O chamado do redemoinho
Raidou olhou para o porta-retrato que havia recuperado do chão se perguntando se valia ou não a pena perguntar a Naruto desde quando ele conhece a Oiran que comanda a casa no distrito da luz vermelha. Porque ele tinha certeza que a mulher na foto, cercada de garotas que abraçavam um inconfundível Uzumaki, era sim Madame Yu, também conhecida como uma das mais infames tayū da nação do fogo.
"Naruto." Perguntou com a voz falsamente calma, porque todos sabiam que aquela adorável senhora havia cometido alguns assassinatos de pessoas importantes que não podiam ser provados e comandava casas como aquela em diversas vilas. Como antiga cortesã do daimyo, nem mesmo Danzo se arriscava em se meter com aquela mulher pela quantidade de poder que ela tinha no submundo.
O garotinho o olhou de onde tentava escapar de Shisui novamente. O Uchiha era bom em tentar tirar a cabeça dele da situação horrível, mas todos estavam esperando o momento em que levaria um katon na cara por atazanar a criança demais. Ele só havia escapado até o momento por Naruto estar ocupado demais ficando corado sempre que Itachi falava com ele.
(O que era absolutamente adorável e material para chantagem daqui a alguns anos. Raidou tinha uma ótima memória.)
"Hum?"
Raidou apontou para a fotografia e notou o momento em que os outros na sala reconheceram a mulher também, pela forma como pararam por um momento de se mover.
"Quem são suas amigas?"
Naruto empurrou a cara de Shisui para longe, tentando se erguer do sofá em vão. O Uchiha estava se comportando como uma planta trepadeira.
"Ba-chan Yu e as Nee-chan."
Raidou fez um som de entendimento que saiu um pouco estrangulado. Porque, pela idade que Naruto tinha na foto, aos cinco anos ele estava brincando no colo da mulher mais perigosa da nação do fogo. E a chamando de ba-chan.
"E como você...as conheceu?"
O garotinho deu de ombros, desistindo temporariamente da fuga. Era como ver um gato na dúvida se aceitava o carinho ou arranhava em resposta: "Ba-chan me abrigou um tempo, agora só vou lá visitar. Elas me ensinam coisas que só ensinam meninas na academia." Naruto franziu o nariz. "O sensei na academia brigou quando perguntei se podia. Ba-chan disse que é burrice não ensinar pra todo mundo, porque pode precisar."
Ninguém soube o que falar a isso, ao mesmo tempo isso explicava como uma criança de sete anos entendia tanto sobre venenos e flores. O resto era um pouco alarmante. Muito alarmante.
Shisui deu uma tossida, tentando manter um tom leve. Ele falhou. "Naruto, o que exatamente elas ensinam a você?"
Raidou perguntou se queria exatamente saber, mas agora ele teria que saber.
"Arranjos, dançar." Okay, não era tão ruim. Sentiu os outros relaxarem com isso.
"Dançar é um bom exercício." Itachi elogiou ao passar pelo sofá carregando uma planta para o telhado. Naruto, que estava parecendo muito perto de fazer um sinal suspeito de mão para se livrar do carinho excessivo de Shisui, parou quando o viu, as bochechas se avermelhando com a atenção do Uchiha mais novo. Ele parecia quase entrar em pane, o coitadinho.
O primo de Shisui era um milagre, até aquele momento só Kakashi parecia controlar aquele firecracker quando se irritava. Raidou se perguntou se podia considerar Itachi Uchiha como catnip.
"O que mais?"
"Venenos e manipulação. Ba-chan disse que faz parte da arte." O rostinho estava sério com a sabedoria. "Tem que se aproveitar para saber os segredos e tudo mais, ela me disse."
"Ah...Isso não é tão ruim." Shisui falou de forma relutante.
Naruto assentiu e então franziu o narizinho de novo. Raidou o viu focar em um ponto atrás dele e quase olhou para trás, apesar de saber que não havia ninguém lá. Como sempre, todos fingiram que não perceberam nada, mesmo ao sentir o ar mais frio logo nas suas costas.
"O resto disseram só quando eu for mais velho. Porque eu preciso ser mais velho para saber como tirar segredo das pessoas? É como no T&I? Como com Anko-chan?"
Raidou não sabia se ficava agora mais preocupado sobre Naruto conhecer e aparentemente estar aprendendo com a Oiran que já foi uma tayū do daimyo, ou que ele parecia conhecer Mitarashi tão bem ao ponto de chamá-la de Anko-chan.
"Hn." Shisui olhou ao redor pedindo a ajuda, por isso Raidou resolveu fingir que não estava vendo. Ele não queria nem começar a desenrolar esse problema. "Naruto, então, eu não sei se...sabe. Kakashi te explica depois, sim?"
"Bem eloquente." Raidou tentou não rir, ainda mais ao perceber a desaprovação de Itachi com o primo, mesmo ele usando uma máscara.
"Shisui."
A voz de Genma tinha uma tensão escondida ao sair do quarto, mas não parecia haver nenhum perigo mais por perto. As pessoas que haviam feito aquilo já haviam ido embora já há algum tempo.
"Por que não leva Naruto para o telhado e organizam o jardim? Tenzo está lá."
Os dois Shinobis trocaram um olhar e mesmo com os protestos do garotinho, Shisui sumiu com ele pela janela.
"O que tem no quarto?" Perguntou quase hesitante.
Genma escancarou a porta e apontou com a cabeça, o corpo tenso mostrando o quanto estava afetado. Genma, Raidou sabia, sempre teve um fraco por crianças, mais do que qualquer um deles, e ele havia sido da guarda pessoal da mãe de Naruto quando estava grávida. A parte por Kakashi, de todos eles, ele sempre foi o que não mostrou hesitação em quebrar as regras.
Colocou a cabeça pela porta e entendeu a raiva. Havia uma razão pela qual havia tão poucos gatos em Konoha depois do ataque de Nibi, os animais que sobreviveram aos ataques irracionais iniciais eram espertos o bastante para ficar longe da vila.
Olhou os gatos mortos na cama, o sangue sujando tudo ao redor, pintando as paredes com frases que preferiu não ler.
"Se ela estivesse viva..." Genma chutou a porta a fechando. "... essa vila não estaria mais em pé."
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Havia selos de sigilo por todo lado. Iruka entendia um pouco de selos e conseguia apreciar um trabalho bem feito como aquele. Se perguntava se havia sido Kakashi que havia os colocado ou alguém mais havia o feito. Aquelas linhas delicadas pareciam com as de Naruto, mas mais maduras e menos caóticas.
Aceitou o chá que o shinobi lhe ofereceu, apertando-o entre as mãos. Ainda conseguia sentir o terror da madrugada que não havia ido embora. Primeiro aquela voz, sentir o pico de chakra que reconhecia tão bem daquela noite, o medo do que aconteceria com Naruto dentro da sala do Hokage.
Era a primeira vez que percebia o absurdo da falta de poder do Sandaime para com o conselho, da influência que eles tinham sobre a situação que tornava a segurança na vida que Naruto tinha tão precária.
O Sandaime nem mesmo parecia conseguir olhar para a criança por muito tempo.
Iruka olhou para Kakashi, percebendo agora, de forma mais clara do que nunca, que aquele shinobi, infame em todas as nações, era a melhor chance de segurança que Naruto poderia ter. Se não fosse ele, Naruto estaria pelo menos ainda vivo? O Sandaime claramente estava comprometido demais para tomar uma decisão correta sobre ele, por melhores que fossem suas intenções.
"Desde quando eu comecei a duvidar do meu hokage?" Franziu o cenho, perturbado com o pensamento.
Mas o problema não era apenas sobre Naruto, era? Havia os Uchihas, algo que não teria percebido tão claramente se não conhecesse Shisui e Itachi como vinha conhecendo. Havia o próprio Kakashi e as missões suicidas. A corrupção dentro da academia, onde a educação estava sendo sabotada, o que influenciava diretamente nos shinobi que estariam na linha de frente. Havia o conselho e poder demais, curvando o Hokage que não sabia se impor.
Apertou a xícara ao se dar conta que ele nunca contaria o hokage o que estaria prestes a contar à Kakashi.
Inconscientemente, ele já havia feito uma escolha.
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Tenzo um dia acreditou que seria leal a Danzou Shimura por toda a vida.
Afinal, na época, o velho conselheiro havia sido a pessoa que aparentemente havia salvado sua vida e lhe dado propósito, lhe ensinado tudo o que sabia e lhe transformou no que era: alguém para servir sua vila.
Só depois ele percebeu que Danzou confundia ser leal com a vila e ser leal a ele. O homem podia até um dia ter tido boas intenções e apenas proteger o legado de quem foi seu sensei, mas o poder claramente havia o corrompido, se o fato de ele estar brincando de Kami com Orochimaru dizia alguma coisa.
Talvez por isso hoje em dia Tenzo ponderasse sobre lealdade tanto. Ele sabia que não era mais leal a Danzou e nunca mais seria, e ele pensou que sua lealdade agora seria da vila, logo do Hokage. Então, porque ele nunca contou ao Hokage sobre o que seu taichou fazia? Em como ele nunca obedeceu uma única ordem do Hokage quando essa ordem dizia respeito à Naruto Uzumaki?
Kakashi Hatake foi quem libertou Tenzo de Danzou e lhe deu um novo propósito, talvez tenha sido isso, mas era difícil admitir que sua lealdade talvez não fosse realmente da vila, mas do homem que lhe salvou de verdade.
E a lealdade de Kakashi, onde estaria? Tenzo, quando o conheceu, nunca pensou que encontraria alguém mais leal; Não existia ninguém mais leal do que um Hatake. E, no entanto, aos poucos ele percebeu que, com cada ordem que buscava separar taichou do jinchuuriki, a lealdade dele com o Hokage ia se deteriorando. Ou talvez Hiruzen Sarutobi nunca tenha sido o Hokage de Kakashi, da mesma forma que ele não parecia ser o Hokage de nenhum desses homens que estavam ali naquele momento, limpando aquele apartamento destruído.
Era uma estranha situação ver shinobis de elite fazendo aquele tipo de trabalho. Tenzo já havia utilizado mokuton para coisas mais estranhas do que criar móveis novos e suportes para o jardim no telhado. Acabou no fim criando uma casa na parte superior do prédio apenas para o jardim; Seja o que for que acontecesse com Taichou ao redor do garoto havia o atingido também, pois se sentiu vingado ao terminar e perceber que o apartamento ficaria melhor do que era antes de ser vandalizado.
Colocou as plantas sobreviventes nos suportes e com o mokuton as folhas murchas começaram a se tornar mais vibrantes.
Deu um sorriso satisfeito com seu trabalho.
"Aceitável. Podia melhorar." Um dos Ninken de Kakashi, Pakkun, resmungou e Tenzo sentiu sua sobrancelha tremer em irritação. Os Ninken haviam chegado um pouco depois de Shisui arrastar Naruto para o telhado e esse em especial havia tratado de o comandar ao redor como um serviçal.
"Eu acho que ficou muito bonito, não ficou, Naruto-kun?" Itachi incentivou, o tom de voz mais expressivo do que havia percebido desde que conhecera o Uchiha mais novo. Era fácil esquecer às vezes o quão jovem ele era, nem mesmo 13 anos ainda. Aquela situação parecia ter o afetado de forma considerável, provavelmente era a primeira vez que via a crueldade da vila de forma tão evidente com alguém. Ele não estava lá desde o começo como eles, não havia visto as tentativas de assassinato, os gatos enforcados na porta do abrigo ou a quantidade de vezes que já haviam depredado aquele apartamento.
O garotinho, sentado em meio aos cães no colo de Shisui estava muito calado desde o momento em que viu o jardim em pedaços. Tenzo admitia que ficava surpreso por ele ter se mantido tão estoico, considerando o que o lugar significava para ele. Eles haviam visto trazer amostras da floresta da morte e plantando ali. Mais de uma vez Kakashi havia trazido alguma planta rara de uma missão para ele. Naruto havia utilizado todo o cuidado ao longo dos meses para tornar aquele apartamento feio e triste em um lugar seguro. Aquele vandalismo havia destruído mais do que algo físico, mas o senso de segurança que ele havia ligado ao lugar.
Tenzo não era bom em entender os sentimentos das pessoas, por isso não sabia o que estava se passando na cabeça dele no momento. Ele parecia quase desconectado de tudo, os olhos distantes, muito imóvel, como ficava às vezes.
Apenas quando Itachi falou ele finalmente se moveu, saindo do colo de Shisui em silêncio e se ajoelhando ao lado da estrutura. Os três observaram, também em silêncio, enquanto ele removia um pincel do bolso e começava a construir um selo no chão, em pinceladas precisas e largas.
A arte era linda e Tenzo se viu fascinado. Ele já havia visto Kakashi fazendo aquilo, aquele tipo de técnica que só alguém de Uzushio poderia saber. Kakashi havia aprendido de uma Uzumaki, mas Naruto possuía uma graça natural que só um verdadeiro Uzumaki conseguia ter enquanto fazia um selo intricado daqueles. Ele parecia tão mais velho naquele momento, atemporal como a vila de onde herdara o nome do seu clã, como se carregasse nas costas todo esse legado. Ninguém falou nada, nem o ninken, presos no momento que parecia quase solene enquanto o garotinho pincelava pelo chão.
Os cabelos dele, que haviam crescido ainda mais nos últimos meses, quase tocavam o chão enquanto ele se curvava, cobrindo seu rosto e impedido de ver sua expressão, mas Tenzo achava que não precisava ver para testar o sentimento no ar. Mesmo com eles ali, era como se naquele momento Naruto estivesse completamente sozinho, inalcançável.
Naquele segundo, fazendo um selo para se proteger da própria vila, ele parecia a criança mais triste do mundo.
Se empertigou quando ele parou no centro do círculo. O selo havia tomado toda a extensão do centro do telhado e era um padrão que nunca havia visto antes. Naruto estava de costas para Tenzo, mas conseguiu ver a expressão de Shisui, o único sem a máscara, quando ele ergueu a cabeça. O sharingan dele estava ativado, como se não quisesse perder nenhum momento, gravar aquilo na memória.
Ele parecia triste também, como se aquele sentimento permeasse o ar, amplificado pelo chakra ao redor de uma forma que nunca imaginou possível.
Naruto colocou uma mão no chão e murmurou algo, fazendo um sinal com a outra mão. Todo o selo ao redor se iluminou, chakra se espalhando pelo chão e tomando todo o prédio.
Naqueles segundos Tenzo jurou que conseguia sentir o gosto de sal na ponta da língua, ouvir o som do que pensou serem ondas, o chakra passando do prédio e percorrendo a terra, puro e salgado, tão diferente do calor do chakra do Nibi. Aquilo era o chakra de Naruto, e apenas dele, se espalhando como um redemoinho de vento e água salgada, não deixando em dúvidas de quem ele era.
Naqueles segundos, brevemente, enquanto o chakra percorria o chão e espalhava a proteção pelo local, Tenzo também jurou que havia visto, brevemente, silhuetas de chakra ao redor deles, sinalizando o local de pessoas que não estavam lá.
Quando ergueu os olhos e fitou a expressão pálida de Shisui, se deu conta que não havia sido o único.
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"Então você está ouvindo uma voz ao redor dele que diz ser da sua mãe morta."
Alguém repetindo aquilo em voz alta fazia parecer ainda pior. Ergueu os olhos e o Hatake não estava olhando para ele, mas para um triplo porta-retratos na estante, uma das poucas coisas coloridas no apartamento terrivelmente vazio. Além das pequenas plantas que via espalhadas aqui, não havia muita vida lá dentro.
Em uma das fotos havia um garotinho de cabelos cinza e face estóica nos braços de um homem sorridente parecido com ele, cercado de cães que nunca havia visto antes. Havia uma foto de um time, e conseguia reconhecer ali Kakashi e os cabelos loiros inconfundíveis do Yondaime, mas não reconhecia os outros dois. O que era um grande indicativo que não estavam mais presentes.
A terceira foto tinha uma mulher ruiva com uma grande barriga, Kakashi sentado com ela por trás de um balcão que parecia familiar, tigelas entre os dois. Havia uma quarta foto menor na mesma moldura e sorriu ao perceber que era Naruto dormindo cercado pelos cães de Kakashi, abraçado com o maior deles.
Voltou a olhar Kakashi, mas a expressão dele nas fotos o obrigou a desviar o olhar de volta para a xícara.
"Você não parece muito surpreso." Observou, porque ele realmente não parecia, em nenhum momento da narrativa da noite. Seus olhos haviam mudado quando contou sobre a voz da mulher e o que havia dito na sala do Hokage, mas ele não parecia realmente surpreso. "Não é...não era a voz do Nibi, era?"
Iruka desconfiava que não. Depois da primeira reação, de pensar melhor, ele viu que havia agido de forma precipitada. E juntando com todas as pequenas coisas sobre Naruto...Não, não podia ser Nibi.
O outro shinobi olhou para Iruka fixamente, parecendo o medir por um longo minuto, antes de finalmente falar.
"Naruto nunca participou do festival em Konoha." Iruka franziu a testa, mas esperou pacientemente o outro chegar a algum ponto. "No primeiro ano dele, houve pelo menos 4 tentativas de assassinato na mesma noite. As pessoas sempre ficam mais irracionais nesse dia, então sempre o levamos para um lugar seguro na data. Um lugar alto, claro." Kakashi sorriu levemente. "Ele ama as lanternas."
As lanternas eram uma oferenda às vidas perdidas no dia do ataque do Nibi, o que tornava a situação mais triste é que os pais de Naruto estavam incluídos nessa perda, mas ele era banido de participar.
"Ele começou a falar muito cedo, nem dois anos. Isso sempre intrigou Genma, porque ele não recebia exatamente incentivo no abrigo e as únicas pessoas que pareciam conversar com ele era uma esquadra ANBU rotatória que nem sempre podia estar na vila. Não havia estímulo suficiente e ele tinha medo que o desenvolvimento dele ficasse prejudicado, mas Naruto era ao contrário, ele aprendia tudo primeiro do que as outras crianças, o que costumava deixar as pessoas do abrigo mais apavoradas." Kakashi hesitou por um segundo e suspirou. "Ele sempre soube de mais do que deveria saber, do que tinha como explicar. Inclusive sobre as lanternas."
"Alguém poderia-"
"Ninguém além de nós falaria sobre isso com ele. Naruto era completamente isolado das outras crianças e os cuidadores faziam apenas o mínimo necessário." Kakashi o cortou, falando do abuso de forma bruta e honesta, como ninguém parecia fazer. "Quando ele fugiu do abrigo ele teve mais contato com pessoas do que os cinco anos em que viveu lá."
"Ele fugiu do abrigo?" Iruka o olhou alarmado. "Pensei que havia saído de lá quando entrou na academia?"
"Foi antes disso acontecer." A expressão de Kakashi ficou mais fria. "Eu passei seis meses em uma missão SS com minha esquadra. Quando retornei Naruto quase havia sido sequestrado por Kumo, estava sendo avaliado pelo T&I e morando basicamente com as cortesãs do distrito da luz vermelha, que não podiam ficar com ele o tempo todo com medo de algum 'cliente' fazer algum mal a ele."
Iruka sentiu seu rosto empalidecer. Ele sabia que a situação havia sido ruim, mas não a esse ponto. O quão Konoha havia falhado para uma criança ter que morar com cortesãs, que haviam mostrado mais decência com ele do quem tinha obrigação de cuidar dele?
"Ninguém no abrigo o ensinaria nada, e quem tentou sofreu tanto ostracismo dos outros que desistiu. E ainda assim, quando ele tinha 2 anos, ele fez uma lanterna e trouxe com ele para lançar. Quando perguntamos quem o ajudou ele disse que foi a 'ka-chan.'" Iruka sentiu um arrepio percorrer sua espinha. "Que a lanterna era para as pessoas que eu perdi."
Kakashi colocou a xícara na mesa e olhou para Iruka.
"Ele não deve lembrar disso, mas todos nós sim. Ele colocou as mãos no meu rosto naquela noite, me olhou nos olhos e disse que eu não ficasse triste, porque meus amigos estavam sempre por perto e cuidando de mim." Kakashi olhou a foto. "Que eu deixasse de ser 'Bakashi'. Só havia uma pessoa que me chamava assim, e ele morreu bem antes de Naruto ter a chance de o conhecer."
Iruka sentiu seus olhos marejando sem controle. Ele começou a desconfiar ainda na sala do Hokage, ouvindo a conversa unilateral daquela voz feminina, recordando todas as pequenas coisas ao redor de Naruto no pouco tempo que o conhecia.
"Não foi a última vez que ele falou sobre algo que não seria possível ele saber, sobre pessoas que ele nunca conheceu. Hoje a noite ele me deixou ciente, por exemplo, que sabia sobre Nibi e quem era sua mãe."
"Ele... Era realmente a mãe dele, não era?"
Kakashi fez uma expressão engraçada antes de murmurar um 'pelo linguajar não dúvido.'
"Você sabia?"
"Eu não tinha certeza, até agora. Nenhum de nós tinha, e falar sobre isso...é perigoso." Kakashi o olhou e Iruka percebeu o quão ele estava mais afetado do que demonstrava. Era bom saber que não era o único que estava perdendo a cabeça no momento. "Nibi é também conhecido como o gato fantasma por uma razão."
Iruka teve a única reação possível com isso: "Preciso de uma bebida mais forte do que esse chá."
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Kushina conseguia ouvir o som das ondas no chakra de Naruto, sentir o sabor do sal, quase como se estivesse viva, como se estivesse em casa.
Enquanto guiava Naruto pelo selo, colocou toda a sua frustração, tristeza, seu medo, sua necessidade de proteção, vendo as mãos pequenas dando cada pincelada, vendo seu Naruto colocando sua própria marca em cada curva, apenas como um verdadeiro gênio de fūinjutsu conseguiria fazer. Uzushio vivia dentro do seu filho, mais do que em qualquer um, ela sabia.
Kushina, quando veio para Konoha para ser um sacrifício para aquela gente, era considerada realeza em Uzushio; a história de Naruto havia sido escrita em tinta e água do mar, ele sempre foi destinado a algo maior. Konoha não merecia seu filho, e Minato havia sido ingênuo em acreditar que eles poderiam entender e o ver além do jinchuuriki. Mesmo se a situação mudasse um dia, ela nunca iria esquecer aquele momento, do olhar destruído de Naruto naquela noite.
Kushina, como Uzushio, era feita de memórias.
O pulso de chakra, como vento marítimo, percorreu pela terra, alcançando distâncias inesperadas, com o sentimento do dono, a necessidade brutal de se sentir seguro, de finalmente pertencer a um lar.
Sem saber que, naquele momento, em diversas nações, pessoas de seu sangue, que carregavam o mesmo legado, ansiavam pela mesma coisa: casa. Olhos se abriram, chakra familiar pulsando em resposta, ouvindo o chamado de ondas sem entender do que se tratava.
No país distante do redemoinho, nos restos de uma vila destruída tantos anos atrás, um outro selo se ativou, correspondendo ao chamado inconsciente de um dos seus filhos, chakra pulsando de volta.
Uzushiogakure acordou de seu longo sono.
É hora de voltar para casa.
Notas finais
Meu capítulo mais esperado :)
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