém se prenderia a mim.

Com esse pensamento em mente consegui sair daquela residência, sorrateiramente, sem o remorso de tê-lo roubado e joguei meu skate – que havia deixado no espaçoso jardim – na rua onde me encaminhei apressadamente pela estrada afora.

Ninguém se prenderia a alguém como eu, essa é a verdade que mais temia.


◥◤◢◤◢◣◥◣⚜◥◤◢◤◢◣◥◣


O maço de cigarro estava completamente riscado, como se alguém tivesse rabiscado com as unhas sobre sua tintura, e bem provável fosse, mas não fui eu. Na época, meus pais o usavam para afastar o estresse matinal, as brigas entre eles ou o bom e velho vício do tabaco. Danilo era outro viciado que não conseguia ficar longe de seus charutos enquanto tentava, inutilmente, esconder esse abismo de abuso contra sua saúde da família.

— Do que adianta nadar contra a maré, no final, todos são levados pela correnteza dela. – Falei comigo mesma acendendo a cigarrilha com o isqueiro.

O objeto metálico exibia um brasão familiar aos meus olhos acastanhados, era a imagem de uma erva com folhas finas e espalhadas pelo caule. Sua forma me fez sorrir pela lembrança de que meus pais gostavam tanto do prazer de um bom medicamento que não tardou a terem uma estufa de maconha no quintal.

Não é de se esperar que algum dia eu fosse alguém tão fanática por ela quanto eles. Lembrar daqueles momentos também me faziam rememorar o dia em que fugi de casa, quando perdi minha honra como filha Sra. Carter não teve escolha, em sua mente, retirar meu nome de sua família.

Para ambos sou uma garota órfã, e boa parte de mim não lhe deseja maldade ou quaisquer sensação de rancor, mas ansiava que um dia ela pudesse me perdoar por tê-la deixado tão decepcionada. Sr. Carter, como devo lhe chamar agora, não me ligou depois que saí daquela casa, pelo contrário, registrou em rede sociais que as indústrias farmacêuticas estavam cada mais firmes com os atuais regimentos de legalidade, mas não citou que sua única filha havia ido embora.

— Talvez tenha sido a melhor escolha que fiz em anos… ou talvez não, quem sabe? – Sorrio abobalhada, o nirvana vinha gradativamente enquanto a sensação de paz levava meus problemas para longe.

Naquele dia estava adorando minha companhia, mesmo que fosse algo solitário de se dizer, conforme observava na TV as últimas notícias.

Um homem morre dentro de casa com uma bala na cabeça, deduzem que tenha sido um ato de suicídio… – Disse o repórter que dizia sua notícia por detrás do balcão. — Ele tinha um pouco mais de vinte anos, era desempregado e frequentava uma clínica psiquiátrica desde que saíra do acidente num orfanato, na qual tinha saído. Sua doutora, senhorita Julieta Jensen, não se depôs a contar sobre o caso e tampouco o que ambos tiveram, mas é provável que havia um relacionamento entre eles mesmo sendo um paciente e profissional.

Minha visão foi capturada a tela, o homem que contava aquela história mirabolante continha olhos acinzentados, cabelos grisalhos e lisos, porém, o olhar parecia de um jovem na flor da idade.

Um verdadeiro contraste de um coroa conservado.

— Quando se morre é que prestam atenção em pessoas como nós. É uma tristeza mesmo… – Balbuciei entretida demais em meu cigarro para ouvir realmente o noticiário.

—… Seu nome era Edwin Owen Meddley, um jovem mergulhado no vício do álcool e seu histórico será revisto pela delegacia de Washington. – Terminou ele com o habitual tom sério, profissional e solene.

Ele disse… Owen?

— Que merda é essa!? – Falei alterando algumas notas de minha voz.

E então, como numa cena de cinema, minha mente se voltou para aquele mesmo dia em que nos conhecemos, principalmente, no momento em que Owen me contou sobre seus pesadelos.

Eles vêm por meio de vozes, mais como crianças, todas rindo e tentando conversar comigo, mas na maioria das vezes decido por ignorá-las, minha psicóloga vivia me enchendo o saco, dizendo, "você precisa de mais passatempos, pode ser que isso te ajude a distrair sua mente e faça com que elas sumam". – Dizia ele sentado rente a mesa, enquanto nas mãos segurava uma garrafa de cerveja e na outra o copo.

E você fazia o que ela pedia?

— Óbvio que não! Minha única saída para fugir dessas loucuras está bem aqui! – Falou risonho ao balançar a bebida.

Não pude deixar de notar que seu semblante parecia de um homem cansado e completamente frustrado com a vida que levava, mas não fazia nada para mudá-la. E, apesar da pouca idade e do porte robusto de um touro Edwin andava lentamente, torto e constantemente com a respiração fadigada. Diziam por lá que Owen sofria de uma síndrome de Benjamin Button, mas, até para mim há limites para certas brincadeiras.

Então, você desistiu de fazer mais sessões?

— Não, ela me recomendou uma outra profissional, de preferência, mais paciente comigo e rígida. – Diz sem conter uma careta no final.

A menção da nova médica o fez sorrir depois, um sorriso contido e cheio de significados, diferentemente dos inúmeros que ele me dava para cativar minha luxúria. Talvez, só talvez, pelo fato de serem mais que apenas cliente e profissional e isso fosse considerado algo inteiramente antiético, tenha atiçando ainda mais minha curiosidade. Quanto ao assunto "antiético" não poderia julgá-los, afinal, quem sou eu para fazer isso?

Logo porque não sou nenhuma santa.

E esses pesadelos… você sabe por que tem eles?

— Ah… acredito que seja do meu passado. Tem coisas que não há como esquecer e mesmo que conseguisse eles voltariam para me atormentar. – Respondeu-me sacudindo os ombros em desinteresse.

Ou seria impressão minha?

Eu bem sei disso… – Sussurrei retirando o maço do meu bolso.

Ele me observou por cima dos ombros quando já estávamos fora daquele bar e caminhávamos em direção ao seu apartamento, seus olhos de topázio me fitavam em cada movimento sutil que fazia, ora por me ver acender o cigarro ora o sugando com urgência e o sobressaindo pelo nariz.

Isso vai te matar, sabia? Destruir seus pulmões de dentro para fora…

— E você vai ter cirrose e nem por isso estou te julgando, então, xiu! – Falei com o dedo em rente ao seu rosto, ele revirou os olhos esverdeados conforme nos aproximávamos do prédio. — É aqui que você mora?!

A tintura daquele prédio estava descascando e parecia que iria cair a qualquer instante pela altura um pouco inclinada, quase nos proporcionou ver as cores dos tijolos entre as janelas, mas a grande indignação que não deixei despercebido foi o tamanho exagerado do aluguel que o síndico pôs nas grades do portão de entrada.

Um completo absurdo!

— Se tiver outro lugar a madame pode ir. – Disse-me com deboche.

Quem me dera fosse uma madame. – Sussurrei ao atravessar o local sem realmente encará-lo, isso por causa do cometário infame.

Pode ser que nem seja tão ruim por dentro.

Suspirei em frustração ao adentrar o saguão e sentir todos os odores nada agradáveis e, quase, impossíveis de alguém tê-los dentro de um lugar como este. Tudo mais parecia um chiqueiro. O fedor, a bagunça, o cenário destruído faziam dali um verdadeiro campo de guerra e, para ser bem sincera, Owen não tinha nenhum resquício de que se importava com aquilo ou se iria algum dia discutir com o proprietário sobre isso, mas ele via em mim que estava prestes a explodir de agonia.

Relaxa, lá encima não está tão ruim quanto aqui. – Sorriu ladino abraçando meus ombros com intimidade.

E, depois de duas ou mais garrafas de cervejas e alguns minutos enrolados sobre a cama, confidenciamos nossos segredos que nem mesmo os meus melhores amigos, da época, saberiam sobre mim. No fim, seus pesadelos tinham razão; ele era só um garoto assustado, um simples menino arrependido, um resultado que sentia-se descartável por causa do que o passado lhe submeteu a fazer, mas não saberia ao certo o que seria ou o por quê.

Era um enigma até mesmo para ele.
E esse foi o seu erro…

◥◤◢◤◢◣◥◣⚜◥◤◢◤◢◣◥◣


O Texas nunca foi o meu destino preferido ou onde desejaria vir como um sonho realizado, mas ali estava eu, estagnada no quintal de meus avós, o gramado pinicando irritantemente a pele de meus ombros expostos e o sol banhando meu completamente corpo. O vestido floral de alças finas e vários babados abaixo dos joelhos me tranquilizavam, pelo menos um pouco, ainda mais depois dos seguintes ocorridos nos últimos dias.

Rodrigo me denunciou após aquela noite e não demorou nem 24 horas para que meu rosto e nome sejam procurados por todo o Alabama como se fosse de um condenado assassino, por outro lado, estranhamente não atingiu tanto meu incômodo quanto pensei que ficaria, mas a menção e a lembrança de Owen ainda me faziam ter sonhos ruins à noite e não diminuíam mesmo com a ajuda de minha vó trazendo chás na madrugada.

Felizmente, são os únicos que me aceitavam e não necessitavam da permissão de meus pais para me abrigar – porque eles realmente vieram discutir sobre mim aos meus avós –, mas também não tinha auxílio deles para sobreviver. Então, éramos só nós três e fazíamos daqueles dias ruins que dominavam minha mente em algo de bom para conversar no dia seguinte.

Dane-se os meus pais.
Dane-se o Rodrigo.
Dane-se o Danilo.

Dane-se o…

— Sabrina! – Chamou-me na soleira da porta, minha vó me esperava na cozinha com o pano de enxugar pratos no ombro. — Venha comer, está na hora do almoço menina.

— Já vou! Pode ir comendo que já estou indo! – Falei me levantando do jardim que ela tanto cuidava com carinho. — Dane-se você também, Owen. – Sussurrei a mim mesma conforme uma repentina ventania soprava em meu rosto.

Vovô puxava assuntos diversificados sentado rente a mesa de jantar; focando entre mim e as brincadeiras ácidas de que algum furto recente na cidade seria obra de alguma garota baixinha, de aparência dócil e com curtos cabelos amendoados, mas eu e vovó sabíamos que este era uma de suas maneiras de me distrair dos conflitos que permeavam minha mente.

Eles me ajudavam abrigando-me até que a poeira abaixasse e em troca conseguia estoque por dois meses via internet, nunca pensei que as semanas estressantes de curso de informática fosse ser de grande importância agora.

— Vovó, sua comida estava divina! Mais um pouco e vamos te perder para algum programa do Master Chef. – Brinquei beijando o topo de sua cabeça, ela sorriu envergonhada enquanto vovô concordava.

— Oh, querida, não é para tanto! Agora vá, está na hora de descansar. Lembre-se que se os pesadelos começarem tem chá guardado na prateleira encima do fogão. – Avisou-me acariciando minha mão, vovô levantou-se assim como ela e terminavam de arrumar a mesa para irem dormir também.

— Sim, senhora.

Naquelas tardes de verão o tempo parecia outro. Dormia por horas que mais pareciam um verdadeiro sonho do que os pesadelos vivos que temia na cidade grande, pois se você apagasse por uns instantes em algum motel quando acordasse já estaria preso em alguma cela e não saberia o porquê de estar ali.

Digo por experiência própria.

— Nada de pesadelos. Nada loucuras, nada de Owen. – Murmurava ao deitar na cama de solteira, suspirei pondo as mãos por cima do abdômen e fechando os olhos no trajeto.

Pesadelos são, em suma, basicamente, sonhos deformados que chegaram a se manifestar inicialmente dentro de cada mente humana com o único e simples propósito: criar o caos, o medo e a morte em massa.”

Eram murmúrios. Sons vindos do guarda-roupa de madeira e que se assemelhavam a vozes de garotos juvenis, a porta tremia violentamente como se algo dentro dali quisesse fugir, mas que a tranca imaginária os impedisse disso. Minha garganta travou, nenhuma ação foi feita por medo de que isso trouxesse a chave para aquele trancamento. E, de repente, o inevitável aconteceu, ele se abriu.

Sabri… na…! – Sussurraram com malícia.

— Calem a boca, vocês não são reais! – Gritei girando o corpo para o lado oposto da cama, pus as mãos nos ouvidos impedindo que suas vozes me amedrontasse mais.

Quantas vezes tínhamos que ficar nesse jogo de gato e rato?!

Nós… somos… sim! Nós fazemos parte de você… – Disseram eles com convicção, mas nada do que falassem me faria acreditar nisso.

Silêncio.

Tudo pareceu se acalmar e por um segundo pensei em abaixar as mãos do rosto e tranquilizar minha pulsação irregular, porém, os sons de passos pesados caminharam até mim com desespero, o piso era martelado como de uma pessoa assustada que corre em direção a sua salvação de um monstro em seu encalço, e a única reação que pude fazer foi olhá-lo diretamente me arrependendo depois.

OLHE PARA MIM, VADIA! OLHE O QUE VOCÊ ME FEZ! – Gritaram em uníssono, sua entonação viera carregada de brutalidade e rouquidão.

Seu rosto era uma inspiração às pinturas de Pablo Picasso com seus auto-retratos; tão abstratas e ao mesmo tempo aterrorizantes com seus milhares de olhos e bocas. Seus braços eram multiplicados, assim como as pernas, e temi que fossem feitas de vários corpos em fusão de um só.

Entretanto, ainda que aquela criatura tivesse a imagem do pesadelo encarnado, a única coisa que realmente me fez arrepiar até o último fio de cabelo foram as vozes.

Vozes das quais sabia de quem pertenciam. Algumas vezes eram de meu pai, outros de Danilo e, por último, de Owen.

Por que tinha memórias dele?

Pesadelos como estes eram frequentes na minha infância, mas as vozes eram menos desesperadas, pois vinham de meu pai que adorava somente de subjulgar e me subestimar por ser sua única filha. Depois que conhecera Danilo eles ficaram mais revolto e mais rebeldes, tudo piorou ao me convidarem para uma roda de fumo numa das viagens em que o Chávez fora convidado.

Ou teria tudo melhorado?

A questão era que, quanto mais fumava mais daqueles pesadelos pioravam, mas também não costumavam voltar. Ainda mais quando aumentava a quantidade ao dia. Lembro-me de que passava de vinte cigarros por dia, mas aquilo não era o suficiente, precisava de mais! Então, comecei a furtar as coisas de meus pais para ter mais. Logo, eles descobriram e, apesar do trabalho com que viviam, não suportaram que sua filha tivesse o mesmo fim e que fosse um projeto de ladra burguesa.

E uma fumante assim como os pais.

Então, saí de casa sem honra e grana para sobreviver, vaguei sem rumo por Las Vegas onde avistei um senhor que necessitava de alguém ao seu lado, mesmo que esta tal pessoa tivesse que se sujeitar a ser uma simples amante. Dentre os altos e baixos da vida ele me proporcionou tudo o que merecia e que meus pais negligenciaram, além de pagar pelo meu vício e a libertinagem que a juventude nos dava.

Confesso que fui feliz por aqueles anos que ficaram marcados em minha adolescência conturbada, mas seria mentira se dissesse que foi tudo um mar de rosas. Sua esposa nos pegou no flagra próximo do aniversário de casamento, o que foi uma completa babaquice da parte dele, mas que resultou em nossa separação "temporária".

Depois, com a crise da bolsa de valores, quem se cansou daquelas noitadas foi eu, decidi que preferia estar entre negócios em dinheiro do que em sexo, porque no fim dava ainda mais lucro do que imaginei que desse, éramos dois sócios com excessos de dinheiro no bolso no final do dia.

Tudo acontecera tão rápido quanto pensei que uma bala atravessaria um corpo.

Meus pais se divorciaram por culpa minha, dito por eles para que pudesse voltar para casa, mas continuavam juntos para que a mídia não fortalecesse a ideia de derrubar a empresa que passou anos para se erguer. Danilo tivera uma melhora no casamento com sua mulher, porém, desejava que voltássemos a ser o que fomos no passado, dois amantes impulsivos.

E mesmo que grande parte de mim desejasse que nada daquilo tivesse acontecido e que uma gigantesca borracha apagasse o rastro hediondo que acarretou minha vida, não poderíamos mudar o passado ou esquecê-lo e, com isso em mente, finalizei aquele laço de familiaridade e cumplicidade entre ambos os problemas.

Mas nada daquilo foi o suficiente para apaziguar o anseio de mais uma cigarrilha e também o medo de ser exposta.

— Eu não fiz nada a vocês! – Falei voltando de meus devaneios. — Vocês estão mortos para mim.

Isso é o que você diz aos seus avós, mas sabemos que não é verdade. – Responderam formando um sorriso presunçoso.

— Papai me largou, Danilo já tem uma vida novamente e Owen… ele está morto! – Enumerei a ele tomando cuidado com qualquer movimento brusco, no final, estávamos um de frente para o outro.

Meu coração parecia que saltaria do peito a qualquer instante.

O corpo sim, a alma… talvez não. – Falou semicerrando a grandiosa boca sem dentes.

Seus olhos eram fundos, sem o globo ocular, apenas o vazio e a escuridão imensa que se aprofundava toda vez que o encarava. As centenas de mãos começaram a se fundir uma nas outras, e o que restou fora uma espécie humanóide apavorante e grotesca.

— O que quer dizer com isso? – Indaguei arqueando as sobrancelhas em curiosidade, mas percebi que era isso o que essa coisa queria, atenção.

— Você não é real, é fruto da minha imaginação perturbada. Quando acordar você não estará mais aqui e tomarei meu chá antes que o sol nasça… – Falei engolindo em seco pela feição nada confortante que ele fazia conforme dizia em voz alta.

ME ESCUTE! – Gritou novamente.

A voz de Danilo submergiu daquele emaranhado, parecia desesperado e lembrei-me de sua ligação.

Droga, como ele deve estar agora?

Edwin teve que pagar pelo o que fez, assim como seu… querido amigo, Danilo pagará. E assim como você também.

— O quê? – Sobressaltei-me surpresa. — Do que está falando? Quem é você? Quer dizer, o que é você? Como acessou minha mente? É algum tipo de alien? Veio de alguma teoria da conspiração…?

Isso não importa… Nada importa quando se está prestes a conhecer o fim, apenas saiba de que não sou algo imaginado e tampouco vindo de você. – Dissera com superioridade.

O encarei, imaginando que estivesse fazendo algum tipo de jogo para me ludibriar, mas sua ausência de persuasão me fez recuar nessa possibilidade.

— Você não respondeu a nenhuma das minhas perguntas.

Porque não são dignas de uma resposta. – Rebateu sorrindo, um sorriso estranhamente malicioso.

Suspirei pesadamente me aproximando da parede. Sentia seu olhar me analisando enquanto me ajeitava naquele cantinho, sua boca era aberta de forma humanamente impossível, mas não parecia prejudicá-lo, nem mesmo se mexia quando falava.

Que pesadelo estranho.

— Será que pode me dizer por que está aqui?

Para te levar…

— Ai meu Deus! – Exclamei o interrompendo. — Não vou a lugar nenhum. Muito menos com você! – Lhe apontei o indicador de forma ameaçadora.

Ele, por outro lado, nem se deu a indignação por minha petulância e continuou em sua inércia a me encarar com aquelas fundas cavidades onde outrora ficava os olhos.

Mas irá. Cedo ou tarde, você far coisas que te levarão a mim, e eu te levarei… – Dissera com paciência, uma solenidade que fez estremecer.

— O que…

Sou uma entidade. Se quer saber, um ser advindo de prazeres pecaminosos. Edwin tinha a gula, necessitava de mais e mais para saciar sua constante fome, bebia para saciar o vazio que suas ações fizeram no passado. Você é a luxúria, e sabendo o que se trata sabe também que a ânsia pelo tabaco só aumenta sua volúpia arrebatadora. – Falou inclinando-se ao meu rosto, quanto mais ele o fazia mais meu corpo deslizava pela cama a fim de não deixá-lo tão perto de meu corpo.

— Então, você veio me levar para o inferno?

Talvez sim. Talvez não. A gula adora mentir, apesar de não ser o seu feitio, dizendo que pode ser alguém divina, mas eu sou diferente. E digo a você que seu destino não é nada formidável, minha querida Carter. – Diz zombando no final.

— Não sou sua querida. – Retruquei com coragem.

Que seja, de qualquer forma, você será minha e cedo ou tarde virá comigo. E mesmo que seu fim seja no inferno, pode-se dizer que não estou nada impaciente com sua chegada ao meu lar. Eu não sou tão descontrolado como a ganância… – Sussurrou se aproximando ainda mais de mim, sua boca escancarada balançava em meu ombro desnudo, mas não se mexia conforme dizia em meu ouvido.

— E se eu não quiser ir com você?

Bem, então, terei que trazer os meus bichinhos de estimação para te convencer do contrário. – Dizia-me com diversão, sua corpulência correu em direção ao espelho do móvel de onde havia saído e sumira diante de meus olhos.

A coragem pareceu sumir de meus ossos quando me deitei novamente na cama. E, como uma passe de mágica que já vinha esperando há horas, meus olhos se abriram mostrando-me de que era somente um sonho ruim, mais uma vez, na calada da noite.

Suspirei erguendo-me dali, cansada demais para pensar em como irei a cozinha tomar o chá que vovó me recomendou sem que fizesse barulho e acordá-los. Caminhei em passos largos ao banheiro mais próximo, minha pele clamava por algo que a molhasse ao invés do suor que pingava no pijama, adentrei sem tanta emoção e despejei a água em meu rosto pálido.

Aquilo não tranquilizou como pensei que faria.

— O que tem de errado comigo? O que tem errado comigo…? – Repetia sem compreender muito bem o que dizia a mim mesma.

Nós… fazemos… parte de você…

Essa era as únicas palavras que ainda reverberavam em minha mente e mesmo que as coisas estivessem ruins, nunca faria algo que realmente me levasse aquela coisa monstruosa.

Aquele demônio.

Sorrio a mim mesma relembrando de que fora somente um pesadelo como todos os outros que antecederam este, mas assustei-me ao notar de que algo não estava normal em mim, talvez fosse a iluminação ou a minha a visão turva de quem acabou de acordar subitamente.

Mas eu conseguia, tão claro quanto a água que caía em minhas mãos e descia pelo cano.

Nós… fazemos…parte de você.

Essa frase nunca me pareceu se encaixar tão bem quanto aquela imagem que fotografei em minha mente.

Dane-se meus pais, eles deviam ter me abraçado quando a situação apertou, e não ter me largado no mundo.

Dane-se o Rodrigo, um imbecil que ironicamente também acabou comigo, assim como fez com Danilo.

Dane-se o Danilo, e sua riqueza que não valeu de nada a não ser me jogar num poço sem fundo, aquele velhote pervertido.

E, então, percebi que poderíamos não ser tão diferentes assim, não só porque o pecado era o mesmo, mas sim pelo simples fato de querermos a mesma coisa…

O caos.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro